terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Confissões de Laly Cap 61: Sala de espera!



61º Capítulo – Sala de espera!

O obstetra que acompanhou Aimée desde o início da gestação está visivelmente amuado em ter de dar a notícia aos familiares da jovem, ainda mais visualizando a pequena Lílian tomando seu primeiro banho e sai da sala de parto desejando estar no lugar de Aimée, pois mesmo que a morte faça parte da vida e a experiência o ajude a não levar tudo para o lado pessoal, infelizmente dar a notícia aos que ficaram é sempre a pior parte que admitir que nem sempre o esforço é recompensado.

O médico encontra Gilberto sentado ao lado de Fernanda e os cumprimenta. Gilberto se coloca de pé para conversar com o doutor.

-E aí, doutor? A Lílian já nasceu?
-Sim.
-E como está Aimée? Podemos vê-la?
-Infelizmente, a paciente Aimée Gallardo Saciotti sofreu pré-eclâmpsia antes do parto e nós nos esforçamos para que tanto Aimée quanto Lílian sobrevivessem, mas infelizmente Aimée não suportou dar a luz e faleceu.
-Isso não é verdade, é? – os olhos incrédulos de Fernanda se recusam a acreditar nas palavras do doutor
-É sempre triste ter de admitir que perdemos um paciente, mas Aimée não resistiu...
-Claro que resistiu. Aimée é uma fresca. Cadê ela, hein?
-Infelizmente sua irmã faleceu, menina. Sinto muito.
-Não sente nada. Você não perdeu ninguém que amava. Não precisa fingir que está sofrendo porque não está.

Gilberto abraça Fernanda com força e a garota, chorando, retribui o gesto. Realmente o doutor lamenta o óbito da paciente, justamente por saber o quanto Aimée desejava ver a criança.

Ao som de Trouble – Coldplay, o destaque é para Lílian, o centro das atenções na maternidade. O pequeno bebê é examinado, mas não corre risco de vida.

Gilberto, caminhando pelos corredores, ainda atordoado com a notícia da morte da filha mais velha, repassa as discussões com Aimée, o desprezo contra Lílian e desata a chorar sentindo-se o pior pai do mundo.

Fernanda foi medicada e está em estado de choque porque não esperava a morte da irmã.

Gilberto acha que o bebê também faleceu e olhando para o berçário a culpa só aumenta, até que uma enfermeira o tira de transe.

-Senhor Gilberto, eu acho que tem alguém que quer conhecê-lo.

Quando Gilberto se vira para fitar a enfermeira, encontra um lindo bebê enrolado em uma toalha verde.

-De quem é esse bebê? - indaga Gilberto
-É sua neta, senhor.
-Lílian?
-Lílian é mesmo uma guerreira. Não quer conhecê-la?
-Bem...
-Sua neta é maravilhosa. O senhor é um avô de muita sorte.

Há muitos anos atrás Aimée nascia após um parto repleto de complicações. Anos depois Aimée morria dando à luz e Lílian vinha ao mundo. Gilberto, emocionado, segura o bebê em seu colo e se encanta a primeira vista.

Som: Como devia estar – Capital Inicial.

Deus sabe que não fiz propositalmente. O papel de carta marcava as lágrimas que derramava enquanto escrevia. Menti muito naqueles versos.

Suprimia o choro e a capacidade de me apaixonar. Às vezes abraçava o travesseiro e adormecia soluçando, pensando em minha mãe, no quanto sua ausência transformou toda minha vida. Como eu gostaria mesmo de que ela estivesse perto de Deus e o pedisse para me mandar um milagre. Eu necessitava muito de um.

Todo dia eu tinha de conviver com o desprezo e não estava acostumada a ser só uma qualquerzinha sentada na cadeira. No colégio, apesar da hegemonia de Ariane, eu tinha meus amigos, meu namorado e depois que comecei a crer nas palavras de Iury passei a ignorar a mediocridade dos outros meninos. Aquele problema simplesmente deixou de existir.

Na faculdade eu era apenas a caloura mal vestida. Ninguém sabia que por detrás daquela moça de rabo-de-cavalo existia alguém que precisava de carinho e tinha uma história também, talvez não tão interessante quanto conhecer gente famosa, ter um iate ou virar o ano em Paris, mas ainda assim tinha algum valor.

Uma vez por semana eu tinha folga lá no restaurante, então aproveitava para passar o dia estudando na biblioteca da universidade. Alguém havia esquecido o jornal numa mesa. Resolvi lê-lo para saber mais sobre as polêmicas envolvendo o então presidente e fuçando os anúncios encontrei um que veio como uma luz no fim do túnel. Clichê total. O capítulo especial da novela o qual a mocinha sofredora vive o milagre que a tira da lama.

Por que não me dar essa chance?

Som: Fields of gold – Sting.

-A Lílian nasceu, mãe... – May avisa a mãe no salão
-Nasceu?
-Mas a Aimée morreu...
-Credo, Mayra. Quem contou isso?
-Como quem? A Fer, manhê. E os pais do Iury não querem nem saber da criança...
-Que criança de sorte mais infeliz! O Gilberto a renega e agora a família do Iury. Pobrezinha.
-Seu Gilberto se apaixonou pela netinha e disse que vai criá-la, mãe. A Fernanda nunca viu o pai tão abobado na vida. Triste por causa de Aimée, mas feliz por causa da Lílian...
-Mas a menina nasceu com boa saúde?
-Não só saudável como linda. Fer disse que ela é toda pequeninha e manhosa. Parece que é a cara do pai...

