54º
Capítulo – A última chance!
Laly e Iury trocam um olhar profundo, marcado
pelas lágrimas que transbordam todo amor que ainda existe em ambos os corações
e dá sinais de que tão cedo não se acabará.
-Não vai entrar? – Laly acena com o braço que
não foi ferido
-Posso?
-Que bobagem, Iury. Mas é claro!
-Pensei que não iria querer me ver.
-E por quê?
Iury enfim entra no recinto.
-Eu sei que não fui um cara muito legal com
você, Laly. Eu nem deveria estar aqui.
-Mas está...
-Eu só não queria ir embora sem antes falar com
você.
-Por que não se senta? – Laly aponta para uma
cadeira e Iury se senta – Eu vou ficar bem, Iury. Eu prometo.
-Eu sei que você não vai ficar bem. Não sei de
onde você ta tirando forças pra suportar tudo isso.
Som: Uma carta – LS
Jack.
Se para Iury o momento é de apreensão e
confusão, Aimée mal vê a hora de trocar alianças com Iury e morar com ele em
Florianópolis. Na agenda até faz um círculo no calendário de Setembro e imagina
a vida após o nascimento de seu primeiro filho, fruto do namoro com Iury.
Sentada ao lado de Fernanda na cama, planeja o
futuro dos sonhos, do conto de fadas que existe em sua cabeça.
-Mal vejo a hora de casar.
-Ai Aimée, eu não queria que você fosse embora.
-Mas eu vou ser muito feliz com o Iury, maninha.
Isso não quer dizer que eu deixarei minha miss de lado.
-Nunca disse que queria me ver como miss.
-Não disse tantas coisas, mas depois daquilo que
aconteceu, percebi que a gente nunca sabe o que a vida reserva, então é bom ser
verdadeiro com as pessoas que a gente ama, pois quem garante que esse momento
vai se repetir?
-Você sabe que tudo vai mudar. Quando teu filho
nascer, você vai viver pra ele, não vai mais vir aqui...
-Vou e você vai ter um sobrinho ou uma sobrinha
pra brincar.
-Você não entende, Aimée. – Fernanda tem uma
crise de choro e abraça a irmã com força
Som: Will you still love me – Chicago.
-Eu não irei me casar com Aimée. Não irei mais
me enganar.
-Aimée está esperando um filho seu. Não pode
abandoná-la sem mais nem menos.
-Eu te amo, Laly.
-Eu também te amo, Iury, mas não quero mais
atrapalhar a vida de ninguém.
-Eu não vou desistir de você.
-Mas precisa. Seu filho não pode nascer sem o
pai por perto.
-Eu não quero me casar. Meus pais acham que isso
é o melhor pra mim, mas só Aimée sai beneficiada nessa história. Eu não me vejo
amando Aimée como eu te amo, ela nunca será você.
-Eu sei... Eu também não me vejo compartilhando
nada com Gustavo.
-Então por que vamos desperdiçar nossa juventude
vivendo de mentira?
-A menos que você me prometa que vai me esperar
assim que eu receber alta e a gente foge.
-Ta falando sério, meu amor? – Iury dá um
selinho em Laly que balança positivamente a cabeça
-Posso te esperar?
-De todo coração.
Não vou
dizer que não senti falta da visita de meu pai, mas acredito que ele confiava
muito mais em jornais sensacionalistas e fofocas de muro do que em mim, então
não gastaria saliva e argumentos se ele jamais se colocaria em meu lugar.
Iury me
amava, estava disposto a jogar tudo para o alto por nosso amor e por ele eu faria
o mesmo, então era só esperar o médico me dar alta e seguir com destino aos
braços de meu amado.
Som: Uma carta – LS
Jack.
Gustavo nunca sequer trocou uma palavra com
Aimée, mas foi visitar a residência dos Gallardo. Quem o atende é a própria
Aimée.
-Boa tarde.
-Você é Aimée Gallardo?
-Sim, sou eu. O que deseja tratar comigo?
-Vim de tratar de um assunto que muito
possivelmente lhe interessa.
-Interessa a mim?
-Mais do que a própria vida.
Som: Meu primeiro amor –
Wanessa.
Emília levou Naira e Mayra para Curitiba curtir
alguns dias de férias, até para que as jovens superem mais depressa o
sequestro. Paralelamente, enquanto as adolescentes descansam, Emília trata da
burocracia para vender a casa em que moravam e abrir outro salão para não pisar
novamente no local em que a tragédia aconteceu.
Som: Will you still love me – Chicago.
Laly recebe alta do hospital e mesmo debilitada
vai até a casa de Iury procura-lo, mas antes mesmo de chegar ao portão encontra
Aimée e Iury aos beijos e vai embora aos prantos, sentindo-se enganada,
humilhada, traída, odiando Iury por não conseguir deixar de vê-lo como homem,
odiando Gustavo por ser sua última opção, ainda mais porque assim que coloca os
pés em sua rua encontra seus pertences colocados do lado de fora de casa.
-Posso saber o que está acontecendo?
Meu pai e
Eleonora não queriam mais me ver.
-Não quero vínculo nenhum com uma assassina... -
bradava Eleonora
-Pai?
-Não dirija a palavra comigo. – Edílson tinha
muito sangue frio
-Por favor, pai. Apenas tenho o direito de saber
o que está havendo.
Edílson
continuava despejando meus pertences para fora do portão e por mais que eu me
ajoelhasse, chorasse e implorasse para ser ouvida, meu pai virava as costas
como se eu não tivesse nenhum vínculo com ele.
Milene
tinha um gigantesco poder de persuasão, pois até mesmo depois de morta todos na
cidade continuavam acreditando que ela era a mocinha e eu a vilã.
No meu
conto de fadas a Cinderela tornou-se a irmã malvada e a megera que aprontou
todas morreu, mas estava em processo de canonização. Julgavam sua maldade como
algo necessário para se ver livre de mim.
Um
momento... Isso é uma piada?
-Que Milene a tenha perdoado. Que um dia Deus
vai tirar satisfações de você, vai e espero que esteja pronta para ser
castigada por ter dado fim a vida de uma menina tão jovem como Milene, tão
cheia de vida que foi vítima de uma psicopata ardilosa que nem você. – Edílson
me difamava sem piedade
Os papeis
estavam completamente invertidos.
Milene
estava sendo endeusada por todos. Nos noticiários minha prima era destaque e em
nenhum momento ninguém veio até mim para saber do outro lado da história.
A santa
envenenadora de bolos, psicopata, ladra de namorados, sequestradora, mentirosa,
ardilosa, invejosa, perversa, seria idolatrada por todos para o resto da vida.
Era surreal demais para se crer.
As
vizinhas fuxiqueiras de Eleonora estavam adorando assistir de camarote a minha
humilhação no meio da rua.
-E se você aparecer por aqui novamente, aciono a
polícia.
Edílson
fechou o portão e entrou em casa com Eleonora. Eu podia ver toda a perversidade
latente em seu olhar e a alegria que sentia por estar realizando um antigo
sonho: enxotar-me de casa e ter meu pai somente para ela.
Som: Uma carta – LS
Jack.
Aimée sempre sonhou em se casar aproveitando o
mesmo vestido usado pela mãe, anos antes, pois Lílian foi uma jovem muito
arrojada em comparação às amigas e parentes. Não foi a toa que Gilberto tão
facilmente enamorou-se.
Antes de ir embora, Aimée faz esse último pedido
ao pai. Gilberto denega a súplica.
-Você não merece usar o vestido de sua mãe.
-Pai, por ela.
-Nem por ela.
-Pai... Eu vou embora, não vou mais lhe
envergonhar e pedir mais nada. Se pelo menos por mim você não quiser conceder
esse desejo, pense em minha mãe, na mulher que o senhor amou mais que tudo
nessa vida, na doce jovem que gerou seus filhos e lhe proporcionou os melhores
momentos de sua vida.
-Você só me deu desgosto.
-Eu sempre fui uma boa filha. Meu erro foi amar
em demasia e me entregar a esse rapaz, mas quem nunca falhou?
-Esse desacerto nos custou muito caro.
-Mas quem está gerando esse filho sou eu, pai.
Não é você.
-Filho que eu não quero nunca ver.
-Por que tanta frieza, pai? O que essa criança
te fez?
-Essa criança não deveria nascer.
-Mas irá, pai. Irá. Essa criança terá pai como
todas as outras porque eu irei me casar com Iury e por sinal estou indo embora.
Gabriel desce as escadas carregando as duas
malas utilizadas pela irmã para que esta não carregue peso que venha a
prejudicar a gestação.
-Eu não queria partir sabendo que o senhor tem
mágoas de mim, pai. Eu te amo.
-Você não é mais minha filha.
-Sempre serei. Meu sangue é o mesmo que o seu.
-Não diga isso novamente. – Gilberto levanta a
voz
-Mas eu sou sua filha. – Aimée desmancha em
lágrimas e tenta abraçar o pai, sendo repelida pelos braços do próprio
-E é bom que vá mesmo embora. Você não significa
mais nada para mim.
-Mas você ainda é meu herói, pai. – Aimée se
aproxima da porta – Não importa o quanto você me renegue e me maltrate, eu
nunca vou deixar de te amar porque a você devo minha vida e tudo que sei. De
qualquer forma, espero que Deus te acompanhe sempre porque você é o melhor pai
que um filho poderia querer. Eu sei que não agi como uma boa filha faria, mas
eu nunca fiz nada para te magoar. Eu errei, mas porque desejei muito acertar,
porque procurei o amor e espero mesmo que tudo em nome de amor seja válido e
eterno. Eu acredito que o senhor está com toda razão e por isso mesmo te
agradeço por ser rígido comigo, por querer que eu tivesse sido alguém muito
melhor do que eu sou e me desculpe por não ter te ouvido. Eu queria tanto
acreditar que outro caminho me deixaria feliz, mas os pais sabem muito mais que
nós jovens, bobos, sedentos por amor, cegos pela rebeldia, pela vontade de
lutar por um mundo melhor que infelizmente não existe como queremos... – abre a
porta – Se cuida, pai. Cuida do Biel e da Fernanda por mim esse não for por
mim, que seja pela mamãe... – fecha a porta
Fernanda e Gabriel dentro de casa se abraçam com
força. Gilberto deixa o recinto sem nada pronunciar.
Ao
som de Trouble – Coldplay, Aimée encontra conforto nos ombros macios
de Iury onde chora até se sentir tranquila.
Gustavo, sem se manifestar formalmente, custeia
o casamento do rival, alugando o melhor salão de festas e com sua influência
persuadindo o padre da paróquia do bairro a ministrar a cerimônia, sem contar
que encomenda o melhor vestido de noiva da cidade para Aimée usar e contrata
maquiadores de estrelas para deixar Aimée linda para a ocasião.
Se para a ruiva é um conto de fadas, para Iury é
um tormento, um pesadelo do qual poderia despertar.
Laly não tem para onde ir nem a quem recorrer,
pois Mayra não está em Guaratuba. Fernanda encontra a amiga e a acolhe em casa.
-Perdida, amiga?
-Pensando
no que fazer da vida.
-Não
pode se casar com alguém que não ama.
-Não
irei me casar.
-E
nem deve. Seus sonhos valem muito mais.
-Não
sei se devo acreditar em sonhos.
-Claro
que deve. Você disse pra gente acreditar que nossos sonhos vão se realizar. Não
pode desmentir agora.
-Está
arrumada pra que?
-Não
sabia? Aimée vai casar hoje à noite. Quer vir?
-Aimée
vai casar hoje à noite?
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