1º
capítulo
O dia é de 17
de julho de 2004, um típico sábado de inverno. A cidade é Curitiba, muito
visitada pelos turistas nessa época do ano, embora não neve desde 1975. A
música só poderia ser Don’t feel like dancing – Scissor Sisters,
tema que reflete a síntese dessa novela. Sinta-se totalmente em
casa a partir de hoje e conheça um pouco mais sobre o mundo dos esportes
radicais, reviva uma época mágica e descubra que são nos momentos de
adversidades que se conhece a resistência.
Casa de Laura.
Quarto de Laura. Tarde.
Laura está
dormindo quando o celular toca. Ainda com os olhos fechados, a adolescente
estica um dos braços, apanha o telefone, sabe que a ligação é de Karinna e
atende.
Laura - Alô.
Karinna (off) - Ora se
não é a grande dorminhoca. A fim de curtir à tarde?
Laura - Sem chance,
Karinna.
Karinna - Sem chance
não é resposta.
Laura - Não me diga
que você tem coragem de sair no frio?
Karinna - Ô se tenho.
To só esperando o Vini vir me buscar e vamos passar em sua casa. É bom que se
apronte logo, noiva.
Laura (protesta) -
Karinna.
Karinna - Nem mais um
pio, amiga. Eu te garanto que você não vai se arrepender.
Casa de
Karinna. Sala. Tarde.
Pedro é um pai
muito liberal e apesar de ser bem mais velho que a filha, mantém uma relação
muito cordial com ela, porém sabe que por ser naturalmente tagarela, a conta do
telefone está sempre nas alturas, por isso para em frente à porta da cozinha.
Pedro - Ainda no
telefone, Karinna?
Karinna - Daqui a meia
hora estou aí. Se você estiver dormindo, sai de pijama mesmo. Até mais.
Karinna
desliga o telefone.
Pedro - Desse jeito
não dá, Karinna. A conta de telefone veio altíssima no mês passado.
Karinna - Era só para
dar um avizinho à dorminhoca.
Pedro - Mas esses
seus avisos demoram muito, minha filha.
Karinna
caminha em direção ao pai e o abraça pelas costas.
Karinna - Paizinho.
Pedro - Eu sei que
você é muito tagarela.
Karinna - E o que seria
de você sem a tagarela, han? Não quer vir comigo e curtir um rock’n roll irado?
Pedro - Não tenho
mais pique como vocês.
Karinna - E vai ficar
aí sozinho, largado em casa?
Pedro - Eu tenho um
ótimo companheiro: um livro. Quem tem a mente ocupada por bons pensamentos
nunca está só.
Karinna - Se mudar de
ideia, já sabe, pai.
Destaque para
as duas buzinadas que podem ser ouvidas pelos personagens.
Karinna - Deve ser o
Vini.
Karinna beija
o rosto do pai que retribui o gesto carinhoso com um cafuné na cabeça, bem como
ela gosta. A jovem dá uma última ajeitada no cabelo em frente ao espelho e
caminha até a porta principal. Antes que Karinna saia, Pedro faz as famosas
recomendações paternas.
Pedro - Juízo,
Karinna. Juízo nessa cabeça. Procure não voltar muito tarde, cuide do celular e
não tire o agasalho pra não se resfriar.
Karinna consente
com a cabeça, sorri e se despede do pai, caminhando até o carro de Vinicius,
onde Daiana, a irmã dele, já está sentada no banco traseiro. Vinicius abre a
porta do passageiro.
Música: Por que será – Tihuana.
Karinna e Vinicius se beijam.
Música: Por que será – Tihuana.
Karinna e Vinicius se beijam.
Karinna - Podemos
buscar a Laura, amor?
Vinicius - Claro, minha
deusa. Ela vem mesmo?
Karinna - Nem que seja
de pijama, mas vem.
Daiana - Se você
conseguir essa façanha, Karinna, não duvido mais de nada.
Autódromo de
Pinhais. Interior. Tarde.
Música: No cigar – Millencolin.
Tudo pronto para comportar a etapa do campeonato de skate vertical. Muitos competidores movimentarão a gelada tarde de sábado. Bandas de rock se revezarão no palco montado para entreter jovens.
Tudo pronto para comportar a etapa do campeonato de skate vertical. Muitos competidores movimentarão a gelada tarde de sábado. Bandas de rock se revezarão no palco montado para entreter jovens.
Marcelo Ruela
é o grande favorito desta tarde. Aproveitando o horário de treinos, já mostra o
talento que vem encantando o público há mais de 10 anos.
