69º
Capítulo – Difícil decisão... (ÚLTIMO CAPÍTULO DA 1ª FASE)
Enquanto
isso, na tv...
-Fernanda Gallardo é a nova Miss Brasil. – o
âncora do telejornal fala sozinho, pois Gilberto apanhou a chave do carro e
levou Gabriel e Grazielle para a maternidade
-To com tanto medo,
Biel. – Grazielle, já pronta para o parto, segura nas mãos do amado, que dessa
vez entra na sala de parto com a esposa
-Medo do que, meu
amor? Você já passou por isso uma vez...
-Mas vou passar de
novo.
-Eu to com você. –
Gabriel beija a testa da amada – Segura na minha mão e acredita que tudo vai
ficar bem, meu amor. Você já me deu tantos presentes, me devolveu a razão de
viver.
Juan nasce por volta
das 04h00min da manhã com 3 kg e 500g, 53 cm e ilumina um lindo dia de inverno,
mais especificamente o dia 19 de julho de 1996, também data da cerimônia de
abertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta, Estados Unidos.
Som: Fields of gold – Sting.
Fernanda tornou-se
Miss Brasil à noite anterior, pois a primeira colocada deu um passo para
receber a coroa, caiu desfalecida e morreu ao dar entrada no hospital. A
coordenação do concurso não entrou em detalhes acerca da morte da miss e
optaram por permitir que o 2º lugar assumisse o posto.
Som: Kiss of life – Sade.
O amor
soprava na calçada colorida pelas flores outonais que cercavam a praça. A
verdade é que esse outono tinha aspecto primaveril e me acalentava, me incitava
a me aventurar pelo desconhecido.
-Será
mesmo que você não está com medo de aceitar que já se apaixonou?
-Tão
rápido assim? - perguntou o Eu Lírico
Não
precisava de mais perguntas para me confundir. Desligaria meus achismos e
viveria um dia de cada vez.
Na medida
em que se sucediam os dias, mais e mais Abel se apossava de meus pensamentos.
Até meus colegas de suruba percebiam que eu estava diferente.
-Ta
caidinha pelo chefinho. - zoava Cláudio
-Bem
capaz.
-Ta sim e
ta com medo de assumir.
-Medo de
amar? Quem tem medo de amar tem medo da vida e isso eu não tenho.
Claro que eu tinha medo de amar!
Meus
relacionamentos só duravam porque eu não me envolvia. Só pegava quem era
bonito, quem trepava com mais entusiasmo e pudesse me oferecer a vida que
merecia, aliás, a vida que escolhi pra mim.
Eu poderia
muito bem ter sido `boazinha` e nunca ter me formado, ter um casamento meia
boca, morar numa casa alugada na periferia, ter um filho por ano e não fazer
nada por mim. Optei pela carreira porque o amor me mostrou que todo sofrimento
não compensava nem um pouco.
O
engraçado era que quanto mais eu desprezava o Abel, mais e mais ele se
encantava e me surpreendia, me fazia tentar perder o medo de me aproximar. Com
ele eu gostava de ser Lalinha.
Ser Judy
às vezes me irritava. Os caras só queriam me comer porque eu era gostosa e
topava todas, mas ninguém queria falar de sentimento, reavivar o romantismo,
saber que dentro de mim existia uma adolescente apaixonada e sonhadora.
Eu era puta
maior parte do tempo e foi assim que aprendi a me virar na vida, nos 30, perder
o medo da noite, do preconceito, de mim mesma.
Um dia,
quando voltei de meus compromissos, encontrei Abel parado em frente ao meu
prédio. Com as mãos dentro do bolso da calça, sorria como se tivesse passado a
vida inteira me aguardando.
-Boa
noite, Cinderela. Me convida pra entrar?
-Se você
aceitar um licorzinho...
Liguei o
som para criar uma atmosfera menos arredia. Se não pudéssemos ser amantes,
seríamos apenas dois amigos.
-Cassis? –
perguntei
-Pode ser.
Sou apenas visita. - brincou Abel
-Algum
acompanhamento? Posso pedir uma pizza ou um temaki...
-Você sabe
o que eu mais quero...
Enrubesci
sem perceber. O que era aquilo?
Eu já era
uma mulher, mas me deslumbrei como uma menina quando Abel sorriu pra mim.
O amor, em
pouco tempo, estava munindo todas as minhas defesas, derrubando todos os muros
que construí para que ninguém se aproximasse de mim.
-Não me
conformo que uma moça tão linda como você não tenha namorado.
Segredos
à parte, a cada momento eu me via mais próxima de Abel. Cada vez mais.
-Me
deixa te amar, leoa. Não precisa ter medo.
-Eu
não tenho medo.
-Tem.
Eu posso ver em seus olhos que você tem medo.
-Por
que não mudamos de assunto?
-Se
tudo me leva a falar de amor...
Me
sentei ao seu lado no sofá de três lugares e então me rendi, permiti que me
beijasse e quando me dei conta, estava deitada em minha cama e Abel me
penetrava. O desejo chegava a doer fisicamente.
Eu o amava!
Não
somente amava como não queria mais disfarçar, só que me esquecia de um
importante detalhe: para ele eu era a virginal jornalista recém-formada e não a
Judy Pankekinha. Temia perder meu amor caso ele descobrisse a respeito de minha
obscura vida.
