8º
Capítulo – Laly discute com Edílson e leva bofetada no rosto! (IMPERDÍVEL!)
Som:
Ordinary world - Duran Duran.
De frente
para o ponto final. Não poderia ser mais doloroso.
A história
só continuava dentro de mim porque eu ainda alimentava a inútil esperança de
desfazer aquele maldito nó com Gustavo. Meu coração sempre seria de Iury, mas
ali naquela festa vi meu amor me provar que poderia muito bem viver sem mim.
Isso machucou muito mais que qualquer palavra torpe proferida em discussões.
Voltei para casa aos prantos e meu pai, que não estava conseguindo dormir, me
encontrou e perguntou:
-Isso lá são horas de uma mulher de família
estar rateando pela rua?
-Desculpe, pai.
-Você já está noiva e não pega bem para a imagem
da noiva de Gustavo Figueira Antares ficar frequentando festinha...
-Todo ano eu vou ao baile.
-É bom mesmo que tenha terminado tudo com
Iury...
O fim já
estava subentendido. Eu só estava fingindo a mim mesma que poderia existir
alguma chance de toda tristeza enfrentada ser apenas um pesadelo do qual logo
despertaria. Infelizmente não era.
-Iury e eu terminamos.
-Bom mesmo que seja verdade.
E por que
mentiria?
-Ah se o Gustavo fica sabendo das tuas
saidinhas... Imagine só o que pensará a família dele...
-Ele que vá pro inferno. Não me caso com ele nem
à força.
-Vai casar sim, senhorita. Já que só me dá
desgosto, que pelo menos uma vez na vida deixe de ser egoísta e faça algo por
seu pai.
-Como se você fizesse algo por mim...
Levei uma
forte bofetada no rosto. A dor maior estava do lado de dentro. Edílson não se
importava.
-Ingrata, desgraçada...
-Eu não amo o Gustavo.
-Han... Ama o caixoteiro vagabundo que acha que
tem chance de passar em Medicina...
-E ELE TEM... TEM SIM...
-Quero só ver... Eu pago pra ver...
Eleonora
despertou com os gritos e foi até a sala.
-O que significa isso?
-Acredita que Laly está dizendo que não quer se
casar com o Gustavo?
-Lalinha, deixe de ser infantil e egoísta. Não
sabe quantas mocinhas queriam estar no seu lugar agora?
Ótimo! Que
se apossassem do meu lugar e me deixassem ser feliz com o Iury ou qualquer
outra pessoa.
-Você ainda vai se arrepender por estar
desprezando Gustavo.
Claro, né,
bruxa cínica... Você iria viver como rainha enquanto eu teria de renunciar meu
amor, meus sonhos, minha juventude e liberdade pra viver um casamento de
fachada. Assim era muito fácil julgar.
-Que Deus um dia a castigue por fazer seu pai
sofrer desse jeito. Tenho até vergonha de pensar que Gustavo irá devolvê-la...
Depois de fazer o diabo a quatro com o maloqueiro, vai se deitar com o homem
decente que tem se guardado pra você, se dedicado a fazê-la feliz.
O santo me
violentou às vésperas do noivado.
Doloroso flashback.
Sua
reputação na cidade deveria continuar intocável, então ele me levou para o
acostamento de uma estrada a pelo menos 20 km de distância, longe de qualquer
contato humano e ali se iniciou o sofrimento.
-Não vai doer, Laly. Eu lhe juro.
-Me larga, por favor. Deixe-me ir...
-Você
não vai enquanto eu não implantar em você a semente do nosso amor.
Chorando, abri a porta
do carro e tentei fugir pelo mato, mas ele me alcançou.
-Pensou
que ia pra onde, sua meretriz?
E me socou o rosto, me deu uma gravata e me
arrastou até o banco traseiro do carro.
-De mim você não vai escapar.
-Me leva pra casa, por favor. Me leva pra
casa...
-Você pediu e é assim que vai ser. Você pensou
que escaparia de mim? Sou mais esperto do que supõe, princesinha. Da noite de
hoje tão cedo você não se esquecerá.
Sorriso
satânico, fala perversa e uma Lalinha sem qualquer chance de defesa.
-Para, Gustavo. Por favor... Não faz isso
comigo...
Gustavo
colou meus lábios com fita crepe, amarrou meus braços com uma corda fedida e
montou em mim como um animal. Se chorasse, apanharia mais ainda. Se gritasse, o
revólver estava no porta-luvas. Sobraria para Iury também.
Minha
ideia de perder a virgindade seria numa noite romântica ao lado de Iury,
sabendo perfeitamente que seria um marco na vida de ambos, o encontro de um
prazer que já tínhamos conhecimento e nunca chegamos a assumir.
A Eleonora
supunha sobre minha castidade. Ao contrário de suas expectativas, Iury e eu não
passamos do beijo na boca durante os 3 anos de namoro.
O partido
perfeito pagava menininha de 12 anos pra fazer boquete nele, saía com
travestis, fumava baseado às escondidas e saía espancando negros e pobres por
se considerar raça superior.
Diante de
toda a cidade Gustavo era o sujeito loquaz, o próspero agrônomo recém-formado
que tirou o diploma por hobby e realização pessoal porque herdaria as empresas
do pai.
Primogênito
de uma numerosa e renomada família, Gustavo era conhecido por ser o homem que
se sentava na primeira fileira da paróquia nas missas de domingo, contribuía
com o dízimo e era devoto aos pais.
Moralista,
era inconcebível que suas irmãs não se casassem virgens, entretanto, ele podia
muito bem sair trepando com a filha dos outros porque tinha a justificativa de
ser homem. Machista, sempre acreditou que a mulher não deveria sentir prazer.
