quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Resistência - 13º Capítulo



13º Capítulo

Casa de Isabel. Sala. Noite.

Isabel reúne os dois filhos mais novos para ter uma conversa bem séria com eles. Adriano teme ser desmascarado por Jonathan. O moleque, porém, está receoso que a mãe descubra as notas baixas que ele tirou no bimestre anterior.

Isabel – Vocês dois só me decepcionam.

Os jovens estão sentados no sofá.

Isabel – Vocês dois pensam que eu sou que, é?

Eles nada respondem.

Isabel – É bom que não digam nada porque espero que esse silêncio todo seja fruto de uma profunda reflexão a respeito de ser mãe porque não é nada fácil... – gesticula – Não é nada fácil ser mãe de dois garotos em fase de crescimento. Não é fácil fazer tudo sozinha... Quero que vocês cooperem comigo...
Jonathan – Como?
Isabel – Começando por uma coisa simples que os dois preguiçosos não fazem: arrumar a cama.
Jonathan (reclama) – Ai mãe, é muito chato arrumar a cama.
Isabel – E por acaso eu sou sua empregada, garoto?

Jonathan nada responde. Adriano tenta manter a calma, porém pensa nos minutos seguintes e continua ansioso, sem esboçar qualquer tipo de reação.

Jonathan – Se eu vou ter que arrumar, o Adriano também vai.
Isabel (autoritária) – Os dois terão de me ajudar nas tarefas de casa.
Adriano – Mas eu sou menino, poxa.
Isabel – E daí? – continua o sermão – Se quiserem ganhar mesada, vão ter que fazer por merecer porque eu não vou criar dois folgados que tem tudo de mão beijada não. Cometi esse erro uma vez, paguei caro, mas não vai acontecer de novo porque com vocês o buraco vai ser bem mais embaixo. – avisa – O jantar está pronto.

Os meninos, ansiosos, correm para a cozinha, mas Isabel os repele.

Isabel – Como é que é isso? Vão comer sem lavar as mãos, sem agradecer pelo alimento? Estou criando porcos? – aponta para a porta do banheiro – Vão lavar as mãos. – reforça – Em ordem. E depois voltem pra jantar.

Os irmãos disputam a pia. Jonathan vence abre a torneira e faz de tudo pra água espirrar em Adriano.

Adriano – Ô moleque, vê se para por hoje que você já me aborreceu bastante.
Jonathan – Vou contar pra sua namoradinha que você vai usar aventalzinho e virar empregada...
Adriano (provoca imitando o irmão) – E eu vou contar pros seus amiguinhos que você escuta Rouge...
Jonathan (retruca, empurrando o irmão no box) – Não escuto... – mimado – Só se é você...

Isabel chega ao banheiro.

Isabel – Mas será possível que vocês não se comportem por mais de um minuto? Pensam o que? Que água é de graça? Vocês não dão valor pra nada, seus mal educados.


Dias depois...

Música Por que será – Tihuana. Curitiba volta a ter a companhia do Sol para amenizar o rigoroso inverno. Para Laura já não é mais o frio que a incomoda. O aroma das flores lhe arranca sorrisos, compensando todas as lágrimas que derramou quando perdeu Elisa. Marcelo é um bom namorado para ela, apesar da diferença de idade e de Zélia e Amauri jamais desconfiarem do relacionamento, tampouco do que a está fazendo feliz e ficar menos tempo em casa.

É sábado à noite, Marcelo está de folga e chamou Laura para sair porque quer leva-la a um lugar que é muito especial para ele. Os jovens conversam no carro dele.

Laura – Pra onde você ta me levando?
Marcelo – Pra um lugar onde me sinto muito bem e quero que conheça.
Laura – Então esse lugar é muito especial.
Marcelo – Como você.

Quando o furgão de Marcelo estaciona em frente a uma igreja evangélica, Laura não disfarça, mas estranha um pouco.

Marcelo – Você não precisa ficar se não quiser, mas eu gostaria que você desse uma chance.
Laura (dá com os ombros) – Por mim tudo bem.

Marcelo desce do veículo, fecha a porta, dá a volta e abre a porta de Laura estendendo-lhe uma das mãos. A menina sai e fecha a porta. O casal de namorados dá as mãos e segue rumo a porta principal da igreja onde já é possível ouvir a banda se aquecendo para a noite de louvor que irá começar dentro de instantes.

