67º
Capítulo – Gustavo é julgado e condenado por seus crimes! (IMPERDÍVEL!)
Ainda em 1992 a
justiça decidiu que Gustavo seria levado a júri popular. Após muitos rumores e
adiamentos, em meados de 1995, Figueira Antares é levado ao Fórum de Curitiba
onde seu futuro será decidido por 7 pessoas sorteadas pouco antes de os
trabalhos de juiz e promotoria serem iniciados. Desde o fim de semana não se
fala sobre outro assunto seja na tevê ou nas ruas.
-Soube que o
julgamento do Gustavo começa hoje... – Nilton comenta com Mayra enquanto eles
tomam café da manhã e a jovem dá papinha a Pepo
-Já?
-Sim... E olha que
demorou...
-Que apodreça na
cadeia. – retruca Mayra
-Difícil acreditar na
condenação. O cara deve ter estudado muito o júri e sai rapidinho.
-Deus é pai e ele será
condenado. Onde é que já se viu? Ele faz o que faz, é preso, mas solto porque
tem dinheiro? Por favor, esse não é o exemplo que devemos dar a Pepo. Quem
apronta tem que arcar com as consequências.
O julgamento de
Gustavo é um dos fatos mais comentados não apenas em Guaratuba como no restante
do país, uma vez que quando o caso esteve em evidência o ibope dos noticiários
subiu de forma assustadora.
Durante o primeiro dia
o país se choca com os depoimentos de mulheres vítimas dos estupros de Gustavo
e Jordano que entrou no tribunal de maca por conta da frágil saúde, talvez um
bom argumento para ter a pena reduzida.
Inicialmente era
previsto que o julgamento tivesse duração de 5 dias, entretanto pelo fato de
todas as testemunhas serem arroladas a depor, a primeira semana é dedicada a
colher todas as provas possíveis de que a família Figueira Antares estava
intrinsecamente ligada a diversos crimes e desaparecimentos na região de
Guaratuba desde a década de 70.
Na segunda semana
Jordano nega envolvimento nas misteriosas mortes de jovens entre 1974 e 1991 e
afirma que enriqueceu de forma lícita e honesta, sendo vaiado pelos presentes.
O júri é interrompido diversas vezes, indo então para uma terceira semana.
-Esse julgamento já ta
virando uma palhaçada. – Laly lê o jornal de muitos em circulação o qual o
julgamento é destaque – Todo mundo sabe que esse cara é um fruto podre.
-De onde o conhece? –
Claudio questiona enquanto ele e Laly tomam café na produtora
-Um safado lá da minha
cidade. – suspira – Que pague bem caro pelo que fez...
No penúltimo dia de julgamento Gustavo enfim
quebra o silêncio e mostra irritação com determinadas perguntas da acusação.
Desde então os psicólogos vem traçando Figueira Antares como um grande
psicopata, pois em nenhum momento esboçou arrependimento e piedade para com
suas vítimas. Em alguns instantes até deixa escapar um sorriso maroto do rosto,
entendido por alguns como orgulho de estar sendo mostrado como um grande
bandido.
-Eu sou um cara inocente. Essas imagens não
procedem. Armações. Nada mais que armações.
Por mais que a estratégia seja fazer com que o
réu confesse seus crimes, Gustavo em diversos momentos faz o público perder a
paciência com o sangue frio que em suas veias percorre.
-Esse julgamento é uma farsa. Culpado ou não,
daqui a 10 anos eu estarei novamente livre. – faz troça com a mídia – Justiça
nesse país não existe. Sou Figueira Antares, tenho dinheiro e vocês me amam...
Eleonora, aos prantos, assiste ao telejornal com
Edílson.
-É isso aí, Gus. – Eleonora se ajoelha em frente
à tv – Prove a esses palermas que você é inocente.
Gustavo
atua como poucos atores veteranos conseguiriam.
-Eu faria tudo de novo. Não me arrependo de
nada. Esse país é uma grande piada. Sem graça, mas ainda assim uma piada. – Gustavo
cochicha com o advogado que o recomenda manter a calma – Está bem, está bem. –
o psicopata simula uma crise de choro – Eu fui abandonado e traído por minha
noiva. – o advogado o empresta um lenço – Aquela meretriz interesseira me sugou
até o limite e me deixou sozinho quando mais precisei dela.
