CENA 1 - NITERÓI - CASA DA TIA LALINHA - SALA - INT. -DIA.
O TELEFONE TOCOU E TIA LALINHA
ATENDEU.
TIA LALINHA - Marcelinho, é para você. É
aquele seu mordomo de nome esquisito.
MARCELÃO - (ao telefone) Alô, Voskô! Fala!
Sei, entendi.
(respirou fundo e decidiu)
Chama ela pra mim. Vou falar com ela. Fazer o quê, não tem outro jeito!...
AO OUVIR A VOZ DE NOÊMIA DO
OUTRO LADO DA LINHA, FALOU, SOB O OLHAR ATENTO DE TIA LALINHA.
MARCELÃO - Está bem, Noêmia, você venceu. Eu
entrego os pontos. Laurinha está em casa de minha tia, aqui em Niterói. Venha
aqui e você a encontra. Tome nota do endereço.
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - DIA.
MALU ENTROU NO ESCRITÓRIO DO
PAI COM A “FOLHA DO RIO” NA MÃO.
MALU - Você viu isso, papai? Aqui diz que as
reportagens de Dante Gurgel sobre Diana, a santa de Ipanema, continuam atraindo
a atenção dos leitores. Até um milagre, diz aqui, ela já fez.
MONTEIRO PRADO - É claro que não há um pingo
de verdade nesta história. Trata-se, minha filha, de um mero problema jornalístico,
coisa para vender jornal.
MALU - O que podemos fazer pra esse repórter
parar?
MONTEIRO PRADO - Nada. Não podemos fazer nada.
Já sondei e , nem dinheiro ele aceita para isso. (retirou os óculos, pensativo)
O único meio era que você e Marcos se casassem logo e fossem viajar, por
exemplo.
MALU - (sorriu) Você sabe que isso é o que eu
mais quero, papai. Mas faço questão de que minha mãe venha para o casamento!
MONTEIRO PRADO - (contrariado) Malu, não vamos
começar com isso...
MALU - (cortou) Está decidido, meu pai: eu
quero que minha mãe venha! Faça o que for preciso pra trazer ela, por favor! O
senhor não pode me negar isso!
CORTA PARA:
CENA 3 - NITERÓI - CASA DE TIA LALINHA - SALA - INT. -DIA.
TIA LALINHA - Você não acha que era melhor
dizer a Laurinha?
MARCELÃO - Não. Não vamos dizer nada.
TIA LALINHA - Mas assim... vai ser difícil...
MARCELÃO - (deu de ombros) Difícil para ela.
Que é que ela queria? Que eu ainda resolvesse todos os problemas que ela criou?
Que se dane!
TIA LALINHA - Mas, Marcelinho, a menina vai
estranhar... Nem sei mesmo como vai reagir...
MARCELÃO - Pois isso é o que eu quero ver!
TOCARAM A CAMPAINHA.
TIA LALINHA - Deve ser ela! Vou para dentro.
Não quero ver a cara dessa Noêmia. Fazer o que ela fez com você e ainda ter que
recebê-la em minha casa... é demais pra mim!
MARCELÃO ABRIU A PORTA. NOÊMIA
ENTROU E OLHOU EM VOLTA, ANSIOSA.
MARCELÃO - Bom, agora é com você. Vou me
retirar...
NOÊMIA - Espere. Você disse a Laurinha que eu
viria?
MARCELÃO - Não. Deixei tudo para você dizer.
NOÊMIA - Mas como? Ela ainda não sabe que eu
estou viva?
MARCELÃO - (cerrou os olhos e respirou
profundamente) Não. Preferi não lhe tirar o prazer desse melodrama.
NOÊMIA - Mas isso vai ser um choque para a
menina! Afinal, as coisas que você deve ter contado a ela...
MARCELÃO - (cortou) Muito menos do que você
merecia que eu dissesse, fique certa disso. (caminhou até o quarto e chamou a
filha meigamente) Laurinha, quero que você conheça alguém. Aquela moça de que
lhe falei, lembra-se?
A MENINA ENTROU NA SALA E
FICOU OLHANDO PARA NOÊMIA.
NOÊMIA - Oi, Laurinha .
LAURINHA - Oi.
MARCELÃO SENTOU-SE NUMA
POLTRONA, ACENDEU UM CIGARRO E FICOU OBSERVANDO A CENA COM UM SORRISO IRÔNICO,
QUASE SÁDICO.NOÊMIA TINHA DIFICULDADE EM COMUNICAR-SE COM A FILHA. SENTOU-SE NO
CHÃO E, VENDO O EX-MARIDO OBSERVANDO-A, IRRITOU-SE.
NOÊMIA - Vai ficar o tempo todo aí me
vigiando?
MARCELÃO - Você quer que eu saia? DOCE BALANÇO
CAPÍTULO 31 PÁGINA 05
NOÊMIA - Claro. Com você aí é mais difícil. Vá
para o jardim, eu não vou raptá-la.
MARCELÃO SAIU. NOÊMIA, PORÉM,
NÃO SABIA O QUE DIZERÀ MENINA.
NOÊMIA - Laurinha, você tem algum retrato de
sua mãe?
LAURINHA - Não...
NOÊMIA - Por quê? Seu pai não quer? Ele não
gostava de sua mãe?
LAURINHA - Gostava sim.
NOÊMIA - Então é porque ela era muito feia...
LAURINHA - (ofendida) Não. Era mais bonita que
você. Meu pai me contou que ela era muito bacana e que não tinha defeito. Por
isso ele não se casou de novo: porque não encontrou outra mãe tão boa que nem
ela.
NOÊMIA SORRIU, ENTERNECIDA.
BEIJOU A FILHA NA TESTA E LEVANTOU-SE.
NOÊMIA - Bem, eu tenho que ir.... Mas eu volto
pra te ver, tá?
CENA 4 - CASA DA TIA LALINHA - JARDIM - EXT. - DIA.
NOÊMIA SAIU E ENCONTROU
MARCELÃO NO JARDIM.
NOÊMIA - Até mais, Marcelão.
MARCELÃO - Foi tudo bem? Contou a ela?
NOÊMIA - Ainda não. Acho que não é o momento.
Eu... quero agradecer por você não ter feito minha filha me odiar.
MARCELÃO - Fiz isso por ela... Quero que ela
seja feliz.
NOÊMIA - Ela não vive com
você. Mora com sua tia. Por que não me deixa levá-la comigo?
MARCELÃO - (reagiu, indignado) Nunca!
NOÊMIA - Pois saiba que vou fazer tudo o que
puder para ter a guarda da minha filha. Nem que para isso tenha que investigar sua
vida e descobrir todos os seus podres!
MARCELÃO BATEU PALMAS, COM
IRONIA.
MARCELÃO - Muito bem! A megera revelou-se
outra vez! Imagino como deve ser difícil pra você bancar a boazinha, a mãe responsável
e protetora, não é? Realmente, esse papel não combina com você!
NOÊMIA - (ríspida) Estou jogando limpo com
você! Devia me agradecer por isso! Adeus, Marcelão! (encaminhou-se para a rua,
parou e voltou-se) Ah... aguarde notícias minhas!
MARCELÃO - (trincou os dentes) Víbora!
CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA –INT. - NOITE.
MARCOS ABRAÇOU MALU E
BEIJOU-A, COM PAIXÃO. EM SEGUIDA, AFASTOU-SE, PENSATIVO, AR ANGUSTIADO.
MALU - Meu amor, o que houve?
MARCOS - Desculpe... eu estou meio perdido com
a história do jornal. Não penso noutra coisa, e nada me abala tanto quanto isto...
Nem mesmo quando pedi a anulação dos votos. Naquela ocasião, sabia o que
queria. E agora, não.
MALU - Sabe, para mim, a sua angústia é uma consequência
da sua procura constante do que julga certo ou errado. Viver a todo o momento
tendo que escolher entre o certo e o errado, o bem e o mal, é que faz as
pessoas viverem sempre angustiadas. Mas é que nem sempre a gente sabe, e então
a escolha fica difícil. O que é certo e o que é errado? Esta é uma noção que a
gente trás do berço, ou que recebe do meio em que vive, e que os outros
decidiram por nós. Você não decide nada. A não ser quando resolve seguir os
seus impulsos.
MARCOS - Eu acho que você tem razão, mas me
recuso a agir assim, pois se o fizesse, teria de negar tudo, por uma questão de
fidelidade a mim mesmo.
MALU - Pois é justamente a primeira coisa que
você devia fazer: libertar-se de si mesmo. (como Marcos guardou silêncio, prosseguiu)
Não vejo nada que valha a pena naquilo que você era, ou melhor, naquilo que
fizeram de você. Gostei de você, porque vi que queria sair disso. Eu também
quero me livrar de uma porção de coisas, pois sei que sou uma criatura
insuportável. Mas posso mudar. Eu lhe garanto que não sou um caso perdido. E
nós podemos ajudar um ao outro.
MARCOS OLHOU-A COM SURPRESA,
COMO SE ESTIVESSE VENDO UMA NOVA MALU.
MARCOS - Eu não sei se posso lhe ajudar. Meu
receio é que não possa. Ainda há pouco, quando lhe beijei com ardor, eu... estava
pensando em Diana! Eu não quero lhe enganar, vai ser muito difícil, quase
impossível esquecê-la!
MALU VOLTOU-LHE AS COSTAS, COM
RAIVA INCONTIDA NOS OLHOS.
MALU - (gritou) Vá-se embora! Vá-se embora,
seu cura de uma figa!
MARCOS FICOU SEM AÇÃO, QUANDO
MALU CORREU PARA O QUARTO E BATEU A PORTA.
CORTA PARA:
CENA 8 - QUARTO DE MALU - INT. - NOITE.
MALU ATIROU-SE NA CAMA, COM O
ROSTO BANHADO EM LÁGRIMAS.
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DE GERMANO - QUARTO DE MARCOS - INT. - NOITE.
MARCOS ENTROU NO QUARTO,
DESORIENTADO.
MARCOS - (aproximou-se da janela e falou para
si) Que rumo tomar? Resignar-me? Não. Esse é o refúgio dos vencidos.
Não estou disposto a aceitar o
mal, a injustiça. Não posso ficar firme, indiferente, enquanto os bons forem
punidos e os maus continuam a viver em paz. Mas não sei o que fazer, meu Deus!
OLHOU EM VOLTA, NO QUARTO QUE
FÔRA DE DIANA, E AJOELHOU-SE JUNTO AO LEITO.
MARCOS - Perdoa-me, Senhor. Não entendo bem o
sentido das coisas que estão acontecendo. É possível que esteja sendo posto à
prova na minha pretensão de entender o que talvez se encontre além da
compreensão de qualquer ser humano. Que o Senhor se compadeça da minha pobre
alma e não me negue a luz da verdade...
DESPIU A CAMISA, TIROU O
CINTURÃO.
MARCOS - No momento em que tudo se escurece á
minha volta eu me sinto perdido...
VERGOU-SE UM POUCO,
APOIANDO-SE NA CAMA.
MARCOS - Eu vos ofereço, Senhor, este
sacrifício, como prova da minha humildade.
MARCOS COMEÇOU A EXORCIZAR-SE,
CHICOTEANDO AS PRÓPRIAS COSTAS.
CENA 10 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
O DELEGADO ANDAVA NERVOSAMENTE
EM VOLTA DA MESA NO SEU GABINETE.
DELEGADO NOGUEIRA - Você viu, Amadeu? Eu não
sei o que esse Promotor quer mais. Para mim, os indícios são suficientes para
pedir a prisão de Alfredinho. Claro, não há provas definitivas. Mas estou convencido
de que foi ele, e você?
DETETIVE AMADEU - Eu não tenho tanta certeza,
doutor Nogueira. Mas se a gente conseguisse encostar os dois na parede, ele e
Valéria, a verdade vinha à tona.
DELEGADO NOGUEIRA - (deu um assobio) Mas como?
Uma acareação?
DETETIVE AMADEU - Sim, isso mesmo, um truque qualquer
para obrigar um deles a confessar ou acusar o outro.
DELEGADO NOGUEIRA - (pensou um pouco e, sem
olhar para Amadeu, disse, numa voz melancólica) Não tem outra saída. Senão
vamos ficar nisso a vida toda, com um monte de suspeitos, e nenhuma prova
definitiva. ( e com voz controlada) É isso mesmo, prenda os dois. Vamos fazer
uma encenação. Pode ser que eles caiam!
CORTA PARA:
CENA 11 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
ALFREDINHO - Quem foi o dedo-duro desta vez?
Da outra foi seu filho, Julio Biruta!
DELEGADO NOGUEIRA - Você é um ingrato, porque
ele só quis defendê-lo. Mas há outras pessoas que não são tão suas amigas..
ALFREDINHO ESTAVA AZUL DE
RAIVA. MAS UM POUCO ATEMORIZADO TAMBÉM. POUSOU AMBAS AS MÃOS SOBRE A MESA DO
DELEGADO.
ALFREDINHO - Quem me delatou?
DELEGADO NOGUEIRA - Você vai saber quando
chegar a hora. E não é truque. Agora tenho provas para metê-lo na cadeia. Você
não vai voltar mais para casa.
ALFREDINHO SE ASSUTOU AINDA
MAIS. RIU, PARA DISFARÇAR O NERVOSISMO.
ALFREDINHO - O senhor não pode fazer isso
comigo!
DELEGADO NOGUEIRA - Não posso? Por quê? (e
gritando para ser ouvido do outro lado da porta) Guarda! Tranque este preso no
xadrez!
O GUARDA ENTROU E ALGEMOU
ALFREDINHO. NESTE INSTANTE, A PORTA SE ABRIU E VALÉRIA ENTROU, ACOMPANHADA PELO
DETETIVE AMADEU. ELA VIU ALFREDINHO. NOTOU QUE ELE ESTAVA ALGEMADO.
VALÉRIA - Alfredinho! Que é isso? Que vão
fazer com ele?
DELEGADO NOGUEIRA - (sem responder) Levem o
preso!
VALÉRIA - (descontrolada) A polícia é injusta!
Meu namorado é um bom rapaz! Eu conheço ele há quatro anos. Nunca fez mal a
ninguém, nem a mim!
DELEGADO NOGUEIRA - (levantou-se) A senhora o defende
tanto... e ele nem ao menos merece. Se soubesse o que ele acabou de dizer nesta
sala, mudaria de atitude.
VALÉRIA - O que ele disse?
NOGUEIRA FEZ UM LEVE SINAL PARA
AMADEU, QUE COMPREENDEU E SAIU. ENTÃO, ELE ABRANDOU A VOZ E CHEGOU BEM PERTO DO
ROSTO DA MOÇA.
DELEGADO NOGUEIRA - Eu sei que a senhora gosta
de um tipo dessa espécie. Pois lamento muito, mas a senhora vai sofrer hoje a
maior decepção da sua vida. (fez uma pausa estudada e arrematou, gravemente)
Alfredo Ribeiro, interrogado por mim durante mais de quatro horas, acabou por
dizer o nome do criminoso: a senhora!
FIM DO CAPÍTULO 31
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