CENA 1 - DELEGACIA - CELA DE
VALÉRIA - INT. - DIA.
Continuação imediata da última
cena do capítulo anterior
DORIVAL - Fique calma. Nem
tudo está perdido. Você não matou Diana Molina, isso é o que importa!
VALÉRIA - Sim, Dorival, não a matei. Estou
inocente!
DORIVAL - A primeira coisa a fazer é chamar o
delegado e negar a confissão. De minha parte, prometo arranjar um bom advogado
para defender você.
VALÉRIA SORRIU, COM TRISTEZA E
APERTOU-LHE AS MÃOS ATRAVÉS DAS GRADES DA CELA.
CORTA PARA:
CENA 2 - DELEGACIA - SALA DO
DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
O CABO JORGE LEVOU VALÉRIA
FRANÇA, ALGEMADA, À SALA DO DELEGADO NOGUEIRA.
DELEGADO NOGUEIRA - (ergueu a cabeça e fitou a
mulher, por sobre os óculos) A senhora deve ter algo muito importante a dizer,
após tanta insistência... Pois bem, dona Valéria: fale.
VALÉRIA - (tensa) Eu nego tudo o que falei na
confissão! Delegado, eu menti! Não matei aquela moça! Sou inocente!
DELEGADO NOGUEIRA - (impaciente) Mas que
brincadeira é essa?
VALÉRIA - Não estou brincando. Não sou
assassina. Eu menti, já disse!
DELEGADO NOGUEIRA - (seco) Verdade ou mentira,
agora é um pouco tarde. A senhora está sèriamente encrencada
CENA 3 - APARTAMENTO DE
GERMANO - SALA - INT. -DIA
MARCOS - Dom Ignácio, que surpresa!
MARCOS E CARMEN CUMPRIMENTARAM
O SACERDOTE.
CARMEN - É uma honra recebê-lo em minha casa,
Dom Ignácio. Fiquem á vontade. Vou fazer um cafezinho.
CARMEN ENCAMINHOU-SE PARA A
COZINHA. MARCOS E DOM IGNÁCIO ACOMODARAM-SE NO SOFÁ DA SALA.
DOM IGNÁCIO - Meu amigo Marcos, os milagres da
Santa de Ipanema chegaram aos ouvidos da igreja. Fui encarregado de estudar e
pesquisar o assunto.
MARCOS - Eu imaginei que isso ia acontecer.
Mais cedo ou mais tarde, a notícia chegaria ao conhecimento da Igreja.
DOM IGNÁCIO - Isso mesmo. Temos recebido
informações sobre aparições e supostos milagres. O caso tem sido debatido. E devido
às minhas relações com você, Marcos, e pelo fato de ter conhecido Diana eu me
ofereci para fazer esse estudo.
MARCOS - Quer dizer que você vem apurar a
verdade?
DOM IGNÁCIO - Isso mesmo. Estou aqui para
isso.
MARCOS - (animado) Era o que eu queria. Um
aliado! Não para provar as aparições, mas para me ajudar a desvendar o mistério
que envolve este crime terrível.
DOM IGNÁCIO - Mas, pelo que eu soube, uma
mulher confessou ser a assassina...
MARCOS - Sim, é verdade. Porém, não tenho
certeza de que Valéria seja, realmente, a criminosa. Apesar das muitas
coincidências reveladas na acareação com D. Carmen, não consigo acreditar que
uma moça tão boa e tão meiga como ela tivesse sido capaz de um ato daqueles.
CARMEN VOLTOU DA COPA COM UMA
BANDEJA NA MÃO.
CARMEN - O cafezinho está pronto. Acabei de
passar!
CORTA PARA:
CENA 4 - “FOLHA DO RIO” - SALA
DE GARCIA LOPES -INT. - DIA.
DANTE GURGEL ENTROU NA SALA DO
DIRETOR, ATENDENDO A SEU CHAMADO.
GARCIA LOPES - Dante, o caso Diana Molina,
agora, vai pegar fogo novamente.
DANTE - Alguma novidade?
GARCIA LOPES - Acabei de saber que a Igreja
enviou um representante para investigar o caso.
DANTE - Mas isso pode significar encrenca
também...
GARCIA LOPES - A tiragem vai aumentar, isso é
o que importa (ponderou). Mas ele também pode entornar o caldo. Principalmente
porque Dom Ignácio e Marcos Ventura são amigos.
