CENA 1 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA.
MARCOS E GERMANO TOMAVAM O
CAFÉ DA MANHÃ, QUANDO CARMEN VEIO DA SALA COM O JORNAL NA MÃO.
CARMEN - Saiu outra reportagem na “Folha do
Rio” falando de Diana.
MARCOS TOMOU-LHE O JORNAL DAS
MÃOS, INTERESSADO.
MARCOS - Eles agora estão passando, subitamente,
a outro tom. Focalizam até milagres e aparições no local em que ela morreu.
CARMEN - Diz aí que um garoto a viu e chegou a
falar com ela! Isso é um aviso, Marcos, para você não fazer o que está fazendo...
MARCOS - A senhora está falando do meu noivado
com Malu?
CARMEN - (em tom de acusação) Você sabe que
sim.
GERMANO - (repreendeu a mulher) Carmen, por
favor, não vamos começar tudo de novo!
MARCOS ACHOU MELHOR BATER EM
RETIRADA.
MARCOS - Bom, eu vou indo, que tenho umas
coisas pra
resolver. Tenham um ótimo dia!
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA
“ALELUIA! ALELUIA!”
VOSKOPOULUS ABRIU A PORTA. ERA
CECÉU, QUE ENTROU, COM UMA
MALA NAS MÃOS. DOCE BALANÇO CAPÍTULO 30 PÁGINA 03
CECÉU - Marcelão tá em casa, Voskô?
MARCELÃO ENTROU NA SALA E
DEPAROU COM O AMIGO, OLHAR ABATIDO E CABISBAIXO.
CECÉU - Marcelão, meu velho, só conto com
você, agora! Fui expulso da Pensão Primavera, debaixo de sapatadas da D. Gigi e
da Soraia...
MARCELÃO - Cecéu, você apronta cada uma! Tem
que dar graças a Deus de não estar atrás das grades!
CECÉU - Por enquanto, meu amigo... por
enquanto. Tenho um prazo pra repor o prejuízo na pensão... ou então eles mandam
a polícia atrás de mim!
MARCELÃO - Voskô, acomoda o Cecéu no quarto
dos fundos. (e para Cecéu) Fica tranquilo, velho. Não ia te deixar na mão num
momento desse, ia?
EMOCIONADO, CECÉU ABRAÇOU,
TEATRALMENTE O AMIGO, COM OS OLHOS CHEIOS DE LÁGRIMAS.
CECÉU - Eu sabia que podia contar com você,
meu velho! Obrigado! Obrigado! Obrigado! Você é um pai pra mim!
MARCELÃO - (empurrando-o) Pai?!
CECÉU - (consertou) Foi mal... Quis dizer,
irmão... Um irmão!
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - DIA.
MARCOS CHEGOU AO APARTAMENTO
DE MONTEIRO E ENCONTROU MALU LENDO A “FOLHA DO RIO”.
MALU - Jornaleco sensacionalista! Tá na cara
que tudo isso é pra vender mais jornal!
MARCOS - Temos que tirar essa história a limpo
pra saber se tem algum fundamento...
MALU - Será que você tá acreditando nessa
história?
MARCOS - Não... em princípio, não.
MALU - Por quê “em princípio”?
MARCOS - Porque, até que fique provado o
contrário, devemos sempre descrer de qualquer manifestação divina desta natureza.
Um milagre é a quebra das leis da natureza. Se Diana tivesse realmente
aparecido ao garoto, teria havido um milagre. Mas são muito raros os milagres,
ou não seriam milagres.
MALU - E por que Deus teria decidido fazer
isso através de Diana e em pleno Castelinho? Decididamente, é um local muito prosaico
e por onde eu não acredito que nem Deus nem santo algum jamais tenha passado.
MARCOS - Impossível, você acha! Pois saiba que
os santos eram criaturas humanas que alcançaram a santidade.
MALU RIU, NERVOSA E AGRESSIVA.
MALU - Estou percebendo. Você quer dizer que
Diana também podia... No fundo, você está acreditando nessa história besta! No
fundo, você quer acreditar, porque quer se amarrar nela de novo! Já que perdeu
a mulher, quer agora se amarrar numa santa!
MARCOS BALANÇOU A CABEÇA,
DESOLADO.
