terça-feira, 26 de março de 2013

Doce Balanço - Capítulo 42


CENA 1 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - NOITE.

 ISADORA - (reagiu indignada) Mas que calúnia! Você viu,
Monteiro, como sua filha me odeia? Chegou ao absurdo de inventar que tenho um caso com Marcelão e que só quero seu dinheiro! (e para Malu) Queridinha, não acha que já tá apelando?
 MALU - (deu de ombros) Não falei em caso, falei que você é gamada nele, mas, pensando bem... sabe que isso é bem possível!
 MONTEIRO PRADO - Parem com isso, pelo amor de Deus!
 ISADORA - Você viu como sua filha me trata? Faço tudo pra me dar bem com ela e só recebo patadas!
 MALU - Não ia embora, Gata Amarela? O que está esperando?
 ISADORA - (fez uma pausa e decidiu) Voltei atrás! Se dona Sulamita, esta pobre mulher, precisa de ajuda, vamos ajudá-la. Eu confio no meu marido. Monteiro, meu querido, se você acha melhor assim... ela fica!
 MALU - Ela ia ficar, de qualquer maneira, independente de você querer ou não!

ISADORA PROCUROU ABRIGO NOS BRAÇOS DO BANQUEIRO.

 ISADORA - Monteiro, você está vendo? Ela me odeia...
 MONTEIRO PRADO - Bem, se está tudo resolvido, vamos parar com essa discussão! Chega!
 ISADORA - Vou pro meu quarto!
 MALU - Vá! Vá, Gata Amarela!

CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE MALU - SALA - INT. - NOITE.

UMA HORA DEPOIS, MALU VOLTOU PARA CASA. MARCOS RECEBEU-A, ANIMADO.

 MARCOS - Poxa, até que enfim! Posso saber o que minha mulher fazia na rua até esta hora?
 MALU - (abraçou-o e beijou-o) Hum, mas que gostoso voltar para casa e encontrar meu marido preocupado comigo! Estava na casa de meu pai, amor. E tenho novidade: minha mãe voltou para casa.
 MARCOS - Que bom! Eu também tenho novidades!
 MALU - Tou curiosa! Fala!
 MARCOS - Consegui o emprego! Começo a dar aulas segunda-feira!

ABRAÇARAM-SE, FELIZES.

CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA DE JANTAR - INT. - DIA.

ISADORA TOMAVA CAFÉ, OBSERVADA POR SULAMITA, SENTADA, COSTURANDO.

 ISADORA - Senhorinha, a senhora quer fazer o favor de afastar essa mulher daqui? Eu tenho medo. Não posso tomar café com uma louca me olhando.
 SENHORINHA - (aproximou-se de Sulamita e falou brandamente) Dona Sulamita, a senhora não quer dar uma volta na piscina? Está um sol muito bonito!
 SULAMITA - (mostrou a língua para Isadora e virou-se para Senhorinha) Agora não posso. Estou muito ocupada. Tenho que terminar este vestido até a semana que vem. Sabe, ele pode chegar de repente...
 SENHORINHA - Mas a senhora podia continuar costurando lá mesmo.
 SULAMITA - (fitou Isadora, desafiadora) Não. Vou ficar aqui!

A GOVERNANTA FEZ UM GESTO DE IMPOTÊNCIA PARA ISADORA, QUE SAIU PARA O SEU QUARTO, RESMUNGANDO.

 ISADORA - Que inferno! Eu sabia que isso não ia dar certo! Eu sabia!
 SULAMITA - Senhorinha, você já recebeu a correspondência?
 SENHORINHA - Ainda não, dona Sulamita.
 SULAMITA - (irritou-se) Não é possível! Augusto deve estar interceptando as minhas cartas! Lá no Sanatório faziam a mesma coisa. Roberto nunca passou uma semana sem me escrever!

OLHOU, ENLEVADA, PARA UMA FOTOGRAFIA DO CANTOR
ROBERTO CARLOS SOBRE A MESA.

 SULAMITA - O meu querido Roberto!

CORTA PARA:
CENA 4 - “FOLHA DO RIO” - SALA DE DANTE - INT. - DIA.

A MENÇÃO DE UM NOVO NOME NO CASO DIANA MOLINA TIROU POR COMPLETO O SONO DE MARCOS, ASSIM COMO TINHA TIRADO O DE DANTE GURGEL. NO DIA SEGUINTE, MARCOS DIRIGIU-SE À REDAÇÃO DO JORNAL PARA SABER COMO ESTAVAM AS INVESTIGAÇÕES.

