32º
Capítulo – Milene seduz Iury!
Som: Olhos certos – Detonautas. (Narração de
Milene)
Eu ODEIO a Lalinha. Sempre odiei. Sempre odiei e
tenho de fingir que a amo, que ela é minha querida prima, sendo que na real eu morro
de ódio dela por ter se apaixonado pelo MEU homem, o MEU Iury.
Com tanto rapaz nessa droga de mundo ela tinha
que vir a namorar justamente o MEU amor? A guria não se situa, né?
Espero que ela se case mesmo com o Gustavo e de
preferência suma da cidade, assim o caminho pra ficar com o Iury está livre. Na
verdade o jogo já está virando porque o Iury está começando a perceber que
sempre foi a fim de mim.
Como? Muito simples!
Eu sou tudo aquilo que a Laly não é. Eu sou
loira, tenho lindos olhos claros, sou alta, magra, inteligente e meu pai me
ama, ama muito. O pai da Laly? De boa, Edílson nem sequer sente a falta dela.
Laly me inveja por causa disso, não nego, no
entanto, sempre sai como a invejada porque conseguiu fazer joguinho pra ficar
com o MEU Iury. É só um lamento que ela tenha se esquecido de que aqui se faz,
aqui se paga.
Ah, chega! To louca pra contar minha novidade:
Iury e eu estamos namorando.
É uma longa e maravilhosa história que vale a
pena ser recontada a todos os trouxas e as invejosas que me odeiam.
Assim que esqueceram o maldito envenenamento,
pensei que não era momento melhor para agir. Sim, não poderia atentar com a
vida daquelas desgraçadas, então teria de arregaçar as mangas e conquistar Iury
de uma vez por todas. Meu velho podia me dar uma ajudinha.
-Papai...
-Fala, meu docinho de coco. Precisa de alguma
coisa?
-Quero aprender a surfar.
-Mas surfar é muito perigoso, Milene.
-Mas eu quero, papai. Deixa, vai...
-Posso te dar uma prancha de surf no Natal e
contratar um professor particular após as festas de fim de ano...
Foi assim com o curso de geologia, o teatro e o
piano. Eu faço qualquer coisa para conseguir o que quero.
-Mas eu não quero esperar até o ano que vem...
-São só alguns dias, Mili. Por que a pressa?
-Eu conheço um instrutor maravilhoso e eu não
sei se ele vai ficar muito tempo aqui. Todo mundo diz que ele é o melhor no que
faz, papai. O que custa, hein? Sabe que não ligo pra essas coisas de Natal,
presentinho e blábláblá...
Em meia hora eu já estava na praia ostentando a
melhor prancha de bodyboarding que um surfista iniciante poderia querer. E eu
também sabia o horário em que Iury costumava treinar sem que aquela ruiva
sardenta dos infernos estivesse por perto. Bastava a serpente dar o bote e bum,
o gatinho era todo meu!
-Olha Milene, eu não tenho mais nada a tratar
com tua prima.
-Não vim pra falar dela.
-Mas...
-Eu lamento muito, muito mesmo o que aconteceu e
saiba que se você precisar de um ombro amigo pode me procurar.
-Ô Milene, você é um doce...
Odeio preto. Odeio transparecer doçura quando a
ira percorre cada veia de meu corpo. Odeio ter de usar essa máscara de coitada
quando já deveria ter agido.
-Você nunca vem à praia, Milene.
-Não tenho companhia.
-E as meninas?
-Ainda estão magoadas
pelo incidente do bolo. Lamentável, não acha?
Alisava a prancha e
fazia questão de esbanjar toda sensualidade reprimida pelas roupas cafonas que
meu velho compra achando que sou uma santinha idiota.
-Não sabia que curtia
surf... - comentou Iury
-Você não sabe quase
nada sobre mim.
-Sabe surfar?
-To tentando, mas acho
que não levo jeito pra coisa...
-Se quiser, posso te
ensinar a surfar.
-Ensina mesmo?
-Com a maior
satisfação.
Som:
Dove – Moony.
Com Dani eu conseguia falar sobre Iury. Eu o amava tanto que
chegava a odiar.
-Vai procura-lo quando
voltar?
-Pretendo... Isso é,
se ele não me odiar...
-Vocês se despediram
brigados?
-Ele flertou com
Milene diante de meus olhos, Dani.
-Com Milene?
As feições de Dani esboçavam tremenda incredulidade.
-Milene não passa de
uma criança.
-Milene cresceu muito
no último ano. Apesar dos 14 anos já parece uma mulher.
-Mas ainda assim é uma
menina. Três anos pode não parecer muita diferença de idade, mas é, Lalinha.
Muito me surpreende que Iury tenha feito isso e se o fez vai se arrepender
porque estão entrando em fases distintas.