Gustavo inventa um discurso para tentar comover
aos jurados, pois percebe que este é composto por 4 mulheres e 3 homens, sendo
2 jovens na faixa dos 25 anos de idade. Mesmo sendo um homem extremamente
ardiloso e perigoso, ainda há moças que se atraem por ele, não sendo à toa a
chuva de cartas que recebe, das visitas íntimas, apesar de ter vida sexual
ativa com outros detentos.
Em casa, Eleonora vai ao delírio assistindo
passo a passo do julgamento, rezando sempre para que Gus seja solto e venha
procura-la.
-Ele é inocente, Edilson. Precisam absolvê-lo.
-E irão, Eleonora. – Edilson abraça a esposa
-Eu posso até ser condenado, mas quem quiser
apostar, fique a vontade. Em 10 anos eu estarei solto novamente para enterrar
quem faltou. – Gustavo ameaça o júri
Laly está tomando cerveja em sua cama e se
enfurece com a arrogância de Gustavo.
-Vai debochando da justiça, filho da puta. Se os
homens se corromperem por conta de um sobrenome composto, eu creio que cedo ou
tarde você vai ter o que merece.
A condenação do réu e seus comparsas não é
nenhuma novidade, porém o novo dilema dos brasileiros neste caso abre
precedentes para discutir a reformulação do Código Penal.
Gustavo foi condenado a mais de 350 anos de
prisão em regime fechado, sendo que pela lei não cumprirá nem 1/3 da pena.
Permanece a falsa sensação de justiça. Apenas outro espetáculo televisivo que
manteve os telespectadores sintonizados e crendo fielmente que o bandido
morrerá na cadeia. Ledo engano.
Laly, enfurecida, desliga a televisão.
-Não sei quem ainda acredita em justiça nesse
país. Antes venerar Papai Noel, pois ao menos tinha inocência, algum sentido.
Crer que Gustavo vai apodrecer na cadeia é tão improvável quanto encontrar um
sujeito decente a essa altura da vida. Patético.
Nas manchetes dos jornais impressos e assistidos
do dia seguinte, a condenação de Gustavo é celebrada, porém este, vendo tudo de
sua tv 14 polegadas na cela especial, faz musculação com uma lata de
achocolatado cheia de pedras.
- Se eles pensam que acabaram comigo, estão
enganados. Eu voltarei mais vingativo do que nunca. Eles que me aguardem. Esse
não é o fim da dinastia Figueira Antares.
Som: Release me –
Angelina.
23
anos, diploma nas mãos e uma promissora carreira não apenas no cenário erótico.
Eu era uma celebridade e vivia de uma emissora a outra domingo a domingo
participando de provas da banheira e outros games, dançando e falando
besteiras.
Nilton é telespectador assíduo das
atrações dominicais em que JP faz aparições e enquanto Mayra sai com Gilberto
para entreter Lílian e Pepo, o pai do garoto está enfornado em casa tendo
fantasias eróticas com Judy.
Laly entra no palco do programa
vestindo um macacão preto de lycra o qual desenha todo o corpo da jovem. Logo
no início da performance Judy solta os cabelos e atira o rabicó em direção à
plateia. Muitos disputam o prendedor de cabelos aos tapas. Laly continua
dublando e dançando.
-Essa é uma deusa. – suspira Nilton
– O que ela pedir eu faço.
Quando uma das câmeras se aproxima
de Laly, ela manda um beijo e Nilton ‘retribui’ o gesto.
Há uma barra de pole dance. Laly se
pendura e leva o público ao delírio. A atriz faz menção de tirar a roupa, mas é
apenas truque para subir o ibope. Quando a protagonista desce da barra de pole
dance, balança a cabeça e como está de meia calça apoia uma das pernas na
cadeira improvisadamente colocada e tira lentamente a meia fina da cor preta. A
cada semana Laly surpreende a todos se tornando inimiga número 1 das esposas e
namoradas.
-Você é ridículo, Nilton. Deixa de
sair comigo e com Pepo pra ficar aí dando ibope a essa piranha.
Mayra, trotando, carrega Pepo até o
quarto.
Em
1995, aproveitando a febre dance music aqui no Brasil e gravei um disco
abrasileirando alguns singles de sucesso. Sei lá quem diabos comprou aquela
coisa. Eu não suportava ouvir minha voz e não é que a droguinha ganha disco de
platina?
