quarta-feira, 18 de abril de 2012

Confissões de Laly Cap 144 - Por favor, não vá!



Por favor, não vá!

Som de suspense...

Iury só não reconheceria Eleonora se não fosse pela ironia sem precedentes da megera, cada vez mais inescrupulosa e satânica.

-Não, é o falecido...

Iury se levanta dando batidinhas na roupa para tirar a poeira.

-O que está fazendo aqui?

-Eu é que lhe pergunto. Ninguém aqui o suporta, ninguém aqui o quer...

-Diria isso a você.

-Até quando você vai continuar fingindo ser o que não é, hein?

-Por que não para com isso, Eleonora?

-Parar com o que? Posso saber?

-Além de louca é cínica.

-EU? – ri alto – Não me faça rir, seu idiota. Já perdeu o jogo e não se rende.

-Psicopata imunda. – Iury prensa Eleonora contra a parede – Dessa vez você foi longe demais. – tenta estrangular a vilã – Não sente remorso pelo que fez, hein? Não sente nada por ninguém?

Eleonora escapa da morte golpeando Iury com o joelho e quando recupera o fôlego, ironiza.

-Eu não, meu amor. Você. Não vai responder o que lhe perguntei, seu mal educado?

-Você foi longe demais.

-Eu não fiz nada, querido. Eu não sou o dr. Iury Saciotti.

-Você é doente! – berra – Você é doente!

-Ao menos não tento ser o que não sou. – acena e manda beijos estalando os lábios para provocar Iury – Fica a dica, molenga do jaleco branco.

Som: Unbreak my heart – Toni Braxton.

Um jovem belo e de porte bastante atraente demorou, mas conseguiu chegar até a rua onde os Gallardo moram.

Já passa das 04h00min e vários discos e cds de Gilberto já tocaram. Fernanda atende a cada exigência do pai e grande parte da vizinhança acompanha o velório prestando condolências aos que ficaram, sobretudo porque conheciam a índole do falecido e a devoção deste por filha e neta, as mais atingidas com a repentina perda.

Flavio é reconheço por muitas pessoas mesmo estando com um pesado casaco, faz frio esta noite.

-Flavio saiu da casa?

-Mas hoje nem é dia de eliminação.

Flavio gentilmente acena e pergunta.

-Sabem onde posso encontrar Lalinha?

-Lalinha ta ali.

Lalinha está amparando Cybele, que teve outra crise de choro, quando fita outro ambiente e encontra Flavio e esfrega os olhos para ver se não está alucinada ou algo do gênero, mas não... Flavio está a sua frente.

-Flavio? – nem Laly acredita no que está vendo

-Em carne e osso, minha princesa.

Laly se levanta ainda incrédula, pois nunca foi amada desse modo. Abel vê o rival se aproximando da amada e até começa a coçar uma das orelhas para disfarçar o medo de perder Laly para o go go boy.

-Que se danem os 500 mil. A casa sem você não tem graça.

Como Iury não assiste muito ao reality e percebe que Abel está enciumado, resolve tomar café só para puxar assunto:

-Sabe quem é esse aí? Lalinha parece a vontade com ele.

-Não sei e nem quero saber... – Abel deixa Iury falando sozinho

Laly e Flavio acabam se beijando.

-Eu não me sentiria digno de vencer sem teu amor, sabendo que seu mundo ficou mais triste.

-Ah, Flavio... – Laly se emociona e chora

Fernanda está triste pela morte do pai, mas não se sente nada convencida vendo Laly e Flavio como casal, apesar de eles ostentarem incontestável harmonia, percebendo então o quanto a protagonista é a mulher perfeita para Abel e por isso mesmo vai falar com o jornalista.

-Ta sobrando aí, sagui?

-Pelo visto o cafajeste quer mesmo ficar com a leoa...

-Ciúmes?

-EU? Bem capaz... Só quero que minha leoa seja muito feliz, mas com esse cara aí não. Não coloco fé nele...

-Você teve seu tempo, Abel.

-Ainda posso ter.

-Laly não pensa mais assim. Acabou.

AMANHECE...

Som: I’ll stand by you – The Pretenders.

Por volta das 08h30min da manhã o padre Ângelo, da paróquia onde Gilberto frequentava, veio dar a extrema-unção a Gilberto e Lílian voltou a ter crises de choro e desmaiou duas vezes, precisando ser amparada por Iury, ainda que o rejeitasse com todas as forças.

Caminhamos até o cemitério sob os leves pingos de chuva. Estávamos todos cansados, carregando nos ombros uma dor que não era exatamente nossa, mas nos foi transmitida porque Gilberto se fez especial na vida de cada um, seja com seus ensinamentos ou apenas sua raríssima educação, ainda mais em tempos os quais se valoriza mais a beleza do que a bondade.

Incessantes perguntas rondavam nossas mentes fazendo com que os corações se comprimissem de tal forma que a compaixão nos deixava mais sensíveis, justamente quem sempre continha o pranto publicamente ou nem mais rezava. As palavras do padre misturavam-se aos salgados sussurros de despedida e lentamente as rosas eram jogadas ao túmulo de Gilberto.

