quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Confissões de Laly Cap 104: Contradições!

Contradições!

-Quanta violência a troco de nada. Aonde esse mundo vai parar?

A notícia da morte dos âncoras do principal noticiário chocou e mobilizou a todos. Ainda não havia pistas o suficiente para descartar ou adicionar suspeitos. Tudo que se sabia até então era que a Toda Poderosa estava de luto. E com razão.

O casal era atração do jornal e o comandava desde meados de 1995, na última mudança de diretor-geral. Além de serem experientes e carismáticos,  faziam o perfil do TP News e acompanhavam a passos rápidos as transformações na cidade, no Brasil e no mundo como um todo.

O duplo homicídio tornou-se pauta nos telejornais da concorrência. Acima de qualquer rótulo, Julia e Ernesto eram seres humanos e não mereciam morrer sem direito a defesa. Os requintes de crueldade com que perderam a vida comoveu até mesmo quem não se envolve nesses casos chicletes explorados até o fim por programas policialescos sensacionalistas. O interesse dobrava ao tratar-se de pessoas ‘públicas’.

Evidentemente ignorariam a queixa do misterioso roubo da casa de Gilberto, apesar de estarmos associando os relatos e chegando a algumas conclusões, talvez equivocadas – eu queria mesmo que fossem.

Som: Flores (acústico) – Titãs & Marisa Monte.

-Eleonora?Algum problema?

-Por que, Edílson?

-Está com os olhos roxos. – puxa Eleonora pelos braços – E esses braços?Deixe-me ver isso...

Eleonora, bruta, esquiva-se do marido e evita olhar em seus olhos.

-Estou bem, por favor.

-Aconteceu alguma coisa?

-Eu já disse que estou bem.

-Não confia em mim, Eleonora? – Edílson tenta olhar a esposa, mas ela viras as costas novamente

-Não é isso... É que... Não te interessa!

-Você nunca falou assim, Eleonora. Está havendo alguma coisa?

-Eu já disse que não. Pare de insistir. – pensa – Está havendo muita coisa, meu querido, mas você está fora disso.

 O telefone toca. Edilson vai atender.

-Alô?

Gustavo não esperava encontrar Edilson na linha. O pai de Laly insiste.

-Alô?

Gustavo desliga e Eleonora, que tinha entrado no banheiro para tomar banho, retorna a sala e pergunta:

-Quem era, Edílson?

-A pessoa desligou quando atendi.

Som: Keep it turned on – Rick Astley.

-Não podemos julgar Eleonora sem provas. – Gilberto reluta – Ela é um pouco arredia, mas é uma boa vizinha.

-Boa?Não sabe o quanto essa mulherzinha é asquerosa. – Fernanda retruca – E o modo como ela trata as crianças.

-Eu ainda to devendo um tapa... Por todos os anos que essa cadela arruinou minha vida... – Laly comenta cerrando os punhos e rangendo os  dentes

-Antes de perdermos a razão fazendo uso de métodos obsoletos, conversarei pessoalmente com ela e Edílson, pois se um deles estava em casa, pode nos contribuir com pistas, algo que nos ajude a incriminar esse bandido.

-Não duvido nada de que Eleonora seja a bandida.

-Mas antes de acusar em vão, precisamos de provas.

Honesto e cordial, Gilberto vai conversar com Edilson que estranha a presença do vizinho:

-Algum problema?

-Desculpe incomodá-lo, senhor Edilson e se o estiver, peço-lhe desculpas...

-De forma alguma. Queira entrar.

Edílson e Gilberto entram em casa. Eleonora, na cozinha, está ressabiada.

-Não sei se soube, mas ontem nossa casa foi assaltada.

-Não soube. – espanto – Já prenderam o ladrão?

Eleonora, com taquicardia, teme o pior.

-Que aqueles malditos fedelhos não me dedurem...

Cínica e ao mesmo tempo desconfiada, a madrasta de Laly se dirige a sala:

-Deseja alguma coisa, vizinho?Café, chá, água, refri?Se quiser guaraná, vou lá na cozinha pegar.

