quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Confissões de Laly Cap.89 - As duas faces da leoa! (IMPERDÍVEL!)


As duas faces da leoa. (IMPERDÍVEL!)

O beijo entre Cybele e Gilberto só acaba quando o casal ouve a gritaria das crianças, sinal de que estão se aproximando do carro. Gilberto, recomposto, se levanta, olha as horas e avisa.

-Acho que já é hora de voltar pra casa.

-Ah vô... – Lilian reclama

-Minha querida, eu também queria curtir um pouco mais, mas acontece que a Tia Cybele precisa acordar cedo e trabalhar amanhã. Outro dia a gente volta...

-Voltamos mesmo? – Pepo pergunta

-Sim.

-Aí eu chamo meu pai pra vir junto.

-Com certeza, Pepo.

-Como se seu pai realmente viesse... – Lílian provoca o primo

-Melhor que não ter nenhum. – Pepo revida

-Vocês dois podem parar de brigar? – Gilberto intervém

-Ela começou...

-Porque ele é um idiota.

-Não importa. Entrem no carro agora e fiquem quietinhos. Ora essa... Vocês dois são primos e deveriam ser amigos ao invés de ficarem brigando por pouca coisa.

As crianças entram no automóvel e antes de dar a partida, Gilberto checa:

-Colocaram o cinto de segurança?

-Precisa mesmo? – Yasmin pergunta

-Sim, precisa. É o cinto que a protege. – Cybele diz

-Tudo pronto?Então podemos ir! – Gilberto dá a partida no carro

Cybele acompanha Gilberto no banco do passageiro e só não o acaricia porque os pequenos estão os vigiando.

Som: Keep it turned on – Rick Astley.

Laly respire aliviada por saber que Abel já foi embora.

-E que não volte mais.

-Que assim seja! – Fernanda concorda

-Cara de pau!Depois de tudo que fez, acha que vindo aqui falar comigo vai apagar a dor de ter sido feita de otária por mais de 6 anos. Não foram 6 semanas ou 6 meses. Foram 6 anos. Se ele pensa que vou voltar com ele, que tire o cavalinho da chuva.

Som: Missing – Mariana Kupfer.

Mayra está deitada na cama com Nilton, mas apesar de tecnicamente serem um casal, May sente falta de romance que Nilton não tem, nem se esforça. Enquanto ela vê TV, ele lê e é indiferente a presença da esposa. Mesmo assim, Mayra insiste em salvar a relação:

-Nilton...

Nilton nem sequer a ouve.

-Nilton, eu estou falando com você.

-Pois não?

-Pois não?Com quem você pensa que ta falando?

-O que você quer?

-Que papo mais telemarketing. Pois não?Está precisando ter umas aulinhas com Abel de como se comportar diante da amada.

Nilton tira os óculos, coloca o livro na cabeceira e boceja:

-To com sono, Mayra. Amanhã cedo a gente se fala.

-Sempre essa mesma história. To ficando cansada.

-Alguém tem que se esforçar pra sustentar essa casa.

-Não vem com essa história porque eu também trabalho e nem por isso deixo de te dar atenção.

-É sério, Mayra. To com muito sono.

Basta começar um desfile com moças em trajes sensuais que Nilton tira o controle remoto das mãos de Mayra, aumenta o volume e diz:

-O programa ta bom hoje... Se me permitir, quero assistir...

-Ah, quer saber?Vou dormir na sala!

Mayra apanha o travesseiro e o edredom. Já acomodada no sofá da sala, suspira.

-Por que Nilton não é como Abel?

Som: Ray of light – Madonna.

Tia Conceição sempre me disse que não há nada que em um belo dia de sol não se resolva. É verdade!

Havia muito tempo que deixei de pensar em mim para dedicar tempo e devoção a Abel e tudo pra que?Pra terminar nada menos que a chacota da redação.

A medida que envelheço, mal posso acreditar que aquela jovem ousada se resumiu a uma balzaquiana medrosa e insegura, totalmente dependente de um amor unilateral, amor que alimentei e não conseguia matar.

Amando Abel ou não, a vida prosseguia e nada melhor que repaginar o visual para esboçar um novo capítulo da história. E já pro salão da D. Emília, Lalinha. O espelho não gosta nada do que está vendo.

-Ah paiê, to pensando em dar uma arrumada nas pontas. Olhe minhas unhas, que caco elas estão.

Fer parecia uma menininha de 13 anos pedindo dinheiro ao pai.

-Vai trabalhar! – Lílian interveio

-E você vai crescer, fedelha.

Senso de humor sempre foi o ponto forte dessa família. Já vivi a ferro e fogo, então mesmo sem motivo, era melhor rir.

-Ah paiêêê, deixa, vai...

-Ta bom, ta bom, Fernanda, mas da próxima vez não abro exceção.

Som: Gonna get your Love – S Sense.

Mayra seguiu fielmente os passos da mãe e trabalhava o dia todo no salão ouvindo as modas da dance music, fuçando o jornal do almoço, a novela da tarde, as fofocas dos artistas e da cidade mesmo.

As revistas estavam espalhadas pelo sofá. Desde tendência de cortes ultramodernos e viagens dos atores da Toda Poderosa. Havia passatempos para todos os gostos. A Fer era viciada na maquininha de cappuccino. May fez questão de me atender mesmo folgando na segunda-feira:

-Para as minhas amigas eu faço um precinho camarada.

-Faz de graça, May. Sou sua amiguinha do coração, não lembra?

Fernanda era uma folgada de categoria.

-Quer moleza?Vá comer algodão, folgada.

-Só porque foi miss acha que é celebridade. – a provoquei brincando

-E sou... Do mais remoto escalão, mas não deixo de ser.

