segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Confissões de Laly Cap.67 - Por AMOR, por favor!



Por AMOR, por favor!

Som: Dove – Moony.

LALY ENTRA NO AEROPORTO PENSANDO SE REALMENTE ESTÁ FAZENDO A ESCOLHA CERTA EM UMA CENA DIGNA DE ÚLTIMO CAPÍTULO DE NOVELA. DE UM LADO DO AEROPORTO, O VOO PARA LOS ANGELES E DO OUTRO JÁ ANUNCIAM A SAÍDA PARA SÃO PAULO.

Abel estava me esperando no saguão do aeroporto com os bracinhos abertos. Era a cena final da novela onde a atriz pornô desnuda seus maiores temores e resolve entregar-se de vez ao AMOR.

-Pode crer que fez a melhor escolha, Lalinha.

-Eu sei que sim, meu amor.

6 anos depois...

Já estamos em setembro de 2002...

Som: Já é – Lulu Santos.

Guaratuba modernizou-se muito desde 1992 e continua sendo o point preferido dos turistas e banhistas que marcam presença nas temporadas de verão, ainda sendo lar de boa parte dos personagens da novela. Gilberto Gallardo é um deles.

Gilberto já é um homem aposentado e dedica-se integralmente a Lílian, que já está prestes a completar 10 anos de idade. Nunca mais pensou em casar-se.

Lílian está na 4ª série e apesar de ter muita facilidade para aprender, herdou o gene preguiçoso de Fernanda, embora seja bastante tímida e insegura com a aparência. Vive às turras com o primo Pepo, 8 anos (3ª série), com quem divide o dia do aniversário. 

Mayra e Nilton continuam casados e mantêm contato esporádico com Naira porque a freira formou-se em Pedagogia por intermédio do convento e leciona para o primário (classe de Lílian).

Mayra é uma mãe muito zelosa e trabalhadora. Nilton sustenta a casa, mas é um pouco distante do filho, apesar de ser amoroso.

-Lílian já vai completar 10 anos de idade e Pepo 9. Já que a data vai cair num domingo, por que não promovemos uma festa em comum? – Mayra sugere

-Mayra, esse mês não dá. – Nilton contraria a esposa

-Todo ano é o mesmo papo, Nilton. Pepo é nosso filho! – faz chantagem – Se fosse pra gastar com o maldito carro você teria dinheiro sobrando.

-Quando é o aniversário de Pepo?

-No domingo que vem, Nilton.

-Não acha que ta meio em cima da hora pra promover o evento?

-Não.

Mayra comunica a Gilberto sobre a idéia de Lílian e Pepo comemorarem aniversário juntos e o avô de Lílian concorda.

-Podemos fazer a festa no nosso jardim.

-Mesmo, seu Gilberto?

Lílian, escondida por entre as plantas no andar de cima do sobrado, ouve a conversa entre os adultos e desce.

-NÃO QUERO FESTA NENHUMA AO LADO DE PEPO!

-Como não, Lílian?Só se faz 10 anos uma vez na vida, minha flor.

-Eu não vou dividir meu aniversário com esse idiota.

-Vocês são primos. Não entendo por que brigam tanto. – Mayra comenta

-Ele podia ter escolhido outro dia pra nascer. Tinha de ser JUSTAMENTE no MEU aniversário?

Lílian cruza os braços e se emburra. Mesmo assim não consegue nada com isso. 
Pepo, por sua vez, se alegra com a notícia e na tarde seguinte Mayra tira folga do trabalho para organizar a festa. Gilberto a acompanha com as crianças na loja especializada em artigos de festas.

-Espero que não se importe em gastar um pouquinho. – Mayra avisa

-Desde que os pequenos sintam-se felizes, não me importo. – Gilberto sorri

-Ei crianças, já que a festa será a gosto de vocês, que tal nos ajudarem, hein?

-Por que não apanham uma cestinha e vão pegando o que vocês acham que é importante pra montar a festa?Nos encontramos aqui no caixa 1 daqui a pouco.

-Fiquem sempre juntinhos pra não se perderem. – May recomenda

-Não me importo se você se perder. Assim a festa será só minha. 

Lílian provoca Pepo e sai caminhando na frente dele que dá uma rasteira nela no corredor de guloseimas.

-Vou contar pro vô que você me bateu. – Lílian reclama e se levanta depressa

-E eu conto que você disse coisas feias pra mim e ele vai te castigar.

-Quero o ver acreditar em você.

Lílian coloca pacotes de bala de coco dentro de sua cestinha e Pepo as enche com jujubas (é viciado nelas).

