Então é Natal! – parte 3
-Pra onde essa desgraçada levou Pepo?
-Não sei, Nilton.
Nilton circula em volta de Naira.
-Sabe sim...
-Juro que não sei.
-Nilton, isso poderia ter sido evitado.
-Não dirija a palavra comigo.
-Hoje é Natal, meu amor!Nada de barracos.
-Diga onde está Mayra. – Nilton grita com Naira
-Estão em Curitiba. – Naira se ajoelha aos pés de Nilton – Por favor, meu amor, não faça nada. Tente negociar com Mayra. Ela é uma boa pessoa e só o fato de Pepo ter visto a mãe o fez sorrir... – abraça a panturrilha de Nilton, que solta os braços dela grosseiramente
-Quero meu filho de volta.
Nilton, alterado, sai de casa e pensa que Emília está acobertando May, por isso, com um varão que encontra numa caçamba perto do salão, quebra a porta de vidro do estabelecimento, mas por este ser protegido por uma seguradora 24 horas, um alarme toca. Emília flagra o genro:
-O QUE VOCÊ TA FAZENDO, NILTON?
-VOCÊ SABE DE TUDO, NÃO SABE?
-NILTON, VOCÊ ESTÁ LOUCO!
-SE MAYRA NÃO APARECER COM MEU FILHO, IREI MATÁ-LA.
-HOJE É NOITE DE NATAL, NILTON. PELO AMOR DE DEUS!
Nilton agarra os ombros de Emília com força e a sacode para que a cabeleireira confesse tudo que sabe:
-VOCÊ VAI CONTAR AGORA TUDO QUE SABE.
-DO QUE?
-NÃO SEJA CÍNICA, EMÍLIA. SE TENTAR ACOBERTAR A MAYRA SERÁ PIOR PARA AS DUAS.
-EU NÃO SEI DE NADA. – Emília chora – ME LARGUE. VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO, SEU BRUTO. – se solta dos braços de Nilton – SEU BRUTO!SE VOCÊ OUSAR TENTAR QUALQUER COISA CONTRA MINHA FILHA, PAGARÁ CARO.
Som: Já é – Lulu Santos.
Se as famílias de Gilberto e Cybele ceiam em paz, o mesmo não se pode dizer de Naira, que chorando, pede licença para entrar na casa de Gilberto, que deixa a refeição de lado para ampará-la.
Fernanda traz um copo de água com açúcar para Naira que está sentada no sofá de três lugares e mal consegue articular as palavras:
-Nilton enlouqueceu.
-E Pepo, onde está? – Fernanda pergunta
-Fugiu com Mayra. Nilton descobriu e está desesperado, prometendo fazer uma loucura. – Naira bebe água e quase se afoga de tanto que chora
Enquanto isso, na mesa, para as crianças não se contagiarem com problemas os quais não são culpadas, Abel as entretém.
-Eu imaginava o Papai Noel velho, gordo e barbudo. – Yasmin comenta – Mas o Papai Noel é quase do meu tamanho.
-Você não tem que entregar todos os presentes numa noite? – Lílian questiona
-Bem, meus ajudantes me dão uma forcinha. Estou de folga... – Abel disfarça
-Você é um Papai Noel muito preguiçoso...
Som: Por onde andei – Nando Reis.
-Nunca imaginei que minha filhota chegaria a ser jornalista.
-Você mesmo nunca deu apoio, pai. – Laly discorda sem medo
-Pensávamos que era apenas um sonho bobo de adolescente, mas sabe que no fundo eu sempre soube que você conseguiria, até porque herdou o gene bom da família do Edilson, sempre persistente e honesto. – Eleonora bajula a enteada
-Eu nunca duvidei de Lalinha. – Gustavo dissimula – Sempre soube que Laly é uma mulher determinada e tinha todos os atributos essenciais para vencer.
Laly, enojada com os superlativos forçados de Gus, mal consegue cear.
-De dieta, Lalinha?Até parece que precisa. – Eleonora mente
-Apenas sem fome.
-Deixe de bobagem e sinta-se em casa novamente, minha filha. Por que não apareceu aqui antes?Somos simples, mas do bem. – Edilson avisa
-Eu prometi cear com Fernanda e Gilberto e acho que eles estão me esperando.
-E pensar que eu vim só por causa de você, Lalinha.
-Eu estou noiva, Gustavo. – Laly corta o barato de Gustavo
-Do cafajeste que a abandonou?
-Laly, Gustavo, apesar do que ocorreu, é um bom homem e pode fazê-la feliz.
-Feliz eu já sou.
-Laly, esqueça o passado e se dê uma chance de ser feliz. Iury é romancezinho de adolescente.
-Ao que me lembre, não lhe devo satisfações de nada. Essa mania de você querer saber tudo e estar no controle me enoja e me irrita. E só para refrescar a memória, sabe aquele gurizinho que você covardemente espancou? Pois é... Quando disse que ia ser médico, todos riram dele, mas agora ele ri de vocês porque não só se formou como calou a boca de todo mundo. E você que se achava o invencível... Quem é agora?
-Você sabe que eu ainda te amo, Lalinha.
-Pois lave a boca para falar de amor. Você é o menos recomendado pra isso.
Gustavo só não estapeia Laly porque Edilson e Eleonora estão presentes, então encarna o bom mocinho para comover o pai de Laly.
-Lalinha, eu fui injustiçado, passei 10 anos pagando por crimes que não cometi, perdi tudo, desde respeito até a mulher amada. Poderia me perdoar?
-Quem deveria me pedir perdão é você por ter abusado de mim, por todo incômodo emocional, invasão de privacidade, humilhação, depressão, por eu ter me tornado um monstro por causa, por ter medo de confiar nos homens achando que todos serão filhos da puta que nem você, pois saiba que me envolver com homem casado foi melhor que qualquer momento ao seu lado.
Lalinha, chorando, empurra o prato.
-Eu não sei o que estou fazendo aqui por primeiramente, pai, você nunca sequer olhou nos meus olhos desde que minha mãe morreu. Você sequer teve a petulância de tentar me conhecer melhor, preferiu acreditar em fofocas a me ouvir um pouco, sempre foi indiferente aos meus sacrifícios e conquistas, então por que de repente passou a me amar?Só porque cheguei aonde queria?Agora eu presto?E você, Eleonora?Você sempre me odiou e eu sei que continua se incomodando com minha existência. Vocês não tem ideia do que eu passei nas mãos desse desgraçado do Gustavo e eu não vou passar a noite mais mágica do ano ao lado de um bandido, do cara que arruinou toda minha vida porque por mais que perdoar seja divino, simplesmente não consigo disfarçar o quanto quero te ver enterrado, Gustavo. Eu não vou sossegar enquanto você não pagar por tudo que me fez. Tudo. Cada noite mal dormida, cada lágrima, cada humilhação, cada ano impune. Tudo. Você vai pagar.
Laly, chorando, abre a porta e caminha até a casa dos Gallardo, sem imaginar que os adultos saíram para tentar amansar Nilton.
-Desculpe-nos, Gustavo. Laly deve ter bebido. – Edilson está chocado
-São as más companhias, Edilson. Laly cresceu, mas continua imatura.
-Talvez com o tempo Laly o perdoe. – Eleonora sorri – Adoraria vê-los juntos novamente.
-Depende mais de Laly do que de mim. Todos aqui sabem o quanto a amo.
-Sei, mas Lalinha precisa entender também. – Edilson lamenta
-Dou tempo ao tempo. Remédio melhor não existe. – pensa – Eu vou acabar com a sua raça, sua cadela. Você será enterrada muito antes que eu.
Som: Carolyna – Mel C.
Lílian não esperava ganhar um patinete e com a permissão de Abel, que ficou responsável pelas crianças, passeia pela rua deserta enquanto Yasmin e Rafa andam de bicicleta.