Iury chega à maternidade e é informado de que a esposa morreu.

-Tem certeza, mãe?
-Aimée não resistiu ao parto e a pequena Lílian também não. – avisa Dario
-Lilian também morreu?
-Exatamente, meu filho. Lílian morreu. – avisa Estela
-Não pode ser. Aimée e Lílian pareciam tão saudáveis. Não me conformo.

Iury começa a chorar de tristeza por ter pedido Aimée e Lílian de uma vez só. Em contrapartida, Nilton convence o primo a procurar Laly.

-Você deveria procurar Laly, Iury. Agora vocês não tem mais impedimentos.
-Não é o momento.
-Já parou pra pensar que esse momento pode nunca chegar?
-Me perdoe, Nilton, mas meu mundo ta destruído demais. Você não deve ter ideia do quanto é difícil perder duas pessoas que você ama de uma vez só e de forma repentina. Eu acho que nunca vou superar isso.
-Sugeri que procurasse seu grande amor justo para melhorar mais rápido, primo. Sabe que eu não gosto de vê-lo triste.

 Dario e Estela prezam pelos estudos do filho e omitem o nascimento da própria neta, dando a guarda desta para Gilberto.

-Meu pedacinho de Aimée... Minha querida netinha... Minha florzinha...

Fernanda e Gilberto se responsabilizarão por Lílian e isso faz com que a morte de Aimée não os derrube completamente.

-Aimée estava esperando tanto essa criança. – Fernanda chora

Aimée é enterrada em Chapecó ao lado da mãe e Lílian é batizada em Guaratuba tendo Fernanda como madrinha.

Gilberto decorou um quarto especialmente para a netinha e fala dela com um brilho no olhar como se a tivesse esperado a vida toda. É seu modo de se retratar com Aimée.

-Tudo que vovô puder fazer, farei, neta querida.

Som: Dove – Moony.

O letreiro daquele prédio velho e abandonado era uma proposta tentadora:

`Quer ser ator/atriz?Essa é sua chance!`

Sempre quis ser atriz. Fiz algumas peças de teatro no colégio, no entanto, amargava papéis insignificantes. Ariane, a menina mais linda e popular, era sempre a donzela em apuros. De repente, minha sorte muda.

Entrei no edifício e precisei subir mais de 15 andares até chegar ao escritório onde enfim minha tosca e previsível vidinha ganharia um novo rumo. O lugar não cheirava muito bem, mas desde que conseguisse realizar meu sonho, nada mais me importava.

A secretária nariguda usava um óculos fundo de garrafa e ouvia música sertaneja enquanto lixava as unhas e falava ao telefone. Ao me ver, perguntou:

-Tem hora marcada, moça? Aqui a gente só atende com hora marcada!
-Eu vim por causa do anúncio.
-Aaah, então você viu o anúncio? Bom, deixe-me ver se o Cláudio está. Sabe, o Cláudio é um homem muito ocupado...

Cláudio era o dono da agência que lançava os novos talentos da dramaturgia nas telonas. Na condição em que estava, seria a atriz mais feliz do mundo se fizesse figuração na novela das 6.

Sentei-me na antessala e aproveitei para folhear revistas especializadas em celebridades. Nada como ir me acostumando a minha nova vida. As revistas estavam engorduradas, cheias de orelhas de burro e com páginas rasgadas.

As notícias eram quase sempre as mesmas: quem ta pegando quem, quem mudou de emissora, quem terminou com quem, resumo das novelas, entrevista com personalidades, funeral de outras, quem sumiu do showbiz. Em breve o Brasil conheceria Laly Antunes Moraes, a pobre menina que num piscar de olhos seria jornalista e atriz, deixando para trás o estigma de feia e pobretona.

-Pode entrar. O Cláudio está te esperando. – avisou a secretária

Que mania de grandeza era aquela? Quem diabos era eu no fim das contas?

Eu estava contando com ovo em cloaca de galinha e nem sequer me preparava para um eventual não. Aquela era minha última esperança de não precisar trancar minha matrícula e eu me agarrava a isso como uma criança aguarda Papai Noel.

-Lalinha, Lalinha, vamos com calma... – urrava minha sensatez - Sabe muito bem que esse negócio de book, empresário, contrato pode não passar de uma arapuca. Sabe que essa gente que lida com tv pode ser arrogante e não querer nem mesmo trocar uma palavra com você.
-O que você está esperando, gata? Você é jovem, bonita, atraente, tem um corpo esbelto, ainda mais agora que emagreceu, não precisa de muita maquiagem e não tem por que temer. Por que não deixa a timidez e mergulha de cabeça nessa oportunidade, hein? A TV está precisando de um rosto novo, do seu jeito peculiar de ser e mesmo que demore um pouco, fazer ponta na novela das 6 já é alguma coisa em vista de ser anônima. Concorda comigo, vai...
–E se for arapuca? – a sensatez revidava
-Por que não cala a boca, sua velha amarga?- meu otimismo era mesmo teimoso

E se eu não fosse bonita e atraente o bastante? E se demonstrasse estar nervosa? E se ficasse muito evidente que não tinha nenhuma experiência no ramo?

Cláudio devia ser um daqueles olheiros esquisitões que te olham de cima em baixo e não te deixam nem mesmo sonhar. Alto, magrelo, voz afeminada, roupas coladas, daquele tipo que fala esfregando o dedo na sua cara. O que mais poderia dar errado para mim?

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