Flagras, reconhecimentos e agonias...
-Posso saber o que está acontecendo por aqui?
-Pai! - Fernanda empurra Abel
-Ei, você. Tire as mãos da minha filha já se não quiser começar o novo ano sem dentes.
-Na paz, seu Gilberto. Não soube que eu to namorando sua filha? - Abel tenta escapar da fúria de Gilberto
-Paiê, ele mudou.
-Mudou de sujo pra mal lavado. Pra dentro, Fernanda.
-Paiê, coitado do Abel...
-É sério, sogrinho, eu amo a Fernanda.
-Se não quiser ter problemas, melhor não chegar a um palmo dela.
-Poxa pai, por que tanta implicância?
-Não diga mais nada e vá pra dentro.
-Até parece que sou uma adolescente pra mandar em mim assim. Cuide da Lílian. Eu já sou grande.
-E me dá mais trabalho que Lílian. Que eu não precise repetir.
Fernanda, contrariada, entra em casa ainda excitada. Gilberto entra em seguida e fecha a porta.
Ao som de You are - Lionel Richie, Mayra e Pablo, se beijando, não querem se despedir.
-Eu não sei quando vou te ver de novo.
-Em breve. - Pablo responde abraçando a cintura de May
-Mas em breve quando, Pablo?
-Uns dias, May. Preciso voltar pra Tibagi e resolver umas burocracias, mas no fim de semana estou de volta.
-Promete?
-Do fundo do meu coração.
Som:Head over heels - Tears for Fears.
O consultório estava praticamente vazio. Iury e eu conversávamos através do programa de mensagens instantâneas. Uma linda foto dele dava um toque todo especial ao aplicativo.
-Queria ter te beijado a meia-noite.
-Eu também. Teria sido melhor que tomar banho de champanhe.
-Tomou?
-Daquele sem noção. Sei lá o que ta fazendo aqui...
Fernanda, apressada, entrou em casa e foi para o banheiro, batendo a porta com força. Ouvi os gritos de Gilberto.
-Não bate desse jeito, Fernanda. As crianças estão dormindo.
Que estranho!
Fernanda nunca agiu daquele jeito. Fui investigar.
-Que foi, miga?
-Nada não, Laly.
-Te disse pra não beber por demais da conta pra não ficar assim.
-Vou dormir na sala.
-Que não seja por isso. Eu desligo o pc pra você dormir.
-Você não é disso, amiga. To te estranhando.
Fernanda estava fazendo tantas macaquices na hora da virada e de repente fechou o rosto não querendo diálogo nem comigo. Será que eu falei algo que a magoou?
Enfim, no dia 01 todos ficaram de ressaca, sem muitas novidades. O ponto alto foi a posse do novo presidente e punhados de sorvete. Acabamos com o estoque comprado pro verão todo.
May resolveu dormir conosco e nós a aporrinhávamos porque os olhinhos dela estavam ostentando um brilho diferente o qual eu nunca havia visto.
-May ta apaixonada...
-Não to não. - May negava com a face enrubescida
-Ta apaixonada pelo loiraço. Não nega que eu vi a pegação de vocês no reveillon.
-To com saudades dele. - May abraçou a almofada estampada - Fazia tempo que não gostava de alguém desse jeito.
-É bom... - suspirei - Nada como se apaixonar. O problema é que nem sempre o amor é a cura. Às vezes acaba sendo a própria ruína. Agora que você ta amando, apaixonada, pegando, só falta a Fer arrumar um namorado e eu vou escolher a dedo pra minha amiga porque não a quero metida com cafajeste não.
Irritada, Fer saiu de perto e não teve sermão nem piada que a fizesse destrancar a porta daquele quarto. Algo estava errado. Muito errado.
-E aí, May?Vamos pra Curitiba?
-Vamos sim. O dr. Celso ta me esperando às 10:00.
-Logo logo essa causa será resolvida.
-Deus te ouça, Lalinha. Eu já não aguento nem mais um minuto essa tortura de ver meu pequeno praticamente se humilhar pra podermos conversar.
