terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Confissões de Laly Cap 56: A Libertação! (IMPERDÍVEL!)



56º Capítulo – A Libertação!

O capítulo terá como som de fundo a épica canção Tarzan Boy – Baltimora.

A narração de Laly mistura-se com as reações dos convidados, pois nem mesmo o mais otimista esperava pela reviravolta que libertará Laly das garras do perverso Gustavo.

COMO MENCIONADO NO CAPÍTULO ANTERIOR, UM ENSURDECEDOR SOM SE FAZ NOTAR POR ENTRE O GIGANTESCO JARDIM DA MANSÃO FIGUEIRA ANTARES, ALIÁS, QUEM MORA A PELO MENOS DOIS QUARTEIRÕES DE DISTÂNCIA PODE OUVIR O RUÍDO DAS SIRENES EM PLENO DOMINGO PELA MANHÃ.

PELO MENOS 20 VIATURAS DA POLÍCIA MILITAR ESTÃO FAZENDO CARREATA E ATRAEM A ATENÇÃO DO PÚBLICO MUITO MAIS QUE O SERMÃO DO PADRE.

 GUSTAVO FICA IMPACIENTE COM A BARULHEIRA E RECLAMA EM PENSAMENTO.

-Maldita sirene dos infernos. Não tinha outra hora pra fazer estardalhaço no nosso quarteirão? Tinha de ser justo agora? Justo no dia do meu casamento? Assim que a cerimônia acabar eu farei todos esses soldadinhos mal educados irem para o olho da rua. Ora essa... perturbarem a paz dos Figueira Antares para nada... E esse padre... Qual é? Pensa que tenho todo tempo do mundo? Por mim eu já dizia sim de uma vez e facilitava essa burocracia chata.

Laly já imagina a tenebrosa vida a dois com Gustavo. As surras, as relações forçadas, o sorriso plástico para as colunas sociais e assim como todos os presentes na cerimônia, estranha os carros da PM entrarem na propriedade dos Figueira Antares mesmo sem a permissão dos seguranças.

-Provavelmente virão me prender por causa do sequestro. Só pode...

Grazielle também estranha à movimentação da polícia e cochicha discretamente com Gabriel, mais desinformado do que ela.

Jordano Figueira Antares e a esposa não fazem ideia do que está acontecendo e é então que o chefe da operação, em frente ao primeiro carro, ordena:

-PAREM ESTE CASAMENTO AGORA MESMO.

Eleonora debocha.

-Só me faltava essa.
-Interromper o casamento? – protesta Edílson – Isso é um absurdo.

Não entendia mais nada. Todos consentiam com minha união com Gustavo. Ninguém se pronunciou quando era momento. Os tiras chegaram tarde demais.

-Gustavo Figueira Antares, você está preso.

Mayra e Fernanda, que estão sentadas ao lado de Emília, comemoram.

-Yes, yes, yes...
-Por favor... – repreende Emília
-Mãe... – Mayra retruca

Edílson, pasmo, cochicha com um coroinha e não entende o que está acontecendo. Nem ele nem ninguém.

-Só pode estar havendo um engano...

Gustavo estava incrédulo, embora incendiasse interiormente.

O padre fechou a enorme bíblia com capa dourada e os convidados permaneciam sentados sem entender o que estava acontecendo. Era um grande engano, possivelmente. Gustavo era endeusado a cada viela e a marginal era eu.

Dois PMS algemaram Gustavo, seu pai, seus dois irmãos mais novos e então eu soube de mais podridões da família Figueira Antares.

Era uma atitude estranha, mas comecei a chorar e rir ao mesmo tempo, tal como quando li aquela carta de Iury a qual ele pedia para fugir comigo.

- O senhor está preso e tudo que disser será utilizado contra você no tribunal.
-Está havendo um engano.

Gustavo não aceitava o fim da dinastia do mal.

-O senhor não é Gustavo Figueira Antares?
-Sim, sou.
-Então quem está enganado é o senhor.
-Mais cuidado com meu terno. Ele é de uma grife italiana. Eu sou Gustavo Figueira Antares. Não sou um qualquer... Eu exijo a presença dos meus advogados, aliás, só me pronuncio na presença deles.

Os advogados de Gustavo também foram presos junto com o contador da família por sonegação de impostos.

A imprensa teria um baita furo de reportagem sem querer!

Os próprios repórteres ainda estavam assimilando a situação, mas poderiam afirmar, com toda certeza, que a partir daquele incidente, o sequestro seria esquecido e suas carreiras decolariam. A prisão da família Figueira Antares não era uma manchete qualquer num rodapé qualquer da vida. Era matéria garantida por pelo menos um mês.

Ninguém ficava rico e multiplicava os patrimônios sem uma explicação lógica, ainda mais em tempos de hiperinflação.

Lembro-me do quanto D. Emília ralava para pagar o colégio de Mayra e Naira e de como precisávamos fazer acrobacias para o salário durar. Remarcação de preços era rotina. Só mesmo os Figueira Antares não sentiam as sucessivas crises financeiras e continuavam ostentando aquele padrão invejável de vida.

-Estou realmente surpresa. – Grazielle comenta com Gabriel
-E eu mais ainda. – Gabriel acrescenta
-Lalinha tem mesmo santo forte. Se safou na última hora. – comenta Sabrina
-Deus me livre filha minha casar com um bandido desses. – Gilberto esbraveja

Edílson e Eleonora se humilham tentando fazer a polícia não levar Gustavo, porém a voz da justiça fala mais alto e o vilão é colocado no camburão.

-Eu vou te tirar daí, Gustavo. – berra Edílson – A justiça será feita!

Mayra e Fernanda estão felizes pela libertação de Laly.

