CENA 1 – APARTAMENTO DE MALU -
SALA - INT. - DIA.
MARCOS CHEGOU EM CASA E MALU
FOI AO SEU ENCONTRO, TRAJANDO UM AVENTAL.
MALU - Oi, amor! Estava na cozinha, tentando
decifrar o livro de receitas da Senhorinha, pra fazer um suflê de legumes pra você.
Quero muito saber cozinhar para o meu maridinho...
ABRAÇOU-O, APAIXONADA. MARCOS
PARECEU NÃO OUVI-LA.
MARCOS - (falou, a voz grave) Malu... você se
encontrou com Diana, na noite em que ela foi assassinada?
MALU - (fitou-o, atordoada) Nossa, que pergunta,
assim, sem mais nem menos...
MARCOS - Esteve ou não?
MALU - Não. Você acha que se eu tivesse me
encontrado com ela naquela noite, não teria lhe contado?
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE
MARCELÃO - SALA - INT. -DIA.
TIA LALINHA ESTAVA CONCENTRADA
FAZENDO UMA MANTA DE CROCHÊ, ENQUANTO LAURINHA BRINCAVA COM SUAS BONECAS.
MARCELÃO APROXIMOU-SE E SENTOU-SE AO LADO DA TIA.
MARCELÃO - (procurando as palavras com
cuidado) Tia... eu estou preocupado, sabe?
TIA LALINHA - (ergueu os olhos sobre os
óculos)
Preocupado com o quê,
Marcelinho?
MARCELÃO - A senhora conhece a minha
profissão... os perigos que tenho de enfrentar como agente internacional, não sabe?
TIA LALINHA - (sacudindo a cabeça) Ai,
Celinho, você precisa arrumar outra profissão! Não gosto nem de pensar nos riscos
que você corre!
MARCELÃO - Pois é, tia... Tem uns espiões
russos que estão vindo para o Rio, à minha procura... e vou ter que enfrentá-los.
Tenho pensado muito na senhora e na Laurinha... Não quero que façam nada de mal
a vocês... Por isso, acho melhor passarem um tempo em Niterói, como medida de
segurança...
TIA LALINHA - (assustada) Que horror,
Marcelinho! Então, acho melhor irmos todos pra minha casa! Assim você também
não corre risco! Fica escondido lá até eles irem embora!
MARCELÃO - Não, de jeito nenhum, tia! E se
eles me descobrirem lá? Vão saber onde é sua casa, também! Não, não! Não posso
pôr a vida de vocês em perigo...
TIA LALINHA - Mas e você? E se capturarem
você? Vão te torturar, Celinho, até contar tudo o que sabe!
MARCELÃO - Eu sei me cuidar, tia. Pode
deixar...
TIA LALINHA - Sendo assim, é melhor eu e
Laurinha voltarmos pra Niterói. Celinho, eu adoro você, meu filho, mas estou morrendo
de saudades da minha casa, das minhas plantinhas... Sabia que Laurinha também
vive perguntando pelas amiguinhas? Vai ser muito bom pra nós, voltar pra
casa.... Mas, e você?
MARCELÃO - Vai dar tudo certo, prometo! E vou
ver vocês toda semana, como sempre fiz, tia!
TIA LALINHA - (fitou-o, carinhosamente) Ah,
Celinho, você é um menino de ouro!
MARCELÃO BEIJOU A TIA NA TESTA
E PISCOU, DISFARÇADAMENTE PARA VOSKOPOULUS, QUE ASSISTIA A TUDO COM UM LEVE
SORRISO DE IRONIA NOS LÁBIOS.
CORTA PARA:
CENA 3 - CASTELINHO - INT. -
DIA.
MARCOS ACORDOU CEDO. ANTES DE
IR À ESCOLA EM COPACABANA TRATAR DO EMPREGO DE PROFESSOR, PASSOU NO CASTELINHO,
POIS A CONVERSA COM DANTE GURGEL NO DIA ANTERIOR NÃO LHE SAÍA DA CABEÇA.
MARCOS - Bom dia! Eu gostaria de falar com o
senhor Manolo... ele é garçom.
AO OUVIR SEU NOME, MANOLO, UM
HOMEM EM TORNO DE 40 ANOS, APROXIMOU-SE.
