22º
Capítulo
Isabel – Quem é você,
mocinha? O que quer com meu filho?
Daiana – Sou a Daia,
dona Isabel.
Isabel – Daiana, você
quer dizer.
Adriano sua
frio e ainda por cima tem que aguentar as brincadeiras sem noção de Jonathan
que por olhares o provoca.
Jonathan (em pensamento) – Ta
ferrado, molenga... Ta ferrado... – sorrisinho cínico
Isabel e
Daiana conversam.
Isabel – O aniversário
da Laura é no próximo sábado e vocês querem organizar uma festinha surpresa pra
ela, é isso? – dá uma coçadinha na cabeça – 15 anos é uma idade muito
importante pra menina, então eu vou deixar o Adriano ir à festinha...
Adriano
suspira aliviado.
Isabel – Mas Jonathan
irá junto...
O sorriso de
Adriano murcha.
Casa de
Karinna. Exterior. Dia.
Pedro costuma capinar
o gramado sempre que este começa a crescer. Mão na enxada, balde cheio de
folhas. Árduo trabalho. Pode estar cansado, mas gosta do que faz e não quer que
Karinna se esforce porque o maior trabalho dela é estudar e isso ela desempenha
com louvor.
À tarde Pedro
trocará o conforto do sofá de casa para frequentar mais uma reunião do Centro
Positivista. Ele e outros frequentadores costumam se encontrar para discutir
acerca dos textos de Augusto Comte.
Pedro trabalha
em silêncio até uma jovem moça se aproximar do portão e bater palmas. Pedro
abandona a enxada contra o muro e vai ver o que deseja a mulher.
Mayara – Bom dia,
senhor. É aqui que mora a Karinna?
Pedro – Sim, eu sou o
pai dela.
Mayara – Ela está?
Pedro – Sim, sim. Vou
chama-la. (abre o portão) Deseja entrar?
Mayara – Não. Eu posso
esperar aqui mesmo.
Pedro entra em
casa enquanto Mayara espera por Karinna. Não demora muito para que a futura
psicóloga encontre a amiga.
Karinna – Mayara, o que
faz aqui?
Mayara abraça
a amiga e chora. Karinna já deduz o que possa ter acontecido. Sabe sim que
Margareth morreu e também do que Ferradura é capaz.
Casa de
Karinna. Cozinha. Dia.
Karinna
preparou macarrão instantâneo para a amiga e lhe serve um pouco mais de suco de
laranja direto da jarra. Mayara relata todos os abusos de Ferradura.
Karinna (horrorizada) –
Ele não podia ter feito isso com você. Devia entrar na justiça e lutar pelo que
é seu.
Mayara – Nesse momento
eu não tenho pra onde ir, nem o que fazer.
Karinna (conforta a amiga) –
Que não seja por isso, Mayara. Eu vou dar um jeito de te ajudar...
Casa de
Ferradura. Sala. Dia.
Ferradura,
deitado com folga no sofá, fala ao telefone.
Ferradura (completamente drogado) –
Ah Chiquinho, convida todo mundo. To falando que vai ter festa, porra. E tudo
por minha conta.
Chiquinho (off, assombrado com a frieza do amigo) –
Cara, se liga, meu. Tua mãe morreu, pô.
Ferradura – Antes ela do
que eu ou quer o que? Que eu vista preto e fique chorando, cara? Agora eu sou o
dono da casa e vou dar festa. Se não quiser vir não vem, mas depois não
reclama.
Música Por
que será – Tihuana.
Laura e os
pais estão fazendo compras no supermercado. A própria adolescente que tem
alguma noção de cozinha escolhe os ingredientes que darão vida aos quitutes
servidos a Marcelo.
Zélia (comenta com Amauri no caixa) – Não
sei por que tanta pompa e circunstância pra um noiado. Se ainda fosse o
presidente da república eu até entendia.
Amauri (cordial) – Zélia,
meu bem, não crie caso. Amanhã nós vamos conhecer o rapaz... Temos que dar esse
voto de confiança à nossa filha. Já perdemos a Elisa. Não vamos perder a Laura
também.
Zélia – Só de pensar
em colocar um traste desses dentro da minha casa, sinto vontade de chorar...
Laura chega
com duas caixas de bis e coloca no carrinho ainda cheio.
Laura – Acho que
agora foi tudo. – apanha a lista do bolso e a desdobra – Bom, acho que foi
mesmo...
Laura sabe que
Marcelo adora lasanha e pretende preparar uma, além de um pavê de bis que é a
sobremesa favorita do rapaz.
Falta uma semana
para Laura completar 15 anos e o presente da garota será ver os pais se
entendendo amigavelmente com Marcelo. Se isso será possível ou não, ela saberá
amanhã.
Casa de Laura.
Cozinha. Dia.
Laura ajuda os
pais a guardarem as compras. Zélia, mesmo contrariada, obedece às recomendações
do marido.
Zélia (guarda o macarrão no armário) –
Se você quer conquistar esse rapaz, que seja pelo estômago.
Laura (coloca mais sacolas em cima da mesa) –
Eu não tenho muita habilidade com o forno. A senhora me dá uma mãozinha?
Zélia (guarda os refrigerantes no freezer) –
Sim... Por mim tudo bem...