Som: Best friends - SClub7.
Fomos em carreata para Curitiba porque Gilberto e Lílian iriam apanhar a dinheirama na capital. 10 pessoas acertaram os 6 números e dividiriam o cobiçado prêmio.
Enquanto Gilberto enfrentava a burocracia da agência bancária, May e eu fomos procurar o consultório de Dr. Celso, um dos melhores advogados e chegamos até a um prédio comercial de pouco mais de 12 andares, muitas lojinhas, movimentação atípica, mas ainda assim significativa.
-Nono andar, número 912.
Apanhamos o elevador e chegamos ao referido andar. Uma jovem secretária confirmou o horário e quando Celso chegou a nossa direção, me arrepiei. Era Dorminhoco.
-Lalinha?
-Dorminhoco?
-Dorminhoco? - até May arregalou os olhos
-Faz anos que ninguém mais me chama de Dorminhoco, mas é muito bom rever vocês. Continuam lindas tanto quanto antes.
-São seus olhos. - respondi
-Não seja modesta, Laly. - estendeu as mãos para me cumprimentar - Feliz Ano Novo.
-Igualmente. - ambas respondemos
Apontando em direção a porta, nos conduziu até seu escritório.
-É por aqui, damas. - fechou a porta - Sintam-se a vontade. Se quiserem café ou água, sirvam-se. Se precisarem de mais alguma coisa, chamo Jéssica, minha secretária.
-Estamos bem, estamos bem.
Celso abdicou de alguns dias de férias para poder estudar com atenção o caso de May. Nenhum resquício de Dorminhoco. Nem mesmo a voz cantada e abobada. Cabelo aparado, terno padronizado, dialetos 'complicados' a quem não entende bulhufas das teorias do Direito e aliança dourada grossa em mãos.
Espiando o porta-retrato reconheci Constantina e a frente deles dois meninos com idades entre 5 e 8 anos e uma menininha de aproximadamente 2. Na legenda dourada escrita na moldura, um versículo bíblico. O amor realmente transformou Dorminhoco.
-Seu marido deve estar ciente de que a partir do momento que lhe surrou, perdeu a razão.
-Ele já disse que devo me conformar em perder Pepo e eu sou apenas uma cabeleireira, sinto-me envergonhada por vir aqui sem ter nem um tostão para seus honorários...
-Tenho certeza de que Deus está me usando para ajudá-la. Você está sofrendo uma injustiça sem precedentes e eu quero interceder por esta causa na esfera humana. Até onde puder ir, irei. A lei a está favorecendo e você precisa ter conhecimento de seus direitos...
A agenda de Celso estava sempre atolada de compromissos e ele jamais perderia tempo batendo papo. Entretanto, estava animado por me reencontrar, sobretudo, então acabamos conversando por mais de uma hora.
-E por onde anda Fuinha?
-Fuinha está na Austrália.
-Casou?
-Ih, aquele lá não quer saber de casar. Adora ser solteirão.
-Fuinha era louco pra namorar... Que virada!
Fuinha estava lecionando Biologia em colégios particulares de renome na capital. Trabalhava em 3 turnos, mas também desfrutava de uma vida financeira satisfatória e ao contrário do irmão, estava solteiro e aproveitava para paquerar, ainda mais com as adolescentes cdfs histéricas por ele.
Dorminhoco mostrou-nos uma foto de família em que o irmão aparece. O tempo foi indulgente com Fuinha.
-Se arrepende, Lalinha?
Fui apanhada de surpresa com a pergunta.
-Bem, eu não sabia que as coisas ficariam assim...
-Se você tivesse ficado comigo faria um mau negócio. Eu ia te largar em no máximo uma semana. To sendo sincero. Eu não valia uma pataca naquela época, ficava com as meninas e as tratava como nada porque só me importava em conseguir o que queria. Quando isso acontecia a conquista perdia completamente a graça. Quando conheci Constantina, minha eterna Tininha, tudo mudou. Eu não sei exemplificar com palavras porque tudo aconteceu sem que previsse.