DANTE - Apesar de que a presença do povo no
local já é espontânea. Tem vindo gente dos subúrbios e até do Estado do Rio para
rezar e acender velas à Santa de Ipanema. Quase toda quartafeira, por volta da
meia noite, é o pessoal da macumba...
GARCIA LOPES - É, o caso está tomando grandes proporções.
E isso, para nós, é muito bom!
CORTA PARA:
CENA 5 - PRAIA DE IPANEMA -
CALÇADÃO - EXT. -NOITE.
UM GRUPO DE PESSOAS ACENDIA
VELAS E ORAVA NO LOCAL ONDE FÔRA ENCONTRADO O CORPO DE DIANA. MARCOS E DOM
IGNÁCIO ESTAVAM OLHANDO DE CIMA DO PAREDÃO.
MARCOS - E então, Ignácio, o que é que você
acha de tudo isso?
DOM IGNÁCIO - É incrível. Mas como material
para pesquisa, acho ótimo. O sincretismo que já está se verificando entre a
religião católica e as crenças africanas é um assunto que me interessa muito.
MARCOS - Sim, mas não podemos esquecer que há criaturas
humanas envolvidas no caso. Principalmente o destino das pessoas, você sabe. É
que toda essa exploração em torno do que aconteceu a Diana, dos fatos
sobrenaturais que teriam havido após a sua morte e nos quais eu me recuso a
acreditar, tudo isso me leva quase ao desespero.
DOM IGNÁCIO - Bem, meu amigo, eu acho que você
tem outros problemas, e que não é somente por causa disso que você se preocupa.
E se Diana fosse canonizada, vamos supor, se ela fosse reconhecida pela igreja
como santa, isso alteraria os dados do seu problema?
MARCOS - Mas é claro!
DOM IGNÁCIO - Você teme isso?
MARCOS - (riu, nervoso e excitadíssimo) Você
me conhece bem, Ignácio, para não me julgar um ingênuo. Sei que Diana não é santa,
não creio que tenha aparecido a ninguém, nem nos milagres que apregoam que ela
tenha feito. Não creio em nada disso. Mas é impossível não tomar conhecimento
dessas coisas. É impossível não ficar abalado com elas (e num desabafo) Não
pense que eu quero esquecê-la. Isso não será nunca possível. Mas quero recordá-la
serenamente; não com o sentimento de culpa que me dá tudo isso. Uma culpa que
não sei precisar, que pode não ter sentido, mas que pesa na minha consciência.
CENA 6 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - NOITE.
MONTEIRO PRADO - Fiquei assustado, Senhorinha,
quando percebi que tinha ido muito longe com meu estoque de desculpas, tentando
afastar Malu da mãe. Não sei mais o que fazer!
SENHORINHA - Então... ela ouviu a conversa!
MONTEIRO PRADO - (confirmou) Isso mesmo.
Maldita extensão! Fui apanhado em flagrante proibindo a mãe dela de vir ao casamento.
Ela ouviu toda a conversa pelo telefone e agora quer ir aos Estados Unidos,
para trazê-la de volta!
SENHORINHA - Eu acho que o senhor devia contar
a verdade à sua filha. Pois, se Malu decidir viajar, o senhor não poderia
impedir.
MONTEIRO, BASTANTE NERVOSO,
ANDAVA DE UM LADO PARA O OUTRO.
MONTEIRO PRADO - Vamos supor, Senhorinha, que
eu consiga avisar Celina para sair de Nova Iorque, inventar uma viagem,
qualquer coisa... mas é preciso que elas não se encontrem!
SENHORINHA - E o senhor acha que essa situação
vai poder continuar por muito tempo, doutor Monteiro? É justo deixar essa
menina assim, iludida? Isso não está fazendo mais mal a ela do que a verdade?
AS PALAVRAS DE SENHORINHA
FIZERAM VIVO EFEITO SOBRE O BANQUEIRO.
MONTEIRO PRADO - Não sei. O erro foi ter
começado. Mas... (fez uma breve pausa. Sentia medo do que estava imaginando,
porém era uma solução) Sim, pode dar certo. Marcos. Ele poderá ajudar, e também
compreenderá. Vou dizer-lhe a verdade.