Laura (bebe água para recuperar o fôlego) –
Sabe, mãe, apesar de o Marcelo ser skatista, quando a senhora conhece-lo vai
ver que ele é uma boa pessoa. (se senta à mesa para descansar) Ele mesmo já
quer te conhecer faz muito tempo e espero que amanhã além de um genro, nossa
família ganhe mais um amigo.
Zélia (desconfiada) –
Ele não anda querendo apressar o passo... (pressiona) Anda?
Laura (guarda o chocolate na geladeira) – Não,
mãezinha. Marcelo é evangélico e nós pretendemos namorar pra valer até que eu
me forme. Ele quer que eu cresça, seja alguém e que quando formos casar
estejamos prontos pra isso.
Zélia – Mas ele não
vai aguentar ficar no beijo na boca por 10 anos.
Laura – Mãe, por
favor, eu ainda nem penso nisso.
Zélia – Agora não,
mas essa história eu ouço desde o tempo que ainda era menina, Laura. Esse
sujeitinho não me engana...
Laura – Mãe, eu acho
melhor a gente não falar sobre isso.
Zélia – E por quê?
Não me diga que a gordinha puxadora de fumo já ta querendo que você apresse o
passo?
Laura – Mãe, por
favor, eu não quero discutir, então acho que é melhor a gente mudar de assunto.
Zélia (pensando ser o pilar moral da filha) –
Mas se eu não conversar com você, quem irá?
Casa de
Vinicius. Sala. Dia.
Daiana e Paula
costumam tirar o sábado para limpar a casa. Fabrício sai para jogar futebol e
cartas com os amigos do trabalho e Vinicius normalmente sai com Karinna, então
as mulheres aproveitam para deixar a residência nos trinques.
Chão encerado,
vidros limpos, móveis lustrados, lixo colocado pra fora. Lar pronto para a
próxima semana.
Daiana e
Paula, usando roupas mais velhas, se sentam no sofá e suspiram ao mesmo tempo
de tão cansadas que estão.
Daiana – E depois os
homens dizem que as mulheres não têm do que reclamar...
Paula – Eles deviam é
trocar de lugar com a gente pra saber o que é bom.
Daiana – Bom, na casa
do Adriano isso acontece. Lá o Jonathan e o Adri tem que trabalhar ou a D.
Isabel corta a mesada.
Paula – Eu acho isso
bom. (assente com a cabeça) Acho mesmo. Com isso os meninos aprendem a dar
valor ao tempo livre e ao dinheiro.
Daiana – Mas aí o
lesado nunca tem tempo pra mim.
Paula – Saiba que a
saudade é que te faz valorizar o namorado que tem, querida. Convivendo demais é
quase inevitável não brigar.
Daiana (comenta com a mãe) –
Amanhã é o grande dia pra Laura... O Marcelo vai lá almoçar e conhecer os pais
dela. A D. Zélia é muito cabeça dura, cheia de preconceito. Com certeza só vai
ver defeito no Marcelo.
Paula – Sabe Daiana,
minha filha, algumas pessoas precisam de um pouco mais de tempo pra se
acostumar com o crescimento dos filhos. A Zélia é uma boa mãe, embora antiquada
e ainda cultivando crenças que lhe foram passadas.
Daiana – O problema é
que ela pega muito pesado com a Laura.
Paula – Pior seria se
ela não se importasse com a Laura, aí sim todo mundo deveria se preocupar. Na
fase em que você a Laura estão, é lógico que vocês vão querer estar sempre com
a razão, que tudo pra vocês é muito mais intenso, doloroso. Inclusive, os
amores. Ah, os amores são eternos, profundos, únicos. Quando você age como uma
criança mimada, não vai muito longe. Se você quer a confiança, tem que fazer
por merecer. Se a Laura quer que o Marcelo seja aceito, tem que dar esse tempo
aos pais dela, pra que eles mesmos tirem as conclusões sobre o genro...
Casa de Laura.
Quarto de Laura. Noite.
Música Minha
voz – Alma D’Jem. Laura descobriu que a TV Comunitária, onde o
programa de Marcelo é exibido, é o verdadeiro palco da diversidade.
Ao contrário
da grande mídia que prioriza o ibope e o faturamento, a TVCOM quer que a
população participe e faça a programação que tanto quer ver, então na grade há
programas voltados para o público jovem, inclusive que divulgam trabalhos de
bandas locais, a atração comandada por Marcelo e também debates de importância
pública, como aqueles em que se discute meio ambiente, os direitos dos
trabalhadores e até mesmo sobre saúde.
Desde que
começou a acompanhar os debates sobre meio ambiente (como aquele em que Zélia
desligou a tv), as aulas de geopolítica tornaram-se muito mais interessantes
para Laura e as notas dela aumentaram.
Laura está
escrevendo sentada no chão com as pernas cruzadas. Nunca foi de escrever
poesias, mas quando tem ideias, as anota. Ideias que podem não fazer sentido
para quem as lê, para quem não conhece a vida dela. Ideias que há 2 meses
seriam descartadas.
Folheando o
calendário, circula o dia seguinte com a caneta azul. Domingo. Não se trata de
um domingo qualquer e sim do dia em que Marcelo virá à sua casa pela primeira
vez. Tudo tem que dar certo nesse almoço. E assim há de ser, se depender das
boas intenções da garota e de Marcelo, tão ansioso por isso quanto ela.
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