O Reencontro!
Som: Will you still Love me – Chicago.
Novamente eu era aquela adolescente de 15 anos com as pernas tremendo só pelo fato de vê-l0 a minha frente. Corações batendo apressados, borboletas no estômago e um misto de tristeza e saudade de tempos que nunca cheguei a viver e mesmo assim lamentava por eles.
Era hora de dar a volta por cima, como diriam todos aqueles clichês, mas como também já ouvi dizer, o amor é a cura.
E se eu pudesse descrevê-lo em poucos caracteres, seria curta e grossa: ele estava mil vezes mais lindo do que me lembrava. Estava mais velho e havia adquirido um esnobe tom de sabedoria. Não fazia uso de aliança e não conseguiu disfarçar o sorriso ao me ver. Eu acho SIM que um olhar vale mais que mil palavras.
Iury também não conseguia conter as lágrimas. Até parecia cena daquelas novelas que Fernanda não só assistia como chorava junto. Justo eu que não gosto de chorar, ainda mais em público. Justo eu que queria viver sem amor, se era possível...
Éramos novamente dois adolescentes completamente indiferentes ao constante alvoroço que nos cercava. O magnetismo de nossos olhares realimentava a juventude sufocada anos atrás.
Estávamos parados exatamente no mesmo lugar, de frente para o outro e quando estávamos nos aproximando a fim de quebrar o silêncio, um assistente o chamou:
-Emergência, doutor Iury.
Iury também conseguiu chegar aonde queria.
Eu sempre acreditei em seu potencial, sua força de vontade. Ele era um garoto muito centrado e determinado. Merecia mais do que nunca o que conquistou.
Não que Abel não fosse um bom profissional, uma pessoa legal, mas ele feriu meus sentimentos e eu tinha todo motivo para estar com raiva dele.
Pensei que havia esquecido meu primeiro amor e mal sabia eu que o sentimento estava apenas adormecido dentro de meu coração, oprimido pelos tantos desencontros que nos fizeram viver separados por muitos anos sem respostas, contatos, sem saudade, honestamente.
Iury era pai de Lílian e muito provavelmente já estava casado. Ainda mais ele, sempre tão cobiçado pelas meninas no colégio.
-Lalinha? – May me trouxe de volta ao mundo real
-Tudo bem, Laly? – perguntou Fer
-Acho que vou pra casa...
Som: Never can say goodbye – Jackson 5.
Lílian percebe que o laptop de Lalinha está fechado e por curiosidade o liga, fuça os documentos e reconhece os textos. Está deslumbrada!
-Ela é a moça da revista!
Gilberto, que saiu perfumado do banheiro, flagra a neta mexendo nos arquivos de Laly e a repreende:
-Não deveria mexer nos arquivos da Lalinha.
-Só queria ver o que tinha neles.
-Não há nada que vá interessá-la.
Gilberto, cuidadoso, desliga o laptop de Laly e o fecha.
-Gosta quando Juan e Álvaro entram em seu quarto e remexem nas suas bonecas?
-Não. – Lílian abaixa a cabeça
-Então não faça aos outros nada que não gostaria que fizessem a você.
-E posso saber aonde vai tão perfumado?
Como a porta principal está aberta, Gilberto percebe Cybele acenando para ele que beija a testa da neta e avisa:
-Estou indo jogar bingo. Cuide bem da casa.
Lílian percebe que Gilberto não é o mesmo quando está com Cybele.
Som: Pacific coast party – Smash Mouth.
Iury, chorando, telefona para Nilton.
-Adivinhe só.
-QUEM MORREU?POR FAVOR, NÃO ME POUPE DOS DETALHES, SEJA HONESTO, IURY. EU SUPORTO. EU JURO QUE SUPORTO TUDO.
-Lalinha.
-Não me diga que Lalinha morreu?Porque se foi...
-Pare de agourar, homem. Não é nada disso.
-Não é nada disso e você ta aí desesperado, aos prantos. Fala o que é...
-EU A VI PESSOALMENTE, NILTON. EU A VI!
-Sozinha?
Som: One last breath – Creed.
Naira está revelando as fotos tiradas no Show de Talentos para postar no site da escola. Ao ver Nilton, Mayra e Pepo, se imagina ao lado de Nilton e se lembra do quando o gordinho a amava na adolescência.