-Eu quero que meu bolo seja em forma de bola de futebol.

-Nem pensar. – Lílian retruca

-O seu podia ser com uma boneca bem feia e cheia de sardas. Assim espantaria todos os convidados.

-Pra fazer um bolo com seu retrato teria de usar todos os ingredientes do mundo.

-Sardenta, sardenta, sardenta...
  
Pepo mostra a língua e Lílian se prepara para pisar com força no pé dele, mas Gilberto dá um passo a frente e berra de dor.

-MAIS CUIDADO POR ONDE ANDAR, LÍLIAN.

Lílian quase chora de vergonha.

-Desculpe-me vô.

-Mais um desatino e eu cancelo a festa.

Pepo coloca uma embalagem de confeitos em sua cestinha e mostra a língua para Lílian. 

Som: Fogo – Capital Inicial.

Iury ainda não sabe que Lílian está viva. Lílian também não sabe que o pai é médico e vive para a Medicina desde a morte de Aimée em 1992.

Após trabalhar algum tempo em cidades do interior de SC, Iury foi aprovado em um concurso público o qual irá ganhar o dobro para trabalhar em um hospital em Guaratuba. Não poderia estar mais feliz por retornar a cidade onde conheceu o grande amor de sua vida, embora seus últimos dias por lá não tenham sido exatamente os melhores do mundo.

Som: I don’t know – Érika.

Morava em um luxuoso apartamento na Avenida Paulista e trabalhava como jornalista na matriz de uma importante revista de circulação nacional. Fazia reportagens e seria editora de texto. Que sonho!

Abel tinha a pretensão de ingressar no telejornalismo, entretanto, sua baixa estatura era o grande empecilho para o sonho acontecer. Ele era o editor-chefe da revista e mesmo com o mundo em suas costas, quando estávamos juntos, ele fazia questão de deixar todos os problemas de trabalho na sala onde passava a chave após o fim de expediente.

Éramos um lindo casal apaixonado.

Eu já não tinha mais vergonha de dizer eu te amo e enterrava meu passado devasso sendo a namorada perfeita, a futura mamãe, a jornalista exemplar que não brinca em serviço.

Já estávamos juntos havia mais de 6 anos e eu mal via a hora de me casar. Continuávamos namorando como meros adolescentes e diante de nossos colegas nos tratávamos como chefe e subordinada.

-Não podemos trazer nossa relação para a redação ou uma hora estaremos discutindo diante dos colegas, colocando em xeque a credibilidade da revista.

Era um argumento válido.

Dos tempos de pavio curto só restava mesmo uma névoa na lembrança. Mesmo assim eu queria aprofundar a relação e ser mãe. Em breve eu completaria 30 anos e além da crise de carreira me vinha um medo sobrenatural de não conseguir ser mãe a tempo.

A rotina me fazia correr de um lado para outro e não me sobrava tempo para pensar exatamente em MIM, embora num desses contatos com o espelho, tive de admitir que havia conseguido alcançar todas as metas que tive na vida. Todas elas.

Trabalho, amor, status. Atropelei muita coisa para estar onde estava. 

Se me arrependo?Diria que não!Até meu lado puto foi encantadoramente imprescindível para amadurecer e conhecer o amargo do mundo.

Abel e eu optamos por não morar juntos. Eu tinha um ritmo de vida e ele outro. Minha incansável compreensão também foi um dos fatores que fizeram nosso namoro engrenar.

Eu sempre odiei receber cobranças por demais, viver sob pressão, demonstrando crises desnecessárias de ciúmes e tratar meu namorado como se fosse um filho. Se ele quisesse estar comigo, sabia onde, quando e como me encontrar.

Ao longo dos seis anos trabalhando na revista, penei muito para realizar minha grande ambição: ter uma coluna quinzenal só minha. Coluna de relacionamentos onde eu podia interagir com meus leitores. Também escrevia pequenas crônicas para um jornal de circulação local.

Recebia diversas cartas e com a internet chegando de vez, respondia cerca de 50 a 150 e-mails diariamente. Um deles, em particular, me chamou muito a atenção.

-Olá!Me chamo Fernanda Gallardo e tive uma amiga chamada Laly Moraes quando era adolescente. Ela queria muito ser jornalista. Posso estar enganada, mas acredito que se trate de você, pois escreve muito bem assim como ela escrevia. Se, de fato, você for essa Laly a que estou me referindo e se lembrar de mim nem que seja um pouquinho, entre em contato.

Eu estava quase certa de que era a Fernandinha Gallardo, a miss, mas retornei o e-mail só para me certificar.