MANOLO - Sou eu. Em que posso servi-lo?
MARCOS - Como vai? Meu nome é Marcos Ventura.
Sou amigo de Dante Gurgel. Queria lhe falar sobre o assassinato de Diana
Molina. Ele me disse que o senhor viu Diana conversando com uma morena, de
olhos grandes, pouco antes do crime...
MANOLO - Olha, moço, não foi bem assim. Aqui
vêm muita gente, e não tem como lembrar de todos que vem aqui...
MARCOS - (insistiu) Eu entendo, Seu Manolo...
mas o senhor se recorda que Diana esteve aqui, com uma moça, momentos antes de
ser assassinada?
MANOLO - (desconfiado) Sim... sim, isso eu não
posso negar.
MARCOS - Por favor, é muito importante... o
senhor lembra de algo, de alguma conversa entre elas, uma frase?...
MANOLO - (comprimiu os olhos, puxando pela
memória) Tem uma coisa que me chamou a atenção, sim... Dona Diana falava muito
no nome de uma mulher, e isso irritava bastante a outra morena!
MARCOS - (ansioso) O senhor lembra desse nome?
Por favor, tente recordar...
MANOLO - Sim, lembro o nome! Duas vezes fui
levar bebidas. Duas vezes ouvi Diana falar de uma tal Lucrécia.
MARCOS - Lucrécia? Quem era Lucrécia? A moça
que estava com ela?
MANOLO - Não sei. Não deu pra entender. Só sei
que a morena disse, da segunda vez: se falar novamente este nome, eu te dou na
cara. Mais nada.
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - DIA.
MALU CHEGOU À CASA DO PAI E
FOI RECEBIDA COM ALEGRIA POR SENHORINHA.
SENHORINHA - (abraçando-a) Que saudade, minha querida!
Me conta, como está a vida de casada?
MALU - (beijou-a no rosto, carinhosa) Melhor,
impossível, Senhorinha! Marcos é um homem maravilhoso. Amável e cheio de cuidados
para comigo. Não posso me queixar.
SENHORINHA - Fico feliz em saber. Você sabe
que torço e rezo muito pela sua felicidade!
MALU - Eu sei, Senhorinha. Você é a referencia
que eu tive em toda a minha vida como a mãe que sempre cuidou de mim, me deu
carinho, broncas... (respirou fundo e falou, séria) Senhorinha... tem uma coisa
que não me sai da cabeça: minha mãe.
SENHORINHA FITOU-A,
APREENSIVA, ADIVINHANDO OS RUMOS QUE A CONVERSA TOMARIA…
MALU - (continuou) Senhorinha... por favor, eu
confio muito em você, e sei que não mentiria pra mim. É sobre aquela mulher que
invadiu meu quarto no dia do meu casamento... Me diga, Senhorinha... ela... é
minha mãe, não é?
SENHORINHA - (após uma breve pausa, afirmou)
Não há como negar isso, Malu. Sim, Sulamita é sua mãe.
MALU - (reagiu, emocionada) Eu sabia! Desde
aquele dia ela não me saiu mais da cabeça! Senhorinha, eu preciso encontrá-la.
Você sabe onde ela está, não sabe?
SENHORINHA – É verdade. Eu sei onde fica a
Casa de Saúde que sua mãe está internada.
MALU - (quase suplicante) Senhorinha... me
leve até ela! Por favor!
CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE
GERMANO - SALA - INT. -DIA.
A CAMPAINHA TOCOU E CARMEN
ABRIU A PORTA. ERA MARCOS.
CARMEN - Marcos! Que surpresa! Já voltaram da
lua-demel?
MARCOS - (beijou-a no rosto) Voltamos ontem.
Como vai,
D. Carmen? E seu Germano?
CARMEN - Tudo na mesma. Germano está no banco,
trabalhando. Estou indo para o salão daqui a pouco...
MARCOS - D. Carmen, mesmo estando casado, não
vou desistir de descobrir por que fizeram aquilo com Diana... É por isso que
estou aqui. Por acaso,a senhora já ouviu falar de uma mulher chamada Lucrécia?
CARMEN - (fez uma pausa, pensativa)
Lucrécia... Lucrécia... já ouvi este nome... Já sei! Li esse nome no diário
dela! Vamos ver!