MARCOS - O que está acontecendo com todo
mundo? Parece que hoje, todos decidiram me provocar! Com licença. Vou dar uma
volta! DOCE BALANÇO CAPÍTULO 30 PÁGINA 05
MALU - (falou, insegura) Marcos! Espere...
Aonde você vai? Quer... companhia?
MARCOS - Não, obrigado. Vou caminhar um pouco.
Preciso ficar sozinho. Com licença.
E SAIU.
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. –DIA.
VALÉRIA LEU A MANCHETE DA
“FOLHA DO RIO” E ENTREGOUO JORNAL A ALFREDINHO, QUE PASSOU A LER COM ENORME INTERESSE,
SOB O OLHAR ASSUSTADO DE JULIO BIRUTA.
VALÉRIA - Ela já apareceu para algumas pessoas
no lugar em que foi assassinada, diz aí...
ALFREDINHO - (com ironia) Não vá me dizer que
você acredita nisso, Valéria!
VALÉRIA - Lógico que eu acredito. Eu sou
espírita...
JULIO BIRUTA - (com pavor) Me diz onde é pra
eu não passar por lá... Nossa!
ALFREDINHO - Besteira! Quem é que vai
acreditar nisso?
CORTA PARA:
CENA 5 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - DIA.
MARCOS CAMINHAVA PELO
CALÇADÃO, TENTANDO PÔR AS IDÉIAS EM ORDEM, QUANDO, DE REPENTE, PAROU AO OBSERVAR
UMA PELADA ENTRE MENINOS, NA AREIA DA PRAIA. RECONHECEU ENTRE ELES TIÃO. ERA O
GAROTO QUE VIRA A APARIÇÃO DE DIANA. MARCOS DELE SE APROXIMOU. DOCE BALANÇO
CAPÍTULO 30 PÁGINA 06
MARCOS - Escute, você não é o Tião? Eu quero
falar com você. Eu vi o seu retrato no jornal.
O GAROTO REAGIU ENVAIDECIDO.
TIÃO - Maneiro, né, tio?
MARCOS ACERCOU-SE UM POUCO
DELE, AMIGÁVEL.
MARCOS - Tião, você viu mesmo essa moça? (e
apontou para a fotografia de Diana publicada na “Folha do Rio”).
TIÃO - Vi, sim.
MARCOS - Como é que foi? Conte pra mim...
TIÃO - Agora não posso. Só quando acabar a
pelada. Aliás... (fez uma reticência significativa e mordeu o lábio) tenho ordem
pra não falar com ninguém sobre isso.
MARCOS ERGUEU-SE, BASTANTE
INTERESSADO.
MARCOS - Do moço do jornal?
TIÃO - Não! Ai, me larga!
TIÃO DESPRENDEU-SE DAS MÃOS DE
MARCOS E SAIU CORRENDO PARA O MEIO DOS OUTROS.
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. - DIA.
VALÉRIA SERVIU O CAFÉZINHO E
SENTOU-SE AO LADO DE DORIVAL.
DORIVAL - Confesso que estou preocupado com as
aparições dessa moça, Diana
VALÉRIA - Mas por que tanta
preocupação com essa história?
DORIVAL - Essa gente acredita em tudo! Se
Alfredinho for mesmo denunciado, a coisa vai piorar pro lado dele!
VALÉRIA - Por quê?
DORIVAL - Qual o júri que vai absolver um réu
acusado de ter assassinado uma santa? Ou pelo menos uma moça com essa auréola
de santidade?
VALÉRIA - Sabe que você está cheio de razão?
Minha Nossa Senhora...
CORTA PARA:
CENA 7 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
DELEGADO NOGUEIRA - Seu nome?
JORGE ALBERTO - Jorge Alberto Bittencourt.
Bittencourt com dois “t”.
DELEGADO NOGUEIRA - Com dois “t”... Profissão?
JORGE ALBERTO - Eu sou estilista. Sabe, seu
delegado, a costura e as fantasias de carnaval são minhas duas grandes paixões.
DELEGADO NOGUEIRA - (encarou-o fixamente)
Estou me lembrando do senhor, nos jornais ou nas revistas... O senhor não venceu
o concurso do teatro Municipal, no ano passado?
