2º Capítulo – Noivando com o rapaz
errado!
Por Laly
Quando despertei, com a impressão de que 6 horas de sono
ainda não foram o bastante para me fazer esquecer a noite anterior, instantaneamente
senti repulsa ao ouvir a voz daquele desgraçado contando vantagens ao meu pai.
-E assim como Laly
estou me formando como o orador da turma...
-Isso é maravilhoso, Gustavo.
- Eleonora dissimulava assustadoramente bem
-Laly é meu incentivo
maior para continuar administrando os negócios de meu pai...
-Mas sabe que ela
namora o Iury e jura por Deus e o mundo que o ama de verdade.
- Acha que ama, acha
que sabe o que é o amor... Bobeiras da idade, querida... Gustavo sim é o
partido ideal para nossa filha... - papai intrometeu-se decidindo meu destino
como se eu ainda fosse criança
Edílson estava lisonjeado com as anedotas de Gustavo.
Suspirava, falava alto, adulava Gus como se fosse seu próprio filho.
-Espere só até a
Lalinha saber disso...
O olhar de Gustavo esbanjava satanismo e minha espinha
estava arrepiada, mas não podia passar o dia inteiro esparramada na cama,
afinal, ninguém jamais tomar conhecimento do que houve.
-Bom dia.
-Bom dia, futura
esposa. - Gus beijou-me a testa - Espero que tenha descansado a beleza, pois
hoje à tarde oficializaremos nosso noivado...
-Mas eu nem... Eu nem
(aceitei).
Eleonora não poderia estar mais feliz porque eu iria embora
em breve enquanto ela e meu pai viveriam com luxos graças ao meu sacrifício:
-Sabe como é a
Lalinha, né, toda vaidosa.
-Se o problema é o
vestido, não se incomode. Peguei suas medidas e a costureira da família fez um
vestido lindíssimo, combinando com sua beleza e delicadeza. Só esperamos que
não tenha engordado, não é mesmo? haha...
Gustavo
achava dotar de senso humorístico, no entanto, se pretendia mesmo levar a sério
essa vocação, tinha muito que aprimorar.
-Não estamos atrasados para a missa? - estraguei
a cena fotográfica
-Os santos estão mais felizes do que nunca, pois
em breve nos casaremos Lalinha. Muito em breve. Aproveite essas horas pra ficar
linda porque quero apresentá-la a algumas pessoas que ouvem tanto falar de você
que desejam conhecê-la, saber quem é a dona de meu coração...
Gustavo
poderia se casar com meu pai e Eleonora, pois eles estavam COMPLETAMENTE
encantados pelos cifrões que receberiam.
E Iury?
Como o encontraria e diria que de alguma forma muito demoníaca meus pais foram
manipulados, subornados e permitiram que um monstro oficializasse noivado
comigo?
Tomei um
banho mais longo só pra poder chorar a vontade e berrar de ódio, mesmo
sentimento da noite anterior, companheiro dali pra frente, capaz de fazer com
que uma garota tranquila perca a compostura.
O vestido
era realmente lindo e se ajustava perfeitamente as formas de meu corpo. Estava
linda, mas me produzia para a pessoa errada, com certeza. Sentia-me como as
heroínas dos livros que devorava e até pensei em me suicidar. Como pensei
nisso...
-Laly... Laly...
Aquele gritinho só podia ser de Mayra que vinha
me ver e insistentemente pedia pra que eu convencesse Nai a não ir para o
convento:
-Oi Laly! Você ta maravilhosa...
-Ah, obrigada...
-Você não vai vir? Ta todo mundo lá fora te
esperando...
-Eu... Eu já vou... To... To só...
-Ta pensando no Iury, né?
-Claro que não...
-Todo mundo sabe que vocês se amam.
-Mas eu não posso amá-lo. Agora eu vou ser noiva
do Gustavo.
-Tão nova e já tem que decidir o futuro? Casar,
ter filhos agora?
-Sim...
-Ah Laly, não acredito que até você vai cair
nessa!
Som: Olhos certos -
Detonautas.
Ao ser informada do
noivado de Lalinha, Milene despertou extraordinariamente contente, o que
contagiou Amado. Eles estão prontos para comparecer a festa realizada na mansão
dos Figueira Antares.
-Milene, pretende ir
assim ao noivado de sua prima?
-Que tem de errado em
ir assim?
-Poderia mostrar o
quanto é bonita.