OS DOIS ENCAMINHARAM-SE PARA O
QUARTO DE DIANA.
CORTA PARA:
CENA 6 - CASA DE SAÚDE - PÁTIO
- EXTERIOR - DIA.
O DR. LEIVAS DIRIGIU-SE PARA O
ENORME PÁTIO DA CASADE SAÚDE, SEGUIDO DE PERTO POR MALU E SENHORINHA.
DR. LEIVAS - Ela gosta muito de ficar aqui.
Costuma ficar horas sozinha, fazendo seus bordados.
MALU - (emocionada) Meu Deus... esperei tanto
por esse momento... nunca pensei que fosse encontrar minha mãe num lugar como
esse!...
DR. LEIVAS - Desculpe, Malu, mas sua mãe é
muito bem tratada aqui.... Seu pai não deixa faltar nada... As enfermeiras cuidam
muito bem dela.
MALU - Eu não quis dizer isso, doutor. É que
me fizeram acreditar que minha mãe morava em Nova York, que era uma pessoa
realizada, saudável. independente...
SENHORINHA - (apontou para um banco, onde
Sulamita bordava uma toalha, distraída) Malu, querida... veja... aquela é sua mãe!
COM O CORAÇÃO AOS PULOS, MALU
APROXIMOU-SE DA SENHORA, SOB O OLHAR ATENTO DE SENHORINHA E DO DR. LEIVAS.
MALU - Mamãe! Minha mãe!
SULAMITA ERGUEU OS OLHOS, SURPRESA, E FITOU
MALU POR ALGUNS INSTANTES. EM SEGUIDA, LEVANTOU-SE, DEIXANDO O BORDADO CAIR NO
CHÃO.
SULAMITA - Maria Luíza... minha filha! É você
mesma?
MALU - (abriu os braços, com lágrimas nos
olhos) Sou eu, minha mãe. Vim buscar você.
SULAMITA - Minha filha! Verdade mesmo? Vai me
levar... pra casa?
MALU - Vou, minha querida.
SULAMITA - (apanhou o pano do chão) Eu...
posso levar meus bordados?
MALU SORRIU, COM TERNURA NO
OLHAR.
MALU - É claro que pode, minha querida. Pode
levar o que
quiser. A jovem acariciou os
cabelos prateados da mãe, sob o olhar emocionado de Senhorinha e do Dr. Leivas.
CORTA PARA;
CENA 7 - APARTAMENTO DE
GERMANO - QUARTO DE DIANA - INT. - DIA.
CARMEN ABRIU UMA GAVETA,
RETIROU O DIÁRIO E FOLHEOU ALGUMAS PÁGINAS.
CARMEN - Achei! Quer ver? Está aqui, olhe:
“Hoje Lucrécia me encheu a paciência. Estou desesperada! Não sei mais o que fazer!!”
São palavras de minha filha.
MARCOS - Mas então... a senhora e seu Germano
nem imaginam quem seja Lucrécia?
CARMEN - Não temos a menor idéia! Aliás, nunca
soubemos que Diana tivesse uma amiga com esse nome.
MARCOS - (constatou) Porém amiga, conhecida,
seja o que fosse, Lucrécia existe, eu agora tenho certeza! E Diana estava desesperada,
o que torna a coisa mais misteriosa!
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE MONTEIRO
PRADO - SALA -INT. - NOITE.
ERAM QUASE 7 DA NOITE, QUANDO
MALU ADENTROU O APARTAMENTO DO PAI EM COMPANHIA DE SENHORINHA E DA MÃE,
SULAMITA.
MALU - (mostrou à mãe uma confortável
poltrona) Sente-se aqui, minha mãe. (e para Senhorinha) Onde está meu pai?
SENHORINHA - Pela hora, deve estar no
escritório...
CENA 9 - APARTAMENTO DE
MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - NOITE.
MONTEIRO PRADO FUMAVA UM
CHARUTO E LIA UM JORNAL, QUANDO MALU ENTROU NO RECINTO.
MALU - Meu pai!
MONTEIRO PRADO - (ergueu os olhos e sorriu,
feliz) Filha! Mas que surpresa boa!
ABRAÇARAM-SE, EMOCIONADOS.
