Seria normal um cara com quase 17 anos ainda ser virgem? Existe uma idade certa para se perder virgindade?
Para os meus amigos, e para a maioria dos jovens de hoje, não tinha nada de normal.
Eu podia morrer virgem, mas se eu tivesse que perder seria com a Valentina.
Ela não gostava mais de mim. Eu tinha que reconquistá-la!
Diário da Madalena
♫ Gram – Você pode ir à janela ♫
Triste fim. Era o fim mesmo.
O preto me vestia, me caía bem. O céu para mim não tinha cor. A não ser quando eu saía de casa sem destino pela noite, o brilho da lua me iluminava e ofuscava minha mente.
Jhon, por pior que você fora, eu gostava de você. Não tinha perdão? O que eu fiz foi pela minha vida!
O cemitério tornou-se a minha segunda casa. Minhas roupas me disfarçavam, disfarçavam minha dor e me ocultavam o máximo que podia.
Chorava ao túmulo. Ele foi a única pessoa que me compreendia, ele era o cara mais perfeito que uma mulher poderia ter!
Certo dia dei de cara com um rapaz esquisito no cemitério. Assim como eu estava, ele usava preto. Até maquiagem ele estava usando! Ele estava tomando vinho em cima de um túmulo. Notei que ele não parava de olhar pra mim, daí resolvi falar com ele.
- Oi.
O rapaz olhou pra mim como se eu fosse um bicho e ele estivesse perdido na selva.
- Quer? – Me ofereceu um copo de vinho.
- Não, obrigada.
- É gótica?
Gótica, eu? Eu mal sabia o que era isso, mas depois me deu na telha que eu estava parecida com uma. Resolvi mentir. Eu precisava falar com alguém, quem sabe aquele cara me escutaria?
- Sim.
- Legal. Curte que bandas?
Comecei a falar o nome de uma porção de bandas. Acho que nenhuma era gótica.
- Foda. Meu nome é Richard.
- Prazer, Madalena.
Aquela não foi a primeira vez que eu vi o Richard lá no cemitério. Sempre que eu ia lá eu o via, sempre em túmulos diferentes e bebendo vinho. Eu sempre falava com ele e ele me respondia com um “joinha”.
Comecei a pesquisar sobre o movimento gótico, e me encantei com as roupas, músicas, estilos de cabelo e tal. Passei a me vestir diferente, abandonando o visual nerd e adotando o dark.Meus CDs da Britney Spears , Spice Girls e afins foram parar no lixo, sendo substituídos assim pelos de outras bandas como Nightwish, Lacrimosa e Épica.
Pôsteres se espalharam no meu quarto e comecei a me tornar o mais antissocial possível. Sair, nem pensar, a não ser pra dizer que ia pra aula, quando ia mesmo era até o cemitério ver o Jhon e conversar com o Richard.
Richard me contou que achava o cemitério o lugar mais tranquilo do mundo. Eu concordava com tudo o que ele dizia.
Falava comigo e me abraçava como se eu fosse uma das melhores amigas dele. Compreendi que eu era a única, Depois veio na cabeça que ele era o meu único amigo também.
Diário da Andreza
Ele me traiu. O fim de semana dele se resumiu em comer vagabundas.
Desculpem o desabafo, mas aquela marca de batom na camisa do Rafa não me dizia outra coisa. Expliquem-me: o que eu fiz pra merecer tudo isso?
O Rafa era um irresponsável, infeliz. Quando saía na noite não lembrava que tinha uma filha com menos de um ano de idade. Eu nem digo por mim, só pela Débora. A coitadinha vai crescer sem pai.
Segunda-feira, dez da noite. Rafa havia acabado de chegar da escola. Pegou um pacote de macarrão instantâneo e cozinhou. Quem o via tranquilo daquele jeito nem imaginava as coisas que ele havia aprontado.
- Rafa. – Chamei por ele calmamente. Ele nem olhou. – Rafa! – mais uma vez, ele nem sequer piscou.
À medida que ele comia o macarrão quente, olhava para a TV. O filme não estava tão bom assim. Empurrei o prato, fazendo com que ele derrubasse o conteúdo no seu corpo.
- Vai me escutar agora?
- Sua maluca! AAi!
- Nosso casamento acabou. Vai se divertir com as putas do fim de semana, vai!
Joguei a camisa suja de batom nele e saí.
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