-Mostrarei a pessoa
certa no momento certo. Com a mosca morta fora da jogada, Iury está a caminho
de ser totalmente meu. - pensa Milene enquanto abraça o pai e caminha até a
porta de casa - Sabe que não ligo para essas coisas, papai.
-Mas deveria. No ano
que vem você já vai completar 15 anos.
Som: Dove - Moony.
Eu era a inspiração de Mayra. Crescemos juntas e tínhamos
muitos aspectos em comum. Mayra sabia que eu tinha vontade de ir embora da
cidade, fazer faculdade e só depois de consolidar minha carreira cogitava a
ideia de casamento. Iury era o único com quem desejava trocar alianças.
Quando completei 15 anos, resolvi aos poucos conquistar
minha independência financeira. Só assim eu poderia pensar em um futuro melhor.
Não almejava ser ajudante da dona Emília (mãe de Naira e
Mayra) para o resto da vida, mas pelo menos naquele momento ganhava uma quantia
razoável para uma jovem de 18 anos, levando em conta a inflação e meus gastos
particulares.
Gustavo, até o dia anterior, era um capítulo tenebroso da
minha pré-adolescência, uma experiência que eu evitava ao máximo trazer as
minhas recordações. Gus foi minha primeira paixonite, no entanto quando o
conheci e o beijei, percebi que minha estúpida idealização não tinha nada a ver
com o Gus de carne e osso. Desencanei. Mal sabia eu que se iniciaria um
verdadeiro tormento em minha vida, pois desde então Gustavo passou a me perseguir
alegando estar apaixonado.
Aos 13 anos meu pai me dava bofetada no rosto se falasse em
garotos e eu também não tinha muito tempo para pensar nisso. O estudo, as
brincadeiras e a igreja ocupavam todas as áreas de minha vida.
Louvei triplamente a Deus quando Gustavo foi estudar em
Curitiba e parecia ter me esquecido. Rezei para que ele encontrasse uma
namorada na universidade e nunca mais pensasse em mim.
Namorei Iury por 3 lindos anos e mesmo que não fosse
aprovada no vestibular, me imaginava longe da cidade, vivendo a vida que sempre
planejei. Meus ideais todos caíram por terra com aquele noivado.
-Infelizmente nem
sempre todos os sonhos são possíveis, sabe Mayra... Às vezes, por mais que haja
otimismo, só ele não basta.
-Essa não é a Lalinha
que EU conheço.
-Essa era uma parte de
mim que você não conhecia. Às vezes a gente pode se enganar.
-Mas não importa...
Eu... Eu só vim mesmo era pra desejar felicidades à noiva... E espero que você
seja uma ótima mãe pros seus filhos...
Eleonora, ansiosa pela
troca de alianças, abriu a porta de meu quarto para me apressar.
-Está atrasada,
Lalinha. - cínica - Se preparando para o casamento?
-Já estamos indo. -
segurei a mão de May - Já estamos indo!
-Bom mesmo. Gus está
ansioso.
Som: Flores (acústico)
- Titãs & Marisa Monte.
Gustavo tentou me agradar comprando os discos com minhas
músicas favoritas, preparando o buffet sabendo de todos os meus pratos
preferidos e a cidade inteira marcava presença no evento. Fotógrafos da
imprensa local se aglomeravam para conseguir uma foto do mais novo casal da
cidade.
-Faço questão de dizer
que a Lalinha é a mulher da minha vida. É com Lalinha que quero me casar, ter
meus filhos e viver até o último dia de minha vida.
-Como você está linda,
Lalinha. - Milene me abraçou - Que vestido fantástico
Mili era desprovida de vaidade, apesar de ser naturalmente
bonita. Seu sorriso, talvez, foi o que salvou aquela tarde de máscaras e
infinitos rótulos.
-Linda é você,
priminha. Deveria abrir mão dessas jardineiras sem forma e aderir à moda dos
vestidos. Asseguro o quanto os meninos adorariam a iniciativa.
-O menino que mais
quero já será meu, sua otária. - pensa Milene abraçando novamente a prima -
Iury e você se separaram, não é mesmo? - Mili fala de forma lenta, quase
gemendo
-Lalinha, Lalinha... -
papai me puxou pelo braço porque Gus estava me chamando
-Outra hora a gente se
fala... – avisei
Aquela aliança colocada em meu dedo representava uma algema.
Enquanto meu pai chorava de emoção, a tempestade interior da autora caía em
silêncio e era amparada pelo travesseiro que também abafava os urros de ódio e
decepção que continha diante de todos.
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