21º
Capítulo – Milene chega ao ápice da perversidade! (IMPERDÍVEL!)
-Acho que o Fuinha ta
precisando descabelar o palhaço. - Dorminhoco azucrinava o irmão
-Olha o respeito que a
Laly é moça de família, hein. - Dani entrava no embalo
Mal sabiam eles a verdadeira onda de terror que eu sentia só
de ouvir falar de sexo. Não entendia que graça havia no ato em si. Será que
isso se devia ao fato de ter tido uma relação forçada?
No dia seguinte começava nossa maratona de 3 dias. Na noite
de véspera nem preguei os olhos. Em virtude do vestibular, todos almoçamos muito mais cedo que o habitual.
-Come direitinho,
Lalinha. Boa alimentação é um dos segredos pra se ter um bom desempenho na
prova. - Tio Abílio reforçava isso de hora em hora
-Nada de tristeza,
flor. Hoje é apenas mais um daqueles desafios que você vai vencer de olhos
fechados e recordar com carinho. - Tia Conceição dizia enquanto servia mais
refrigerante para Túlio
Ouvimos fortes batidas
na porta principal da casa.
-Evandro? - Tio Abílio
estava alerta
-Não combinamos de sair
tão cedo. - Dani esclareceu
-Está esperando
alguém, Laly?
-Não...
Gustavo não admitiria derrota tão facilmente. Ele não sabia
e não gostava de perder.
-Não será o noivinho?
- perguntou Túlio
As batidas ficaram mais fortes. Tio Abílio passou a se preocupar.
-Não deve ser ninguém
conhecido porque todos sempre tocam a campainha.
Tio Abílio levantou-se e resolveu averiguar o mistério.
-Gustavo?
Som de suspense.
A reação instintiva de momento fez com que eu me escondesse
debaixo da mesa da cozinha. Tia Conceição e Dani estranharam meu comportamento.
-Quero ver Laly. Sei
que ela está aqui.
-Posso chamá-la se
quiser.
-Então mexa-se e
chame-a depressa.
Meu coração pulava pela boca só de pensar no que Gustavo
poderia ser capaz. A sós ele mostrava quem realmente era.
-Não diz que eu to
aqui... Não diz que eu to aqui...
-Ele é seu noivo,
Lalinha. O que deu em você? - Dani perguntou sem entender o que se passava
comigo
-Ele veio decidido a
falar com você. - Tia Conceição disse
-Mas não é pra dizer
que eu to aqui...
Estava tão desesperada que até mesmo um desconhecido sacaria
a razão sem que eu precisasse contar a história toda.
Gustavo era mesmo um mau caráter. Como podia ser tão rude
com um homem tão bondoso e gentil como Tio Abílio?
-Não complique as
coisas, velhote. Deixe-me ver Lalinha.
Tia Conceição apareceu na sala. Ai de quem falasse grosso
com seu amado Abílio.
-Laly não está
aqui.
-Mas eu...
-Nós também não
sabemos onde Laly está.
-Era isso que eu
estava tentando te dizer, rapazinho. - Tio Abílio humilhava Gustavo com tanta
mansidão na fala
-Você disse que iria
chamá-la.
-Ao telefone. Ela não
está em casa?
-Ela NÃO está em casa.
Edílson e Eleonora estão desesperados atrás dela e...
Dani me ensinou uma passagem secreta na lavanderia a qual eu
poderia sair tranquila e sem ser vista por Gustavo. Por conhecer
plenamente o monstro com quem iria me casar, sabia que ele me perseguiria SIM
no campus e se me encontrasse me espancaria na frente dos vestibulandos e seus
pais, por isso tive de bancar a palhaça para poder ter a chance de lutar de
igual para igual com meus oponentes.
Som: Olhos certos -
Detonautas.
Milene estudou de
antemão a vítima e conforme seus planos, tudo segue perfeitamente bem. Para
convencer Fernanda, Milene chora no sofá da sala dos Gallardo.
-Fico muito feliz que
enfim Iury tenha conseguido livrar-se daquela psicopata...
-Eu não sabia
disso.
-Você não imagina o
que é alguém vir e roubar seu amor.
-Devo imaginar o
quanto seja ruim.
-Ruim é muito pouco,
amiga. É tão triste ver seu amor nos braços de outra. Que Deus nunca te deixe
passar por essa situação.
Milene consegue a
façanha de chorar com tanta convicção que deixa Fernanda chocada.
