Doce Balanço - Capítulo 13

CENA 1 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - DIA.

NAS PRIMEIRAS HORAS DA MANHÃ A PRAIA ESTAVA DESERTA AINDA, QUANDO O GUARDA-VIDAS ZÉ URBANO, COMO DE COSTUME, CHEGOU AO SEU LOCAL DE TRABALHO - O POSTO DE SALVAMENTO DO CASTELINHO. O HOMEM ESPREGUIÇOU-SE E RESPIROU FUNDO, PRENDENDO O AR PURO NOS PULMÕES. FOI NESTE MOMENTO QUE O MENINO SURGIU E CHAMOU SUA ATENÇÃO, AGITADO. APONTAVA PARA UM LOCAL CHEIO DE PEDRAS, JUNTO AO PAREDÃO. OS DOIS SAÍRAM CORRENDO PARA O LOCAL. ZÉ URBANO PAROU, OLHOS ARREGALADOS, AO DEPARAR COM A

IMAGEM DO CORPO DE MULHER IMÓVEL ENTRE AS PEDRAS.

CORTA PARA:

CENA 2 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA.

ERAM QUASE 8 DA MANHÃ QUANDO A CAMPAINHA TOCOU E D. CARMEN CORREU A ABRIR A PORTA, ALIVIADA, SEGUIDAPELO MARIDO.

D. CARMEN - Graças a Deus! Deve ser ela...

O DELEGADO JUSTO NOGUEIRA SURGIU DIANTE DO CASAL AFLITO, A EXPRESSÃO SÉRIA, DE PESAR NO OLHAR.

 GERMANO - Delegado Nogueira! O senhor aqui a esta hora...

 D. CARMEN - (atropelando) O que aconteceu? Onde está minha filha?

 DELEGADO NOGUEIRA - Eu sinto muito... mas não trago boas notícias...

 D. CARMEN - (gemeu, pressentindo o pior) Minha filha!

 D. CARMEN EMPALIDECEU. SENTINDO-SE QUASE DESFALECER, APOIOU-SE NO MARIDO, QUE A AJUDOU A SENTAR NO SOFÁ.

 GERMANO - (as pernas trêmulas, fitou o delegado, temendo a verdade) Fale, delegado! Onde está minha filha?

 DELEGADO NOGUEIRA - Sua filha Diana foi encontrada esta manhã na praia de Ipanema... ela caiu... ou foi atirada do alto do paredão. Teve o crânio fraturado na queda.

D. CARMEN SOLTOU UM GRITO DE DESESPÊRO. GERMANO SENTIU O CHÃO FUGIR-LHE DOS PÉS.

GERMANO - (procurando forças para fazer a pergunta) Ela... ela... está... morta?

 DELEGADO NOGUEIRA - (assentiu, com tristeza) Eu sinto muito.

D. CARMEN IRROMPEU NUM PRANTO CONVULSIVO, ANGUSTIADO. LEVANTOU-SE E FOI AGARRADA COM SOFREGUIDÃO POR GERMANO, QUE NÃO SE AGUENTOU E ENTREGOU-SE AO DESESPERO, APOIANDO A CABEÇA NOS OMBROS DA MULHER.

CORTA PARA:

CENA 3 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - QUARTO DE MALU - INT. DIA.

MALU DORMIA AINDA QUANDO SENHORINHA ENTROU EM SEU QUARTO, MUITO NERVOSA.

SENHORINHA - Malu! Malu, acorde!

MALU ABRIU OS OLHOS PREGUIÇOSAMENTE, MAU HUMORADA.

 MALU - Me deixa dormir, Senhorinha... Sai daqui... DOCE BALANÇO CAPÍTULO 13 PÁGINA 04

 SENHORINHA - (insistiu) Malu, aconteceu uma coisa terrível! Uma desgraça! Tá dando na TV a toda hora!

 MALU - (zonza ainda, sentou-se na cama, de um salto, esfregando os olhos) Não me assuste... fale de uma vez!

 SENHORINHA - (com os olhos cheios de lágrimas) É a Diana... sua amiga... Ela... está morta!

MALU PULOU DA CAMA COMO QUE IMPULSIONADA POR UMA MOLA, OLHOS ARREGALADOS.

 MALU - O... o que você disse? Tá louca, Senhorinha? Tá louca?

MALU SEGUROU A GOVERNANTA PELOS DOIS BRAÇOS E SACUDOU-A, FOR A DE SI.

 MALU - Isso não é verdade! É mentira! Diga que é mentira! Diga, sua idiota!

CHORANDO, SENHORINHA NÃO ESBOÇAVA QUALQUER REAÇÃO.

CORTA PARA:

CENA 4 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA.

