Diário do Rafa

Peguei o endereço da carniceira que faria o serviço das mãos da irmã de Nanda como se eu fosse um mendigo faminto e o papel um prato de comida.
Era bem próximo dali, dava para ir a pé.
- Rafa! - a irmã de Nanda me chamava. - Te empresto minha moto.
Eu não sabia nem guiar aquele troço, mas tentaria. Aquilo me faria chegar mais rápido, sem dúvida. Só tomei a chave da mão dela.
Diário da Andreza
Eu era a próxima da fila. O ambiente era limpo e pelo menos tinha minha amiga Nanda, que me recomendara a "clínica", para ficar lá comigo. Ela já havia feito um aborto lá.
Estava muito nervosa. Por que a carniceira não me chamava logo?
- Pode vir garota.
- Até que enfim!
- Vai lá amiga. Não vou sair daqui. - Nanda tentava me acalmar.
Levantei-me daquele sofá bem na hora que escutei um barulho lá do lado de fora da casa. Parecia uma freada.
Bom, e pelo barulho, o acidente foi feio.
A dona do lugar foi dar uma olhada no lado de fora.
- Ihh, um rapaz caiu feio da moto.
Quis olhar também, mas ela não deixou.
- Ele tá bem, já está até se levantando. - disse, sorrindo. - Bom, vamos lá fazer o que tem de ser feito.
Seja o que Deus quiser... Quer dizer, o que eu quiser, pois Deus não tem culpa de nada. E Ele jamais permitiria o que eu estava fazendo. Mas quem sou eu para falar de Deus? Estava prestes a cometer um assassinato.
*****
- Você pode tirar sua roupa e vestir essa batinha aí. Não vai demorar nada, criança.
- Ok. - olhei para o rosto daquela mulher enquanto me vestia. Que fria era ela. E eu também!
Enquanto deitava, escutava discussões na sala.
- Você não pode entrar aí! (era a voz da secretária)
- Minha namorada tá ali dentro! (era a voz do... do ... Rafa!)
♫ Keane - Perfect Symmetry♫
Desesperei-me, comecei a chorar e me levantei. Corri até a sala e quando o vi, chorei mais ainda. Rafa estava coberto de sangue, mas nem liguei.
- Por que você tá fazendo isso sua idiota!?
- Eu não sou idiota!
- Tá fazendo uma idiotice.
- Idiotice seria continuar grávida e praticamente morrer nas garras dos meus pais.
- Você não precisa dos seus pais.
- Ah, não? Por quê? Eu ainda estudo, não sei fazer porra nenhuma e ...
- Você tem a mim! Andreza, vamo sair daqui, vem comigo. Casa comigo!

Olhei pra ele, e respondi com um beijo. Depois de nos beijarmos, ri e disse:
- Eu vou! Mas tem duas condições.
- Quais?
- Primeira: Se você me chamar de idiota, meto a mão na tua cara.
- Ok! - ele riu da condição, mesmo morrendo de dor.
- Espera. Falta mais uma.
- E qual é?
- Eu volto com você, mas não de moto.
Caímos na risada, mesmo com o cenário aterrorizante que era aquela clínica clandestina.
Agora precisávamos voltar pra casa, onde todo o encanto acabaria.
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