-E hoje chega ao fim à história de um grande herói. – lamentou Abel, tentando manter-se impassível

-Que Deus o tenha em sua última morada. – exclama o padre

Lílian abraçou a cintura de Fernanda em choro histérico, as lágrimas que representavam a todos. A criança perdeu a pessoa que mais a amava em todo o mundo.

20 minutos depois grande parte do público deixou o cemitério, mas May, Fer, Lílian, Flavio e eu ali permanecemos. Lílian ainda não conseguia parar de chorar. Grazielle e Gabriel nem mesmo queriam esperar.

-Lílian, por que não vamos para casa arrumar as malinhas? – Grazi tenta falar abobado para convencer Lílian

-Não vou a parte alguma.

-Não dificulte mais as coisas, criança. Tenho certeza de que era isso que seu avô iria querer.

-Não era. – Lílian grita – Não era.

-Por que não esperam alguns dias até Lílian se acalmar? Ela ainda está transtornada com o que aconteceu e precisa de um tempo para recobrar a calma e pensar sobre a proposta, analisar... – tentei ponderar a situação

-Eu não vou à parte alguma! Quem estava sempre com meu avô era Fernanda e não vocês. Vocês nem ao casamento dele vieram e já querem me raptar aí como se me conhecessem e soubessem o que é melhor pra mim, mas não sabem. Não é só porque tenho 10 anos que vou consentir com tudo. Eu quero morar com a Tia Fernanda e se não puder morar com ela, fujo de casa.

-Eu vou voltar a morar em São Paulo.

-E eu vou com você até pra China se precisar, mas de você eu não largo, tia. Não mesmo.

-Mas você não vai se acostumar a São Paulo.

-Posso tentar, mas não quero ir com eles.

-Sua tia Grazi tem razão. O vô ia gostar muito que você fosse morar com eles...

-Quer se livrar de mim, não é mesmo?

-Não é isso, mas...

-Tudo bem, eu já entendi.

Som: O-oh girl (The things are gonna get easier) – The Five Stairstreps.

Chorando, Lílian abraça Yasmin.

-Vou sentir muita saudade de você, amiga.

-Eu também vou. – Yasmin desata em lágrimas – Sempre sentirei saudades.

-Você vai encontrar outra amiga na sua nova escola e nem vai lembrar-se de mim.

-Vou. – chorando muito – Vou sim e sabe por quê? Porque você foi e sempre vai ser minha melhor amiga. Promete-me uma coisa?

-O que você quiser...

-Promete que vai sempre usar essa pulseirinha e lembrar-se de mim?

-Claro! – as amigas se abraçam

-Lílian! – grita Grazi – Lílian! Já estamos indo!

Lílian, envergonhada, teme abraçar Rafael, mas ele a surpreende tomando a iniciativa.

-Vou sentir saudades, sardentinha. Boa viagem!

-Se despede do Pepo por mim.

Lílian abraça Fernanda.

-Tia, você vem me visitar, né?

-Sempre que puder.

-Então pelo menos me liga...

Em seguida dirige-se até Laly, a abraça com força, chora muito e a protagonista a ampara.

-Também sentirei sua falta.

Laly tira sua pulseirinha com pingentes e coloca no pulso de Lílian.

-Mas você adora essa pulseira, Lalinha!

-Por isso mesmo... – beija a testa de Lílian – Pra te dar muita sorte!

 Só então Lílian acena pela última vez e entra no carro não apenas deixando Guaratuba, mas toda sua vida na estrada e pelo vidro passa a enxergar um novo mundo o qual não se encaixa nem pertence e por mais que os adultos continuem falando o mesmo idioma, os dialetos lhe parecem completamente fora de ordem.

Já Fernanda, sentada na área de casa, abraça Laly e deita a cabeça em seu ombro.

-Mais um pedaço do meu coração quebrou-se hoje. – suspira com pesar - Essa casa vai ficar tão vazia sem a minha menina.

-Nem me fala.

-Lílian mal se foi e já ta fazendo uma falta.

Após algumas horas de viagem, Lílian enfim chega ao destino final, contempla o frontispício da casa onde Biel e Grazi vivem. Parados atrás de Lílian, a abraçam.

-Seremos muito felizes aqui. – Biel agrada a sobrinha

E o casal conduz Lílian até dentro do lar onde encontram Alvaro e Juan dormindo no sofá ao lado da babá contratada para tomar conta dos garotos durante a viagem.

-Sozinha você nunca ficará.

Som: Clocks – Coldplay.

Nilton continua sob coma induzido, respirando com a ajuda de aparelhos, o que faz Naira madrugar no hospital e abandonar a profissão. A culpa por ter saído do convento vive a atormentá-la dia e noite.

Edílson continua detido e sem direito a habeas corpus, por mais que Iury e Celso lutem para libertá-lo e para o médico nem tudo tem sido fácil, pois os três assassinatos no hospital onde Gilberto faleceu são bastante mostrados nos noticiários, especialmente o Toda Poderosa News, comandado por Abel e cada vez mais os vestígios incriminam o ex-noivo de Laly.