-Iury não é mais o
mesmo, Dani. – deitei no colo da minha prima
-Se o fez, não merece
seu amor.
Não era essa a questão. A mentira estava vencendo o amor.
Todos os nossos sonhos não tinham mais nenhum sentido. Milene merecia ser feliz
e que bom que estava sendo. Era ridículo sentir ciúmes, mas temia muito que o
tal namorado de Mili fosse mesmo Iury.
-Milene ainda vai
entrar no Ensino Médio enquanto Iury vai para a universidade. São mundos e
ideais completamente opostos. Iury vai querer fazer certas coisas que Milene
ainda não está pronta e ela vai viver situações as quais Iury já enfrentou...
Tem certeza de que isso é verdade, prima? Me parece meio surreal...
-E que seja mesmo
surreal!
-Se não for, pode crer
que existe alguém disposto a amá-la.
-Nem cite Gustavo.
-E acha que eu quero
ver você com aquele louco desvairado, Lalinha? Bem capaz... Eu se fosse você
não voltava mais.
-Eu bem que gostaria,
mas não posso abandonar a vida que tenho lá em Guaratuba sem qualquer razão.
Apesar de tudo, lá ainda é meu lar.
Som:
Meu primeiro amor – Wanessa.
Mayra hidrata os cabelos de Fernanda enquanto
Emília corta o cabelo de uma cliente. Aimée está sentada no sofá do salão
folheando revistas.
-Espero mesmo que
agora com esse clima de Natal a paz retorne. – Aimée quebra o silêncio
-Digo o mesmo,
maninha. – suspira Fernanda
-Vai voltar a ser
amiga de Grazi, May?
-Não tenho nada contra
ela, mas mesmo assim estou muito chateada. Talvez um dia tudo volte ao normal,
mas no momento prefiro não forçar aproximação.
Som: Just like you do – Carly Simon.
Gabriel e Grazielle
estão passeando de mãos dadas pelo centro da cidade e o garoto após ter julgado
mal a namorada tenta de todos os modos se redimir e se mostra mil vezes mais
disposto a ouvir cada anedota da amada.
-Biel, fica sossegado.
-E por que estaria
nervoso?
-Eu sei que você ta se
sentindo culpado, mas tudo já passou.
-Você foi a que mais
sofreu.
-Sim, sim. Eu sofri,
mas relembrar isso só vai fazer com que fiquemos mais fracos, amor.
-Mas foi a Milene que
envenenou, não foi?
-Foi... – Grazielle se
mostra contrariada a responder
-E escapou da justiça.
-Dos olhos de Deus, não.
-Me desculpe, Grazi,
mas eu preciso desabafar...
O jovem casal para de
caminhar em frente a uma sorveteria a qual outros personagens costumam
frequentar e está lotada nesse horário da tarde.
-Grazi, essa garota
deveria ter sido presa, pagar pelo que fez. Ela não pode simplesmente sair
impune...
-Eu sei, eu sei... –
Grazielle abraça o namorado – Mas eu descobri da pior forma que não devemos
contrariar Milene ou teremos problemas.
-Isso é coibir com os
fatos.
-Te juro que não.
Gabriel, irritado,
caminha na frente de Grazielle que o segue tentando argumentar para que não se
desentendam.
-Biel, por favor...
-Ela fez você ser
acusada de um crime que não cometeu. Não está sofrendo com isso?
-Eu nunca vou me
esquecer do que aconteceu e você sabe disso, mas a vida continua e eu preciso
ser forte mesmo que isso me custe muito caro. A gente não pode parar no tempo
só porque nos ferimos. Ninguém vai nos levantar do chão.
Som:
Olhos certos – Detonautas.
Fiz aulas de natação
quando fedelha e sabia muito bem me equilibrar numa prancha. Só queria
oportunidades pra ele me bolinar. Queria vê-lo completamente excitado. Eu já
estava havia muito tempo.
Para o primeiro beijo
foi só um passo.
Sentados na areia após
um movimentado dia, Iury bancou uma água de coco para mim.
-Sabe, Iury, se algum
dia eu me apaixonar por alguém, queria que ele fosse como você.
-Bobagem...
-Bobagem? Bobagem fez
a Laly em te destratar desse jeito.
-É a vida...
-Mas não vamos falar
disso. Não quero falar de nada que o chateie e o entristeça.
A menina inocente se
deslumbrou com o selinho roubado.
-Ai Iury, não acredito
que fiz isso! - tampei meu rosto com as mãos
-Um dia teria de
acontecer.
E então ganhei o beijo
que passei boa parte de minha vida esperando.
-Isso significa algo?
-Pra você?
-Bom, isso significa
que você gosta de mim, certo?
Ele não sabia
disfarçar!
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