-Tive uma amiga Fernanda Gallardo na adolescência e ela jurava que seria miss.

5 minutos depois, a resposta...

-Eu fui Miss Brasil. Você não lembra?

Para não patinar na própria ignorância, dei uma fuçadinha no site oficial do concurso e vasculhei os arquivos de edições anteriores. Fernanda ficou em segundo lugar do Miss Brasil em 1996, quando tinha apenas 19 anos, entretanto, assumiu o posto de Miss quando a primeira colocada foi desclassificada por ser casada.

-Você é irmã da Aimée Gallardo?

-Era. Ela faleceu.

-Faleceu?

-Sim. Já completou 10 anos da sua morte.

-Se você é mesmo a Fernanda Gallardo que andava com a Mayra, passe o número do seu telefone pra não precisar se incomodar com interurbano.

-Eu moro em São Paulo também.

-A que altura?

-Mais ou menos perto da Avenida Paulista.

-Então podemos nos encontrar em um barzinho. O que acha?

Som: Cada um cada um – Cláudio Zoli.

Gilberto está radiante por causa do aniversário de Lílian e conversa com Biel ao telefone. Gabriel e Grazielle moram em Campinas, já se casaram e tem dois meninos de 6 e 8 anos, dos quais Lílian tem ciúme e implica muito.

-Acabamos de voltar da Rio + 10. O senhor nos viu pela TV? – Biel pergunta

Grazi está preparando o jantar dos meninos na cozinha americana e eles estão batendo com os talheres na bancada, ainda mais que o prato de hoje é macarrão com nuggets.

-Vocês estavam maravilhosos. – Gilberto suspira

-O aniversário de Lílian já está chegando, pai. Pretende fazer algo?Lílian já vai completar 10 anos.

-Por isso mesmo liguei!Lílian e Pepo ganharão uma festa juntos.

-Diga que iremos. – Grazi fala alto para ser ouvida – Lílian já está se tornando uma mocinha...

Lílian parece indiferente ao alvoroço, talvez porque mesmo que disfarce, sente falta de ter uma amiga da mesma idade, apesar de conversar com algumas colegas.

Som: Por onde andei – Nando Reis.

Fernanda e eu marcamos de nos encontrar em um badalado barzinho que tocava rock e MPB por volta das 21:30, horário de rush, porém, sem muitas cerimônias, a reconheci por entre grupos de amigos curtindo um happy hour. 

Pontual e sorridente, Fernanda continuava portando-se como uma miss e eu como a jornalista que era. Cada uma com suas vantagens na bagagem. Cada uma com seu passado doloroso.

-Resolveu radicalizar o visu? - Fernanda era boa com fisionomias

-Acho que sim...

-Combina muito com tua tonalidade de pele, não sabia?Ficou perfeito.

Já havia seis anos que eu usava o cabelo médio e a tonalidade um pouco mais clara que a natural. Também precisei parar de fazer musculação para emagrecer e adorava pesar meus 52 kg.

-Ta magrela, hein, moça...

-Morando aqui há quanto tempo?

-Uns oito anos, mais ou menos... E você?

-6 anos. 

Conversamos sobre todos os assuntos. Apesar de estar 10 anos mais velha, Fer continuava esbanjando jovialidade e me fazia lembrar de todos os momentos bons da adolescência os quais tentei apagar nos tempos de atriz pornô.

-Casada? - especulava Fernanda enquanto bebericava a piña colada

-Namorando. - respondi enquanto mexia minha caipirinha

-A May ta casada já faz quase 10 anos.

-Ainda é amiga dela?

-To quase sempre dando uma pinta por lá, então continuamos bem amigas. Vez ou outra ela sempre pergunta por onde anda você...

-Com quem a May ta casada?

-Não sabe?

-Não fiquei sabendo...

-A May ta casadíssima com o Nilton e eles tem até um filho.

-To por fora de tudo mesmo. A May já tem um filhinho?

-Pepo. Ele ta com nove anos e é a cara do pai, mas tem o espírito travesso e alegre da mamãe.
-Tem o número dela?

-Claaaro!Nos falamos quase todo dia...

Quanta coisa já havia mudado nessa passagem de tempo!

A menininha que vi nascer e crescer já era casada e mãe. Ela que era 4 anos mais jovem que eu já tinha filhos e vivia um relacionamento sério enquanto eu continuava namorando praticamente às escondidas com Abel.

Após 10 anos eu iria falar com a Mayra novamente. Será que ela ainda se lembrava de mim ou a Fernanda inventou aquilo só pra me constranger?

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