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE
MARCELÃO - SALA - INT. -DIA
CECÉU CHEGOU E DEIXOU-SE CAIR
NO SOFÁ, AR CANSADO. MARCELÃO SAIU DO ATELIER COM UMA BELA MORENA, ACOMPANHOU-A
ATÉ A PORTA, DEU-LHE UM LONGO BEIJO NA BOCA, FECHOU A PORTA E SENTOU-SE AO LADO
DO AMIGO.
CECÉU - Quem é essa? Não conhecia...
MARCELÃO - Maravilhosa, não é? É um máquina,
um vulcão em erupção! Aspirante a modelo. Prometi ajudá-la.
CECÉU - (desanimado) Sei...
MARCELÃO - Que cara é essa, rapaz? Algum
problema?
CECÉU - Tudo na mesma, desde que fui demitido
do banco e fugi da pensão da D. Gigi, depois de ter quebrado todos os móveis...
Pra variar, agora sou guia turístico. Sirvo de cicerone, intérprete, o que
pintar. Ando pra cima e pra baixo com umas velhotas chatas, subindo no Pão de
Açúcar, no Corcovado...
MARCELÃO - Ora, isso parece divertido!
CECÉU - Divertido? Quer trocar? Deixa eu ficar
entrevistando suas aspirantes a estrela, e você vai ser guia no meu lugar... o
que acha da idéia?
MARCELÃO COÇOU A CABEÇA E FEZ
UMA CARETA DE REJEIÇÃO.
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - DIA.
MONTEIRO PRADO - Obrigado por ter vindo, meu
futuro genro.
MARCOS - Algum problema com Malu?
MONTEIRO PRADO - Preciso da sua ajuda. O
problema é o seguinte: a mãe dela não está em Nova Iorque. Quem escreve para Malu
é uma senhora a quem pago para isso. Celina não pode escrever.
MARCOS - (espantado) Mas... o senhor mente
para sua filha? Mas por quê?
MONTEIRO PRADO - Celina, a mãe de Malu, é esquizofrênica
e mora numa Casa de Saúde. Eu menti porque queria poupar minha filha desse sofrimento...
Mas confesso que, hoje, já não sei mais se fiz a coisa certa.
MARCOS - A verdade é sempre o caminho certo,
doutor Monteiro.
MONTEIRO PRADO - Marcos, sei que errei e peço
que não me julgue. No momento, só preciso que você tire da cabeça de Malu a
idéia de ir buscar a mãe. Por favor, prometa que vai fazer isso.
MARCOS - Está bem. Prometo que vou tentar.
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DO
DELEGADO NOGUEIRA -SALA - INT. – NOITE
NOGUEIRA ESTAVA DE PIJAMAS,
LENDO O JORNAL E COMENTANDO COM ODETE, OCUPADA NOS AFAZERES DA CASA, AS
MANCHETES ESCANDALOSAS.
DELEGADO NOGUEIRA - Taí como eu previa.
Valéria França passou a ser a “Fera de Ipanema”.
ODETE - Quem diria que essa mulher é a
assassina da pobre Diana, hem?
JULIO BIRUTA SURGIU DO
INTERIOR DO APARTAMENTO E SENTOU-SE AO LADO DO PAI.
JULIO BIRUTA - Pai, preciso levar um papo com
você.
NOGUEIRA FITOU O FILHO POR
SOBRE O JORNAL.
DELEGADO NOGUEIRA - Pode falar, filho. É muito
importante que a gente converse de vez em quando.
JULIO BIRUTA - Eu tou a fim de me mandar,
velho.
DELEGADO NOGUEIRA - (franziu o cenho) Como
assim, se mandar?
JULIO BIRUTA - Me mandar de casa, ir embora.
DELEGADO NOGUEIRA - (esforçando-se para manter
a calma) Posso saber o motivo?
JULIO BIRUTA - Não me sinto bem, morando aqui,
com vocês. Quero ir cuidar da minha vida.
DELEGADO NOGUEIRA - (incrédulo) Não se sente
bem em sua própria casa, entre a sua família? Mas, por quê? Alguém te trata mal
aqui?
JULIO BIRUTA - Ninguém me faz mal algum. Tenho
carinho, tudo, mas... quero ficar na minha. Vocês estão em outra.
DELEGADO NOGUEIRA - E vai morar aonde?