-Você é muito jovem,
Milene. Não deveria perder seu tempo se lamentando quando há tanta coisa boa
pra gente fazer. Meninos nessa idade só querem mesmo curtir.
-Eu sei que Iury já
ama Aimée e ficou feliz por isso. Espero de verdade que Aimée e Iury sejam
muito, mas muito felizes juntos.
-Eu também espero.
Minha irmã merece muito ser feliz. Ela já sofreu muito.
-E hoje mesmo vai para
o inferno. – em pensamento
Milene
imagina a dolorosa morte de Aimée e acaba escapando uma risada. Fernanda ergue
as sobrancelhas e a prima de Laly emenda uma forte crise de choro para não
despertar suspeitas.
-Pobre
coitada. – pensa Fernanda – Não é muito certa das ideias.
Com
sensação de missão cumprida, Milene se despede de Fernanda e já na rua
aproveita para gargalhar alta e satanicamente.
-Hoje
mesmo vou celebrar com vinho a morte de Aimée Gallardo. Você pode até fugir de
mim, Iury, mas seu destino sou EU...
Som:
Dove - Moony.
Pintei as sobrancelhas de modo que as engrossasse
grotescamente, coloquei uns óculos da Dani e usei peças de roupa de cores que
não combinavam entre si. Fiz um rabo-de-cavalo bem malfeito e passei um batom
vermelho que não tinha nada a ver com o contexto. Ficaria conhecida como a
figuraça do vestibular, mas ainda assim era melhor que ser violentada
novamente.
Combinei de me encontrar com Dorminhoco porque iríamos fazer
prova no mesmo local, mas em salas diferentes. Ele tomou um susto ao me ver.
-Você vai fazer prova
desse jeito?
-Algo errado?
Dorminhoco não se atinha a detalhes, no entanto, também não
era cego pra não perceber que eu estava ridícula. Não por nada. Eu
percebia a malícia com que ele olhava pra mim. Percebia e tinha nojo
disso.
Eram todos iguais? Todos Gustavos enrustidos?
Até parecia que eu havia saído de Marte. Dorminhoco segurou
pelos meus braços na hora de atravessar a rua e fez questão de pagar meu passe.
-Tu curtes o que?
-Sou eclética.
-Curte esse som aqui.
Se gostar, me diz que eu gravo pra você.
Eu também estava gamando nas modinhas de dance music
européia.
-Se você não ficar
aqui só para o vestibular, posso te levar numas discotecas bem maneiras.
-Acho que eu aceito...
No trajeto de casa até o campus, trocamos ideias sobre
diversos assuntos. Estudar era completamente em vão faltando apenas horas para
o grande teste.
A sala já estava cheia quando entrei. Eram todos meus
concorrentes. Meu curso ofertava apenas 30 vagas e uma delas seria minha,
contudo, havia mais de 500 pessoas com o mesmo pensamento. Aquele teste
decidiria para quem o sonho continuaria.
Desatei em lágrimas minutos antes dos fiscais nos
autorizarem a responder os questionários. Tentei ao máximo impedir que me
vissem nervosa.
-Ei moça, ta tudo bem?
-Estou... Estou
sim...
-Não quer sair pra
tomar água e lavar o rosto?
-Não, não. Eu to
bem...
Súbitas lembranças de Iury, dos 3 anos de namoro e a falta
que minha mãe fazia. Pelo menos os lenços de papel tive de aceitar ou seria
eliminada do exame. Respirei de dentro para fora, mas os alvitres dos meus
6 anos vieram a tona e tudo que eu mais queria era abraçar minha mãe.
Até os seis anos eu fui criada por um lindo casal
apaixonado. Minha mãe era a mulher mais linda que conhecia. Ela transcendia uma
alegria de viver muito grande e contagiava a todos a sua volta. Ela era meu
mundo.
Um dia, estranhamente, os adultos estavam me afagando
demais, me olhando com cara de dó, como se eu fosse um cachorrinho abandonado.
Procurava minha mãe e não a via em lugar nenhum. Quando perguntava, ninguém me
respondia.
Meu pai não queria me ver. Tio Abílio e Tia Conceição
ficaram encarregados em cuidar de mim até meu pai se acalmar. Não me lembro
muito desses dias. Tudo que sei é que quando voltei para casa, meu pai parecia
mais contente e me apresentou a Eleonora afirmando que ela era minha nova mãe e
nós nos entenderíamos muito bem.