-Eu sempre acreditei que o amor verdadeiro modifica as pessoas. - Mayra acrescentou
-E modifica mesmo. Eu também tinha a intenção de brincar com Tininha e depois largar. A presa me parecia interessante, ainda mais por ser filha de pastor, mas quando dei por mim, estava apaixonado por ela e disposto a melhorar meu caráter. No início o Sr. Lima, que Deus o tenha em seu sagrado reino, não aceitava muito minha conversão, não confiava em mim, queria sua princesinha bem longe do cabeludo vagabundo, porém, em seus últimos dias de vida, o próprio Lima me disse que morreria orgulhoso por ter visto um grande milagre acontecer e confessou que Constantina, dos 3 filhos, foi a mais agraciada por Deus por ser deveras a única que seguiu incondicionalmente os ensinamentos de família...
Lima faleceu havia 2 anos. A mágoa causada pelo filho homossexual o matou lentamente. Não sabia perdoar, jamais aceitou. Sofria em silêncio, possivelmente e sofria mais ainda por ter de fingir que estava conformado.
-Fico feliz que tenha seguido seu caminho, Lalinha. Me traz enorme satisfação encontrá-la aqui após 10 anos e vê-la realizada, feliz, ainda cultivando as amizades de outrora...
Mal sabe Dorminhoco, ops... Celso, o que tive de fazer para chegar aonde cheguei.
Som: Keep it turned on - Rick Astley.
Fernanda está se aconselhando com Emília.
-Se eu lhe contar que to saindo com o Abel, perco duas amigas de uma vez.
-E você está se apaixonando.
-Bem capaz... Só não queria virar o ano sozinha.
-Isso não é desculpa, Fernanda. Por que não assume que está apaixonada?Pode machucar, mas é muito menos doloroso que continuar mentindo a si mesma como se pudesse ter um controle inexistente da situação.
-Laly jamais aceitará isso.
A Toda Poderosa tem sua Casa dos Artistas e mesmo na 3ª edição o reality é um verdadeiro sucesso por conta dos barracos e micagens dos artistas de último escalão que se sentem as celebridades do momento. O prêmio de 500 mil reais mexe com o imaginário de confinados e telespectadores. Uma chamada é divulgada na tv e Fernanda comenta:
-Bem que Abel me disse que ia trabalhar na tv esse ano.
-Também, com a fama que adquiriu...
-Eu me inscrevi, mas não me chamaram nem pras seletivas. Também sou artista.
-Porque há algo melhor reservado pra você, Fernanda. Melhor que participar de um reality show fuleiro desses aí pra ficar com a reputação manchada pra sempre.
-Existe algo melhor que ser famosa?
-Ser famosa não é essa belezura que você pensa. Paga-se um preço alto.
-Estreia dia 07, logo após sua novela do coração... – o narrador da tv brada
-De qualquer forma é um programão pro começo do ano. Tudo bem que sempre rola um xunxo básico, mas é assim que eu gosto.
Som: Flores (acústico) – Titãs & Marisa Monte.
Eleonora, raivosa, se queixa de Edílson para Gustavo:
-Não aguento mais esse velho chato me enchendo a paciência. Acredita que ele ta desconfiando da gente?
-Continue agindo como uma otária que ele descobre mesmo.
Eleonora agarra Gustavo.
-E como conter esse sentimento?
-Que sentimento?
-Você não disse que me ama?
Gustavo dá um muxoxo, mas resolve concordar, até porque não pode simplesmente eliminar Eleonora do seu caminho.
-É, eu disse, mas, por favor, não me cobre a dizer isso todo dia. Eu não sou desse tipo.
-Tudo bem, meu amor. – Eleonora dá um selinho em Gus
-Só não entendo porque ainda continua com Edílson se não o ama.
-É que existe um motivo...
-Qual motivo?Você deve amá-lo muito para suportar viver quase 30 anos nesse casebre.
-Se eu contar, devo te dar metade.
-Metade do que?
-Do que você mais ama nesse mundo...
Os olhos de Gustavo sorriem no mesmo instante. Captou a mensagem.
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