JULIO BIRUTA - No Solar do Catete.
DELEGADO NOGUEIRA - Aquele casarão do Catete,
onde vive tudo quanto é desajustado? E com que dinheiro vai viver no Solar do
Catete, pode me explicar?
JULIO BIRUTA - Você me dá uma mesada...
NOGUEIRA LEVOU A MÃO AO PEITO.
ESTAVA PROFUNDAMENTE ABALADO, CHOCADO. ERA UM HOMEM QUE VIA CAIR POR TERRA
TODOS OS SEUS CONCEITOS DE EDUCAÇÃO E FAMÍLIA.
DELEGADO NOGUEIRA - Você ouviu isso, Odete? A
gente cria um filho com todo o carinho, procura dar a ele a melhor educação,
até coisas que nunca tivemos, e quando ele faz vinte e um anos, nos diz uma
coisa dessas!... Será que errei em alguma coisa, meu Deus? Devo ter errado! Deve
estar tudo errado!
CORTA PARA:
CENA 10 - APARTAMENTO DE
GERMANO - SALA - INT. -DIA.
CARMEN ABRIU A PORTA, AO OUVIR
O SOM DA CAMPAINHA.ERA DORIVAL RIBEIRO.
DORIVAL - Boa noite. Eu gostaria de falar com
o senhor Marcos...
MARCOS OUVIU SEU NOME E
DIRIGIU-SE À SALA.
CARMEN - Ah, Marcos, eu já ia chamá-lo. Este
senhor quer falar com você.
MARCOS - Pois não? O que deseja?
DORIVAL - Senhor Marcos, desculpe ter vindo
aqui, assim, sem conhecê-lo. Estou aqui para prestar um favor a uma amiga: Valéria
França.
CARMEN - (não se conteve) A assassina de
Diana?
MARCOS FITOU A MULHER COM AR
DE REPROVAÇÃO.
MARCOS - D. Carmen, por favor, controle-se (e
para Dorival) Que favor?
DORIVAL - Ela mandou pedir que vá visitá-la no
presídio. Ela precisa muito falar com o senhor!
CARMEN - (exaltada) Mas... mas isso é um
absurdo, um despropósito!
MAIS UMA VEZ, MARCOS FITOU A
MULHER SIGNIFICATIVAMENTE E DIRIGIU-SE A DORIVAL, COM CALMA E FIRMEZA.
MARCOS - Diga a ela que eu irei.
CORTA PARA: CENA 11 - PRAIA DE
IPANEMA - EXT. - TARDE.
A BOLA ALARANJADA DO SOL JÁ IA
SE AFUNDANDO NO MAR,POR TRÁS DA PEDRA DA GÁVEA, E A PRAIA DE IPANEMA, POR ALGUM
TEMPO, FICARIA DESERTA ATÉ QUE OS CASAIS FURTIVOS VIESSEM AMAR-SE RÁPIDA E
SOFREGAMENTE NA AREIA. JULIO BIRUTA E LUANA ESTAVAM DEITADOS SOB UM COQUEIRO, A
MOTO ESTACIONADA AO LADO. AMBOS FUMAVAM. O RAPAZ ESTAVA LHE CONTANDO A CONVERSA
QUE TIVERA COM O PAI.
JULIO BIRUTA - Ele não entende, sabe? Não tem
condição! Seu velho também é assim?
LUANA - Não. Ao contrário, ele é muito bacana!
JULIO BIRUTA - Pois então, você não topava a
gente se mandar por aí?
LUANA - Sim, topava, mas e depois? E a viagem
de volta? Porque o diabo é que tem volta sempre...
JULIO BIRUTA - É... (T) Então, vamos pensar em
outra coisa...
JULIO BEIJOU LUANA.
CORTA PARA:
CENA 12 - DELEGACIA - CELA DE
VALÉRIA - INT. - DIA.
O DETETIVE AMADEU CONDUZIU
MARCOS À CELA DE VALÉRIA.
VALÉRIA - Eu sabia que você viria! Muito
obrigada!
MARCOS - Em que posso ajudá-la?
VALÉRIA - Eu chamei você aqui para dizer que
não matei Diana! Sou inocente! Estou desesperada e não sei a quem recorrer! Você
tem que me ajudar!...
FIM DO CAPÍTULO 33
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