CENA 1 - IBIÚNA - ESTRADA ÁS MARGENS DE UM RIACHO - EXT. - DIA.
Continuação imediata do capítulo anterior
PASSADO O PRIMEIRO INSTANTE, O PADRE AFASTOU-SE DA JOVEM BRUSCAMENTE, VISÍVELMENTE EMBARAÇADO.
PADRE MARCOS - Eu sou um padre! Não podemos esquecer disso, Diana.
DIANA - (fitou-o nos olhos, sincera) Perdão! Eu... eu não resisti... foi mais forte do que eu...
PADRE MARCOS - (com firmeza) Nós não devíamos ter vindo aqui, longe de todos. Sou padre... mas sou um homem de carne e osso, não uma imagem talhada em madeira, ou em mármore... Sou um homem com todas as fraquezas humanas.
DIANA - Eu estou muito envergonhada... não sei o que dizer...
PADRE MARCOS - Vamos embora! Vou levar você pra casa de seus avós!
CORTA PARA: CENA 2 - IBIÚNA - CASA DE D. SANTINHA - EXT. - DIA
O VEÍCULO ESTACIONOU EM FRENTE AO PORTÃO DA CASA. DIANA DESCEU E O PADRE MARCOS DEU PARTIDA. A JOVEM FICOU PARADA UNS INSTANTES E ENTROU NA RESIDENCIA DOS AVÓS. AS DUAS BEATAS QUE ENCONTRAVAM-SE NA IGREJA PASSAVAM NAQUELE MOMENTO E COCHICHAVAM, COM AR DE REPROVAÇÃO.
BEATA 1 - Você viu? Foram passear no campo! DOCE BALANÇO CAPÍTULO 10 PÁGINA 3
BEATA 2 - Esse mundo tá perdido! O padre de namôro com uma moça!
CENA 3 - CASA DE D. SANTINHA - COZINHA - INT. - DIA.
DIANA - (animada) Que cheirinho delicioso! Nossa, que saudade desse aroma!
D. SANTINHA PAROU OS AFAZERES QUANDO A NETA ENTROU NA COZINHA. OBSERVOU-A, MUITO SÉRIA.
D. SANTINHA - Estou fazendo o bolo de cenoura com chocolate que você gostava tanto quando era menina... (T) Você está diferente... parece que viu passarinho verde!
DIANA - (abraçando-a carinhosa) Vòzinha, eu estou muito feliz de estar aqui com vocês, de matar as saudades, de comer essas delícias.... hummm, que cheirinho gostoso!
D. SANTINHA - Sei... mas não parece ser só isso... (preocupada) Minha filha, está acontecendo alguma coisa que eu e seu avô não sabemos?
DIANA - Não, vòzinha... não tou entendendo...
D. SANTINHA - Estão comentando por aí que você e o padre estão de namôro, sabia? Hoje botei duas fofoqueiras pra correr daqui! Seu avô e eu ficamos preocupados...
DIANA - (estremeceu) Que absurdo... (pausa) Mas não precisa se preocupar, vó. Eu e o padre Marcos somos muito amigos, só isso...
D. SANTINHA - (desconfiada) Espero que seja só isso mesmo... E você, tome cuidado, minha filha. Esse povo fala mesmo... sabe como é... um padre jovem, bonito... e uma menina linda, moderna, vinda do Rio de Janeiro... Prato cheio para as fofoqueiras de plantão!
CORTA PARA: CENA 4 - IBIÚNA - IGREJA - INT. - DIA
DIANA ENTROU NA IGREJA E OLHOU PARA OS LADOS. ESTAVA VAZIA. APENAS A FAXINEIRA LIMPAVA OS BANCOS. A JOVEM AJOELHOU-SE E OROU, COM AS MÃOS POSTAS. NÃO VIU QUANDO O PADRE APROXIMOU-SE E PAROU AO SEU LADO.
PADRE MARCOS - Como vai, Diana?
A JOVEM LEVANTOU OS OLHOS, APREENSIVA.