Laura tinha uma ideia errada a respeito do templo porque achou que veria encenações de pessoas endemoniadas, barracos e gritarias, mas não. O ambiente é tranquilo e uma banda composta por jovens evangélicos anima a galera. Por um momento Laura até pensou que poderia ter entrado no lugar errado. Não mesmo. Referências a Jesus, uma obreira recepcionando os visitantes. Laura não passaria despercebida.

Obreira – Oi menina linda. Fique na paz de Jesus!
Laura – Amém.
Marcelo (para a obreira) – É a primeira vez que a Laurinha ta vindo aqui.
Obreira (para Laura) – Seja bem-vinda e espero que volte sempre.

Laura cola no busto da jaqueta o adesivo de visitante da igreja. Marcelo está super animado, curtindo o som da banda, reconhecendo amigos. Todos são muito gentis com Laura e ela começa a se sentir a vontade ali, como se pertencesse aquele lugar há muito mais tempo do que se pensava.

Marcelo escolheu um lugar confortável para se sentar ao lado da namorada. Ajoelha-se e faz uma oração em silêncio. Os olhos dele enchem-se de lágrimas. Laura também está apossada de uma singular emoção, como se depois de muito tempo se encontrasse com Deus e por ele fosse abraçada, mesmo que não possa vê-lo no plano físico.

Música My immortal – Evanescence. Tem tudo a ver com a cena, podem acreditar.

Pastor (pregando – em outra conotação) – Nessa noite o Senhor Jesus usou mais uma alma para salvar outra. - o homem caminha pelo púlpito – Hoje pela manhã eu recebi uma mensagem do Espírito Santo que me disse que há aqui nessa congregação uma jovem menina que está tentando superar uma grande perda. Ela carrega uma culpa que não é dela e sente muita falta de uma pessoa especial que por Deus foi levada...

Quando Laura se ajoelha e fecha os olhos, tudo que vem a mente em sépia é a lembrança de Elisa, de quando elas eram mais novas e tomavam banho de mangueira no jardim, rodopiavam até ficarem tontas, de quando poucas eram as angústias e preocupações e viver tinha uma invejável leveza, tudo que acabou quando numa noite do ano passado um maldito assaltante mirou para acertar nela e Elisa se posicionou a frente, levando o tiro fatal que não interrompeu apenas uma jovem vida, mas duas. Uma família toda.

Marcelo que está sentado assistindo ao culto vê a namorada chorando.

Marcelo – É bom que chore, Laura.
Laura (confusa, emocionada) – O Pastor ta falando comigo.
Pastor – Deus só quer te dizer uma coisa, minha criança: Ele está no controle de tudo. Ele disse que se você entregar todos os problemas nas mãos Dele, não há o que temer porque a vitória está próxima.

Marcelo conduz Laura até o púlpito. Os fieis da igreja se levantam.

Pastor – Venha cá, minha criança. – Laura chora muito – Deus não quer mais que você se culpe pelo que aconteceu com a sua irmãzinha. Ela está muito bem e quer que você também se sinta bem.

Marcelo não sabia da história de Elisa, Laura não o contou. Karinna nunca foi indiscreta de abrir as feridas da amiga para os outros, então as palavras do Pastor fugiam do entendimento de Laura e então ela sabia de alguma forma que Deus via sua dor, só que controversamente não entendia por que a tragédia não pode ser evitada, por que teve de perder Elisa, ainda que todas essas indagações jamais cheguem a ser devidamente esclarecidas, sente paz.

Pastor – Os caminhos que Deus tem pra cada um de nós são distintos, fogem da nossa pífia compreensão. Tudo que devemos fazer é deixar nossa vida nas mãos Dele, não querer que nossas vontades egoístas sejam feitas, mas o que é o melhor pra nós, o que vai nos aproximar da vida eterna...

Laura é recepcionada com muito carinho pela nação da igreja e passa a frequentar mais vezes não apenas o grupo de jovens, mas outras reuniões da congregação, onde canta, dança, fala com Deus, ouve testemunhos, colabora, sente-se em casa, muito mais do que na própria casa.

Casa de Laura. Cozinha. Noite.

Amauri e Zélia ainda não se acostumaram a jantar sem a presença de Laura.

Amauri – Laura voltou a ficar depressiva?
Zélia – Mal para em casa.
Amauri – Falta tão pouco pros 15 anos dela.
Zélia – Quando Elisa estava prestes a completar 15 anos, meus cabelos quase branquearam de tanto stress. Essa casa era a maior correria. Ajuste dos vestidos, ensaios, acertos do cerimonial. Elisa queria tanto a festa.
Amauri – Elisa tinha uma personalidade diferente de Laura.
Zélia – Não sei o que há com Laura. Não gosta de vestidos, não quer festa e agora deu de ouvir rock e virar ativista.
Amauri – Ativista de que?
Zélia (dá um muxoxo) – Eu sei lá. Isso que dá de viver com aquela baleia maluca da Karinna. Ta indo na onda dela.
Amauri – Karinna é uma moça muito inteligente, muito esforçada. – acrescenta – Mil vezes que ela ande com Karinna do que proseie com essas desmioladas que só pensam em futilidades... – reitera – Se Laura não quer festa, temos que respeitar. O aniversário é dela.

Shopping. Praça de alimentação. Noite.

Laura e Marcelo saíram de um culto e estão conversando com Karinna e Vinicius.

Marcelo (orgulhoso) – Laurinha curtiu muito o grupo de jovens lá da igreja.
Karinna (para Laura) – Você foi mesmo lá, Laurinha? E aí, te trataram bem?
Laura – Foi muito, muito legal.
Marcelo (relata tudo) – Na primeira reunião o Pastor fez uma revelação. Foi muito chocante porque sem que ninguém pressionasse, a própria Laura foi tocada pelo Espírito Santo e tem evoluído muito nos últimos tempos.
Vinicius – Como é que funcionam essas mensagens?
Marcelo – Ninguém sabe, só Deus.
Karinna – Me desculpa, Marcelo, é que pra mim esse lance de igreja, falar em línguas, mensagens e tudo o mais me soa estranho.
Marcelo – Porque o Espírito Santo ainda não te tocou.
Karinna – E que forma ele pode me tocar?
Marcelo – Na alma.
Karinna – Sim, eu sei, meu amigo, mas eu não consigo acreditar nisso. Não, não me leva a mal porque eu acredito em Deus, só que eu não acredito nisso.
Marcelo – Cada um tem seu tempo.
Vinicius – Eu acho que política e religião são dois assuntos indiscutíveis porque todos vão querer estar certos, mesmo que não haja uma verdade superior, mas milhares de certezas que moram dentro de cada um de nós, por isso às vezes eu acho que Deus não mora exatamente numa igreja, mas em cada de um nós.
Marcelo – Mas a igreja é um bom lugar pra se entrar em comunhão com Ele.
Karinna – E essas regras todas? Não pode isso, não pode aquilo...
Marcelo – Não são regras, são princípios.
Karinna – Mas vivemos em liberdade.
Marcelo – E com Deus é a mesma coisa. Você continua livre e mais livre ainda porque sabe até onde pode ir.
Karinna – Liberdade vigiada...
Marcelo – Quando você conhece as verdadeiras raízes do pecado, entende que às vezes esse desejo que você sente seja mais um capricho da alma pra acabar com a pureza dela do que uma vontade verdadeira.
Vinicius – Vivemos em liberdade relativamente limitada porque obedecemos às leis, não saímos por aí fazendo o que dá na telha.
Marcelo – Então, é a mesma coisa com as leis de Deus. Nós vivemos normalmente, mas sempre temendo os mandamentos, vigiando e orando...
Karinna – Não me entenda mal, amigo, pois sei que você é um bom cristão, mas vejo tantos maus exemplos dentro da igreja, gente que se aproxima de Deus só pra arrumar namorado, ganhar dinheiro ou mesmo querendo ser pastor pra ter status.
Marcelo – Esses são os falsos cristãos. Não pense que Deus não vê porque aos olhos Dele nada escapa. A justiça se faz, cedo ou tarde... Mas aqueles que buscam a Deus pelo simples prazer de buscar a Ele, terão a vida eterna.
Karinna – Céu, inferno, julgamento.
Laura (mexe o canudinho do refrigerante) – To vendo que essa conversa vai ser longa...

2 comentários:

  1. O Jonathan escuta Rouge? kkkkk
    Muito linda essa cena da igreja. My Immortal foi uma ótima escolha pra ser tema da Laura.

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  2. Escuta... Jonathan adora Sem você do Rouge... kkkkk
    Essa cena da igreja fez com que a Laura mudasse e percebesse que a vida pra ela continuou, ainda que sem a irmã, ela tinha muito pra viver. My immortal é muito linda e combina em tudo pq é da época de Resistência e pq tem a ver com a Laura. Bom, Breaking the habit do Linkin Park também é tema dela, mas não toca tanto.

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