Laly está caminhando quando é surpreendida pela visão de Abel a sua frente e vestido como Papai Noel, até mesmo com a barba postiça acinzentada colada no queixo.
-Quem fez isso com você, Lalinha?
Laly percebe que está abraçada a Abel e se solta com raiva.
-O que você está fazendo aqui?
-Sou o Papai Noel, oras.
-Você? – Laly ergue as sobrancelhas – Papai Noel?Só pode ser uma piada.
-Por que chora?Hoje é Natal...
-Como se o Natal tivesse graça pra mim...
-Tem sim. – abre os braços – O Papai Noel chegou.
-Não acredito em mais nada.
Abel cruza os braços.
-Não?
-Não, não acredito.
Abel continua tentando fazer Lalinha sorrir.
-Posso saber quem tirou o sorriso da leoa?Me diz que eu me acerto com ele depois.
-Deixa pra lá. – Laly tenta seguir caminho para entrar em casa
-Não vá perder o melhor da noite por causa de alguém, leoa. – abre os braços novamente - Vem aqui, minha menina dengosa... Não precisa ter medo de mim...
Laly abraça Abel.
-Ninguém mais faz mal a minha leoa, está bem?
E Laly reluta em desmoronar nos ombros de Abel, mas acaba o fazendo.
-Se é disso que você tem vontade, é melhor que coloque pra fora. Engolir o choro só faz com que você estufe por dentro...
Som: Missing – Mariana Kupfer.
Pepo e Mayra estão ceando com os parentes curitibanos. A tv está ligada na Missa do Galo. O telefone toca. Pepo vai atender:
-Estamos ceiando. – Mayra ergue um pouco o tom de voz
-Pode ser papai.
Mayra sua frio de desespero. Nilton tem se comportado de forma tão esquisita que a faz temer.
-Alô?
-Querido. Como está? – é Fernanda
-To com a mamãe aqui nos tios. Quer que eu vá chama-la?
Aflita, Mayra se levanta, tira o telefone das mãos de Pepo, o desliga e ordena:
-Arrume as malas agora.
-Mas mãe, a gente ta comendo.
-Me obedeça, Pepo.
-Terminem de comer primeiro. – um tio sugere
-Nilton está vindo para cá. Preciso ir.
-Nilton está vindo?Melhor ainda!Podemos conversar com ele.
-Ele não quer negociar. Mais do que mamãe e eu tentamos, impossível. Ele não é mais o mesmo.
-Muito me surpreende que Nilton, um sujeito sempre tão bondoso e gentil esteja tomado pela raiva. Ele sempre te tratou tão bem.
-Se vocês não entendem, quanto mais Pepo e eu.
Som: Coming around again – Carly Simon.
Sentados no meio-fio em frente a casa de Gilberto, Abel e Laly conversam:
-Eu sei como é triste crescer sem ninguém. Meu pai me abandonou e minha mãe morreu morreu muito cedo por causa da bebida. Criei meus irmãos sozinho, mas nenhum foi grato comigo.
-Por que nunca me contou?
-Porque não queria que estivesse comigo por pena.
-Jamais.
-E por que escondeu esse terror do passado, Lalinha? – Abel passa as mãos por entre as mechas do cabelo de Laly – Me faz querer chorar a ideia de pensar que um homem a tratou desse modo. Você sabe que não merece.
-Não vamos mais falar disso, Abel. Isso me machuca.
-Comigo você pode ser você mesma, Lalinha. Eu não vou usar isso contra você.
-Por que está aqui?
-Não posso falar agora, mas no momento oportuno você saberá.
-E cadê todo mundo?Gilberto, Fernanda e as crianças?
Som: Angel – Jon Secada.
Naira e Emília rezam ajoelhadas na cozinha do salão. Uma vela de 7 dias está acesa e a luz está apagada.
Enquanto isso, Mayra e Pepo estão na rodoviária validando passagens para fugirem sem destino, porém, pouco antes de entrarem no ônibus, um dos braços de May é puxado com força e em seguida, a bofetada.
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