Fernanda preferia levar o ostracismo na brincadeira. A vida já lhe fazia sofrer o bastante.

-Faça o favor de se dirigir ao bidê, ex-miss. Tempo aqui é dinheiro.

May zoou a amiga. Fer sempre foi sua cliente mais fiel.

-Ex-miss?Pois essa é a última vez que freqüento essa espelunca. Onde é que já se viu uma celebridade ser tratada desse modo?

Som: Fields of gold – Sting.

Enquanto Mayra contava sobre os planos de amor com Nilton, do quanto juntos eram felizes, a ouvia pacientemente. O gordinho estava se saindo um ótimo marido.

-Pretendem ter um segundo filho?

-Eu queria, mas o Nilton não quer. Pepo já basta.

Suspirou uma Mayra romântica, devota a família.

-May é louca pra ter uma menina. – Fer acrescentou – Vou torcer pra ganhar na loteria da virada pra dar conta de presentear e visitar todos os meus afilhados. Já tenho 4, isso se Grazi e Biel não tiverem mais filhos. Eles também querem uma menina.

Som: Ordinary world (acoustic) – Duran Duran.

Eu também queria uma menina.

Cheguei a ter uma gestação, porém, no 4º mês, sofri um aborto espontâneo e entrei em depressão, após negar e ter de aceitar que o sonho acabou.

Fiquei meses sem conseguir sair de casa. De certa forma culpei Abel quando consegui permissão para trabalhar em domicílio, me afastando sem dar quaisquer explicações.

Tornei-me viciada em ansiolíticos e passei a freqüentar as claustrofóbicas salas de psicólogos e psiquiatras. Travava frente ao divã. Saía mais vazia das consultas do que quando entrava, mais infeliz do que supunha estar.

Odiava autoanálises, sugestões inúteis, soluções prescritas, milagrosas demais, padronizadas, sem contestações. Engordei 9 kg, passei a me automutilar, tive episódios de compulsaão alimentar seguidos de bulimia e por vezes completa abstinência. Só vestia preto. Meu mundo era daquela cor. Se uma palavra me resumisse, seria vergonha.

Diante do psicanalista, falava apenas o julgava essencial. Somente quando Abel e eu voltamos a conversar, aos poucos abandonei os remédios, diminuindo as doses, a covardia e passei a me dedicar o triplo ao trabalho, voltando a academia e descobrindo na própria escrita minha razão de viver, apesar de não conseguir me imaginar sem Abel.

Som: Music don’t stop – Goldpeople.

Aquela conversa maternal me deixou com um nó na garganta. Abrir feridas, vê-las sangrar e não poder chorar. Fernanda me deu um beliscão tão forte que me trouxe de volta ao mundo real.

-Lalinha.

-Que foi, ô? – resmunguei

-É o carro dele.

-Dele quem?

-Do crápula.

Mayra estava retocando a raiz do meu cabelo enquanto Fer estava esperando a manicure atendê-la.

-Que crápula, garotas? – May indagou

-O da Lalinha.

-Teu, Lalinha?

Fernanda escancarou meus podres amorosos para Mayra.

-Acredita que o filho da mãe é casado?

-Quando o cara é muito perfeito, melhor desconfiar porque aí tem!

-Pô, Fernanda, por que não liga pra rádio de uma vez e conta a história pra todo mundo?Mas peraê, você disse que viu o carro dele... Onde?

-Depois diz que não o ama.

-Diz onde ta o carro dele.

-Estacionado ali na frente.

-Vai ver ta procurando você. – May deixou escapar

-Que procure!Dele não quero lembrar nem o nome.

Seria mais fácil me render e continuar naquele joguinho estúpido, voltar pra SP e suportar ser a outra pra sempre, ao mesmo tempo em que minha dignidade me cutucava.

-De nada adianta tirar licença e voltar pra mesma vida, cometer os mesmos erros, Laly. Se é pra arrancar do coração, é assim que vai ser.

Meus sentimentos ficaram mil vezes mais confusos ao rever Iury na Parada Gay.

-Vou ver o que ele quer. Creio não demorar. Não temos mais nada a tratar.

Saí do salão com alumínio no cabelo e a capinha que protegia minha roupa. Fiquei p da vida ao ver meu carro com a traseira batida. O de Abel estava estacionado logo atrás.

-Sem noção!

Encontrei Abel muito sorridente tomando café em uma confeitaria. Estava rindo, gesticulando, falando alto, querendo ser notado no recinto.

-Vim tirar umas férias nessa cidade.

-E arruinar as minhas. – pensei, enfurecida

-Minha mulher ta lá no salão.

MINHA MULHER?

Abel era muito cara de pau, pelo amor de Deus!

Primeiro me forçou a tirar licença, sumir da vista de todos e depois resolvia tirar férias na MINHA cidade?

Ele só podia estar me troçando, testando minhas paciência, resistência e arrostando meu amor próprio que poderia muito bem estar abalado, mas sobrepunha qualquer caô que viesse a proferir para me conquistar novamente, o que julgava como IMPOSSÍVEL, levando em conta todo dano emocional causado pelos sucessivos anos de descarado engano.

O escritório que ficava próximo ao salão estava em reformas. Um pedaço de concreto sorria para mim. O veículo de Abel continuava estacionado atrás do meu. Praticamente novo, com o plástico de fábrica no estofamento. Sem um arranhão. Nada. Que arraso!

Se meus pensamentos surgissem em slow motion, não sei se teria me motivado, mas o fiz no mesmo tom de deboche que ele tinha de me perseguir quando o trato era que nos mantivéssemos completamente afastados.

E a rua inteira parou quando ouviu o barulho do vidro do motorista se espatifar em pequeninos cacos de fúria.

-LALY!

CONTINUA...

0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

© 2011 Mania TV Web, AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena