55º
Capítulo – Frustradas núpcias! (IMPERDÍVEL!)
-Eu ouvi direito... Aimée vai se casar? Hoje?
-Hoje mesmo. Quer vir?
-Não sei se devo.
-Eu admito que não queria estar em seu lugar, te
considero uma garota forte por estar suportando tudo isso sem pirar, mas
infelizmente nem todos os amores nascem pra dar certo. Juro que lamento, mas
sei que você vai superar isso.
Não,
Fernanda. Não quando se trata de amor.
-Eu queria poder te consolar, mas sabe quando
você não sabe nem o que dizer.
-Não precisa dizer nada.
-Eu sei que você vai se acalmar e superar tudo,
encontrar um namorado bem lindo ou até quem sabe aprender a amar o Gustavo.
ISSO
NUNCA.
-Às vezes você não goste dele agora, mas com o
tempo se apaixone, veja que ele é um cara legal e pode te fazer feliz. Vocês
podem ter começado do jeito errado, meio conturbado, mas terão a vida toda pra
se amar.
Eu poderia algum dia me acalmar, mas superar,
jamais. Há certas feridas que não importam quanto tempo venha a se passar, a
dor persiste.
-Vem, Lalinha. – Fernanda acariciava minhas mãos
– É a primeira vez que serei madrinha de um casamento. Não fica feliz por mim?
A menos que fosse a noiva.
-To tão ansiosa... Ah, vem... Por favor, vem
comigo, Lalinha...
E fui. Fui
porque adoro sofrer, porque me restava apenas essa evidência para colocar em
minha cabeça que era hora de seguir em frente.
Som: Trouble – Coldplay.
Aimée está se admirando em frente ao espelho e
já veste o traje de noiva. Está desapontada, pois queria entrar na igreja com o
pai e Gilberto simplesmente negou-se a ir à festa.
Não vou
dizer que Aimée não estava linda porque mentiria. Apenas achava um tanto
estranho o fato de a mãe solteira promover uma festa daquele nível se o casal
não tinha bala na agulha. Iury era simples, Aimée, apesar dos pesares, também.
Não vou
negar que chorei porque enxuguei minha alma enquanto o padre abençoava a união
daquele casal. Juro por Deus que naquele momento invejei Aimée porque estava
ciente de que deveria ocupar o lugar dela e não entendia o que Iury tanto viu
nela. Em menos de 3 meses, 3 anos de namoro foram por água abaixo.
Aimée e Iury saíram mais
cedo da festa e eu chorava porque já supunha que ambos teriam uma maravilhosa
noite de amor.
Som: Head over heels – Tears for Fears.
Gustavo alugou um quarto na melhor pousada de
Guaratuba para Aimée e Iury terem uma inesquecível noite de núpcias.
Uma limusine conduziu o casal até o hotel e Iury
nem sequer carregou Aimée no colo ou segurou em sua mão. Caminhava na frente,
ainda sem saber o que fazia ali.
Aimée não nega a decepção, pois esperou por esse
momento e em seus devaneios de adolescente apaixonada Iury era o herói que a
levava no colo até o ninho de amor, selando com beijos apaixonados a união que
só mesmo a morte daria fim.
Iury chega à suíte principal, apanha do bolso um
molho de chaves e girando a maçaneta poderia se deslumbrar. Aimée celebra por
ele.
-Não é lindo nosso quarto?
Assim que Aimée entra, Iury tranca a porta,
guarda as chaves no bolso e examina o recinto do teto ao chão enquanto Aimée se
senta na cama de casal e tira os sapatos, pois os pés estão muito inchados.
Frigobar, cama de casal, ar condicionado,
iluminação especial, televisão a cores em um suporte, roupas de cama cheirando
a amaciante de boa marca e uma noiva excitada. Outro homem em seu lugar não
titubearia.
Iury abre o frigobar e encontra um champanhe. As
duas taças estão em cima do refrigerador. Não há motivos para brindar. A
verdadeira noiva está mais uma vez chorando de decepção e muito longe daquele
hotel. É a ela que seu coração pertence.
Aimée não suporta o silêncio e a indiferença de
Iury.
-Parece que não está satisfeito.
-Você sabe que isso é uma farsa, Aimée.
Aimée, chorando, não acredita no que está
ouvindo.
-Você está ciente de que eu amo outra pessoa.
-Pois trate de esquecê-la. Agora você está
casado comigo.
-Só até essa maldita criança nascer.
-Ela é sua filha. Não pode renega-la.
-Essa maldita criança não irá me segurar nessa
relação fracassada.
-Você está desistindo sem tentar.
-Quantas vezes eu vou precisar dizer que NUNCA
irei te amar?
-Nunca irá me amar?
-Não, Aimée. Nunca. – Iury caminha furioso pelo
recinto – NUNCA.
Aimée, deitando-se na cama, tampa os ouvidos, se
recusa a ouvir a verdade, sobretudo a aceita-la, compreender que Iury nunca irá
corresponder a seu amor.
