quinta-feira, 7 de março de 2013

Doce Balanço - Capítulo 33



CENA 1 - DELEGACIA - CELA DE VALÉRIA - INT. - DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior

DORIVAL - Fique calma. Nem tudo está perdido. Você não matou Diana Molina, isso é o que importa!
 VALÉRIA - Sim, Dorival, não a matei. Estou inocente!
 DORIVAL - A primeira coisa a fazer é chamar o delegado e negar a confissão. De minha parte, prometo arranjar um bom advogado para defender você.

VALÉRIA SORRIU, COM TRISTEZA E APERTOU-LHE AS MÃOS ATRAVÉS DAS GRADES DA CELA.

CORTA PARA:
CENA 2 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.

O CABO JORGE LEVOU VALÉRIA FRANÇA, ALGEMADA, À SALA DO DELEGADO NOGUEIRA.

 DELEGADO NOGUEIRA - (ergueu a cabeça e fitou a mulher, por sobre os óculos) A senhora deve ter algo muito importante a dizer, após tanta insistência... Pois bem, dona Valéria: fale.
 VALÉRIA - (tensa) Eu nego tudo o que falei na confissão! Delegado, eu menti! Não matei aquela moça! Sou inocente!
 DELEGADO NOGUEIRA - (impaciente) Mas que brincadeira é essa?
 VALÉRIA - Não estou brincando. Não sou assassina. Eu menti, já disse!
 DELEGADO NOGUEIRA - (seco) Verdade ou mentira, agora é um pouco tarde. A senhora está sèriamente encrencada

CENA 3 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA

 MARCOS - Dom Ignácio, que surpresa!

MARCOS E CARMEN CUMPRIMENTARAM O SACERDOTE.

 CARMEN - É uma honra recebê-lo em minha casa, Dom Ignácio. Fiquem á vontade. Vou fazer um cafezinho.

CARMEN ENCAMINHOU-SE PARA A COZINHA. MARCOS E DOM IGNÁCIO ACOMODARAM-SE NO SOFÁ DA SALA.

 DOM IGNÁCIO - Meu amigo Marcos, os milagres da Santa de Ipanema chegaram aos ouvidos da igreja. Fui encarregado de estudar e pesquisar o assunto.
 MARCOS - Eu imaginei que isso ia acontecer. Mais cedo ou mais tarde, a notícia chegaria ao conhecimento da Igreja.
 DOM IGNÁCIO - Isso mesmo. Temos recebido informações sobre aparições e supostos milagres. O caso tem sido debatido. E devido às minhas relações com você, Marcos, e pelo fato de ter conhecido Diana eu me ofereci para fazer esse estudo.
 MARCOS - Quer dizer que você vem apurar a verdade?
 DOM IGNÁCIO - Isso mesmo. Estou aqui para isso.
 MARCOS - (animado) Era o que eu queria. Um aliado! Não para provar as aparições, mas para me ajudar a desvendar o mistério que envolve este crime terrível.
 DOM IGNÁCIO - Mas, pelo que eu soube, uma mulher confessou ser a assassina...
 MARCOS - Sim, é verdade. Porém, não tenho certeza de que Valéria seja, realmente, a criminosa. Apesar das muitas coincidências reveladas na acareação com D. Carmen, não consigo acreditar que uma moça tão boa e tão meiga como ela tivesse sido capaz de um ato daqueles.

CARMEN VOLTOU DA COPA COM UMA BANDEJA NA MÃO.

 CARMEN - O cafezinho está pronto. Acabei de passar!

CORTA PARA:
CENA 4 - “FOLHA DO RIO” - SALA DE GARCIA LOPES -INT. - DIA.

DANTE GURGEL ENTROU NA SALA DO DIRETOR, ATENDENDO A SEU CHAMADO.

