quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Confissões de Laly Cap 4: Noivando com o rapaz errado!



2º Capítulo – Noivando com o rapaz errado!

Por Laly

Quando despertei, com a impressão de que 6 horas de sono ainda não foram o bastante para me fazer esquecer a noite anterior, instantaneamente senti repulsa ao ouvir a voz daquele desgraçado contando vantagens ao meu pai.

-E assim como Laly estou me formando como o orador da turma...
-Isso é maravilhoso, Gustavo. - Eleonora dissimulava assustadoramente bem
-Laly é meu incentivo maior para continuar administrando os negócios de meu pai...
-Mas sabe que ela namora o Iury e jura por Deus e o mundo que o ama de verdade.
- Acha que ama, acha que sabe o que é o amor... Bobeiras da idade, querida... Gustavo sim é o partido ideal para nossa filha... - papai intrometeu-se decidindo meu destino como se eu ainda fosse criança

Edílson estava lisonjeado com as anedotas de Gustavo. Suspirava, falava alto, adulava Gus como se fosse seu próprio filho.

-Espere só até a Lalinha saber disso...

O olhar de Gustavo esbanjava satanismo e minha espinha estava arrepiada, mas não podia passar o dia inteiro esparramada na cama, afinal, ninguém jamais tomar conhecimento do que houve.

-Bom dia.
-Bom dia, futura esposa. - Gus beijou-me a testa - Espero que tenha descansado a beleza, pois hoje à tarde oficializaremos nosso noivado...
-Mas eu nem... Eu nem (aceitei).

Eleonora não poderia estar mais feliz porque eu iria embora em breve enquanto ela e meu pai viveriam com luxos graças ao meu sacrifício:

-Sabe como é a Lalinha, né, toda vaidosa.
-Se o problema é o vestido, não se incomode. Peguei suas medidas e a costureira da família fez um vestido lindíssimo, combinando com sua beleza e delicadeza. Só esperamos que não tenha engordado, não é mesmo? haha...

Gustavo achava dotar de senso humorístico, no entanto, se pretendia mesmo levar a sério essa vocação, tinha muito que aprimorar.

-Não estamos atrasados para a missa? - estraguei a cena fotográfica
-Os santos estão mais felizes do que nunca, pois em breve nos casaremos Lalinha. Muito em breve. Aproveite essas horas pra ficar linda porque quero apresentá-la a algumas pessoas que ouvem tanto falar de você que desejam conhecê-la, saber quem é a dona de meu coração...

Gustavo poderia se casar com meu pai e Eleonora, pois eles estavam COMPLETAMENTE encantados pelos cifrões que receberiam.
E Iury? Como o encontraria e diria que de alguma forma muito demoníaca meus pais foram manipulados, subornados e permitiram que um monstro oficializasse noivado comigo?

Tomei um banho mais longo só pra poder chorar a vontade e berrar de ódio, mesmo sentimento da noite anterior, companheiro dali pra frente, capaz de fazer com que uma garota tranquila perca a compostura.

O vestido era realmente lindo e se ajustava perfeitamente as formas de meu corpo. Estava linda, mas me produzia para a pessoa errada, com certeza. Sentia-me como as heroínas dos livros que devorava e até pensei em me suicidar. Como pensei nisso...

-Laly... Laly...
Aquele gritinho só podia ser de Mayra que vinha me ver e insistentemente pedia pra que eu convencesse Nai a não ir para o convento:
-Oi Laly! Você ta maravilhosa...
-Ah, obrigada...
-Você não vai vir? Ta todo mundo lá fora te esperando...
-Eu... Eu já vou... To... To só...
-Ta pensando no Iury, né?
-Claro que não...
-Todo mundo sabe que vocês se amam.
-Mas eu não posso amá-lo. Agora eu vou ser noiva do Gustavo.
-Tão nova e já tem que decidir o futuro? Casar, ter filhos agora?
-Sim...
-Ah Laly, não acredito que até você vai cair nessa!

Som: Olhos certos - Detonautas.

Ao ser informada do noivado de Lalinha, Milene despertou extraordinariamente contente, o que contagiou Amado. Eles estão prontos para comparecer a festa realizada na mansão dos Figueira Antares.