-Para de dizer isso, Iury. Para.
-EU NÃO TE AMO, AIMÉE. EU NÃO TE AMO.
-PARA! CHEGA!
Iury, que havia tirado o paletó e o colocado em
uma arara, o veste novamente e abre a porta, a batendo com violência ao sair.
Aimée chora desesperadamente na cama de casal.
Som: Carolyna – Mel C.
Comovidos com o drama de Laly, Constantina e
Mário cedem abrigo à amiga até que a jovem recupere a calma.
-Não sei como agradecer... – Laly, soluçando,
mas bebendo uma xícara de chocolate quente, desabafa
-Nós nunca podemos deixar um amigo desamparado.
– Constantina abraça Laly que irá dormir no sofá-cama da residência até pensar
no que fazer
-Dorme aqui, Lalinha. Amanhã de manhã nós
pensamos numa forma eficaz de te ajudar.
-Vocês já estão me ajudando.
Constantina preparou o sofá para a amiga dormir,
pois não há leitos sobrando. Ainda assim, caprichou na roupa de cama.
-Espero que se sinta confortável. Por mim você
dormia na minha cama, mas ela já ta emprestada.
Laly já está deitada na cama e até beijo na
testa antes de dormir recebe.
Aproveitando que as luzes estão apagadas e a
solidão é sua única companhia, a protagonista chora até adormecer.
Na manhã
seguinte, para minha infelicidade, papai descobriu meus planos e ameaçou chamar
a polícia. Minhas oportunidades iam se restringindo a cada minuto que passava.
Decidi que precisava deixar aquela cidade e para sempre.
Queria
falar com Mayra e D. Emília, mas elas não estavam em casa porque, segundo o
terapeuta que estava as atendendo, era melhor que tirassem alguns dias de
férias. Soube também que Emília iria se mudar dali.
Som: Uma carta – LS
Jack.
Mesmo com a noite de núpcias fadada ao fracasso,
Aimée e Iury se despedem de Guaratuba. Fernanda vai até a casa de Iury falar
com a irmã.
-Vou sentir tanto a sua falta, minha ruiva
linda, mas sei que você merece ser muito feliz e eu desejo do fundo do meu
coração que você seja, pois sei o quanto você já sofreu. Ah, mal vejo a hora
que as fotos do casório sejam reveladas...
-Ai Fernandoca... – as irmãs se abraçam – Vou
sentir falta da minha irmã fora do normal.
-Mas pode vir visitar a gente quando quiser.
-Não quero atrapalhar papai.
-Papai está apenas zangado. Você o conhece.
-Pensei que conhecesse.
-Com o tempo ele irá se acalmar.
Os pais de Iury estão terminando de colocar os
pertences no porta-malas.
-Bem, minha maluquinha... Já é hora de ir... –
abraça novamente a irmã – Juízo nessa cabeça e, por favor, cuida do pai e do
Biel pra mim.
-Cuidarei, mas você também tem de prometer que
irá se cuidar.
-E irei.
Não muito longe dali, Nilton e Iury também
conversam.
-Vou sentir tanto a sua falta, primão. – os
primos trocam um high five
-E a sua.
-Chega na Naira, pelo menos. Faz tudo aquilo que
eu não fiz.
-Farei, primo. Pode crer que farei.
-Não deixe as pessoas fazerem sua cabeça, te
dizerem que não se deve lutar pelo amor. Vá até o fim, não desista, não abaixe
a cabeça, não se contente com uma vida de mentira.
-Eu percebi em seu olhar que você não ta feliz
com isso, primo.
-Qualquer estranho percebe.
-Lalinha ficou arrasada.
-E não era de ficar?
Dario já ligou o carro e Estela, se despedindo
da mãe de Nilton, chama Iury.
-Vamos, Iury.
-To indo nessa, primão. Até a próxima.
-A gente se vê por aí.
Iury entra no carro e escolhe o canto da janela
do lado do motorista enquanto Aimée se senta atrás de Estela. O casal não troca
uma palavra durante o trajeto.
Som: Como devia estar –
Capital Inicial.
Iury e
Aimée já haviam se mudado para Florianópolis, independente de Iury ser aprovado
no vestibular ou não. A tragédia apenas antecipou tudo que aconteceria da mesma
forma.
Ainda
estava em estado de negação e me custava a acreditar que tudo aquilo havia
acontecido em tão pouco tempo. Estava tão fora de mim que procurei Gustavo e
pedi-lhe ajuda.
-E não poderia estar falando com alguém melhor.
Ele nem
mesmo sabia ser modesto. Ele era insuportável, violento, presunçoso,
desprezível... E era tudo que me havia restado...
Nosso
casamento seria realizado no domingo pela manhã. Na sexta fiz a prova do
vestido e tinha de admitir que era o mais lindo que havia visto e provado.
