Dia das Crianças!
Toca Ragatanga – Rouge.
Gilberto e Mayra sempre organizam uma grandiosa festa de Dia das Crianças a qual é a realizada na rua de Gilberto. Como May está viajando, Cybele se agrada com o projeto e substitui a mãe de Pepo.
-Espero que não se importe se a criançada ficar correndo até tarde.
-De forma alguma, Gilberto. Assim é um bom modo de entreter as crianças no feriado e tirá-las um pouco de frente da TV e do videogame.
Quem odeia a idéia é a amarga Eleonora, que olhando os preparativos pela janela, bufa de ódio:
-Nem no feriado descanso de ouvir essas crianças chatas correndo e gritando pela rua.
Edílson parece mais interessado em ver o noticiário:
-Parece que não está me ouvindo, né, Edílson?
-Adoraria ter tido outro filho.
-Laly já incomodou o bastante.
-Quando vejo essas crianças correndo e brincando só consigo pensar nos meus tempos de moleque, do quanto era feliz com o pouco que tinha. Logo eles irão crescer e você sentirá falta da algazarra, que querendo ou não, nos mantém vivos. Eles estão na idade de brincar, Eleonora. Você nunca foi criança?
-Fui, mas não irritante como eles.
Eleonora é a merendeira grosseira que trabalha só pelo salário, mas não tem um pingo de amor no que faz, nem nas crianças.
Toca Fogo – Capital Inicial.
Iury está fazendo plantão em pleno Dia das Crianças e não consegue pensar em nada além de Lílian, do momento em que não só viu a menina como teve o privilégio de ouvir sua voz.
Emotivo, mesmo não amando Aimée como mulher, recorda-se do quanto a ruiva aguardava a filha.
-Não se importa se chamá-la de Lílian? – Aimée, já grávida de 6 meses, pergunta
-De maneira alguma. Pensei em Luana também.
-Luana também é um nome bonito. Quem sabe para nossa 2ª filha.
-Se eu fosse menina, me chamaria Luana.
-Então está decidido: quando tivermos nossa 2ª filha, será Luana.
Iury se lembra de quando Aimée pedia para ele sentir o coraçãozinho do bebê e não deixa de se emocionar porque não imaginava que Lílian não só está viva como pensa que ele é quem está morto.
-Se eu tivesse a oportunidade de ver essa criança pelo menos mais uma vez, Deus. Se pelo menos eu pudesse voltar no tempo e desfazer o mal entendido que me separou de Lílian. Minha filha pensa que estou morto. Não posso deixar que ela cresça pensando que a abandonei de propósito. Não posso... Ao mesmo tempo em que também não quero destruir a ligação que ela tem com o Sr. Gilberto porque querendo ou não ele cuidou dela quando mais precisou...
Toca At night – Shakedown.
Aproveitei o feriado de Dia das Crianças e levei meus amigos para conhecerem os afamados pontos turísticos de São Paulo. Tiramos muitas fotos e eu fiz questão de passar no shopping para comprar um presente ao pequeno Pepo. Mesmo não o conhecendo pessoalmente já tinha por ele uma grande estima. Ele era filho da minha melhor amiga.
Mayra e Nilton não se desgrudavam e eu, que endeusava Abel, me sentia estranha, pois naquele feriado ele sequer deu as caras.
-E o bonitão?Cadê ele? - indagava Mayra
-Ele... Ele... Ele viajou a trabalho...
-Poxa, que pena. Eu queria conhecê-lo.
-Abel viaja quase todo tempo...
Abel e eu mantínhamos um relacionamento bastante moderno. Cada um na sua casa, cada um paga suas contas, cada um com seus amigos. Vivíamos incríveis noites de amor e em outras ele sumia sem deixar rastros.
Eu, na minha leiguice de apaixonada, preferia entender aquilo como um jeito de nunca enjoar do meu amor, de sempre ter aquela imagem perfeita do Abel, tudo aquilo que a convivência proporcionada pelo casamento destrói.
Um de nós estava com medo de oficializar o namoro e estragar o encanto.
May poderia reclamar de tanto estar com Nilton. Eu poderia me queixar da falta que Abel fazia.
-May, vem cá, você e o Nilton ainda se gostam do mesmo jeito que quando se conheceram?
-Ta brincando, Laly?Eu AMO o Nilton. O Nilton é TUDO na minha vida. Tenho planos de envelhecer com ele. Não sei o que seria da minha vida se ele não existisse.
Nilton estava no banho. Um dos poucos instantes em que May e eu podíamos dialogar de mulher para mulher.
-Seis anos de namoro e nada de casamento, amiga?Ta com medo do altar?
-Eu não... Eu não... Por que diz isso?
-O Nilton e eu namoramos dois meses e casamos. Ta bom... Em partes foi porque engravidei, mas, de qualquer forma, jamais me arrependi...
-O Abel ainda tem algumas pretensões na vida e eu também. Ainda estamos analisando a proposta...
Será que mesmo adaptando nosso namoro o tempo estava desgastando tudo ou Abel era um covarde que tinha medo de relacionamentos sérios?
