quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Doce Balanço - Capítulo 19


CENA 1 - PRAIA DE IPANEMA - CALÇADÃO - EXT. – DIA.MARCOS, A PRINCÍPIO, FICOU CHOCADO COM A AGRESSIVIDADE DE MALU. 

 MARCOS - (fitou-a, com tristeza no olhar) Olhe aqui, moça: eu entendo como se sente.... Sei que Diana era sua melhor amiga. Por isso não vou levar em conta as suas acusações. Seria injusto... assim como a senhorita está sendo cruel e injusta comigo. 
MALU - (revidou, sêca) Esse papel de bonzinho, de compreensivo, é muito cômodo para o senhor, padre! Mas não convence! O senhor desgraçou a vida dela! 
MARCOS - (com sinceridade) Eu e Diana nos amávamos. Estávamos muito felizes e íamos nos casar. A única motivação da minha vida, atualmente, é descobrir por que fizeram isso com ela. E não vou sossegar enquanto não achar resposta pra todas as minhas perguntas. 
 MALU - (revoltada) Vá embora. Eu odeio você. 
 MARCOS - (sem se abalar) Vou orar por você. Assim como eu, você precisa de paz, moça. Fique com Deus. 

DITO ISTO, MARCOS SEGUIU CAMINHANDO, ENQUANTO MALU DEU-LHE AS COSTAS, E COM AS MÃOS TRÊMULAS, LIMPOU UMA LÁGRIMA QUE TEIMAVA EM ESCORRER DE 
SEUS OLHOS. 

CORTA PARA: 
CENA 2 - TEATRO CASAGRANDE - INT. - TARDE.

VALÉRIA FRANÇA,TERMINADO MAIS UM TESTE PARA UMA PEÇA, DIRIGIA-SE DO INTERIOR DO TEATRO PARA O SAGUÃO DE ENTRADA, QUANDO A FIGURA DO HOMEM EM TORNO DE SEUS 55 ANOS, GASTO, DE GESTOS LENTOS, COMEDIDOS, CHAMOU SUA ATENÇÃO. 

 VALÉRIA - (aproximando-se) Desculpe... eu conheço o senhor! 

O HOMEM VOLTOU-SE, SURPRESO E SORRIU, COM SIMPATIA. 

 DORIVAL - Depois de tantos anos, alguém ainda me reconhece? 
 VALÉRIA - (olhos arregalados) O senhor é Dorival Ribeiro, não é? 
 DORIVAL - Sou eu mesmo, moça. Vejo que tem boa memória. 
 VALÉRIA - Ora, não é preciso ter boa memória pra lembrar do senhor. Foi um ator famoso... 
 DORIVAL - É verdade, apesar de a vida ter sido meio madrasta comigo... 
 VALÉRIA - Desculpe a pergunta, mas o que o senhor faz aqui? 
 DORIVAL - Vim pedir emprego, mas tá difícil. Ninguém dá emprego a um ex-presidiário. 
 VALÉRIA - O senhor... é pai do Alfredinho, não é? 
 DORIVAL - (fitou-a, surpreso) A senhora conhece meu filho? 
 VALÉRIA - (sorriu, cordial) Muito. Muito mesmo. Somos muito... amigos. 
 DORIVAL - (mal disfarçando a emoção) Puxa... que coincidência. Quero muito saber notícias do meu filho... Como ele está? 
 VALÉRIA - Escute, o senhor não quer ir até minha casa? Assim faço um cafezinho e podemos conversar melhor. Moro aqui mesmo, em Ipanema, não fica longe daqui... 
 DORIVAL - Claro que eu aceito! Com prazer! 
 VALÉRIA - Então vamos! 

CORTA PARA: 
CENA 3 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. -NOITE. 

VALÉRIA E DORIVAL CONVERSAVAM AMIGÁVELMENTE, SENTADOS NUMA POLTRONA.

