CENA 1 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - NOITE.
ISADORA - (reagiu indignada) Mas que calúnia!
Você viu,
Monteiro, como sua filha me
odeia? Chegou ao absurdo de inventar que tenho um caso com Marcelão e que só
quero seu dinheiro! (e para Malu) Queridinha, não acha que já tá apelando?
MALU - (deu de ombros) Não falei em caso,
falei que você é gamada nele, mas, pensando bem... sabe que isso é bem
possível!
MONTEIRO PRADO - Parem com isso, pelo amor de
Deus!
ISADORA - Você viu como sua filha me trata?
Faço tudo pra me dar bem com ela e só recebo patadas!
MALU - Não ia embora, Gata Amarela? O que está
esperando?
ISADORA - (fez uma pausa e decidiu) Voltei
atrás! Se dona Sulamita, esta pobre mulher, precisa de ajuda, vamos ajudá-la.
Eu confio no meu marido. Monteiro, meu querido, se você acha melhor assim...
ela fica!
MALU - Ela ia ficar, de qualquer maneira,
independente de você querer ou não!
ISADORA PROCUROU ABRIGO NOS
BRAÇOS DO BANQUEIRO.
ISADORA - Monteiro, você está vendo? Ela me
odeia...
MONTEIRO PRADO - Bem, se está tudo resolvido,
vamos parar com essa discussão! Chega!
ISADORA - Vou pro meu quarto!
MALU - Vá! Vá, Gata Amarela!
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE MALU -
SALA - INT. - NOITE.
UMA HORA DEPOIS, MALU VOLTOU
PARA CASA. MARCOS RECEBEU-A, ANIMADO.
MARCOS - Poxa, até que enfim! Posso saber o
que minha mulher fazia na rua até esta hora?
MALU - (abraçou-o e beijou-o) Hum, mas que
gostoso voltar para casa e encontrar meu marido preocupado comigo! Estava na
casa de meu pai, amor. E tenho novidade: minha mãe voltou para casa.
MARCOS - Que bom! Eu também tenho novidades!
MALU - Tou curiosa! Fala!
MARCOS - Consegui o emprego! Começo a dar
aulas segunda-feira!
ABRAÇARAM-SE, FELIZES.
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO - SALA DE JANTAR - INT. - DIA.
ISADORA TOMAVA CAFÉ, OBSERVADA
POR SULAMITA, SENTADA, COSTURANDO.
ISADORA - Senhorinha, a senhora quer fazer o
favor de afastar essa mulher daqui? Eu tenho medo. Não posso tomar café com uma
louca me olhando.
SENHORINHA - (aproximou-se de Sulamita e falou
brandamente) Dona Sulamita, a senhora não quer dar uma volta na piscina? Está
um sol muito bonito!
SULAMITA - (mostrou a língua para Isadora e
virou-se para Senhorinha) Agora não posso. Estou muito ocupada. Tenho que terminar
este vestido até a semana que vem. Sabe, ele pode chegar de repente...
SENHORINHA - Mas a senhora podia continuar
costurando lá mesmo.
SULAMITA - (fitou Isadora, desafiadora) Não.
Vou ficar aqui!
A GOVERNANTA FEZ UM GESTO DE
IMPOTÊNCIA PARA ISADORA, QUE SAIU PARA O SEU QUARTO, RESMUNGANDO.
ISADORA - Que inferno! Eu sabia que isso não
ia dar certo! Eu sabia!
SULAMITA - Senhorinha, você já recebeu a correspondência?
SENHORINHA - Ainda não, dona Sulamita.
SULAMITA - (irritou-se) Não é possível!
Augusto deve estar interceptando as minhas cartas! Lá no Sanatório faziam a
mesma coisa. Roberto nunca passou uma semana sem me escrever!
OLHOU, ENLEVADA, PARA UMA
FOTOGRAFIA DO CANTOR
ROBERTO CARLOS SOBRE A MESA.
SULAMITA - O meu querido Roberto!
CORTA PARA:
CENA 4 - “FOLHA DO RIO” - SALA
DE DANTE - INT. - DIA.
A MENÇÃO DE UM NOVO NOME NO
CASO DIANA MOLINA TIROU POR COMPLETO O SONO DE MARCOS, ASSIM COMO TINHA TIRADO
O DE DANTE GURGEL. NO DIA SEGUINTE, MARCOS DIRIGIU-SE À REDAÇÃO DO JORNAL PARA
SABER COMO ESTAVAM AS INVESTIGAÇÕES.