-Estou bem, vizinha. – Gilberto é educado

-Soube que a residência dos Gallardo foi assaltada, meu bem? – Edílson comenta

Repentinamente Eleonora tem uma forte crise de choro e se ajoelha aos pés de Gilberto.

-Ele me ameaçou de morte caso eu não arrombasse a porta.

-Ele quem? – Edílson aparenta confusão ao ouvir a declaração da esposa

-O ladrãooooo...

-Sabe quem é o ladrão? – Gilberto se impressiona

Som: Dove – Moony.

-Claro que ela foi a mandante, mas não agiu sozinha.

-Com as provas que temos não iremos muito longe. Ninguém vai acreditar em nós, os ignorados pela justiça. Não sei se poderia ficar pior. – Laly desabafa

-Lembre-se de que a justiça dos homens falha, mas a Divina, além de perfeita, é, acima de tudo, justa e rigorosa.

Som de suspense...

-Eu não tive outra saída.

Eleonora, ajoelhada aos pés de Gilberto, chora compulsivamente.

-Minha vida corria risco. Se eu desse um pio e o desobedecesse, ele mataria a todos nós.

-Por que não acionou a polícia se sabia quem era?

-Eu não disse que sabia quem era.

-Está se contradizendo.

-EU?

-Exatamente. Há poucos instantes disse ter conhecimento desse ladrão e agora desfaz essa versão afirmando que ele estava mascarado.

-Bem... estava... – Eleonora perde o controle sobre as próprias mentiras – Por favor não me denuncie, seu Gilberto. É só o que lhe peço.

-Você foi cúmplice do ladrão. Me vejo obrigado a fazer isso.

Agarrando as pernas de Gilberto, Eleonora chora de tal forma que até caem lágrimas de seu rosto. Interpretação ou não, a megera está comovendo ao marido, ainda confuso, sentado no sofá sem esboçar qualquer reação.

-Tenha piedade de mim, sr. Gilberto. Se você me denunciar, nunca mais conseguirei emprego em lugar nenhum. Veja meu lado, vizinho.

-Eleonora agiu em defesa própria, Gilberto. É uma heroína por ter pensado nas crianças acima de qualquer outra coisa.

Edílson abraça Eleonora.

-Por que não encerramos essa história por aqui?

-Mas essa história não ta encerrada.

-Sem mais perguntas por hoje. Eleonora, como você pode perceber, está profundamente abalada. Por favor...

Gilberto, consternado, caminha em direção a porta.

Fingindo estar chorando, Eleonora sufoca o riso enquanto recebe afagos do marido, que preocupado com o choro da esposa, a conduz até a cozinha.

Gilberto volta para casa mais triste do que quando saiu. Fer, sentada no sofá com Laly, pergunta:

-E aí, pai?Alguma novidade?

-Edílson está acobertando a esposa.

-O que pra mim nunca foi novidade. – Laly é direta

Som: One last breath – Creed.

Quando Pepo recebe alta, estranha que Nilton e Naira vão busca-lo ao invés de Emília e Mayra, como era o combinado.

-Cadê mamãe?

Pepo está sentado na cama calçando o tênis. Naira, embaraçada por ter de mentir a criança, encara Nilton.

-Vai esconder isso até quando? – a irmã de May sussurra

-Eu sei o que estou fazendo, Mayra.

-Mayra?Pois bem... que bom que lembrou-se dela.

-Naira, por favor.

De pé, Pepo cruza os braços.

-Não vão responder a minha pergunta?

-Qual pergunta, filho?  - Nilton finge não ter ouvido o que Pepo falou

-Cadê minha mãe?

-Mamãe não pode vir.

-Ela disse que viria.

-Então cadê ela?

-Eu já disse, filho. Mamãe não pode vir.

-Ela prometeu... – Pepo está desapontado

Nilton tenta abraçar o filho e afaga-lo, mas o menino se esquiva e insiste.

-Quero ver minha mãe.

-Infelizmente isso não será mais possível.

-Por que?

-Sua mãe não quer mais vê-lo.

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