DANTE - Bem, procurei, por conta própria levantar outros detalhes, nomes de pessoas que teriam algum envolvimento com Diana, conhecidos, até que cheguei aos de Selminha, Fred Gaspar, Hugo Matias, e alguns mais, que a polícia nem ouviu, sequer! (coçou o queixo, pensativo) Conversei com o delegado Justo Nogueira e achei muito estranho que os depoimentos dessas pessoas, inclusive o dos garçons, não constasse dos autos.
 MARCOS - Então falou com os amigos de Diana? Eles sabem quem é Lucrécia?
 DANTE - Falei com Isadora e Selminha... Não conhecem
ninguém com esse nome!
 MARCOS - Que estranho...
 DANTE - Só falta falar com Alfredinho. Marquei com ele hoje à noite, no Castelinho. É bem provável que ele saiba quem é esta mulher.

CORTA PARA:
CENA 5 - CASTELINHO - EXT. - NOITE.

À NOITE, DANTE E ALFREDINHO ENCONTRARAM-SE NA ENTRADA DO CASTELINHO.

 ALFREDINHO - Fala, Dante! Quer falar comigo?
 DANTE - (apertaram-se as mãos) Fala, meu camarada! Quero sim. Você conhece uma mulher chamada Lucrécia?
 ALFREDINHO - Lucrécia? (e deu um sorriso de mofa) Gozado... Muito gozado.
 DANTE - Por quê? Você sabe quem é?
 ALFREDINHO - Lucrécia?... Claro que sei...
DANTE - Então fale de uma vez! Eu e Marcos estamos empenhados em descobrir quem é essa mulher!
 ALFREDINHO - Peraí... esse Marcos não é o padreco?
 DANTE - É... ele mesmo.
 ALFREDINHO - (dando tapinhas no ombro do repórter) Olha, Dante, sinto muito, mas não vou facilitar a vida desse cara! Por mim, vocês não vão saber nada! Fui!

ALFREDINHO DEU PARTIDA NA MOTO E ARRANCOU.

CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE NOÊMIA - SALA - INT. - DIA.

JORGE ALBERTO CHEGOU AO APARTAMENTO DA IRMÃ, ATENDENDO SEU CHAMADO, E ENCONTROU-A NERVOSA, COM UM COPO DE UÍSQUE NA MÃO.

 JORGE ALBERTO - Minha irmã, você não acha que está bebendo demais? Que horror! Você sabe que isso só a afasta cada vez mais de sua filha!
 NOEMIA - Jorge, preciso de sua ajuda! Meu marido, o armador sueco, está no Brasil à minha procura para regressar à Europa!
 JORGE ALBERTO - E por que você não volta com ele? Ele não sabe que você mora neste apartamento?
 NOEMIA - Não. Eu menti. Disse que estava num hotel. Não quero voltar à Suécia, pelo menos enquanto não conseguir arrebatar minha filha das mãos de Marcelão! Não volto... muito embora as probabilidades tenham sido reduzidas a menos da metade, depois do escândalo da bebedeira. O problema é que, mais cedo ou mais tarde, vai acabar me descobrindo aqui. Ele sabe que tenho este imóvel... e pensa que está alugado! DOCE BALANÇO CAPÍTULO 42 PÁGINA 07
 JORGE ALBERTO - Não sei como ajudá-la... O que quer que eu faça?
 NOEMIA - Posso ficar... na sua casa?
 JORGE ALBERTO - Ah, não! Na minha casa, não! Sinto muito, irmãzinha, mas adoro morar só, sem ninguém pra interferir na minha vida! Definitivamente, não daria certo!
 NOEMIA - Aquele canalha do Marcelão! Se não fosse tão cafajeste... Você viu como ele continua bonitão? Parece que, com o passar dos anos, fica mais charmoso, mais interessante...
 JORGE ALBERTO - (malicioso) É impressão minha ou esse entusiasmo está um pouco exagerado?
 NOEMIA - Apesar de tudo, não consigo sentir ódio dele, sabia? (fez uma pausa) Isso mesmo! Tive uma idéia! Por que não pensei nisso antes?
 JORGE ALBERTO - Não entendi... o que você pretende fazer?
 NOEMIA - Me aguarde, irmãozinho! Me aguarde!

CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE MALU - SALA - INT. - NOITE.

ERA QUASE MEIA-NOITE QUANDO O TELEFONE TOCOU. MARCOS ATENDEU.

 MARCOS - Alô, pode falar... aqui é Marcos Ventura.
 VOZ DE MULHER - (off) Oi. É com você mesmo que eu quero falar. Eu fui amiga de Diana. Me disseram que você está à minha procura. Aqui é Lucrécia.
 MARCOS - (estremeceu) Estou, sim. Onde podemos nos encontrar?
VOZ DE MULHER - (off) Você sabe onde é a Boate do Diabo? Estarei a sua espera hoje, depois da meia-noite. Não precisa se incomodar comigo, pois eu te conheço. Tchau...