 GARCIA LOPES - Dante, o caso Diana Molina, agora, vai pegar fogo novamente.
 DANTE - Alguma novidade?
 GARCIA LOPES - Acabei de saber que a Igreja enviou um representante para investigar o caso.
 DANTE - Mas isso pode significar encrenca também...
 GARCIA LOPES - A tiragem vai aumentar, isso é o que importa (ponderou). Mas ele também pode entornar o caldo. Principalmente porque Dom Ignácio e Marcos Ventura são amigos.
 DANTE - Apesar de que a presença do povo no local já é espontânea. Tem vindo gente dos subúrbios e até do Estado do Rio para rezar e acender velas à Santa de Ipanema. Quase toda quartafeira, por volta da meia noite, é o pessoal da macumba...
 GARCIA LOPES - É, o caso está tomando grandes proporções. E isso, para nós, é muito bom!

CORTA PARA:
CENA 5 - PRAIA DE IPANEMA - CALÇADÃO - EXT. -NOITE.

UM GRUPO DE PESSOAS ACENDIA VELAS E ORAVA NO LOCAL ONDE FÔRA ENCONTRADO O CORPO DE DIANA. MARCOS E DOM IGNÁCIO ESTAVAM OLHANDO DE CIMA DO PAREDÃO.

 MARCOS - E então, Ignácio, o que é que você acha de tudo isso?
 DOM IGNÁCIO - É incrível. Mas como material para pesquisa, acho ótimo. O sincretismo que já está se verificando entre a religião católica e as crenças africanas é um assunto que me interessa muito.
 MARCOS - Sim, mas não podemos esquecer que há criaturas humanas envolvidas no caso. Principalmente o destino das pessoas, você sabe. É que toda essa exploração em torno do que aconteceu a Diana, dos fatos sobrenaturais que teriam havido após a sua morte e nos quais eu me recuso a acreditar, tudo isso me leva quase ao desespero.
 DOM IGNÁCIO - Bem, meu amigo, eu acho que você tem outros problemas, e que não é somente por causa disso que você se preocupa. E se Diana fosse canonizada, vamos supor, se ela fosse reconhecida pela igreja como santa, isso alteraria os dados do seu problema?
 MARCOS - Mas é claro!
 DOM IGNÁCIO - Você teme isso?
 MARCOS - (riu, nervoso e excitadíssimo) Você me conhece bem, Ignácio, para não me julgar um ingênuo. Sei que Diana não é santa, não creio que tenha aparecido a ninguém, nem nos milagres que apregoam que ela tenha feito. Não creio em nada disso. Mas é impossível não tomar conhecimento dessas coisas. É impossível não ficar abalado com elas (e num desabafo) Não pense que eu quero esquecê-la. Isso não será nunca possível. Mas quero recordá-la serenamente; não com o sentimento de culpa que me dá tudo isso. Uma culpa que não sei precisar, que pode não ter sentido, mas que pesa na minha consciência.

CENA 6 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - NOITE.

 MONTEIRO PRADO - Fiquei assustado, Senhorinha, quando percebi que tinha ido muito longe com meu estoque de desculpas, tentando afastar Malu da mãe. Não sei mais o que fazer!
 SENHORINHA - Então... ela ouviu a conversa!
 MONTEIRO PRADO - (confirmou) Isso mesmo. Maldita extensão! Fui apanhado em flagrante proibindo a mãe dela de vir ao casamento. Ela ouviu toda a conversa pelo telefone e agora quer ir aos Estados Unidos, para trazê-la de volta!
 SENHORINHA - Eu acho que o senhor devia contar a verdade à sua filha. Pois, se Malu decidir viajar, o senhor não poderia impedir.

MONTEIRO, BASTANTE NERVOSO, ANDAVA DE UM LADO PARA O OUTRO.

 MONTEIRO PRADO - Vamos supor, Senhorinha, que eu consiga avisar Celina para sair de Nova Iorque, inventar uma viagem, qualquer coisa... mas é preciso que elas não se encontrem!
 SENHORINHA - E o senhor acha que essa situação vai poder continuar por muito tempo, doutor Monteiro? É justo deixar essa menina assim, iludida? Isso não está fazendo mais mal a ela do que a verdade?

AS PALAVRAS DE SENHORINHA FIZERAM VIVO EFEITO SOBRE O BANQUEIRO.

 MONTEIRO PRADO - Não sei. O erro foi ter começado. Mas... (fez uma breve pausa. Sentia medo do que estava imaginando, porém era uma solução) Sim, pode dar certo. Marcos. Ele poderá ajudar, e também compreenderá. Vou dizer-lhe a verdade.

CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA

CECÉU CHEGOU E DEIXOU-SE CAIR NO SOFÁ, AR CANSADO. MARCELÃO SAIU DO ATELIER COM UMA BELA MORENA, ACOMPANHOU-A ATÉ A PORTA, DEU-LHE UM LONGO BEIJO NA BOCA, FECHOU A PORTA E SENTOU-SE AO LADO DO AMIGO.

 CECÉU - Quem é essa? Não conhecia...
 MARCELÃO - Maravilhosa, não é? É um máquina, um vulcão em erupção! Aspirante a modelo. Prometi ajudá-la.
 CECÉU - (desanimado) Sei...
 MARCELÃO - Que cara é essa, rapaz? Algum problema?
 CECÉU - Tudo na mesma, desde que fui demitido do banco e fugi da pensão da D. Gigi, depois de ter quebrado todos os móveis... Pra variar, agora sou guia turístico. Sirvo de cicerone, intérprete, o que pintar. Ando pra cima e pra baixo com umas velhotas chatas, subindo no Pão de Açúcar, no Corcovado...
 MARCELÃO - Ora, isso parece divertido!
 CECÉU - Divertido? Quer trocar? Deixa eu ficar entrevistando suas aspirantes a estrela, e você vai ser guia no meu lugar... o que acha da idéia?

MARCELÃO COÇOU A CABEÇA E FEZ UMA CARETA DE REJEIÇÃO.

CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - DIA.

 MONTEIRO PRADO - Obrigado por ter vindo, meu futuro genro.
 MARCOS - Algum problema com Malu?
 MONTEIRO PRADO - Preciso da sua ajuda. O problema é o seguinte: a mãe dela não está em Nova Iorque. Quem escreve para Malu é uma senhora a quem pago para isso. Celina não pode escrever.
 MARCOS - (espantado) Mas... o senhor mente para sua filha? Mas por quê?
 MONTEIRO PRADO - Celina, a mãe de Malu, é esquizofrênica e mora numa Casa de Saúde. Eu menti porque queria poupar minha filha desse sofrimento... Mas confesso que, hoje, já não sei mais se fiz a coisa certa.
 MARCOS - A verdade é sempre o caminho certo, doutor Monteiro.
 MONTEIRO PRADO - Marcos, sei que errei e peço que não me julgue. No momento, só preciso que você tire da cabeça de Malu a idéia de ir buscar a mãe. Por favor, prometa que vai fazer isso.
 MARCOS - Está bem. Prometo que vou tentar.

CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DO DELEGADO NOGUEIRA -SALA - INT. – NOITE

NOGUEIRA ESTAVA DE PIJAMAS, LENDO O JORNAL E COMENTANDO COM ODETE, OCUPADA NOS AFAZERES DA CASA, AS MANCHETES ESCANDALOSAS.

 DELEGADO NOGUEIRA - Taí como eu previa. Valéria França passou a ser a “Fera de Ipanema”.
 ODETE - Quem diria que essa mulher é a assassina da pobre Diana, hem?

JULIO BIRUTA SURGIU DO INTERIOR DO APARTAMENTO E SENTOU-SE AO LADO DO PAI.

 JULIO BIRUTA - Pai, preciso levar um papo com você.

NOGUEIRA FITOU O FILHO POR SOBRE O JORNAL.

 DELEGADO NOGUEIRA - Pode falar, filho. É muito importante que a gente converse de vez em quando.
 JULIO BIRUTA - Eu tou a fim de me mandar, velho.
 DELEGADO NOGUEIRA - (franziu o cenho) Como assim, se mandar?
 JULIO BIRUTA - Me mandar de casa, ir embora.
 DELEGADO NOGUEIRA - (esforçando-se para manter a calma) Posso saber o motivo?
 JULIO BIRUTA - Não me sinto bem, morando aqui, com vocês. Quero ir cuidar da minha vida.
 DELEGADO NOGUEIRA - (incrédulo) Não se sente bem em sua própria casa, entre a sua família? Mas, por quê? Alguém te trata mal aqui?
 JULIO BIRUTA - Ninguém me faz mal algum. Tenho carinho, tudo, mas... quero ficar na minha. Vocês estão em outra.
 DELEGADO NOGUEIRA - E vai morar aonde?
 JULIO BIRUTA - No Solar do Catete.
 DELEGADO NOGUEIRA - Aquele casarão do Catete, onde vive tudo quanto é desajustado? E com que dinheiro vai viver no Solar do Catete, pode me explicar?
 JULIO BIRUTA - Você me dá uma mesada...