A
fama não iria durar para sempre, mas eu sabia muito bem como desfrutar dela.
Convites para festas, viagens em jatinhos particulares e muitas propostas
indecentes.
Cheguei
até a ter caso com algumas mulheres. Uma delas, uma senhora de 50 anos,
integrante da alta sociedade, queria me dar uma cobertura em Natal, desde que
eu não contasse a mais ninguém que ela era lésbica.
Por
que eu a difamaria se também sentia medo de ter minha verdadeira identidade
descoberta?
Podia
dizer tranquilamente que me entendia muito bem com meus colegas de trabalho, no
entanto, não podia afirmar ter amigos. Éramos parceiros de baladas, ficávamos
chapados juntos, mas se eu por acaso viesse a precisar de ajuda, me viria
sozinha novamente.
A
santinha careta morreu na suruba. Judy assumiu o posto e fez acontecer. A songa
monga priorizou o amor e ficou na pior. Judy pensava na grana e estava vivendo como
uma princesa, mesmo que não passasse de uma pervertida inescrupulosa e sem
sonhos. De que adianta tê-los se eles nunca se realizam?
Judy
facilitava tudo. Judy não chorava, não costumava se arrepender de nada. Sua
missão era dar e receber prazer. Nada mais importava.
Não
pensava em me casar nem ter filhos. Não estava nem aí para me apaixonar. Nem
mesmo queria mais ser jornalista. Lutei por 4 anos e de repente esse sonho não
tinha mais nenhum valor para mim.
O
problema de levar duas vidas ao mesmo tempo era que uma hora eu ia acabar
perdendo o senso da realidade. Para a sociedade eu era uma jovem jornalista
batalhando nos estágios da vida. Para o Cláudio e a galera pornô eu era a maior
safada do mundo, aquela que topava qualquer parada e saía da boate carregada.
Eu
sempre fui completamente independente na faculdade. Com os professores falava
estritamente o necessário. Não quis babar ovo. Preferi me destacar sendo o que
eu era ou pensava ser ou sendo mais direta ainda: o que queria que os outros acreditassem
que eu era.
Justamente
o mestre com quem menos tinha afinidade foi o que mais marcou minha vida. Logo
no primeiro semestre ele esculachou minha redação e me disse que se continuasse
escrevendo daquele jeito não conseguiria emprego nem no jornaleco da
Conchinchina.
-Como
assim? Sempre me disseram que eu escrevia muito bem. Como você ousa a me
ofender desse jeito?- pensei, mas não verbalizei
Queria
acreditar que ele estava completamente equivocado a meu respeito. Acontece que
os mais velhos na maioria das vezes sempre estão com a razão.
O
ódio me moveu a querer ser cada vez melhor e meu caminho não foi muito fácil.
Agradar o exigente gosto daquele velhote era quase impossível e eu adorava
desafios, embarcava sem pensar duas vezes, por isso mesmo ele, ao longo da vida
acadêmica, passou a me incentivar, afirmando que eu tinha muito potencial e
deveria desenvolvê-lo ao invés de me acomodar com a ignorância de achar que
sabia algo. Eu nunca saberia o bastante e por saber disso é que deveria buscar saber
cada vez mais, mesmo que no fim das contas não soubesse de nada.
Quando
fui à universidade assistir a uma palestra, este professor me chamou em sua
sala e me perguntou se eu estava interessada em uma proposta de estágio. Eu
estava ganhando bem na produtora e pretendia dizer não, no entanto, para não
desapontar aquele senhor, me mostrei muito interessada em visitar a redação de
uma revista que estava precisando de uma editora de texto. A entrevista estava
marcada para o outro dia.
O
prédio era enorme e a filial da revista ficava localizada no 9º andar. Graças a
Deus havia um elevador, mas mesmo assim uma palpitação estranha tomava conta de
mim. Já ouvi tanto não na vida e mais um não me deixaria pra baixo, ao mesmo
tempo em que queria lidar com o sim e saber como seria interessante ser
efetivada na minha área, afinal não estudei cinco anos para pregar o diploma na
parede.
Quando
a recepcionista me deu as coordenadas para a sala de Abel, tentava imaginar
como seria Abel Santiago, o editor-chefe da revista. Nem mesmo precisei tentar.
FAMA
OU
AMOR
à O que VOCÊ escolheria? ß





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