-E eu rezei pra que Deus fizesse o que fosse melhor pra Lalinha. – Mayra chora
-Nunca imaginei que Gustavo seria preso em plena cerimônia de casamento. Até parece coisa de filme, sei lá...

Fernanda comenta tirando de dentro da bolsa uma embalagem de jujuba.

Além disso, Gustavo era acusado de estupro, falsidade ideológica, posse de armas, falso testemunho e seria encaminhado para Piraquara, mas por ter curso superior, dividiria cela com os irmãos 171.

De forma inusitada e inesperada, minha liberdade acenava. Era o fim da opressão e também da dinastia Figueira Antares.

Os convidados, inconformados, iam embora aos poucos. Tio Abílio e Tia Conceição, que pareciam odiar tanto Gus, saíram sem sequer falar comigo. Fiquei triste.

E assim como nos filmes hollywoodianos que cresci assistindo, arranquei aquele véu ridículo da cabeça, o abandonei no tapete vermelho, tirei as sandálias e saí correndo gritando com toda força que tinha nas cordas vocais. May e eu nos abraçamos e eu até a rodopiei de tanta alegria.

Dorminhoco e Fuinha já estavam no carro e se eu já gostava de Tarzan Boy - Baltimora, naquele dia passei a gostar o dobro. Tornou-se meu Hino de Liberdade.

-E meus pertences?
-Fica fria, Lalinha. Já cuidamos de tudo. - avisou Fuinha

Fuinha não era mais aquele CDF desajeitado. Namorou Aimée, passou a se valorizar mais e a atrair mais garotas, assim como Dorminhoco, já apaixonado e noivo da Constantina Lima, filha do Pastor Lima, que veio passar uma temporada na nossa cidade para divulgar o templo de sua congregação.

-Vai entrar ou não? - brincava Dorminhoco
-Mas é claro.

May e Fernanda estavam ao meu lado com os olhos cheios de lágrimas. Mais do que nunca pude contar com elas em meus momentos de tribulação.

-Você volta pra minha festa, não volta? - insistia Mayra
-Se eu conseguir, volto sim.

Fernanda, emocionada, tirou sua pulseira preferida (presente da falecida mãe) e disse.

-Fica com ela.
-Mas Fernanda, você adora essa pulseira!
-Por isso mesmo! Assim você não me esquece nunca.

Nos abraçamos e choramos. Justo eu que prometi não chorar.

Na parte de trás da picape fiz uma banana para Eleonora e nem poderia descrever com palavras a alegria de saber sim que Deus não só olhava por mim como deixou o melhor para o final, tal como nas novelas que cresci assistindo.

Fiz banana para todos aqueles idiotas que passaram a vida a me julgar como se estivessem acima do bem e do mal.

-ADEUS CIDADE IDIOTA!ADEUS BEATAS FUXIQUEIRAS!ADEUS ELEONORA BRUXA!ADEUS OPRESSÃO!OBRIGADA, DEUS!OBRIGADA DEUS POR TUDO!

Eu realmente não acreditava mais na liberdade e de repente, como num piscar de olhos, eu estava em cima da picape de meus dois amigos de infância rumo a cidade grande, onde o mundo realmente acontecia.

Não sabia que o pai de Dorminhoco e Fuinha era delegado e já estava investigando a vida dos Figueira Antares havia muito tempo. O que contribuiu para a prisão de Gus foi o depoimento de Karine, valete do vilão que na prisão contou aos investigadores detalhes que todos desconhecíamos.

Gustavo era o mandante de diversos assassinatos na região, havia estuprado dezenas de garotas como eu, falsificou meu gabarito do vestibular e remexeu no cenário do crime de Milene. Foi ela que tentou matar Fernanda e Mayra.

Gus não tinha autorização para portar armas, muito menos para presentear Milene com um revólver. Com tantas acusações recaindo sobre sua cabeça, não se livraria da cadeia tão facilmente.

Dormi na casa dos meninos e quando acordei, soube de uma notícia que me deixou bastante apreensiva.

-O resultado do vestibular sai hoje. - avisou Fuinha
-A que horas?
-Às 14h00min. Quero estar lá às 13h00min porque temos mais chances de apanhar a edição extra do jornal que contém os nomes de todos os aprovados...
-Já digo que se eu passar, caso com a Tininha esse ano mesmo...

Em dezembro Dorminhoco iria para o bar tomar todas. Definitivamente, ele não era mais o mesmo.

Por insistência do Fuinha chegamos ao Politécnico por volta de 12h50min e o lugar já estava cheio de jovens como nós, alguns em companhia de seus pais. Alguns repórteres entrevistavam vestibulandos e um trio elétrico já animava a todos ali.

Pontualmente às 14h00min pudemos ter acesso aos editais e os mais sortudos conseguiram apanhar os exemplares do jornal onde estavam os nomes dos sortudos que estudariam na Universidade Federal do Paraná. Os chorões teriam de tentar outra vez no final do ano.

Minhas pernas tremiam bastante e meus olhos lacrimejantes já se preparavam para o pior. Iria ver aquele edital por desencargo de consciência.

Fuinha, aos prantos, parecia o Kiko da série Chaves chorando. Dorminhoco pulava pelos corredores.

-NÃO ACREDITO...

Abracei Dorminhoco.

-Passou?
-Passei.
-Agora tem que casar, hein?
-Já viu o seu, Lalinha?

Todo o respeito que Dorminhoco tinha por mim acabaria quando se desse conta de que meu nome não estava no edital. Inacreditável ou não, as reviravoltas estavam com tudo naquele ano, pois meu nome estava entre os 30 aprovados. Uma parte do sonho já havia sido realizada.

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