CENA 1 - BOATE DO DIABO - INT.
- NOITE.
MESMO ATORDOADO, MARCOS
RECONHECEU A VOZ DE ALFREDINHO POR TRÁS DA MÁSCARA, E PERCEBEU SUA JOGADA
MALDOSA LIGANDO PARA MALU. NUM ÁTIMO, AVANÇOU PARA ELE E DEU-LHE UM TREMENDO
SOCO NO ROSTO, ATIRANDO-O LONGE.
MARCOS - Patife! Canalha!
ALFREDINHO CAIU. LEVANTOU-SE,
PREPARANDO-SE PARA REVIDAR, MAS NÃO FOI NECESSÁRIO. MARCOS CAMBALEOU, SOB O
EFEITO DA DROGA E CAIU PESADAMENTE NO CHÃO DA BOATE, DESACORDADO.
ALFREDINHO - Fica aí, lambendo o chão, padreco
idiota! (acenou para os presentes) Bom, pessoal, vou meter o pé! Vem comigo,
Julio?
JULIO BIRUTA - Tamo junto, mano!
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE
VALÉRIA - SALA - INT. -NOITE.
ERA MADRUGADA QUANDO
ALFREDINHO E JULIO BIRUTA RETORNARAM AO APARTAMENTO DE VALÉRIA.
JULIO BIRUTA - Mas por que é que ele anda
atrás dessa tal Lucrécia?
ALFREDINHO - Sei lá. Eu acho que não existe
Lucrécia nenhuma. Esse foi o apelido que Diana botou em Malu, por causa do
jeito dela, meio doidona, querendo mandar em todo mundo.
JULIO BIRUTA - Boa, essa é boa. Ele tá
procurando uma mulher que é a mulher dele.
OS DOIS RIRAM.
JULIO BIRUTA - (parou de súbito) Mas escuta,
será que não aconteceu nada com ele? Parecia morto, quando a gente saiu da
boate.
ALFREDINHO - Tava não. É que ele é frouxo.
Muito frouxo.
JULIO BIRUTA - (lembrou a briga) Mas te
acertou um direito que vou te contar! Mesmo bêbado, ele é fogo!
ALFREDINHO - (passou a mão no rosto machucado)
É, o padreco pega bem, às vezes (olhou-se num espelho) Tou preocupado não é com
isso, mas em descobrir por que ele quer saber quem é Lucrécia. Manolo, o garçom
lá do Castelinho, me disse que ele andou fazendo umas perguntas. Mas vai entrar
bem, olha o que tou te dizendo!
CORTA PARA;
CENA 3 - BOATE DO DIABO - INT.
- NOITE.
MALU ENTROU NA BOATE, AFLITA,
E FOI LEVADA POR UM MASCARADO, À PRESENÇA DO MARIDO, QUE PERMANECIA DESACORDADO,
DEBRUÇADO A UMA MESA NUM CANTO ESCURO DA BOATE. AUXILIADA PELO MASCARADO, SAIU
COM MARCOS DO INFERNINHO, ARRASTANDO-O COM DIFICULDADE, APOIADO PELOS OMBROS.
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE MALU -
QUARTO - INT. - DIA.
NO DIA SEGUINTE, MARCOS ABRIU
OS OLHOS, AINDA ATORDOADO. PROCUROU MALU NA CAMA, MAS SEU LADO ESTAVA VAZIO.
MARCOS - Que dor de cabeça... o que aconteceu?
Malu!
MALU ENTROU NO QUARTO, JÁ
ARRUMADA.
MALU - (falou com frieza) Tome um banho e
vista-se. Precisamos ter uma conversa.
CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE MALU -
SALA DE JANTAR -INT. – DIA
ENQUANTO TOMAVAM O CAFÉ DA
MANHÃ, CONVERSAVAM.
MALU - Se tivesse me perguntado quem é
Lucrécia, teria nos poupado do vexame de ontem à noite!
MARCOS - Desculpe... eu não podia imaginar...
Você sabe quem é Lucrécia?
MALU - Você está diante dela! Sou eu!
MARCOS - (se assustou com a declaração de
Malu) Você é
Lucrécia!
MALU SACUDIU A CABEÇA,
AFIRMATIVAMENTE.
MARCOS - Mas... não entendo a razão...
MALU - Eu também não entendo porque você não
consegue se libertar de Diana. Ao menos em respeito a mim, você devia fazer um
esforço. Afinal, é muito chato casar com um homem e ver que ele continua
amarrado a outra mulher, embora essa mulher já tenha morrido.
MARCOS BAIXOU A CABEÇA.
MARCOS - Malu, eu não continuo preso a Diana
do jeito que você imagina. Mas sim, ao que aconteceu a ela. Todos nós ainda
estamos presos a isso e não há maneira de nos libertarmos, enquanto tudo não
for esclarecido.
MALU - (deu de ombros e respondeu, pensativa)
Mas não cabe a mim, nem a você, esclarecer nada!
MARCOS - Disso é que eu discordo. Não é por
Diana, é por nós mesmos.