Eu era menina demais e o mundo para mim ainda era pura
fantasia, mas podia sentir uma energia muito pesada no olhar daquela mulher,
tanto que começava a chorar quando ela se aproximava de mim.
-Lalinha e eu seremos
grandes amigas. Não é mesmo, Lalinha?
Eleonora tentava fazer carinhos na minha cabeça e falar que
nem retardada pra mostrar ao meu pai que tinha algum instinto materno. De fato
não tinha e nunca teria.
Eu era muito semelhante à Ingrid. Eleonora se sentia
desconfortável em ter de conviver com a miniatura de sua rival caminhando pela
casa, almejando a atenção de seu homem. Eu sempre seria um estorvo em sua
vida.
Se diante dos olhos de meu pai, Eleonora era um anjo, o
mesmo não podia dizer quando ficávamos a sós...
-Você não é minha mãe
e eu não gosto de você.
-E você acha que eu
gosto de você? Não gosto nem um pouco, mas seu pai quis ficar comigo, goste
você ou não.
-Quando ele souber que
você é má comigo, vai se separar de você.
-Vamos ver em quem ele
vai acreditar: na fedelha idiota ou na amada dele?
-Pois saiba que a
amada dele é minha mãe e ela vai voltar.
Por um bom tempo da minha vida imaginei mesmo que minha mãe
estava viajando pelo mundo e voltaria de repente para me salvar das garras da
Eleonora. Só mesmo quando tinha 10 anos de idade e a mãe de uma coleguinha
minha morreu é que minha ficha caiu.
Meu pai sempre acreditou na Eleonora, pois sua persuasão era
perfeita. Gustavo e ela seriam o par ideal. Manipuladores, opressores,
perversos.
Eleonora se sentiria vitoriosa caso meu nome não estivesse
naquele edital no final de janeiro. Não só ela como muita gente. Muita gente
próxima, inclusive.
Se não conseguisse domar aquelas recordações tenebrosas, o
tempo iria acabar e eu seria desclassificada logo na primeira etapa, portanto
fechei meus olhos e comecei a imaginar a Lalinha de 30 anos, a Lalinha que eu
queria ser e então o choro foi cessando até eu ter calma de encarar esse
desafio. Fraquejar não estava no sangue da minha família.
Som: Meu primeiro amor - Wanessa.
Mayra
aproveita a folga de domingo para visitar Fernanda e a encontra jogando
videogame.
-Milene veio
me visitar.
-Milene?
-É...
Queria conversar.
-Sobre o
que? O que ela queria? – Mayra desconfia da conduta de Milene
-Ah...
Nada de importante...
- Milene
tem uma mente meio fantasiosa.
-Sério?
Ela até chorou me contando umas histórias... Mas, mudando de assunto, eu tive
um pressentimento engraçado de que você viria, por isso mesmo trouxe bolo.
-Bolo?
Mayra repara
o tapewere com bolo de chocolate na mesa.
-Valeu,
amiga. De coração.
-Bolo? Que
bolo? - Mayra pressiona, tendo em mente que não preparou bolo algum e jamais
mandaria Milene entregar
-Como que
bolo? O bolo que você fez e pediu a Milene que entregasse.
-Eu não
fiz bolo nenhum, Fer.
-Não.
-Não, mas
estou com uma fome tão grande. Não faz mal se eu pegar um pedaço? Só um
pedacinho, uma lasquinha de nada.
-Fique a
vontade, May. Pode pegar quantos pedaços quiser... Você ta em casa, amiga.
Mayra
apanha do armário dois pratinhos de bolo, dois garfos e dois guardanapos e
serve Fernanda.
-Acho que
hoje vai chover... Milene fazendo bolo...
-Até que
ela fez uma ótima ação, pois eu estava com muita vontade de comer bolo.
Tanto Fernanda quanto Mayra ingerem um pedaço de
bolo cada e voltam a prosear, jogar videogame, embora o veneno já esteja
fazendo efeito sem que saibam.
-Amiga, se
importa se eu for pra casa mais cedo? – pergunta Mayra já pálida e com sudorese
-Não,
não. – Fernanda está um pouco tonta e não se sente disposta para se
levantar do sofá
-Não estou
me sentindo muito bem...
-Tudo
bem... Eu também não estou... Não se importa se eu não puder ir até a porta,
não?
Mayra só
tem tempo de voltar para casa, pois assim que Naira abre a porta, a menina
desmaia em seu colo.
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