Nossa
união seria realizada ao ar livre no jardim da mansão Figueira Antares e a cidade
inteira, apesar de me execrar até o fim por causa de Milene, compareceriam em
massa.
Era mesmo
o fim do amor, de toda esperança adolescente, das utopias que me mantiveram
viva durante todos os dolorosos anos em que passei sendo um nada para meu pai e
Eleonora. Eles estavam mais ansiosos que eu.
Enquanto
D. Emília cuidava de meus cabelos e maquiagem, Mayra me contou que após anos de
espera, sua primeira menstruação desceu.
-Agora ninguém pode mais me chamar de criança.
-Agora é que seus problemas começam... -
brinquei
-Ser bonita é problema, né, Lalinha? Mas e aí?
Apaixonou-se pelo Gustavo ou ta só se enganando?
-Percebi, da pior forma possível, que quando
mais se luta contra seu destino, mais e mais você se machuca e se desgasta por
lutar a troco de nada. Se o casamento do Gustavo realmente estava em meu
caminho, não hesitarei mais.
-Você não o ama, né?
-Mayra... – repreende D. Emília
-Não me convenço com suas palavras, Lalinha.
Algo me diz que você ta disfarçando igual no dia do noivado, mas, de qualquer
forma, sou sua melhor amiga e a apoiarei sempre, desde que seja para seu bem.
Aliás, há muito tempo estou rezando muito para que Deus faça o que for melhor
para você, apesar de ter em minhas convicções aquela imagem horrível do Gustavo
fazendo a você e a mim também...
Ele fez
mal a minha melhor amiga? Como assim?
-Mas já passou, Laly. O importante é que Deus
viu e isso me conforta.
-Como ele teve coragem disso?
-Agora ele vai ter tudo
que quer. Parece que na vida real o mal triunfa o bem.
-Nem sempre, Mayra. – interveio D. Emília
Mayra
tinha mesmo razão! A partir daquela manhã de domingo Gustavo teria
absolutamente tudo que queria em mãos. A mocinha se rendeu e se casaria com o
bandido engravatado única e exclusivamente por não ter para onde ir.
-Mas você promete que vem à minha festa no mês
que vem?
Mayra
ganharia uma festa de debutante como sempre sonhou.
Com
Gustavo minha vida social se resumiria a ser a esposa perfeita para os
tabloides e levar uma existência de aparências até que um de nós morresse.
Diante de
Gustavo, meu pai parecia emocionado por estar encaminhando sua filha para a
vida adulta, mas comigo era tão rude que preferia ter mesmo morrido baleada em
vez da Milene.
-E vê se não apronta com o coitado do Gustavo...
Saiba que para mim você está morta e enterrada...
Tio
Abílio, Tia Conceição e Dani desceram a serra para prestigiar o casamento e
Conceição, que sempre execrou Eleonora, estava sentada ao lado dela e ambas
conversavam como se fossem amigas de velhas datas.
Sr.
Gilberto, Fernanda e Gabriel voltaram à cidade para acompanhar a celebração. No
entanto, havia mais convidados de Gus que meus.
A
Orquestra Sinfônica emocionava aos convidados e a imprensa local comparecia ao
evento em massa para cobrir todos os detalhes da festa que seria destaque da
Coluna Social da semana seguinte.
Meu
vestido de noiva era o grande mistério. Todos queriam ver se realmente o traje
fazia justiça às descrições ou era propaganda enganosa e realmente poderia ser
a roupa mais linda do mundo. Meus sentimentos não eram.
A festa
era toda de Gustavo, assim como o evidente prestígio. Em meu lugar poderia ser
qualquer outra mulher.
Poderia
ser uma cena de novela da Toda Poderosa a qual a mocinha se casa com o vilão
pensando que ele é o mocinho, mas a diferença é que eu sabia quem Gustavo era,
tentei me livrar diversas vezes e descobri da pior forma possível que não
poderia modificar meu destino, apesar de já não acreditar mais em nada após o
fatídico sequestro.
A
cerimônia transcorria exatamente como previa a família Figueira Antares.
Naquela mesma noite Gus e eu viajaríamos para Salvador passar uma semana de
lua-de-mel.
Unânime
era o consentimento. Minha voz estava rouca e meus pensamentos em completa
desordem. Era como se uma estranha houvesse tomado posse de meu corpo e ideias.
Culpada ou não, nem mesmo um milagre poderia me salvar...
-Maldito padre... Fica aí se enrolando com esse
blábláblá chato. Vamos direto ao assunto. – pensa Gustavo
DE
REPENTE, UM ENSURDECEDOR SOM QUE PODE SER OUVIDO A PELO MENOS DUAS QUADRAS DE
DISTÂNCIA, FAZ COM QUE O PACATO PADRE DA PARÓQUIA FREQUENTADA PELOS NOIVOS ERGA
A VOZ PARA DAR CONTINUIDADE A CERIMÔNIA...
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