56º Capítulo – A
Libertação!
O capítulo terá como som de fundo a épica canção
Tarzan Boy – Baltimora.
A
narração de Laly mistura-se com as reações dos convidados, pois nem mesmo o
mais otimista esperava pela reviravolta que libertará Laly das garras do
perverso Gustavo.
COMO
MENCIONADO NO CAPÍTULO ANTERIOR, UM ENSURDECEDOR SOM SE FAZ NOTAR POR ENTRE O
GIGANTESCO JARDIM DA MANSÃO FIGUEIRA ANTARES, ALIÁS, QUEM MORA A PELO MENOS
DOIS QUARTEIRÕES DE DISTÂNCIA PODE OUVIR O RUÍDO DAS SIRENES EM PLENO DOMINGO
PELA MANHÃ.
PELO
MENOS 20 VIATURAS DA POLÍCIA MILITAR ESTÃO FAZENDO CARREATA E ATRAEM A ATENÇÃO
DO PÚBLICO MUITO MAIS QUE O SERMÃO DO PADRE.
GUSTAVO
FICA IMPACIENTE COM A BARULHEIRA E RECLAMA EM PENSAMENTO.
-Maldita sirene dos infernos. Não tinha
outra hora pra fazer estardalhaço no nosso quarteirão? Tinha de ser justo
agora? Justo no dia do meu casamento? Assim que a cerimônia acabar eu farei
todos esses soldadinhos mal educados irem para o olho da rua. Ora essa...
perturbarem a paz dos Figueira Antares para nada... E esse padre... Qual é?
Pensa que tenho todo tempo do mundo? Por mim eu já dizia sim de uma vez e
facilitava essa burocracia chata.
Laly
já imagina a tenebrosa vida a dois com Gustavo. As surras, as relações forçadas,
o sorriso plástico para as colunas sociais e assim como todos os presentes na
cerimônia, estranha os carros da PM entrarem na propriedade dos Figueira
Antares mesmo sem a permissão dos seguranças.
-Provavelmente
virão me prender por causa do sequestro. Só pode...
Grazielle
também estranha à movimentação da polícia e cochicha discretamente com Gabriel,
mais desinformado do que ela.
Jordano
Figueira Antares e a esposa não fazem ideia do que está acontecendo e é então
que o chefe da operação, em frente ao primeiro carro, ordena:
-PAREM
ESTE CASAMENTO AGORA MESMO.
Eleonora debocha.
-Só me faltava essa.
-Interromper o casamento? – protesta
Edílson – Isso é um absurdo.
Não entendia mais nada. Todos
consentiam com minha união com Gustavo. Ninguém se pronunciou quando era
momento. Os tiras chegaram tarde demais.
-Gustavo Figueira Antares, você está
preso.
Mayra e Fernanda, que estão sentadas ao
lado de Emília, comemoram.
-Yes, yes, yes...
-Por favor... – repreende Emília
-Mãe... – Mayra retruca
Edílson, pasmo, cochicha com um
coroinha e não entende o que está acontecendo. Nem ele nem ninguém.
-Só pode estar havendo um engano...
Gustavo estava incrédulo, embora incendiasse
interiormente.
O padre fechou a enorme bíblia com capa dourada e
os convidados permaneciam sentados sem entender o que estava acontecendo. Era
um grande engano, possivelmente. Gustavo era endeusado a cada viela e a
marginal era eu.
Dois PMS algemaram Gustavo, seu pai,
seus dois irmãos mais novos e então eu soube de mais podridões da família
Figueira Antares.
Era uma atitude estranha, mas comecei a
chorar e rir ao mesmo tempo, tal como quando li aquela carta de Iury a qual ele
pedia para fugir comigo.
- O senhor está preso e tudo que disser
será utilizado contra você no tribunal.
-Está havendo um engano.
Gustavo não aceitava o fim da dinastia
do mal.