DORIVAL - ... então fui preso e condenado a 26 anos, mas 
tive minha pena reduzida e fui posto em liberdade condicional. Na 
época em que fui preso, havia jurado matar Rúbia, a mãe do 
Alfredinho, na hora em que saísse da cadeia. Aliás, foi por causa dela que matei um homem. Nesse tempo, Alfredinho ainda era uma criança. Não podia entender o que estava acontecendo. Mas esse dia está próximo... quando ele vai entender... tenho certeza. Mas agora só me importa uma coisa: voltar ao trabalho. Isso ainda não foi possível... As coisas mudaram muito durante os quinze anos que eu estive preso. Os amigos não se lembram mais de mim, e os empresários, nem se fala! Eu me sinto uma pessoa totalmente estranha no meu próprio meio... 
VALÉRIA - Mas eu me lembro de você... quero dizer... do senhor. Me lembro que foi a primeira peça de teatro a que assisti. Qual era mesmo? Ah, “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tenessee Williams. O senhor fazia o Stanley Kowalsky! Isso mesmo! Nunca me esqueci! O senhor não imagina a influencia que teve na minha vida. Foi naquela noite que eu decidi que seria atriz.
 DORIVAL - (ar saudoso) Lembro sim. Só que agora a realidade é outra. Eu passei da época. Felizmente, ainda há pessoas, como você, que se lembra de mim. 
 VALÉRIA - Aceita mais um café? 
 DORIVAL - Não. Está delicioso, obrigado. (T) Sabe, eu simpatizei com você desde o início, e mais ainda quando descobri sua amizade com Alfredinho. 
 VALÉRIA - (fitou-o, curiosa) Eu também simpatizei muito 
com o senhor. Mas não entendo... o senhor é tão calmo, tão 
pacato... não parece o tipo de homem que matou alguém... 
 DORIVAL - (sério) Eu pratiquei o crime por causa de Rúbia. 
Na época, ela era herdeira de considerável fortuna e se casou comigo seduzida pela minha fama no teatro... mas o casamento foi com separação de bens e o divórcio veio logo após a minha condenação. Ela sempre foi uma mulher fútil e vivia de frivolices. É verdade que nunca mais se casou, mas, em troca jogou meu filho contra mim. 
VALÉRIA - Bem, pelo que eu sei, isso é verdade... Não tenho muito contato com D. Rúbia. 
 DORIVAL - (ar sombrio) Mas chegará o dia em que Alfredinho saberá toda a verdade sobre o que aconteceu! 

CORTA PARA: 
CENA 4 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - NOITE. 

MALU VOLTARA PARA CASA, DEPRIMIDA. AO PASSAR PELA SALA DE ESTAR, ESTRANHOU AO OUVIR UM SOM DE MÚSICAPOP VINDA DA SALA DE VIDEO. CURIOSA, ABRIU A PORTA E DEPAROU COM ISADORA DANÇANDO ANIMADA E 
SENSUALMENTE, ASSISTIDA POR MONTEIRO PRADO, QUE BATIA PALMAS, INCENTIVANDO-A A CONTINUAR. 

 MALU - (fuzilando Isadora com o olhar) Que palhaçada é essa? 

ISADORA PAROU, ASSUSTADA. MALU AVANÇOU, ABRIU, FURIOSA, O COMPARTIMENTO DE CD DO MICRO SYSTEM E ATIROU O DISCO PELA JANELA. 

 ISADORA - (olhou para o noivo, chorosa) Você viu isso, amor? Viu o que ela fez? 
 MONTEIRO PRADO - Malu, minha filha, você foi longe demais! 
 MALU - (irônica) É mesmo, paizinho? Vai fazer o quê? Me internar num convento? (e para Isadora) Perua! Interesseira! 

DITO ISTO, MALU CORREU PARA SEU QUARTO E TRANCOU A PORTA. 

CORTA PARA: 

CENA 5 - QUARTO DE MALU - INT. - NOITE. 

 MONTEIRO PRADO - (off) Malu! Abra a porta, minha filha. 
 MALU - Me deixa, pai! Quero ficar sozinha! 

APÓS ALGUNS SEGUNDOS DE SILENCIO, MALU OUVIU O BARULHO DA CHAVE GIRANDO NA FECHADURA. MONTEIRO PRADO ENTROU, PREOCUPADO, SEGUIDO DE SENHORINHA. 

 MONTEIRO PRADO - Filha, o que aconteceu? Você estava tranquila. Foi dar um passeio na praia e voltou assim... Por quê fez aquela grosseria com a Isadora? Ela quer ser sua amiga, mas você não deixa... 
 MALU - Eu nunca vou ser amiga dessa mulher! Nunca! 
 MONTEIRO PRADO - (desanimado) Não sei mais o que 
fazer... juro que não.
 SENHORINHA - Malu, o que aconteceu, minha querida? Você voltou tão nervosa... 
 MALU - (com raiva) Encontrei aquele padre. Foi por causa dele que Diana morreu. Quem foi que a atirou em cima das pedras, não importa! O que eu digo é que isso não teria acontecido se o padreco duma figa não tivesse virado a cabeça dela!
 SENHORINHA - Vou buscar o seu calmante. Você precisa relaxar, dormir um pouco. 
 MALU - Não quero nada, Senhorinha. Só quero ficar sozinha. Por favor, saiam do meu quarto. 

MONTEIRO PRADO BALANÇOU A CABEÇA, RESIGNADO E SAIU, SEGUIDO DE SENHORINHA. 

CORTA PARA; 
CENA 5 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - NOITE.