JORGE ALBERTO - Não, foi o Evandro de Castro
Lima.
Aliás, uma injustiça! O senhor
se lembra da minha fantasia?
DELEGADO NOGUEIRA - Não.
JORGE ALBERTO - Era o
“Mistério Amazonense”. Usei trezentas vitórias-régias, duas cobras vivas, duas
mil penas de pavão... (no entusiasmo da descrição, levantou-se e desfilou para
o delegado) Quando eu desfilei no Municipal, ficou todo mundo de boca aberta...
DELEGADO NOGUEIRA - (olhou detidamente para
Jorge
Alberto) Onde o senhor se
encontrava na noite em que Diana Molina foi assassinada?
JORGE ALBERTO COLOCOU O DEDO
MÍNIMO NA TESTA, REVIROU OS OLHOS ONDE SE NOTAVA UMA ACENTUADA CAMADA DE RÍMEL.
JORGE ALBERTO - No apartamento de Rúbia
Ribeiro, jogando buraco.
DELEGADO NOGUEIRA - O senhor não notou alguma coisa
de anormal, naquela noite?
JORGE ALBERTO - Sim, ouvi gritos... os gritos
de Diana, quando era perseguida pelo assassino...
DELEGADO NOGUEIRA - Como o senhor sabe que os gritos
eram de Diana?
JORGE ALBERTO - (um pouco nervoso) Bem, eu...
eu supunha, apenas...
DELEGADO NOGUEIRA - Então, o senhor ouviu os
gritos e não teve a curiosidade de ir ver quem gritava?
JORGE ALBERTO - Eu fui até a janela... Mas a
noite estava muito escura... céu nublado, ameaçando chuva.
DELEGADO NOGUEIRA - (insistiu) O senhor não
viu nada?
JORGE ALBERTO - (pensou um instante) Sim, eu
vi. Vi um vulto, correndo pela calçada da praia. Não deu pra ver quem era. Tive
ímpetos de ir socorrer a pobre moça, mas eu pensei... o senhor compreende,
essas coisas sempre dão complicações... no mínimo, polícia, depoimentos,
escândalo!...
DELEGADO NOGUEIRA - O senhor sabe que, se
tivesse chegado à porta e gritado qualquer coisa, uma frase qualquer, o assassino,
possivelmente, teria fugido e Diana não teria morrido?
JORGE ALBERTO - Mas por que o senhor faz essa pergunta
a mim, somente? Outras pessoas também ouviram ela gritar e não foram em seu
socorro, não fizeram nada!
DELEGADO NOGUEIRA - (pensativo) Eu sei. Todas
essas pessoas podiam ter impedido que uma pobre moça indefesa fosse assassinada.
E, tanto quanto o senhor, merecem o meu desprezo.
(e com o dedo em riste) Pode
sair. O senhor me enoja!
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA.
CECÉU - Voskopoulus, eu olhei do terraço, tem
um carro da polícia lá embaixo e dois tiras olhando cá pra cima... Onde está Marcelão?
VOSKOPOULUS - Eu não sei, seu Cecéu. O patrão desapareceu.
O MORDOMO FEZ UM SINAL
MOSTRANDO NOÊMIA SENTADA A UM CANTO DA SALA, LENDO UMA REVISTA.
CECÉU - (sussurrou no ouvido do mordomo) É a
Madame X?
VOSKOPOULUS - Ela mesma! Tá à espera dele!
CECÉU - (dirigindo-se à mulher) Bom dia!
NOÊMIA - (ergueu os olhos da revista) Bom dia!
Estou esperando seu “sócio” de moradia! O senhor, por acaso, sabe onde ele se
escondeu?
CECÉU - Olha, ele não se escondeu...
NOÊMIA - (cortou) Estou aqui para ver minha
filha, por determinação do juiz. Marcelão tem um prazo até meio-dia para apresentá-la.
Se não o fizer, os policiais lá embaixo vão prendê-lo! É melhor que o senhor e
esse mordomo cúmplice façam ele saber disso agora, ou vai ser pior para todos!
CECÉU E VOSKOPOULUS
OLHARAM-SE, PREOCUPADOS.
CECÉU - Caramba! Sujou pro Marcelão!...
FIM DO CAPÍTULO 30
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