-O senhor não é Gustavo Figueira
Antares?
-Sim, sou.
-Então quem está enganado é o senhor.
-Mais cuidado com meu terno. Ele é de
uma grife italiana. Eu sou Gustavo Figueira Antares. Não sou um qualquer... Eu
exijo a presença dos meus advogados, aliás, só me pronuncio na presença deles.
Os advogados de Gustavo também foram
presos junto com o contador da família por sonegação de impostos.
A imprensa teria um baita furo de
reportagem sem querer!
Os próprios repórteres ainda estavam
assimilando a situação, mas poderiam afirmar, com toda certeza, que a partir
daquele incidente, o sequestro seria esquecido e suas carreiras decolariam. A
prisão da família Figueira Antares não era uma manchete qualquer num rodapé
qualquer da vida. Era matéria garantida por pelo menos um mês.
Ninguém ficava rico e multiplicava os
patrimônios sem uma explicação lógica, ainda mais em tempos de hiperinflação.
Lembro-me do quanto D. Emília ralava
para pagar o colégio de Mayra e Naira e de como precisávamos fazer acrobacias
para o salário durar. Remarcação de preços era rotina. Só mesmo os Figueira
Antares não sentiam as sucessivas crises financeiras e continuavam ostentando
aquele padrão invejável de vida.
-Estou realmente surpresa. – Grazielle
comenta com Gabriel
-E eu mais ainda. – Gabriel acrescenta
-Lalinha tem mesmo santo forte. Se
safou na última hora. – comenta Sabrina
-Deus me livre filha minha casar com um
bandido desses. – Gilberto esbraveja
Edílson e Eleonora se humilham tentando
fazer a polícia não levar Gustavo, porém a voz da justiça fala mais alto e o
vilão é colocado no camburão.
-Eu vou te tirar daí, Gustavo. – berra
Edílson – A justiça será feita!
Mayra e Fernanda estão felizes pela
libertação de Laly.
-E eu rezei pra que Deus fizesse o que
fosse melhor pra Lalinha. – Mayra chora
-Nunca imaginei que Gustavo seria preso
em plena cerimônia de casamento. Até parece coisa de filme, sei lá...
Fernanda comenta tirando de dentro da
bolsa uma embalagem de jujuba.
Além disso, Gustavo era acusado de
estupro, falsidade ideológica, posse de armas, falso testemunho e seria encaminhado
para Piraquara, mas por ter curso superior, dividiria cela com os irmãos 171.
De forma inusitada e inesperada, minha
liberdade acenava. Era o fim da opressão e também da dinastia Figueira Antares.
Os convidados, inconformados, iam
embora aos poucos. Tio Abílio e Tia Conceição, que pareciam odiar tanto Gus,
saíram sem sequer falar comigo. Fiquei triste.
E assim como nos filmes hollywoodianos
que cresci assistindo, arranquei aquele véu ridículo da cabeça, o abandonei no
tapete vermelho, tirei as sandálias e saí correndo gritando com toda força que
tinha nas cordas vocais. May e eu nos abraçamos e eu até a rodopiei de tanta
alegria.
Dorminhoco e Fuinha já estavam no carro
e se eu já gostava de Tarzan Boy -
Baltimora, naquele dia passei a gostar o dobro. Tornou-se meu Hino de
Liberdade.
-E meus pertences?
-Fica fria, Lalinha. Já cuidamos de
tudo. - avisou Fuinha
Fuinha não era mais aquele CDF
desajeitado. Namorou Aimée, passou a se valorizar mais e a atrair mais garotas,
assim como Dorminhoco, já apaixonado e noivo da Constantina Lima, filha do
Pastor Lima, que veio passar uma temporada na nossa cidade para divulgar o
templo de sua congregação.
-Vai entrar ou não? - brincava
Dorminhoco
-Mas é claro.
May e Fernanda estavam ao meu lado com
os olhos cheios de lágrimas. Mais do que nunca pude contar com elas em meus
momentos de tribulação.