OS PENSAMENTOS DE MARCOS FERVILHAVAM. MILHARES DE LEMBRANÇAS ACUDIAM-LHE À MENTE. AS PALAVRAS DE MANOLO, O GARÇON DO CASTELINHO, ECOAVAM EM SEUS OUVIDOS: “SÓ SEI QUE A MORENA DISSE, DA SEGUNDA VEZ: SE DISSER MAIS UMA VEZ ESSE NOME, EU TE DOU NA CARA!” O RELÓGIO DA SALA BATEU MEIA-NOITE.

 MALU - (off) Marcos, você não vem dormir?

MALU VIU PELA PORTA DO QUARTO QUE O MARIDO PROCURAVA ALGUMA COISA NA GAVETA DA MESINHA DA SALA.

 MALU - O que você tá procurando, amor?
 MARCOS - Estou procurando um analgésico. Estou com dor de cabeça (e depois de certa hesitação) Acho que vou à farmácia comprar. Durma você, eu volto já. Té logo.

E SAIU.

CORTA PARA:
CENA 8 - BOATE DO DIABO - INT. - NOITE.

A BOATE DO DIABO ERA UM INFERNINHO. ESFUMAÇADO E DEPRIMENTE COMO TODOS ELES. A DECORAÇÃO FAZIA JUS AO NOME: ERA DIABÓLICA, ALUCINATÓRIA. ILUMINAÇÃO, QUASE NENHUMA. TODOS OS FREQUENTADORES USAVAM MÁSCARAS. AS MULHERES TINHAM O ROSTO PINTADO DE BRANCO. MARCOS FICOU PARADO NA PORTA, SEM CORAGEM DE ENTRAR. 

 ALFREDINHO - (cochichou para Julio Biruta) Chegou o nosso homem.

JULIO BIRUTA COCHICHOU NO OUVIDO DE SUA GAROTA, QUE SE LEVANTOU E FOI COCHICHAR COM OUTRA. UMA DELAS FOI ATÉ A PORTA, TOMOU MARCOS PELA MÃO E INICIOU UMA DANÇA SENSUAL.

 MARCOS - Você é Lucrécia?

A GAROTA RIU E AFASTOU-SE. DE REPENTE ELE FOI ENVOLVIDO PELAS OUTRAS MOÇAS, QUE RODARAM À SUA VOLTA, DEIXANDO-O ATORDOADO. POR FIM, MARCOS CAIU SENTADO NUMA CADEIRA. A MÚSICA ERA ENSURDECEDORA.

 ALFREDINHO - (gritou) Bebida para ele!
 MARCOS - Não, obrigado. Eu só vim procurar uma pessoa.

JULIO ENCHEU UM COPO DE UÍSQUE.

 ALFREDINHO - Que pessoa?
 MARCOS - Uma moça chamada Lucrécia. O senhor conhece?
 ALFREDINHO - Claro que conheço. Ela não está aqui. Mas vai chegar.

MARCELÃO, QUE TAMBÉM ESTAVA NO LOCAL, APROXIMOUSE.

 MARCELÃO - Lucrécia? Quem falou em Lucrécia?
JULIO APONTOU PARA MARCOS, QUE ATÉ ESSE INSTANTE NÃO TINHA RECONHECIDO NENHUM DELES, TODOS MASCARADOS.
 JULIO BIRUTA - Foi ele. Veio encontrar-se com Lucrécia.  

ALFREDINHO COLOCOU QUALQUER COISA DENTRO DO UÍSQUE DE MARCOS, QUE NÃO PERCEBEU.

 MARCOS - (apurando o ouvido para a voz que falava atrás da máscara) Espera aí, eu acho que conheço vocês. Já ouvi essa voz.
UMA GAROTA COLOCOU UMA MÁSCARA NO SEU ROSTO. MARCOS NÃO RESISTIU. ELA OBRIGOU-O A BEBER. ELE ESTAVA ATORDOADO. MAS PERCEBEU QUE ALFREDINHO – A VOZ ERA DELE, NÃO TINHA DÚVIDA – SE AFASTAVA COM O CELULAR E COMEÇAVA A DISCAR.

 ALFREDINHO - (ao celular) Olha, você quer encontrar seu marido, venha aqui na Boate do Diabo. Venha, que ele está atrás de uma tal de Lucrécia.

CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DE MALU - QUARTO - INTERIOR -NOITE.

DO OUTRO LADO DA LINHA, COM O FONE NO OUVIDO, MALU PULOU DA CAMA, ATORDOADA.

 MALU - Lucrécia!


FIM DO CAPÍTULO 42

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