Som: Carolyna – Mel C.
Enquanto minha
carreira no jornalismo engatinhava, o universo pornô me dava à possibilidade de
ir morar fora do Brasil e assinar contrato VIP com a maior produtora do
segmento no planeta, localizada em Los Angeles, Califórnia. Noutra oportunidade
eu já estava no aeroporto prontinha para embarcar, mas de repente eu não me via
mais fazendo aquilo. De repente eu queria ser a namorada de alguém, talvez
apenas outra jornalista ralando de 9 às 9 segunda a domingo.
-Depois diz que não
está apaixonada. Pensar no que, Laly? Uma oportunidade como essa é o que toda
atriz no teu lugar queria ter... - Cláudio me incentivava a ir trepar no
estrangeiro
Quando meu cachê
subiu, eu escolhia a dedo meus trabalhos e não aparecia em qualquer
pornochanchada de quinta.
Havia muito tempo que
não namorava, não beijava na boca com aquele desejo de nunca mais desgrudar da
pessoa. Havia tanto tempo que não ouvia música romântica e me identificava com
elas. Ia ficando cada vez mais difícil dizer NÃO ao amor.
Se Cláudio era um
cafetão ganancioso, Abel, em contrapartida, foi convidado para trabalhar numa
famosa revista em São Paulo e queria muito que eu o acompanhasse. Havia um
porém.
-Que porém, Lalinha?
-Você não entende. Eu
não posso largar minha vida assim tão fácil do jeito que você ta falando.
-Lalinha, você ta
complicando tudo. Eu fiz uma proposta que muita colega tua nunca vai receber na
vida. Não se trata de um carguinho qualquer numa revista fuleira. É tua
carreira. É tua vida. - meu baixinho gesticulava pra caramba
-Existe um porém...
-Eu não vejo
impedimento nenhum.
-Será que vai
continuar me vendo com bons olhos depois do que eu te contar?
-Pensei que não
tivéssemos segredos.
-Talvez devêssemos
ter...
-Não, Lalinha. Eu já
te contei tudo sobre mim e você me vê com bons olhos, eu acho...
-Eu sou atriz.
-É isso?
-Bem, eu não sou uma
atriz muito comum.
-Tão linda desse jeito
merecia as telenovelas.
-Não, Abel. Não é
isso.
-Então o que é leoa?
-Não deveria te falar.
-Pois deixe de ser
acanhada, minha leoa e abra esse coração. – Abel acariciava minhas mãos e eu
recuava
-Eu sou uma atriz
pornô.
-Ta brincando?
-Mais sério do que
estou falando, impossível!
Coloquei os óculos
rosa da Judy.
-Me reconhece agora?
-Judy Pankekinha?
Abel se ajoelhou aos
meus pés para toda vez que transássemos eu encarnasse a Judy Pankekinha.
-JUDY ME DEU MORAL.
Se já estava
constrangida por perder meu amor, mais ainda quando o próprio, deslumbrado, se
levantou do lugar em que estava, de frente para mim e se ajoelhou aos meus pés,
os beijando até chegar a minha mão direita.
-A deusa do sexo me
deu moral. – ria, emocionado, bobo
-Para, Abel. – meu
desejo era desmoronar e eu o fiz
-Chorando, Laly?
-Não, não. Foi um
cisco que caiu em meu olho.
Abel me abraçando
pelos ombros, encheu minha cabeça de beijos e me prometeu que não importava o
que acontecesse, estaríamos sempre juntos. Só passou a sentir um pouco de ciúme
por saber que além dele outras pessoas ainda tinham meu prazer. Também fui
honesta e contei a ele acerca da proposta que Cláudio estava fazendo.
-Eu prometo que se
você ficar comigo eu vou te dar o dobro do que você ganha na pornografia.
Cláudio, por sua vez,
tentava abrir meus olhos.
-A paixão pode acabar,
mas tua carreira não. Você é Judy Pankekinha, a atriz erótica mais famosa e
comentada do Brasil. Você é uma diva. Não vai colocar a perder tudo que você
ganhou por causa de um mané que disse ‘eu te amo’.
Talvez Cláudio tivesse
mesmo razão. A questão era que Abel já havia entrado em meu coração mesmo que
eu tentasse renegar, afastar o sentimento, fugir, fingir. Eu já amava Abel e
nada poderia mudar isso. Certeza assim eu só tive aos 16, quando comecei a
namorar Iury.
-Você tem dois dias
pra decidir.
Tanto Abel quanto
Cláudio estipularam o prazo.
Nessas duas noites
chorei todas as lágrimas que guardei nesses anos de putaria sem fim. Não chorei
apenas pela carreira que abandonaria, pelo amor que possivelmente viria para
realizar meus sonhos de adolescente. Chorei ao mesmo tempo de alegria por ser
Lalinha novamente.
Som: I don’t know (acoustic) – Erika.
Laly entra no
aeroporto Afonso Pena ciente de que tomou a melhor decisão de sua vida e
suspira.
-Espero mesmo ter
feito à coisa certa, Deus. Uma vez escrito, não posso mais pensar em voltar
atrás...
FIM DA 1ª
FASE
Pensa que
acabou? Que nada! O melhor ainda está por vir.
FAMA
OU
AMOR
è O que VOCÊ escolheria? ß
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