-Fiz a escolha certa. Sei que fiz! – respira fundo – Escolhi trilhar os caminhos de Deus e não posso me deslumbrar com uma foto.
Naira observa atentamente a fotografia mais uma vez e clica na seguinte:
-O diabo atenta a carne, mas o espírito segue fiel a Deus.
Apesar de disfarçar com orações e aconselhamentos, Naira inveja a vida de May. Sabe que era para ‘ocupar’ o lugar dela.
Som: Will you still Love me – Chicago.
Estava disposta a arrumar as malas e voltar para SP, mas Lílian me deixou totalmente sem jeito quando entrei na cozinha e a encontrei preparando bolinhos de chuva, assim como May fazia antigamente.
-Não sabia que se aventurava na cozinha.
-A Fer me ensinou. Disse que a mulher moderna tem de ser linda, inteligente e saber se virar na cozinha.
-Tua tia tem razão.
-Sabe cozinhar?
Decepcionaria Lílian se admitisse que odeio cozinhar.
-Não sou nenhuma chef de cozinha, mas me viro bem.
Três dias antes, Lílian mal me fitava e então me surpreendia mostrando seus dotes culinários, rindo e destemendo o fogão.
-E não tem medo de ligar o fogão?
-Eu não. Meu vô diz que sempre que pensamos em coisas ruins, elas realmente acontecem.
-Seu avô está coberto de razão.
Lílian era caprichosa, habilidosa e ágil. Tão logo a travessa de porcelana estava cheia de bolinhos salpicados com canela. Experimentando, me ofereceu um.
-Aceita?
Seu sorrisinho meigo e inocente não me deixou recusar.
-Espero que esteja no ponto. Sou apenas aprendiz.
Quando mordisquei o primeiro pedaço, rompi em lágrimas. Só consegui ver Iury a minha frente, o dia em que nos beijamos pela 1ª vez.
May foi a primeira a saber que eu o amava. Mais: aquele sabor me fez lembrar de uma época doce da minha vida, os ventos de primeiro amor, sensação que fama nenhuma substitui. Nem todo dinheiro no mundo devolveria a inocência interrompida, os sonhos adolescentes que se inviabilizaram a medida que a realidade se avizinhou dos planos de amor..
-O bolinho ficou muito ruim?O que você tem, Lalinha?
Lílian trouxe um copo d’água, sentou-se ao meu lado e ficou fazendo carinho nas minhas mãos.
-Você ta bem, Laly?
Fernanda acabava de chegar.
-Laly, Laly. O que foi?
-Tia, a Laly ta chorando, mas eu não fiz nada. Eu juro!
-Eu sei! – pausou – Hein flor, por que não vai brincar com Yasmin?Que tal?
Quando Lílian retirou-se, Fernanda me abraçou e me deixou chorar.
Houve tempos em que gostaria de chorar e não conseguia, mas naquele instante as lágrimas venceram e os ombros de Fer me confortaram.
-Chora, amiga. É bom chorar!
Agia como se fosse de ferro e me envergonhava por transparecer meus sentimentos, depositar confiança em quem mentiu olhando em meus olhos, garantindo promessas esquecidas, tratando o amor como se fosse uma doença contagiosa, considerando programas banais a dois como uma grande vergonha, clichês demais para seu gosto.
Um pequeno gesto fez a mulher biônica desmoronar diante de uma criança. Não era apenas a profissional. A alma necessitava de exílio.
-Vocês se amaram demais. Nunca se esqueceram. – Fer assegurou
Programada para esquecer as más lembranças, as revivia e lastimava cada desencontro, cada mal entendido, cada labareda que pôs fim as nossas esperanças.
-Eu amei Iury por muito tempo.
-Ainda ama.
Precisei apagar Iury para ser Judy. Amor e carreira eram incompatíveis.
Se eu vivesse de amor, me odiaria por um sonho pelo qual não lutei. Optando pela fama, poderia novamente amar, como realmente aconteceu.
-Iury é solitário.
-Mas tem Lílian e a garota não vai querer ver o pai com outra mulher que não seja sua mãe.
-Lílian não sabe que o pai existe.
-Como é que é?
-Bem isso que você ouviu... Lílian não sabe que Iury é seu verdadeiro pai.
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