NOGUEIRA LEVOU A MÃO AO PEITO. ESTAVA PROFUNDAMENTE ABALADO, CHOCADO. ERA UM HOMEM QUE VIA CAIR POR TERRA TODOS OS SEUS CONCEITOS DE EDUCAÇÃO E FAMÍLIA.

 DELEGADO NOGUEIRA - Você ouviu isso, Odete? A gente cria um filho com todo o carinho, procura dar a ele a melhor educação, até coisas que nunca tivemos, e quando ele faz vinte e um anos, nos diz uma coisa dessas!... Será que errei em alguma coisa, meu Deus? Devo ter errado! Deve estar tudo errado!

CORTA PARA:
CENA 10 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA.

CARMEN ABRIU A PORTA, AO OUVIR O SOM DA CAMPAINHA.ERA DORIVAL RIBEIRO.

 DORIVAL - Boa noite. Eu gostaria de falar com o senhor Marcos...

MARCOS OUVIU SEU NOME E DIRIGIU-SE À SALA.

 CARMEN - Ah, Marcos, eu já ia chamá-lo. Este senhor quer falar com você.
 MARCOS - Pois não? O que deseja?
 DORIVAL - Senhor Marcos, desculpe ter vindo aqui, assim, sem conhecê-lo. Estou aqui para prestar um favor a uma amiga: Valéria França.
 CARMEN - (não se conteve) A assassina de Diana?

MARCOS FITOU A MULHER COM AR DE REPROVAÇÃO.

 MARCOS - D. Carmen, por favor, controle-se (e para Dorival) Que favor?
 DORIVAL - Ela mandou pedir que vá visitá-la no presídio. Ela precisa muito falar com o senhor!
 CARMEN - (exaltada) Mas... mas isso é um absurdo, um despropósito!

MAIS UMA VEZ, MARCOS FITOU A MULHER SIGNIFICATIVAMENTE E DIRIGIU-SE A DORIVAL, COM CALMA E FIRMEZA.

 MARCOS - Diga a ela que eu irei.

CORTA PARA: CENA 11 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - TARDE.

A BOLA ALARANJADA DO SOL JÁ IA SE AFUNDANDO NO MAR,POR TRÁS DA PEDRA DA GÁVEA, E A PRAIA DE IPANEMA, POR ALGUM TEMPO, FICARIA DESERTA ATÉ QUE OS CASAIS FURTIVOS VIESSEM AMAR-SE RÁPIDA E SOFREGAMENTE NA AREIA. JULIO BIRUTA E LUANA ESTAVAM DEITADOS SOB UM COQUEIRO, A MOTO ESTACIONADA AO LADO. AMBOS FUMAVAM. O RAPAZ ESTAVA LHE CONTANDO A CONVERSA QUE TIVERA COM O PAI.

 JULIO BIRUTA - Ele não entende, sabe? Não tem condição! Seu velho também é assim?
 LUANA - Não. Ao contrário, ele é muito bacana!
 JULIO BIRUTA - Pois então, você não topava a gente se mandar por aí?
 LUANA - Sim, topava, mas e depois? E a viagem de volta? Porque o diabo é que tem volta sempre...
 JULIO BIRUTA - É... (T) Então, vamos pensar em outra coisa...

JULIO BEIJOU LUANA.

CORTA PARA:
CENA 12 - DELEGACIA - CELA DE VALÉRIA - INT. - DIA.

O DETETIVE AMADEU CONDUZIU MARCOS À CELA DE VALÉRIA.

 VALÉRIA - Eu sabia que você viria! Muito obrigada!
 MARCOS - Em que posso ajudá-la?
 VALÉRIA - Eu chamei você aqui para dizer que não matei Diana! Sou inocente! Estou desesperada e não sei a quem recorrer! Você tem que me ajudar!...

FIM DO CAPÍTULO 33

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