-Milene, pretende ir assim ao noivado de sua prima?
-Que tem de errado em ir assim?
-Poderia mostrar o quanto é bonita.
-Mostrarei a pessoa certa no momento certo. Com a mosca morta fora da jogada, Iury está a caminho de ser totalmente meu. - pensa Milene enquanto abraça o pai e caminha até a porta de casa - Sabe que não ligo para essas coisas, papai.
-Mas deveria. No ano que vem você já vai completar 15 anos.

Som: Dove - Moony.

Eu era a inspiração de Mayra. Crescemos juntas e tínhamos muitos aspectos em comum. Mayra sabia que eu tinha vontade de ir embora da cidade, fazer faculdade e só depois de consolidar minha carreira cogitava a ideia de casamento. Iury era o único com quem desejava trocar alianças.

Quando completei 15 anos, resolvi aos poucos conquistar minha independência financeira. Só assim eu poderia pensar em um futuro melhor.

Não almejava ser ajudante da dona Emília (mãe de Naira e Mayra) para o resto da vida, mas pelo menos naquele momento ganhava uma quantia razoável para uma jovem de 18 anos, levando em conta a inflação e meus gastos particulares.

Gustavo, até o dia anterior, era um capítulo tenebroso da minha pré-adolescência, uma experiência que eu evitava ao máximo trazer as minhas recordações. Gus foi minha primeira paixonite, no entanto quando o conheci e o beijei, percebi que minha estúpida idealização não tinha nada a ver com o Gus de carne e osso. Desencanei. Mal sabia eu que se iniciaria um verdadeiro tormento em minha vida, pois desde então Gustavo passou a me perseguir alegando estar apaixonado.

Aos 13 anos meu pai me dava bofetada no rosto se falasse em garotos e eu também não tinha muito tempo para pensar nisso. O estudo, as brincadeiras e a igreja ocupavam todas as áreas de minha vida.

Louvei triplamente a Deus quando Gustavo foi estudar em Curitiba e parecia ter me esquecido. Rezei para que ele encontrasse uma namorada na universidade e nunca mais pensasse em mim.

Namorei Iury por 3 lindos anos e mesmo que não fosse aprovada no vestibular, me imaginava longe da cidade, vivendo a vida que sempre planejei. Meus ideais todos caíram por terra com aquele noivado.

-Infelizmente nem sempre todos os sonhos são possíveis, sabe Mayra... Às vezes, por mais que haja otimismo, só ele não basta.
-Essa não é a Lalinha que EU conheço.
-Essa era uma parte de mim que você não conhecia. Às vezes a gente pode se enganar.
-Mas não importa... Eu... Eu só vim mesmo era pra desejar felicidades à noiva... E espero que você seja uma ótima mãe pros seus filhos...
Eleonora, ansiosa pela troca de alianças, abriu a porta de meu quarto para me apressar.
-Está atrasada, Lalinha. - cínica - Se preparando para o casamento?
-Já estamos indo. - segurei a mão de May - Já estamos indo!
-Bom mesmo. Gus está ansioso.

Som: Flores (acústico) - Titãs & Marisa Monte.

Gustavo tentou me agradar comprando os discos com minhas músicas favoritas, preparando o buffet sabendo de todos os meus pratos preferidos e a cidade inteira marcava presença no evento. Fotógrafos da imprensa local se aglomeravam para conseguir uma foto do mais novo casal da cidade.

-Faço questão de dizer que a Lalinha é a mulher da minha vida. É com Lalinha que quero me casar, ter meus filhos e viver até o último dia de minha vida.
-Como você está linda, Lalinha. - Milene me abraçou - Que vestido fantástico

Mili era desprovida de vaidade, apesar de ser naturalmente bonita. Seu sorriso, talvez, foi o que salvou aquela tarde de máscaras e infinitos rótulos.

-Linda é você, priminha. Deveria abrir mão dessas jardineiras sem forma e aderir à moda dos vestidos. Asseguro o quanto os meninos adorariam a iniciativa.
-O menino que mais quero já será meu, sua otária. - pensa Milene abraçando novamente a prima - Iury e você se separaram, não é mesmo? - Mili fala de forma lenta, quase gemendo
-Lalinha, Lalinha... - papai me puxou pelo braço porque Gus estava me chamando
-Outra hora a gente se fala... – avisei

Aquela aliança colocada em meu dedo representava uma algema. Enquanto meu pai chorava de emoção, a tempestade interior da autora caía em silêncio e era amparada pelo travesseiro que também abafava os urros de ódio e decepção que continha diante de todos.

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