DANTE - Bem, procurei, por
conta própria levantar outros detalhes, nomes de pessoas que teriam algum
envolvimento com Diana, conhecidos, até que cheguei aos de Selminha, Fred Gaspar,
Hugo Matias, e alguns mais, que a polícia nem ouviu, sequer! (coçou o queixo,
pensativo) Conversei com o delegado Justo Nogueira e achei muito estranho que
os depoimentos dessas pessoas, inclusive o dos garçons, não constasse dos
autos.
MARCOS - Então falou com os amigos de Diana?
Eles sabem quem é Lucrécia?
DANTE - Falei com Isadora e Selminha... Não
conhecem
ninguém com esse nome!
MARCOS - Que estranho...
DANTE - Só falta falar com Alfredinho. Marquei
com ele hoje à noite, no Castelinho. É bem provável que ele saiba quem é esta mulher.
CORTA PARA:
CENA 5 - CASTELINHO - EXT. -
NOITE.
À NOITE, DANTE E ALFREDINHO
ENCONTRARAM-SE NA ENTRADA DO CASTELINHO.
ALFREDINHO - Fala, Dante! Quer falar comigo?
DANTE - (apertaram-se as mãos) Fala, meu
camarada! Quero sim. Você conhece uma mulher chamada Lucrécia?
ALFREDINHO - Lucrécia? (e deu um sorriso de
mofa) Gozado... Muito gozado.
DANTE - Por quê? Você sabe quem é?
ALFREDINHO - Lucrécia?... Claro que sei...
DANTE - Então fale de uma vez!
Eu e Marcos estamos empenhados em descobrir quem é essa mulher!
ALFREDINHO - Peraí... esse Marcos não é o
padreco?
DANTE - É... ele mesmo.
ALFREDINHO - (dando tapinhas no ombro do
repórter) Olha, Dante, sinto muito, mas não vou facilitar a vida desse cara! Por
mim, vocês não vão saber nada! Fui!
ALFREDINHO DEU PARTIDA NA MOTO
E ARRANCOU.
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE NOÊMIA
- SALA - INT. - DIA.
JORGE ALBERTO CHEGOU AO
APARTAMENTO DA IRMÃ, ATENDENDO SEU CHAMADO, E ENCONTROU-A NERVOSA, COM UM COPO
DE UÍSQUE NA MÃO.
JORGE ALBERTO - Minha irmã, você não acha que
está bebendo demais? Que horror! Você sabe que isso só a afasta cada vez mais
de sua filha!
NOEMIA - Jorge, preciso de sua ajuda! Meu
marido, o armador sueco, está no Brasil à minha procura para regressar à Europa!
JORGE ALBERTO - E por que você não volta com
ele? Ele não sabe que você mora neste apartamento?
NOEMIA - Não. Eu menti. Disse que estava num
hotel. Não quero voltar à Suécia, pelo menos enquanto não conseguir arrebatar
minha filha das mãos de Marcelão! Não volto... muito embora as probabilidades
tenham sido reduzidas a menos da metade, depois do escândalo da bebedeira. O
problema é que, mais cedo ou mais tarde, vai acabar me descobrindo aqui. Ele
sabe que tenho este imóvel... e pensa que está alugado! DOCE BALANÇO CAPÍTULO
42 PÁGINA 07
JORGE ALBERTO - Não sei como ajudá-la... O que
quer que eu faça?
NOEMIA - Posso ficar... na sua casa?
JORGE ALBERTO - Ah, não! Na minha casa, não!
Sinto muito, irmãzinha, mas adoro morar só, sem ninguém pra interferir na minha
vida! Definitivamente, não daria certo!
NOEMIA - Aquele canalha do Marcelão! Se não
fosse tão cafajeste... Você viu como ele continua bonitão? Parece que, com o passar
dos anos, fica mais charmoso, mais interessante...
JORGE ALBERTO - (malicioso) É impressão minha
ou esse entusiasmo está um pouco exagerado?
NOEMIA - Apesar de tudo, não consigo sentir
ódio dele, sabia? (fez uma pausa) Isso mesmo! Tive uma idéia! Por que não pensei
nisso antes?
JORGE ALBERTO - Não entendi... o que você
pretende fazer?
NOEMIA - Me aguarde, irmãozinho! Me aguarde!
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE MALU -
SALA - INT. - NOITE.
ERA QUASE MEIA-NOITE QUANDO O
TELEFONE TOCOU. MARCOS ATENDEU.
MARCOS - Alô, pode falar... aqui é Marcos
Ventura.
VOZ DE MULHER - (off) Oi. É com você mesmo que
eu quero falar. Eu fui amiga de Diana. Me disseram que você está à minha
procura. Aqui é Lucrécia.
MARCOS - (estremeceu) Estou, sim. Onde podemos
nos encontrar?
VOZ DE MULHER - (off) Você
sabe onde é a Boate do Diabo? Estarei a sua espera hoje, depois da meia-noite.
Não precisa se incomodar comigo, pois eu te conheço. Tchau...
OS PENSAMENTOS DE MARCOS
FERVILHAVAM. MILHARES DE LEMBRANÇAS ACUDIAM-LHE À MENTE. AS PALAVRAS DE MANOLO,
O GARÇON DO CASTELINHO, ECOAVAM EM SEUS OUVIDOS: “SÓ SEI QUE A MORENA DISSE, DA
SEGUNDA VEZ: SE DISSER MAIS UMA VEZ ESSE NOME, EU TE DOU NA CARA!” O RELÓGIO DA
SALA BATEU MEIA-NOITE.
MALU - (off) Marcos, você não vem dormir?
MALU VIU PELA PORTA DO QUARTO
QUE O MARIDO PROCURAVA ALGUMA COISA NA GAVETA DA MESINHA DA SALA.
MALU - O que você tá procurando, amor?
MARCOS - Estou procurando um analgésico. Estou
com dor de cabeça (e depois de certa hesitação) Acho que vou à farmácia comprar.
Durma você, eu volto já. Té logo.
E SAIU.
CORTA PARA:
CENA 8 - BOATE DO DIABO - INT.
- NOITE.
A BOATE DO DIABO ERA UM
INFERNINHO. ESFUMAÇADO E DEPRIMENTE COMO TODOS ELES. A DECORAÇÃO FAZIA JUS AO
NOME: ERA DIABÓLICA, ALUCINATÓRIA. ILUMINAÇÃO, QUASE NENHUMA. TODOS OS
FREQUENTADORES USAVAM MÁSCARAS. AS MULHERES TINHAM O ROSTO PINTADO DE BRANCO. MARCOS
FICOU PARADO NA PORTA, SEM CORAGEM DE ENTRAR.
ALFREDINHO - (cochichou para Julio Biruta)
Chegou o nosso homem.
JULIO BIRUTA COCHICHOU NO
OUVIDO DE SUA GAROTA, QUE SE LEVANTOU E FOI COCHICHAR COM OUTRA. UMA DELAS FOI
ATÉ A PORTA, TOMOU MARCOS PELA MÃO E INICIOU UMA DANÇA SENSUAL.
MARCOS - Você é Lucrécia?
A GAROTA RIU E AFASTOU-SE. DE
REPENTE ELE FOI ENVOLVIDO PELAS OUTRAS MOÇAS, QUE RODARAM À SUA VOLTA,
DEIXANDO-O ATORDOADO. POR FIM, MARCOS CAIU SENTADO NUMA CADEIRA. A MÚSICA ERA
ENSURDECEDORA.
ALFREDINHO - (gritou) Bebida para ele!
MARCOS - Não, obrigado. Eu só vim procurar uma
pessoa.
JULIO ENCHEU UM COPO DE
UÍSQUE.
ALFREDINHO - Que pessoa?
MARCOS - Uma moça chamada Lucrécia. O senhor conhece?
ALFREDINHO - Claro que conheço. Ela não está
aqui. Mas vai chegar.
MARCELÃO, QUE TAMBÉM ESTAVA NO
LOCAL, APROXIMOUSE.
MARCELÃO - Lucrécia? Quem falou em Lucrécia?
JULIO APONTOU PARA MARCOS, QUE
ATÉ ESSE INSTANTE NÃO TINHA RECONHECIDO NENHUM DELES, TODOS MASCARADOS.
JULIO BIRUTA - Foi ele. Veio encontrar-se com
Lucrécia.
ALFREDINHO COLOCOU QUALQUER
COISA DENTRO DO UÍSQUE DE MARCOS, QUE NÃO PERCEBEU.
MARCOS - (apurando o ouvido para a voz que
falava atrás da máscara) Espera aí, eu acho que conheço vocês. Já ouvi essa voz.
UMA GAROTA COLOCOU UMA MÁSCARA
NO SEU ROSTO. MARCOS NÃO RESISTIU. ELA OBRIGOU-O A BEBER. ELE ESTAVA ATORDOADO.
MAS PERCEBEU QUE ALFREDINHO – A VOZ ERA DELE, NÃO TINHA DÚVIDA – SE AFASTAVA
COM O CELULAR E COMEÇAVA A DISCAR.
ALFREDINHO - (ao celular) Olha, você quer
encontrar seu marido, venha aqui na Boate do Diabo. Venha, que ele está atrás de
uma tal de Lucrécia.
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DE MALU -
QUARTO - INTERIOR -NOITE.
DO OUTRO LADO DA LINHA, COM O
FONE NO OUVIDO, MALU PULOU DA CAMA, ATORDOADA.
MALU - Lucrécia!
FIM DO CAPÍTULO 42
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