quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Resistência Retrô - Nasci na década errada ou vivo no lugar errado?


Hoje o Resistência Retrô propõe uma subjetiva reflexão sobre o passado. É um tema que interessa a muitas pessoas. Relembrar. A infância, a adolescência, os tempos de faculdade, de namoro, um amor impossível, alguém que já se foi. Recordações são relíquias da alma, então não podem ser desmerecidas. RR divulga uma crônica para aqueles que veem um mundo completamente de cabeça para baixo e se sente excluído. 

Não imponho verdades absolutas, não vendo ideologias. Tudo que quero é que pense, pare o que estiver fazendo e se questione sobre o que tem visto. Isso faz sentido para você?



Nasci na década errada. Dizem muitos de nós que simplesmente não nos sentimos muito ajustados nos padrões de hoje. Não me refiro a beleza porque ela é relativa, mas não se esqueça da sua, da importância como indivíduo e que sem caráter e sabedoria, belas formas são apenas um detalhe que logo perde a força. 

Ressalvo principalmente o que muitos já descreveram: eu não acho normal ver crianças de 10 anos namorando, de 5 anos se maquiando, agindo como adultos, deixando de brincar. 

Não acho nem um pouco bonito ver meninas de 13 anos grávidas, achando que ser virgem é ofensivo. Bebendo, caindo na balada, se deixando levar pelo discurso de meninos que tendem a não querer nada sério. 

Não acho normal pais enterrarem os filhos, muito menos uma mãe não poder ver as crianças crescerem.

Não acho normal que estar na cadeia seja mais lucrativo que possuir uma graduação. Não acho normal uma garota ficar sem comer para não ser chamada de gorda, que quem não use manequim 36 deva se culpar. 

Nosso olhar quase sempre faz com que idealizemos um passado que pode ter sido e provavelmente não foi perfeito e maravilhoso, como se diz. 

Reconheço sem medo que não se faz mais música como antigamente. Tudo visa apenas o lucro. A beleza de uma boa melodia é cruelmente substituída pela beleza (quase) artificial da artista, escrava da gravadora. Um hit chiclete atrás do outro. Visualizações, transações, polêmicas. Tudo, menos o ostracismo. Seria um desastre ser tachada de velha antes dos 25. 

Que droga de mundo é esse discrimina os velhos? 

Será que essas bocas maldosas se esquecem de que um dia o rosto bonitinho terá rugas, os cabelos branquearão e eles exigirão o respeito que não dão ao próximo? 

Não acho normal ver pessoas morrendo por razões que poderiam ser evitadas, famílias se dilacerando por causa das drogas, do álcool e suas consequências. 

Não acho normal que modismos tenham mais importância que o meio ambiente, que a política, que notícias de pseudocelebridades sejam mais comentadas que obras literárias. 

Não acho normal que animais sejam brutalmente maltratados e os criminosos não paguem por isso. 

Não acho normal que o fanatismo leve o bom senso das pessoas, que se escondam atrás de perfis falsos para semear a discórdia. 

Não acho normal que todos sejam felizes o tempo todo no facebook. Isso não existe, minha gente. Todo mundo sofre, chora, tem problemas. Ninguém é sorridente o dia inteiro com todo mundo. 

Não acho normal que as pessoas valham apenas o que vistam, porque tem um celular moderno ou usam o cabelo da moda.

Mas, enfim, pra droga da nossa sociedade, eu é que não sou normal. 

Abstendo-me da visão romântica de quaisquer fatos, dependo da internet para quase tudo hoje, pois é o único modo de divulgar meu trabalho, no entanto sei que era bem mais feliz quando não me magoava com certas coisas que lia, quando via meus amigos pessoalmente, quando as pessoas eram o que eram, sem Instagram, Photoshop, páginas dando indiretas. Eu não tenho fotos dos melhores momentos da minha vida, mas eles estão muito bem gravados no meu coração.

Eu era mais feliz quando criança, quando acreditava em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, quando colocava meu dentinho de leite debaixo do travesseiro crendo com fidelidade que a fadinha viria. 

Eu era mais feliz quando minha geração gostava de jogar videogame, brincar de boneca, de bola na rua, pique-esconde, pula corda, quando víamos os clássicos que hoje fazem nossos olhos se encherem de lágrimas, quando nossos pais nos mandavam entrar e tínhamos que dormir na hora em que eles queriam, então era o máximo ver tv até mais tarde, mesmo que o sono nos vencesse. 

Todos viviam bem sem facebook, twitter, orkut, msn. Falávamos ao telefone. Ansiedade total pra ver o clipe do nosso artista favorito na MTV, ouvindo rádio, canções que hoje fazem parte das 'antiguidades'.

Me constato, tristemente ou não, que alguns da geração atual não tem ideia do que vivi. Nunca viram o Brasil ganhando uma Copa ou uma novela das 8 marcando 60 pontos em horário nobre ou que não imaginam que ter as bonecas, os álbuns e cds das Chiquititas já foi o máximo. Alguns nunca ouviram falar do Tamagotchi. Sim, o nosso querido 'bichinho virtual'. Muitos nunca chegaram perto de um Super Nintendo ou não conseguem se imaginar brincando na rua até altas horas sem medo de sequestros, estupros, assaltos. Não que eles tenham obrigação de saber disso, no entanto, muitos também não souberam ser crianças, muito menos adolescentes porque quiseram antecipar tudo e pagam caro por isso. Tudo no seu tempo. É só  o que tenho a dizer.

Sinto-me falando em outro dialeto, incompreensível, deveras. Sinto-me como se tivesse saído do planeta, voltado e encontrado tudo diferente do que deixei. Esse não é mais o meu mundo, mas você ainda será bem-vindo nele, sobretudo se você também sente que nasceu na década errada e valoriza o que muitos hoje ignoram. 

Se você se identificou com o que escrevi, então você sabe que o que estou dizendo pode não ser a mais absoluta verdade porque dela não sou dona, entretanto também não é fantasia, nem tentativa de se fazer magia. Sou apenas um teimoso ponto procurando uma frase que faça sentido, alguém procurando se sentir bem em um lugar estranho.

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