Carlos
Ferradura, um skatista que sempre invejou Marcelo e será o próximo a treinar
suas manobras, se aproxima da rampa e assiste ao desempenho do colega. Assim
que Marcelo desce a rampa, Ferradura o bajula.
Ferradura - Ora se não é
o grande Marcelo Ruela.
Marcelo - Não sou
grande. Sou apenas um skatista.
Ferradura - Você é uma
lenda, cara. Sem essa humildade.
Marcelo - Mas eu estou
sendo verdadeiro, chapa. Todos vocês que estão aqui são muito bons e temos
chances iguais, mas uns se esforçam mais que outros. Eu batalho pra ser bom no
que faço e sei que poderia ter feito melhor.
Ferradura dá
um tapinha nas costas do colega.
Ferradura - Sempre na
humildade, Marcelo. Eu no seu lugar ia curtir muito ser a lenda desses moleques
que estão começando. Assim eles não te respeitam, acham que você é um mané...
Marcelo - Se você gosta
tanto de subir, tem que saber cair também.
Marcelo acena
e se despede de Ferradura, que imita debochadamente os trejeitos do rival e
grita.
Casa de Laura.
Exterior. Tarde.
Daiana e
Karinna descem do carro de Vinicius, andam até o portão da casa de Laura e
batem palmas.
Daiana e Karinna - LAURA!
Casa de Laura.
Interior. Tarde.
Amauri,
espiando pela janela, reconhece Daiana e Karinna. Zélia, ainda de avental, se
dirige até a sala.
Zélia - Que bagunça é
essa, Amauri?
Amauri - Amigas da
Laura.
Zélia - Por que não
faz o favor de ir lá fora e dizer que Laura não quer sair. Aliás, sei lá o que
essa garota quer da vida...
Laura, parada
no alto da escada, pergunta.
Laura - Falavam de
mim?
Amauri (desconcertado) -
Suas amigas estão aí?
Laura - Sim, eu sei.
Laura desce as
escadas.
Laura - Elas estavam
me esperando. – acena para os pais –
Eu prometo que não volto tarde.
Zélia - Onde é que
você vai?
Laura - Me divertir,
mãe. O que todo jovem gosta.
Laura abre a
porta principal e encontra as amigas a esperando. As jovens se abraçam.
Daiana (para Karinna) -
Não acredito que você conseguiu, Karinna.
Karinna - Eu não disse
que conseguiria.
Laura - Mas que fique
claro que isso foi ideia da Karinna. Nem sei por que estou fazendo isso...
Karinna - Nem mais um
pio, gatinha.
Karinna
envolve seus braços na cintura da amiga e do outro lado Daiana faz o mesmo.
Destaque para a música Rock with you
– Ashanti. Karinna entra na frente enquanto Daiana e Laura entram e se
acomodam no banco traseiro.
Autódromo de
Pinhais. Pistas. Tarde.
A música de
Ashanti toca enquanto é mostrada a movimentação de pessoas chegando, imprensa
se instalando, bandas testando o microfone e se aquecendo no palco, vendedores
ambulantes nas imediações.
Ferradura
conversa com um repórter enquanto Marcelo, de joelhos, ora no alojamento onde
outros skatistas estão se aquecendo e conversando. Assim que torna a permanecer
de pé, um jovem fã aborda Marcelo e com uma caneta permanente, o rapaz
autografa o skate.
Autódromo.
Estacionamento. Tarde.
Não há mais
vagas. Isabel é obrigada a dar meia volta com o carro e reclama com o filho.
Isabel - Não me disse
que estaria lotado.
Adriano - Manhê,
eventos em que o Marcelo Ruela vai estar costumam ser mais cheios que isso e
ninguém reclama.
Isabel - Marcelo
Ruela? Quem é esse?
Adriano - A lenda viva
dos skates desde Tony Hawk.
Isabel - Eu não
deveria te deixar ir, mas é tempo de férias e eu realmente quero ver você bem
longe daquele computador, senhor Adriano.
Adriano - Fica susse
porque o Vini dá carona.
Isabel - Fica susse?
Como assim? Sabe com quem está falando?
Adriano se
encolhe no banco.
Isabel – Fique susse?
Onde é que você pensa que está, hein Adriano?
Adriano – Fo... Foi
mal...
Isabel – Foi mal? ‘Desculpa’
agora é ‘foi mal’? – respira fundo segurando no volante - Ainda assim quero
juízo, Adriano. Nada de chegar tarde.
Adriano - Confia em
mim, não confia?
Isabel - Me dê um bom
motivo para confiar em você.
Adriano - Sou seu
filho.
Isabel - Quero você às
22h00min em casa ou fica de castigo o resto das férias.