D. CARMEN E GERMANO NÃO ESTAVAM AINDA REFEITOS DO CHOQUE QUANDO MALU IRROMPEU NO APARTAMENTO COMO UM FURACÃO.

 MALU - Onde está?... onde está Diana? Diga que não é verdade! Diga que ela não morreu!

D. CARMEN LEVANTOU-SE E VEIO EM DIREÇÃO A MALU. EM SEU OLHAR HAVIA UM BRILHO DE ÓDIO.

 D. CARMEN - (ríspida) Você estava com ela?

 MALU - Não! Eu, não!

 D. CARMEN - Mas você deve saber! Você é que a levava pra essas festas, esses passeios! Antes de conhecer você ela nunca chegou em casa depois da meia-noite! Foi sua amizade que botou minha filha a perder!

GERMANO PROCUROU CONTORNAR A SITUAÇÃO.

 GERMANO - Carmen! Ela não tem culpa...

 D. CARMEN - (indignada) Como não tem? Ela é a maior culpada! Você matou minha filha!

D. CARMEN AVANÇOU CONTRA MALU PARA AGREDI-LA, MAS FOI CONTIDA POR GERMANO, QUE SEGUROU-A COM FIRMEZA.

 MALU - (profundamente abalada) A senhora é injusta... Eu nunca quis fazer mal a Diana... Ela era minha amiga... Minha melhor amiga!

 D. CARMEN - (replicou, brutalmente) E isso foi a desgraça dela! Antes ela nunca tivesse conhecido você!

CORTA PARA:

CENA 5 - APARTAMENTO DE ALFREDINHO - SALA - INT. -TARDE.

RÚBIA CONVERSAVA ANIMADAMENTE AO TELEFONE QUANDO A CAMPAINHA TOCOU.

 RÚBIA - (ao telefone) Um momento, Jorge Alberto. Fica na linha que vou abrir a porta.

RÚBIA ABRIU, DANDO PASSAGEM A JULIO BIRUTA.

 JULIO BIRUTA - Oi, D. Rúbia, o Alfredinho tá em casa?

RÚBIA APONTOU PARA O QUARTO DO FILHO.

 RÚBIA - São duas da tarde e até agora não acordou. Vá. Vá acordar ele!

JÚLIO ENCAMINHOU-SE PARA O QUARTO ENQUANTO RÚBIA RETOMAVA SUA CONVERSA AO TELEFONE.

CORTA PARA:

CENA 6 - APARTAMENTO DE ALFREDINHO - QUARTO -INT. - TARDE.

ALFREDINHO SENTOU NA CAMA, ESPREGUIÇANDO-SE.

 JULIO BIRUTA - (observando os arranhões no rosto do amigo) O que foi isso no teu rosto, cara? Tá todo arranhado...

 ALFREDINHO - Caí de moto ontem... mas tá tudo bem. Queda boba...

 JÚLIO BIRUTA - Já leu o jornal?

JÚLIO TIROU DO BOLSO UM JORNAL DOBRADO E MOSTROU AO COMPANHEIRO.

 ALFREDINHO - (leu em voz alta) “Linda Jovem Morta na Praia”

APENAS OS MÚSCULOS DO ROSTO DE ALFREDINHO SE CONTRAÍRAM.

 ALFREDINHO - Diana... é ela?... É ela mesma?!

 JULIO BIRUTA - Sim, tá aí no jornal! Eu já sabia antes. Meu velho falou com o Distrito de manhã e disseram.

ALFREDINHO ESTAVA TENSO. CAMINHOU PELO QUARTO, ANGUSTIADO, ABRIU A PORTA E DIRIGIU-SE PARA A SALA,SEGUIDO PELO AMIGO. 

CENA 7 - APARTAMENTO DE ALFREDINHO – SALA – INT. -TARDE

ALFREDINHO, DESCONTROLADO, DEU UM MURRO NO ESTOFADO DA POLTRONA

 RÚBIA - (espantada) Que é isso, Alfredinho? Perdeu o juízo? (e voltou ao telefone) Não é nada, Jorge Alberto; é meu filho que ás vezes tem uns ataques histéricos...

 JULIO BIRUTA - Não adianta perder a cabeça, Alfredinho. Vai ser pior.

ALFREDINHO LEVANTOU OS OLHOS PARA O AMIGO, DE PÉ Á SUA FRENTE.

 ALFREDINHO - Onde está o corpo, você sabe? Eu preciso ver!

CORTE PARA RÚBIA AO TELEFONE.

 RÚBIA - Escute aqui, Jorge Alberto, você é o maior costureiro desta paróquia e vai me dizer uma coisa da maior importância: você não acha que o uso de cores berrantes já está ficando cafona?

ALFREDINHO E JULIO SAÍRAM ABRUPTAMENTE.

FIM DO CAPÍTULO 13