Esposa
ideal seria aquela que pilota fogão, tem um filho por ano e só sai de casa para
ir à igreja. Em menos de dois meses eu me resumiria a isso. Meu pai consentia
que sua filha fosse desprovida de ambições, justo ele, que apregoava tanto a
importância do estudo no futuro de uma pessoa.
Era um
tanto quanto assustador que Edílson nem sequer se preocupasse com o que eu
sentia, se aquilo iria, deveras, me trazer a alegria que ele tanto dizia querer
me ver sentir.
Fui para
meu quarto onde chorei mais ainda ouvindo Eleonora me difamar para meu pai.
-Essa menina é mesmo uma problemática sem
cabeça. Trocar o Gustavo pelo tal Iury...
-Não sei onde errei, Eleonora. Queria saber onde
foi que eu errei...
-Você é um ótimo pai, Edilson. Laly é que não
sabe valorizar a sorte que tem...
Som: Groove is in the heart - Dee Lite.
Enquanto Aimée vai ao banheiro acompanhada de
Fernanda, Iury procura Nilton, que se cerimônias avisa que Laly o viu
acompanhado de Aimée.
-Ela viu mesmo? - Iury empalidece
-Viu e saiu chorando.
-Também não precisa exagerar, né, Nilton?
-Quem me dera fosse mentira, primão. - dá um
tapinha nas costas dele - Acabou de perder Lalinha.
-Então quer dizer que ela me viu mesmo com
Aimée?
Cinco minutos depois, Iury despista Aimée.
-Já vai pra casa, Iury?
-Sim... – aproxima a cabeça de Aimée e a beija
simbolicamente – Preciso ir... Muito tarde...
-Deixe de bobagem, Iury. A festa mal começou.
Iury acena enquanto se distancia de Aimée, sai
do salão de festas com a visão já embargada pelas lágrimas, apoia-se no poste e
repassa o instante em que seus olhos cruzaram-se com os de Laly, do quanto
fingiu indiferença e se feriu, da consequência da revolta e não se importa em
gritar de raiva.
-Eu sou um idiota. Um grande idiota. Imbecil...
Ao voltar para casa, caminhando na ponta dos
pés, fecha a porta do quarto, tira os sapatos, os coloca ao lado da cômoda de
madeira e atira-se na cama, enfiando a cabeça nos travesseiros para fugir da
culpa e vergonha, da dor de perder sua amada e de não saber o que dizer a
Aimée.
Iury
adormece pensando em Laly e se sentindo um verdadeiro tolo pelo que fez. A foto
de Laly continua intocável em seu porta- retrato no criado-mudo.
Na festa...
Mayra não conseguiu ficar com ninguém, mas
percebe que Nilton está prostrado perto da mesa onde são servidos os comes e
bebes e vai conversar com ele.
-Quando é que você vai chegar na minha irmã,
hein?
-Ta muito apressadinha, baixinha.
-To não. Você é que ta muito devagar. E aí? Por
que ta parado com essa cara de poucos amigos? É impressão minha ou Iury não
está mais com a ruiva?
-Iury foi embora. Precisava acordar cedo.
-Lalinha os viu juntos. Não tiro a razão de
Iury, mas não sei se você concorda comigo... Acho que Iury e Laly deveriam
terminar formalmente o namoro. Do jeito como estão agindo só estão piorando
tudo. Laly mal sequer se pronuncia e Iury parece muito tranquilo para quem
acabou de sair de um longo relacionamento. 3 anos não são 3 dias.
-Iury não quer causar problemas.
-Eu sinceramente não queria que Laly se casasse
com Gustavo.
-Nem
eu.
Som: Time after time - Cindy Lauper.
Fernanda e Mário dançam agarrados. Aimée está
sentada em uma mesa distante das badalações. Nem mesmo precisaria ser vidente
para que Fernanda perceba que há algo de errado com a irmã. Dando um selinho em
Mário, suas mãos ainda não querem ganhar vida própria.
-Já volto...
-Já? Na melhor parte da música, poxa...
-Prometo que volto.
Fernanda descobre que Iury deixou Aimée sozinha,
o que em outras palavras, implica dizer que para a ruiva foi o fim da curtição.
-Às vezes o garoto precisa acordar cedo, Aimée.
Tem gente na nossa idade que trabalha, poxa vida. Vai ficar aí com a cara
amarrada por pouca coisa?
Som: Como devia estar -
Capital Inicial.
Amar é se
permitir ser livre, regozijar com a felicidade do outro, ainda que seja a custo
de suas lágrimas. Era difícil crer que Iury superaria o término muito antes que
minhas olheiras diminuíssem. Aceitaria que meu ex-namorado trilhasse o caminho
que bem entendesse e fosse feliz acima de qualquer coisa.
Até o
casamento ainda precisaria cumprir minhas funções no salão de D. Emília e o fiz
ainda que não possuísse forças nem mesmo para rezar e pedir uma concreta
direção. May era minha melhor amiga e apenas com um olhar sabia se eu estava
bem ou não.
-Saiu mais cedo ontem, né, safada? Sentiu
saudades do noivinho, é? - tentava me fazer cócegas porque adorava me ver
sorrir
-Não fala do Gustavo.
-Por que está chorando, Laly? - sentou-se comigo
no sofá do salão - Falei algo que te magoou?
-Não.
-Foi sim, Laly. Eu acho que sei por que você
está assim.
Tentei
negar até o limite, mas estava óbvio: se Iury fosse mesmo parte do passado, eu
não desmoronaria ao vê-lo com outra garota. Por mais Iury me odiasse, eu ainda
o amava. Com o pouco de entusiasmo e garra restantes, ainda o amava. Demais
para permitir que saísse com aquela ruiva espalhafatosa.
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