DIANA - (levantou-se) Desculpe ter vindo... eu precisava falar com você...
PADRE MARCOS - Eu sei... eu também. O PADRE FEZ UM SINAL E DIRIGIRAM-SE A UM LUGAR MAISDISCRETO. OLHARAM-SE NOS OLHOS, COM EMOÇÃO.
DIANA - Eu... eu não consigo esconder mais... eu estou amando você, Marcos!
PADRE MARCOS - Eu não sei o que está acontecendo comigo... É um sentimento novo, que eu não conhecia... eu tento, mas não consigo tirar você do meu pensamento... já orei, já fiz penitência, mas nada resolve...
NÍVEA - (cheia de esperanças) Mas então... você também sente algo por mim?
VÍTOR - Eu seria um mentiroso, um hipócrita, se negasse. Eu não procurei isso, Deus é testemunha. Mas... aconteceu...
NÍVEA - Afinal, aconteceu... não tem mais jeito. Não sei como foi... mas aconteceu. Desde o dia em que o atingi com a bola, lembra-se, Marcos?
ERA COMO SE ELES, FINALMENTE, TIVESSEM DESNUDADO A PRÓPRIA ALMA.
PADRE MARCOS - Acho que nenhum de nós fez nada para isso conscientemente. Talvez por ser uma coisa que não podia acontecer...
DIANA - Não duvido. Mas você acha que tenho culpa?
PADRE MARCOS - Depende... Talvez se fizermos as coisas da maneira certa...
ELE A ESTUDOU POR UM SEGUNDO, INQUISITIVAMENTE.
PADRE MARCOS - Diana... é chegada a hora de tomarmos uma decisão, seja qual for!
DIANA - (aflita) Eu entendo... mas, para isso, você teria que deixar de ser padre!
PADRE MARCOS - Sim, infelizmente. Há alguns casos... raros... em que se consegue de Roma permissão para casar (e com a voz pausada) Mas não é o nosso caso.
DIANA - E agora... o que fazemos?
PADRE MARCOS - Eu... eu estou confuso... Algo me diz que meu lugar não é aqui, frente a uma linda mulher como você... Outros homens podem se permitir erros, pequenos e grandes, mas não eu. Eu... eu me sinto fraquejar quando penso em como não ficariam chocados seus pais... Mil homens a desejariam, Diana. Outros tantos poderiam se casar com você. Mas o Senhor apontou com seu dedo celestial o homem errado. Talvez se você não tivesse vindo para cá, eu a tivesse esquecido...
DIANA - (triste) Acho que só compliquei sua vida...
PADRE MARCOS - (decidido) Esses pensamentos me atormentam, mas tenho comigo uma certeza inabalável... Mais forte que qualquer barreira... é a certeza de que quero ficar com você! Eu também te amo, Diana... e se você me quiser, largo a batina pra casar com você!
DIANA DE REPENTE VIU-SE FRENTE AO PROBLEMA E NÃO SABIA O QUE DIZER.
DIANA - Não esperava... nunca imaginei que você chegasse a tomar essa decisão... Preciso pensar. (seu rosto exprimiu uma grande paz interior, mas os olhos brilharam de dissimulado júbilo) Gostaria de ficar sozinha. Para pensar... você entende?
A JOVEM AFASTOU-SE UM POUCO NA DIREÇÃO DO ALTAR. AS LÂMPADAS DE UMA LUZ AMARELADA E PÁLIDA BRUXULEAVAM SOBRE SUAS CABEÇAS. MANTEVE-SE EM SILÊNCIO POR ALGUM TEMPO. EM SEGUIDA, FITOU O PADRE, COM ESTRANHO BRILHO NO OLHAR. ENCAMINHOU-SE PARA ELE, DECIDIDA.
DIANA - Eu já resolvi...
MARCOS ENCAROU-A, APREENSIVO, TENTANDO LER EM SEUS OLHOS O QUE QUERIAM DIZER.
DIANA - Marcos... quero ser sua mulher!
FIM DO CAPÍTULO 10
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