-Você volta pra minha festa, não volta?
- insistia Mayra
-Se eu conseguir, volto sim.
Fernanda, emocionada, tirou sua
pulseira preferida (presente da falecida mãe) e disse.
-Fica com ela.
-Mas Fernanda, você adora essa
pulseira!
-Por isso mesmo! Assim você não me
esquece nunca.
Nos abraçamos e choramos. Justo eu que
prometi não chorar.
Na parte de trás da picape fiz uma
banana para Eleonora e nem poderia descrever com palavras a alegria de saber
sim que Deus não só olhava por mim como deixou o melhor para o final, tal como
nas novelas que cresci assistindo.
Fiz banana para todos aqueles idiotas
que passaram a vida a me julgar como se estivessem acima do bem e do mal.
-ADEUS CIDADE IDIOTA!ADEUS BEATAS
FUXIQUEIRAS!ADEUS ELEONORA BRUXA!ADEUS OPRESSÃO!OBRIGADA, DEUS!OBRIGADA DEUS
POR TUDO!
Eu realmente não acreditava mais na
liberdade e de repente, como num piscar de olhos, eu estava em cima da picape
de meus dois amigos de infância rumo a cidade grande, onde o mundo realmente
acontecia.
Não sabia que o pai de Dorminhoco e
Fuinha era delegado e já estava investigando a vida dos Figueira Antares havia
muito tempo. O que contribuiu para a prisão de Gus foi o depoimento de Karine,
valete do vilão que na prisão contou aos investigadores detalhes que todos
desconhecíamos.
Gustavo era o mandante de diversos
assassinatos na região, havia estuprado dezenas de garotas como eu, falsificou
meu gabarito do vestibular e remexeu no cenário do crime de Milene. Foi ela que
tentou matar Fernanda e Mayra.
Gus não tinha autorização para portar
armas, muito menos para presentear Milene com um revólver. Com tantas acusações
recaindo sobre sua cabeça, não se livraria da cadeia tão facilmente.
Dormi na casa dos meninos e quando
acordei, soube de uma notícia que me deixou bastante apreensiva.
-O resultado do vestibular sai hoje. -
avisou Fuinha
-A que horas?
-Às 14h00min. Quero estar lá às
13h00min porque temos mais chances de apanhar a edição extra do jornal que
contém os nomes de todos os aprovados...
-Já digo que se eu passar, caso com a
Tininha esse ano mesmo...
Em dezembro Dorminhoco iria para o bar
tomar todas. Definitivamente, ele não era mais o mesmo.
Por insistência do Fuinha chegamos ao
Politécnico por volta de 12h50min e o lugar já estava cheio de jovens como nós,
alguns em companhia de seus pais. Alguns repórteres entrevistavam vestibulandos
e um trio elétrico já animava a todos ali.
Pontualmente às 14h00min pudemos ter
acesso aos editais e os mais sortudos conseguiram apanhar os exemplares do
jornal onde estavam os nomes dos sortudos que estudariam na Universidade
Federal do Paraná. Os chorões teriam de tentar outra vez no final do ano.
Minhas pernas tremiam bastante e meus
olhos lacrimejantes já se preparavam para o pior. Iria ver aquele edital por
desencargo de consciência.
Fuinha, aos prantos, parecia o Kiko da
série Chaves chorando. Dorminhoco pulava pelos corredores.
-NÃO ACREDITO...
Abracei Dorminhoco.
-Passou?
-Passei.
-Agora tem que casar, hein?
-Já viu o seu, Lalinha?
Todo o respeito que Dorminhoco tinha
por mim acabaria quando se desse conta de que meu nome não estava no edital.
Inacreditável ou não, as reviravoltas estavam com tudo naquele ano, pois meu
nome estava entre os 30 aprovados. Uma parte do sonho já havia sido realizada.
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