MALU - Estava morrendo de saudades!
MONTEIRO PRADO - Nem me fale! Me conte, como
foi a viagem? E Marcos?
MALU - Saiu cedo. Estava ansioso pra ver se
consegue um emprego de professor numa escola em Copacabana.
MONTEIRO PRADO - Você sabe que, se ele
concordasse, poderia trabalhar comigo no banco. Só que ele, educadamente, recusou
minha proposta...
MALU - Pois é, ele quer procurar seu próprio
caminho, sabe como é...
MONTEIRO PRADO - (resignado) Eu entendo.
Marcos é um homem íntegro, correto... e orgulhoso.
MALU - Pai... eu trouxe uma pessoa comigo....
ela está na sala...
MONTEIRO PRADO - Quem?
MALU - Minha mãe.
MONTEIRO PRADO EMPALIDECEU.
MONTEIRO PRADO - Sua mãe? Então você...
descobriu tudo?
MALU - (assentiu) Sim... Obriguei Senhorinha a
me levar até ela.
MONTEIRO PRADO - Filha, me perdoe. Só inventei
aquela história dos Estados Unidos pra poupar você de mais um sofrimento...
Tentei proteger você e fiz tudo errado...
MALU - (tranquilizou-o) Senhorinha me contou
tudo. Sei que você teve a melhor das intenções... Mas agora, temos que fazer o
que é certo. Minha mãe, finalmente, está em casa. Na casa que, por direito, lhe
pertence. Quero pedir seu consentimento para recebê-la de volta!
MONTEIRO PRADO - (aflito) Mas Malu, sua mãe é
uma esquizofrênica! Ela precisa de tratamento.
MALU - Eu sei que ela é esquizofrênica. Já me
convenci disso, e nesse estado, precisa de cuidados, ao invés de ficar relegada
ao esquecimento numa Casa de Saúde. Podemos contratar uma enfermeira para
cuidar dela aqui, 24 horas por dia.
MONTEIRO PRADO - (suspirou, resignado) Filha,
eu não tenho como negar isso a você. Mas... e Isadora? Como vai reagir quando
souber?
A PORTA SE ABRIU E ISADORA
ENTROU, NERVOSA.
ISADORA - Posso saber o que está acontecendo
aqui? O que aquela mulher está fazendo, na sala?
MALU - (indignada) Quem você pensa que é pra
falar assim? Dobre a língua quando falar dela! Aquela mulher é minha mãe e eu
exijo respeito!
ISADORA - Falo como esposa de seu pai! (e para
o marido)
Monteiro... eu não acredito
que vai trazer esta mulher pra morar aqui! Diga que estou enganada!
MONTEIRO PRADO - Calma, Isadora, vamos
conversar...
ISADORA - Se for isso, é um desaforo, uma
imoralidade sua, trazer para dentro de casa uma ex-mulher! Daqui a pouco o senhor
traz as outras também e transforma isto num harém! Monteiro, o sultão! Essa,
não! Da minha parte, pode ficar com todas! Ou melhor: se trouxer esta senhora
pra morar aqui, eu vou embora! A escolha é sua!
MALU - (avançou, fora de si) Mas o que é que
essa Gata Amarela está querendo? Expulsar minha mãe daqui? De jeito nenhum. Ou
ela fica aqui, ou vai morar comigo!
ISADORA - Ótimo! Acho que o lugar dela é mesmo
com você!
MALU - Que é que você tá querendo dizer?
ISADORA - Não estou querendo dizer nada. Tou
falando claro: se ela não sair desta casa, saio eu!
MALU - (gritou) Pois então, saia você!
ISADORA - (ofendida) É pra já! Depois eu aviso
pra onde você, Monteiro, deve mandar minhas coisas.
MALU - (fez um gesto de mofa) Não é preciso.
Todo mundo sabe pra onde você vai: pro apartamento de Marcelão! (e arrematando)
Todo mundo sabe que você é gamada por ele e só está esperando uma chance de
pedir o divórcio, pegar uma bolada e se mandar! Só meu pai não enxerga isso!
MONTEIRO PRADO - (indignado) Mas... que
história é essa?! Fale, Isadora. Exijo uma explicação!
FIM DO CAPÍTULO 41
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