MONTEIRO PRADO - (pensativo) Uma hora ela se culpa pela morte dessa moça, outra hora culpa o padre... Chego a ter medo... que ela esteja certa... 
 SENHORINHA - (benzendo-se) Não diga isso, doutor Monteiro... nem brincando... 
 MONTEIRO PRADO - Senhorinha, por favor, escolha um presente bem bonito e mande entregar na casa de seu Germano Molina, pai dessa pobre moça, com os meus cumprimentos. 
SENHORINHA - Pois não, doutor! Mas... e D. Isadora? 
MONTEIRO PRADO - Foi embora aborrecida, ameaçando mais uma vez não pôr mais os pés aqui. Mais um problema para resolver, logo agora que o nosso casamento está marcado para depois de amanhã. 
 SENHORINHA - Doutor... desculpe a intromissão, mas não seria melhor... adiar seu casamento? 
 MONTEIRO PRADO - Já tentei fazer isso, Senhorinha. Tive que desistir, porque quando toquei nesse assunto, Isadora virou uma fera! Melhor casar de uma vez, numa cerimônia simples, sem o conhecimento da imprensa. 
 SENHORINHA - E a lua-de-mel? Vão viajar? 
 MONTEIRO PRADO - Bem, ao menos isso eu pude contornar. Lua-de-mel, só no fim do ano. Por enquanto, não posso me ausentar do banco. Ainda bem que ela compreendeu e aceitou. 

CORTA PARA: 
CENA 6 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA.

NO DIA SEGUINTE, GERMANO, D. CARMEN E O PADRE MARCOS FORAM SURPREENDIDOS COM A CHEGADA DE UMA BELA CESTA DE CAFÉ DA MANHÃ, COM OS CUMPRIMENTOS DO BANQUEIRO MONTEIRO PRADO. 

 MARCOS - A que a senhora, D. Carmen, atribui isso? 
 D. CARMEN - Sei lá. Prefiro não pensar nada. 
 GERMANO - O doutor Monteiro está cheio de gentilezas conosco nos últimos dias... 
 MARCOS - Vocês sabiam que Alfredinho estava na casa daquela dona, a tal Valéria, na hora do crime? 
 GERMANO - Ele apresentou esse álibi pro delegado? 
 MARCOS - Exatamente. E com a confirmação da própria Valéria França! 

CORTA PARA: 
CENA 7 - APARTAMENTO DE RÚBIA - SALA - INT. DIA.

A CAMPAINHA SOOU. RÚBIA ABRIU A PORTA E EMPALIDECEU. 

 RÚBIA - Você?! 
 DORIVAL - (entrando) Só queria saber: o que há com Alfredinho? 
DORIVAL AVANÇOU PARA RÚBIA. TRAZIA UM JORNAL NA MÃO, QUE ACABARA DE LER. 
 RÚBIA - Ele era namorado de uma moça que foi assassinada. 
 DORIVAL - (os lábios contraídos) Ele a matou? 
 RÚBIA - Não! Por que você diz isso?! 
 DORIVAL - (mostrando o jornal) Bem, não sou eu, e sim, o jornal. Parece que desconfiam de Alfredinho. 
 RÚBIA - Mas não é verdade, Dorival. Meu filho não seria capaz de matar ninguém. Muito menos uma moça tão bonita, com aqueles cabelos tão louros... Se bem que... 
DORIVAL - (arregalou os olhos) Se bem o que? 

RÚBIA DEU DE OMBROS. DORIVAL BAIXOU A CABEÇA E OLHOU PARA O OUTRO LADO.

 DORIVAL - Eu não sei. Ás vezes a gente perde a cabeça e faz coisas que, depois, nem acredita... 
 RÚBIA - Sim, ele é seu filho. 
 DORIVAL - E nós somos assim. Por isso, tenho medo. Ele está em casa? 
 RÚBIA - Não. E acho melhor você se afastar dele! 
 DORIVAL - Você tem feito tudo para isso, eu sei. 
 RÚBIA - Mas é que pode ser pior. Você acabou de sair da cadeia. Isso é ruim para ele... 
 DORIVAL - (nervoso) Eu não quero prejudicá-lo. Quero ajudá-lo, no que for possível. 
 RÚBIA - Ajudar em quê? Que é que você pode fazer? Nada. Você é um ex-sentenciado. E ele se envergonha de você. O melhor que você pode fazer a ele é sumir daqui! Para sempre. 

DORIVAL FITOU RÚBIA COM RANCOR. AS PALAVRAS DA MULHER O FERIAM PROFUNDAMENTE. 

 DORIVAL - Sua... sua desgraçada! Vou fazer o que eu devia ter feito há muitos anos atrás: vou matar você, agora! 

FIM DO CAPÍTULO 19

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