MALU - Diana, Diana... Tou cheia de ouvir esse
nome! (gritou, e antes que Marcos pudesse dizer alguma coisa, saiu abruptamente
da sala de jantar).
MARCOS LEVANTOU-SE E FOI ATRÁS
DELA.
CENA 6 - APARTAMENTO DE MALU -
SALA - INT. - DIA.
MARCOS - Malu, você me desculpe. Mas isso é
muito importante para nós, acredite. Nossa felicidade agora depende disso
também!
MALU - (ergueu os olhos e perguntou,
sarcásticamente) De quê?
MARCOS - De suplantarmos todos esses
problemas. Para isso, é preciso não fugirmos deles, mas sim, olharmos tudo de frente,
ter a consciência tranquila. Apenas, no momento, só estou querendo que você me
explique por que disse que é Lucrécia.
MALU RIU.
MALU - Não há nenhuma Lúcrécia. Isso era uma
brincadeira que Diana gostava de fazer e me irritava muito. Quando nós brigávamos,
ela me chamava de Lucrécia Bórgia. Justamente porque sabia que eu não gostava!
CORTA PARA:
CENA 7 - DELEGACIA - SALA DO
DELEGADO NOGUEIRA -INT.
NOGUEIRA LIA UM JORNAL.
VISÌVELMENTE NERVOSO. ATIROU-O SOBRE A MESA. LEVANTOU-SE E DIRIGIU-SE A AMADEU,
QUE ENTRAVA NA SALA:
DELEGADO NOGUEIRA - Valéria continua a se
dizer inocente. E aquele tal de Dante Gurgel resolveu agora fazer com ela o
mesmo que fez com Diana Molina: de ré, Valéria passou a ser vítima. Vítima da
Polícia. De mim.
O DETETIVE DISSE QUALQUER
COISA. NOGUEIRA NÃO OUVIU. ESTAVA PERDIDO NAS PRÓPRIAS IDÉIAS.
DELEGADO NOGUEIRA - Escute, Amadeu, você está mesmo
convencido de que foi ela?
DETETIVE AMADEU - Estou.
DELEGADO NOGUEIRA - Pois olhe, vou lhe
confessar uma coisa: não estou mais. Estive revendo o processo, e quando terminei,
estava em dúvida. E esta dúvida está mexendo com meus nervos! Justamente porque
nós sabemos como a confissão foi obtida. Agora, há outros indícios, como por
exemplo a declaração do garçom de que a vítima estava com uma moça morena, de
olhos grandes, minutos antes do crime. (e súbito) Espera aí... Selminha, minha
filha, era amiga de Diana... é morena e tem olhos grandes...
DETETIVE AMADEU - Selminha? Será...
DELEGADO NOGUEIRA - (cortou, levantando-se) Eu
poderia ligar pra ela e perguntar... mas acho melhor fazer isso pessoalmente.
Amadeu, vou até minha casa!
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DO
DELEGADO NOGUEIRA -SALA - INT. - DIA.
SELMINHA - (negou) Não. Não era eu.
DELEGADO NOGUEIRA - Filha, por favor, tente se
lembrar de alguma coisa... É muito importante. Você viu ou falou com Diana naquela
noite?
SELMINHA - Não, meu pai. Não vi nem falei com
Diana. Naquela noite fui ao cinema com Fred Gaspar. Me lembro até do filme.
“Qualquer Gato Viralata”, com Cléo Pires. Depois a gente encontrou Hugo Matias
no Jangadeiros. Dali fomos para o Castelinho. Era mais ou menos uma hora. Porém
Diana não estava lá. Pelo menos eu não vi.
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DE
MARCELÃO - SALA - INT. -NOITE.
“ALELUIA, ALELUIA”.
VOSKOPOULUS ABRIU A PORTA. ERA NOEMIA.
NOEMIA - (sorriu, amável) Boa noite. Eu
gostaria de falar com Marcelão.
O MORDOMO OLHOU-A,
DESCONFIADO. MOSTROU-LHE A POLTRONA E FOI CHAMAR O PATRÃO.
MARCELÃO - (entrando na sala, surpreso) Madame
X! Quis dizer... Noemia... você!
NOEMIA - Surpreso, Marcelo? E olhe, não
precisa ficar embaraçado... eu sei que você me chama de Madame X. Não ligo. (olhou
para o mordomo) Podemos conversar em particular?
MARCELÃO - (desconfiado) Claro... claro. Vamos
pro ateliê.
CORTA PARA:
CENA 10 - APARTAMENTO DE
MARCELÃO - ATELIÊ - INT. - NOITE.
MARCELÃO - Pronto. Diga o que quer.
NOEMIA APROXIMOU-SE E OLHOU-O
DOS PÉS À CABEÇA, COM AR SEDUTOR.
NOEMIA - Você continua bonitão, Marcelo. O
tempo foi generoso com você. Ficou ainda mais interessante... se é que isso é
possível!
MARCELÃO - (seco) Fale de uma vez, Noemia. O
que quer? O que tá planejando desta vez, pra tirar Laurinha de mim?
NOEMIA - (ofendida) Meu Deus, que imagem
terrível você faz de mim! Vim de coração aberto, desarmada, e você me trata assim!