Adriano (chateado) - 22h00min?
Manhê, é muito cedo.
Isabel - 22h00min sim,
senhor. Toque de recolher, Cinderela.
Adriano - Se eu contar
isso a algum dos meus amigos, vão é tirar sarro da minha cara.
Isabel - Que tirem,
que façam troça. Quero você em casa às 22h00min.
Ainda no
estacionamento, mas dentro do carro de Vinícius.
Vinícius
conseguiu encontrar um estacionamento a duas quadras do evento, desembolsará
uma quantia razoável em relação às horas de diversão. Assim que Vinicius, que
trata da parte burocrática, acena com a mão, as mulheres descem do automóvel.
Daiana - Promessa é
dívida, hein, Karinna? Tem que me levar pra conhecer o Marcelo Ruela. Prometeu
tem que cumprir.
Karinna - Eu já disse
que vou. Marcelo é meu amigo de anos.
Vinicius
percebe que Laura está completamente alheia à conversa dos amigos e resolve
caminhar ao lado dela. Ele era amigo de Elisa, assim como Karinna.
Vinicius - E aí,
Laurinha? Pronta pra curtir muito rock?
Laura - Aham...
Karinna (abraça Laura) -
Desanimada, Laura?
Laura - Eu precisava
mesmo ter vindo?
Karinna - Precisava.
Sem você a turma fica incompleta.
A poucos
metros Daiana encontra Adriano trotando e chutando pedrinhas e o surpreende com
um abraço pelas costas.
Daiana - E aí, Didi?
Adriano
reconhece Daiana e retruca.
Adriano - Não gosto que
me chamam de Didi.
Daiana - Então tá,
Didi. O que há?
Adriano - Minha mãe...
Quer que eu volte pra casa às 22h00min.
Daiana - Recomendações
de mãe.
Os jovens se
beijam e caminham de mãos dadas.
Música: 1x0 eu – Dibob.
Música: 1x0 eu – Dibob.
Autódromo de
Pinhais. Arquibancada. Tarde.
Após muito
bater perna, Karinna encontrou bons lugares. Laura sente sede e resolve descer
para procurar um quiosque o qual venda bebidas.
Ferradura e
Chiquinho gostam de tirar vantagem em tudo, por isso ao verem a garota sozinha
na fila, distraída e um pouco encabulada, cochicham um com o outro e dão
risada.
Chiquinho – Hoje o mar ta
pra peixe.
Ferradura – Sou urso
polar; o mar pode estar congelado, mas sempre tem uma foca boba dando pinta.
Assim que troca seu dinheiro por uma ficha, Laura
entra na fila, mas dois vândalos se atiram em cima dela a fim de causar
confusão e conseguir bons lugares na frente.
Laura não
percebe, mas enquanto se levantava da pista, Chiquinho roubou sua ficha e
passou a sua frente. Ferradura, mandante do delito, não imaginou que sua vítima
fosse uma jovem bonita, então é pego de surpresa.
Ferradura (pensa) –
Não sabia que a moreninha é tão gata...
Ferradura
costuma ser ríspido com menina mais tímidas porque se acha o garanhão, mas se
redime estendendo uma das mãos para Laura levantar.
Ferradura - Problemas?
Laura - Eu... Eu acho
que me empurraram.
Ferradura – Te empurraram?
– finge estar desapontado – Mas esse mundo ta mesmo perdido! Esses vândalos não
tem respeito por ninguém. Veja bem, derrubar uma moça como você no chão. –
estende novamente a mão – Muito prazer, Carlos Ferradura.
Laura - Laura.
Ferradura - Laura. –
sorri – Belo nome.
Laura - Obrigada.
Gosto do meu nome.
Chiquinho
assobia para roubar a atenção de Ferradura.
Ferradura - A conversa
está muito boa, mas realmente preciso ir. Passa no meu camarim mais tarde.
Ferradura se
retira. É a vez de Laura na fila.
Balconista – Pois não,
mocinha?
Laura - Um
refrigerante, por favor.
Balconista – Mais alguma
coisa?
E só então Laura
se dá conta de que perdeu sua ficha.
Balconista - Sem ficha não
tem refrigerante, moça. Olha o tamanho da fila.
Laura – Mas eu ju...
juro que tava com a ficha na mão.
Balconista – Sem ficha, se
refrigerante.
Marcelo
apresenta uma ficha no balcão e avisa Laura.
Marcelo – Eu acho que
você perdeu isso no chão, moça.
Parabéns pela estreia. Matei a saudade dessa galerinha :D
ResponderExcluirEbaaaaaa... *-*
ResponderExcluirObrigada por passar por aqui. :D