-Isso é um absurdo! Eu jamais mataria um paciente por besteira. Eu amo a Medicina. Alguém está tentando me incriminar, mas isso tudo é um grande equívoco.

Iury sente-se duplamente sozinho porque a única pessoa com quem conseguia conversar era Nilton e as chances de cura do primo são cada vez mais remotas, assim como a sobrevivência do pai de Pepo. Caso Nilton apresente morte cerebral, cabe à família decidir se doará os órgãos do homem. Naira se recusa a fazê-lo.

-Nilton deve sobreviver até quando o coração não mais suportar.

-Estaremos apenas prolongando o sofrimento dele e de Pepo. – Emília discorda – Eu não queria que chegasse a esse ponto, mas infelizmente Nilton traçou seu destino e pagou o preço por atitudes e decisões equivocadas...

-Não concordo.

-Pepo pode até sofrer por perder o pai, mas sua dor é muito maior vivendo nesse estado de incerteza.

Pepo está muito deprimido, pouco presta atenção nas aulas e não interage mais com os coleguinhas. Não demonstra, mas sente muita saudade de Lílian que também chora muito pensando em todos que deixou em Guaratuba.

Fernanda está mesmo disposta a voltar para São Paulo e só vai à aula porque May e Lalinha a obrigam.

-Que é isso, Fer? Se matricula para não ir, é?

-Pois é, Lalinha. A dona moça aqui ta pensando em largar o colégio.

-Mas não larga não...

-Já decidi e vou largar tudo sim... Agora me deixem dormir.

-Acha que o Gilberto ia gostar de ter desistindo de tudo, é? Acha que ele ta orgulhoso disso? Pois eu digo: não! Você mesma disse que covardia não está no sangue da família. Pensa que dinheiro nasce em árvore e que se passa de ano com milagre? – Laly puxa o edredom de Fernanda – Vamos acordando, dona moça. – fala na mesma entonação de Fuinha

-Até você, Lalinha?

-Até eu sim, senhora. – bate palmas – Vamos levantando!

Laly e May começam a arrumar a mochila de Fernanda e é então que o caderno da ex-miss cai no chão, a protagonista o apanha do chão e como este está aberto, vê a foto de Abel na contracapa.

-Que é isso? Amuleto de sorte?

Laly pode até aparentar indiferença, mas não pode negar as borboletas no estômago e o quanto amou Abel, por mais que esteja tentando esquecê-lo e ficar de uma vez por todas com Flavio.

-Esse baixinho é um sem noção mesmo...

Som: Vision of love – Mariah Carey.

Mesmo com todo incentive de Lalinha, Fernanda está irredutível e pretende mesmo ir embora de Guaratuba, decisão que resolve anunciar ao próprio Fuinha, já que as aulas começaram há mais de um mês.

-Ainda estamos no 1º bimestre, Fernanda. Com planejamento, reforço e garra você recupera isso ainda no mês que vem.

-Não dá mais...

-Vai embora porque não está se adaptando ao colégio?

-Vou porque nada mais me prende aqui, Fu... quer dizer, professor Cícero.

-Pode me chamar de Cícero apenas. Poupemos os formalismos.

Fernanda e Fuinha estão conversando formalmente na sala dos professores ainda deserta, pois Fer chegou muito antes de todos para encontrar Cícero a sós.

-Eu acho que já to velha demais pra estudar.

-Sem essa, dona moça. Conheço muitas histórias de pessoas muito mais velhas que você que sentaram na sala de aula mesmo com tudo para desistir e hoje estão formados em universidades muito bem conceituadas. Eu imagino que deve ser complicado voltar a estudar depois de tanto tempo, mas você já foi muito vitoriosa por ter tomado essa decisão, Fernanda.

-Eu sou burra.

-Claro que não.

-Claro que sou.

-Não se desmereça, Fernanda. – apoia um dos braços nos ombros de Fernanda

-Nem precisaria.

-Entendo que a perda de seu pai a esteja abalando muito, mas você vai superar. Todos estamos torcendo por você, a incentivando. Se estiver difícil para se levantar, ao invés dos pensamentos tristes, procure trazer à memória as lembranças boas de quem a ama de verdade, todas as vitórias que já teve nessa vida. Você foi nossa miss, nos representou...

-Bela miss eu sou. – Fer ironiza – Ninguém nem lembra quem eu sou. Isso é, se eu fosse bonita...

-Fernanda... – o olhar de Fuinha transmite uma ternura que faz Fernanda se emocionar – Que é isso?

-Deixa pra lá. – Fernanda derrama uma lágrima e vira de costas - Antes que me prolongue muito, vim agradecer pelas aulas com aqueles ribossomos sem noção. Eles são uns chatos, viu? Eu... Eu vou indo... – olha as horas – Até porque não quero atrasá-lo e...

Fuinha puxa o braço de Fernanda e a surpreende com um beijo digno de cinema.

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