(acariciou-lhe o rosto) Relaxa, Marcelo... Sabe, estive pensando muito em tudo
o que aconteceu... Não quero continuar essa guerra com você. Afinal, somos os
pais de Laurinha. Você sabe, esses laços são para toda a vida. Não é bom para a
menina ser criada assim, com os pais brigando, se odiando...
MARCELÃO - Ok, diga que não vai mais tentar
tirar
Laurinha de mim e que vai
voltar pra Europa pra sempre. Só assim poderemos ser os melhores amigos deste
mundo!
NOEMIA - Pare de me agredir, Renato! Vim aqui
com a melhor das intenções! Eu... eu preciso da sua ajuda!
MARCELÃO - Pra quê?
NOEMIA - Meu marido, o armador sueco, está no
Brasil à minha procura. Quer me levar pra Europa, mas não quero voltar agora.
Marcelo... posso ficar uns dias aqui, escondida na sua casa?
MARCELÃO - Aqui?!
NOEMIA - Por que esse espanto? Vai ser bom.
Quem sabe a gente não descobre outro jeito de resolver o problema da nossa filha?
MARCELÃO - O... o que você quer dizer com
isso?
NOEMIA - (fitou-o nos olhos, com ardor) Quem
sabe a gente não precise mais escolher com quem nossa filha vai ficar...
MARCELÃO - (com ironia) Ficou louca? Olha, se
eu puder ajudar esse tal armador a levar você pra sempre e o mais depressa possível,
ele pode contar comigo! Nada feito, Madame X! Não perca seu tempo! E quer um
conselho? Volte pra sua vidinha de dondoca na Europa, porque não vai levar a
Laurinha com você. Ainda mais, depois do vexame daquela bebedeira e da sua
prisão!...
NOEMIA - (lívida) Que você armou contra mim!
Que golpe baixo, hem, Marcelão!
MARCELÃO - Agora, se me dá licença, tenho uma
coisa importantíssima pra fazer: vou à praia!
NOEMIA TREMIA DE RAIVA.
NOEMIA - Cafajeste! Nunca fui tão humilhada!
Você me paga, Marcelão! Isso não vai ficar assim!
NOEMIA DEU-LHE AS COSTAS E
SAIU.
MARCELÃO - Ora, mas vejam só... Madame X veio
me passar uma cantada!... Era só o que faltava!!
CORTA PARA:
CENA 11 - CASTELINHO - INT. -
NOITE.
MARCOS E MALU ENTRARAM NO BAR,
DE MÃOS DADAS. MARCOS OLHOU EM VOLTA E AVISTOU MANOLO, O GARÇOM. PROCUROU UMA
MESA EM QUE PUDESSEM SER SERVIDOS POR ELE.
MALU - Gostei do convite pra jantar. Adoro o
Castelinho. Vinha muito aqui com Dian... com meus amigos.
MARCOS - Que bom que gostou! Tudo pra ver
minha linda esposa feliz!
MARCOS CONVIDOU MALU PARA IR AO CASTELINHO
PARA QUE O GARÇOM A VISSE. SEM QUE ELA SE APERCEBESSE, É
CLARO. MAS FOI EM VÃO. SE ELE
A RECONHECEU COMO A MOÇA MORENA, DE OLHOS GRANDES, QUE ALI ESTIVERA COM DIANA,
ANTES DO CRIME, DE MODO ALGUM O DEMONSTROU.
MANOLO - Boa noite. Em que posso servi-los?
MARCOS - (olhou para Malu) O que vai beber,
amor?
MALU - Traga a carta de vinhos, por favor!
CORTA PARA:
CENA 12 - APARTAMENTO DE MALU
- INT. - NOITE.
MEIA HORA DEPOIS DE CHEGAREM
EM CASA, DANTE LIGOU PARA O CELULAR DE MARCOS PEDINDO-LHE PARA RETORNAR AO
CASTELINHO, COM URGÊNCIA.
MALU - Quem era?
MARCOS - (embaraçado) Era... seu Germano.
Pediu para falar comigo, agora.
MALU - Agora, amor? Por que tanta urgência?
Aconteceu alguma coisa com ele ou D. Marieta?
MARCOS - Não sei. Ele não disse. Só pediu que
eu fosse até a casa deles o mais rápido possível.
MALU - Que estranho...
MARCOS - (beijou-a no rosto) Não demoro.
Prometo.
MARCOS SAIU. MALU DEIXOU-SE
CAIR NO SOFÁ, PENSATIVA.
CORTA PARA: DCENA 13 -
CASTELINHO - INT. - NOITE.
MEIA HORA DEPOIS, MARCOS
ESTAVA DIANTE DO JORNALISTA.
MARCOS - Olá, Dante! O que tem de tão urgente
pra falar comigo?
DANTE - (chamou) Manolo! (o garçom
aproximou-se) Diga a ele, Manolo, quem era a moça que estava com Diana na noite
do crime.
MARCOS ENCAROU OS DOIS,
ATORDOADO.
MANOLO - (respondeu, olhando para Marcos) Era
aquela que veio hoje aqui com o senhor!
FIM DO CAPÍTULO 43
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