No Dia dos Namorados o filho da mãe sempre sumia. Sempre. Eu mesma passei a ter mais aversão a essa data de tanto me ferrar, sonhar demais, esperar demais. E mesmo no auge do ceticismo, a menina apaixonada que existia em mim sempre acreditou em happy endings.
E mesmo que 12/06 não passe de uma data estritamente comercial, uma maldição sempre caiu sobre mim: a de passar esse dia sozinha!
Dos 15 aos 18, tempo em que namorei com Iury, estávamos brigados nessa época. Os outros peguetes que tive eram meio indiferentes a vibe de amor que reacendia o espírito dessa autora e o Abel, por sua vez, era cara de pau o bastante para soltar seu mais famoso bordão:
-Dia dos Namorados é pra otários. Comemorar o que?
Eu me perguntava de onde é que desembocou homem de tamanha insensibilidade!
A otária que sempre acreditou no amor já contabilizou o prejuízo pelos tantos anos sendo maltratada pelo cupido.
No pior Dia dos Namorados da minha vida, o qual o Abel me prometeu o mundo, passei o dia esperando por um telefonema e nada. Me produzi no salão de beleza, fui ao shopping comprar um vestido novo e até me presenteei com um sapato porque Abel sempre foi muito imprevisível, do tipo que te surpreende de pijama e a faz sair com a roupa do corpo.
O Sol deu lugar a Lua e nenhuma satisfação.
Às 21:00 desatei a chorar, mas por existir em mim muito da garotinha sonhadora, esperei pelo clichê até às 22:30. Mais decepção.
Nenhuma mensagem na secretária eletrônica, nenhum e-mail, nenhum recado para mim na portaria. Eu simplesmente não significava nada para meu namorado. Isso doía muito mais que estar solteira.
A última alternativa foi ligar a TV e torcer para não ser bombardeada por reportagens de gaveta sobre casaizinhos felizes andando de mãos dadas no shopping, infestando todos os lugares os deixando pequenos demais para quem infelizmente não pode dizer que tem `sorte no amor`. Torci também para não ser exibido nenhum filme romântico. Tem alguns que são tão docemente forçados que dão náusea. Já caí na besteira de assistir a muitos deles e de acreditar em suas ideologias pífias também.
Madrugada, audiência quase a zero, manutenção batendo a porta. Os céus mandavam uma última esperança: Robocop.
Eu que nunca fui muito chegada no gênero acabei assistindo, ainda na esperança de ouvir o telefone tocar. E é tão triste aguardar aquilo que nunca vai acontecer...
Adormeci. Isso sim.
Acordei algumas horas depois. TV ainda em color bar. O coração, por sua vez, partido e em preto e branco com uns respingos de vermelho escarlate, o tom do ódio que latejava.
Não queria parecer infantil armando barracos por causa de ciuminho besta, mas me sentia importante o bastante para exigir uma justificativa convincente.
A partir daquele ano resolvi não esperar mais nada e tentar ver 12 de junho como um dia qualquer porque é essa a realidade. Esse opressor mito comercial criado e cultuado por nossa sociedade não nos difere em nada dos animais. Todos querendo impor soberania, lutando por seu espaço e passando o diabo pelo acasalamento. E ainda tentamos nos considerar superiores.
Meus leitores se deliciavam com minhas crônicas e mal sabiam que meu Alter Ego tirava sarro do meu próprio chefe. Ele próprio adorava as anedotas escritas em minha coluna.
-Deveria reuní-las em um livro e publicar. Vai ser o fenômeno de vendas. Eu quero ser o primeiro da fila na sessão de autógrafos e você vai escrever no meu exemplar: Escolhi o amor de Abel Santiago, renomado jornalista da revista Cara Pintada e hoje sou uma famosa escritora, tudo graças a Abel, que acreditou em meu potencial e me projetou ao mundo da literatura.
-Egocêntrico.
-Sincero.
-Não tenho essa pretensão.
-Tem sim, Lalinha. Não seja modesta. Você tem vontade de ser reconhecida em outros âmbitos. Te dou todo meu apoio e olha que sou suspeito pra falar...
Toca Love never fails (remix) – Sandy & Junior.
Lílian está andando de bicicleta com Yasmin.
-É verdade que sua tia foi Miss?
-Foi sim. Foi uma das mais bonitas...
-Vai seguir os passos dela?
-Ainda não sei... Você já sabe o que quer fazer?
-Por enquanto quero ser professora.
-Professora?
-Ué, é uma profissão tão legal...
-Vai ser professora de criança?
-Ainda não sei. Talvez...
-Tem alguém seguindo a gente?
Lílian se incomoda com a sombra.
-Não sei. – Yasmin responde
-Tem alguém seguindo a gente.
Quando percebe que um sujeito estranho as está seguindo, Lílian se apavora. Com medo de que ele tente machucá-la, a menina começa a pedalar mais depressa e não percebe a enorme pedra que está no asfalto (as meninas pequenas estão brincando de amarelinha) e não freia a tempo, caindo e se machucando.
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