quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Doce Balanço - Capítulo 4


Novela de Antonio Figueira

CENA 1 - IPANEMA - RUA - EXT. - DIA.


CECÉU E TATIANA, SUA NAMORADA, OLHAVAM A FACHADA DOBRUNI IPANEMA.
 CECÉU - (indeciso) Não sei, não, Tatiana... esse filme deve ser muito ruim... Aliás, não há um só que preste em todos os cinemas do bairro!

 TATIANA - (mostrando o cartaz) Ah, eu gostei desse “Cartas para Julieta”...

 CECÉU - Sabe de uma coisa, Tatiana, vou lhe confessar... estou duro! Não tenho dinheiro para as entradas. Vamos sentar num banco e conversar? É melhor, pois estes cinemas estão cheios de pulgas!

 TATIANA - (frustrada) Ah, amor, você vive sempre sem dinheiro porque não quer arranjar um emprego como todo mundo. Podia ser funcionário público, despachante, contador...

 CECÉU - Calma, calma... tenho umas idéias... ademais, sou um artista. Você vai ver, de uma hora pra outra, vou ficar rico!

CORTA PARA:

CENA 2 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. - DIA.

NA SALA, PADRE MARCOS E DIANA CONVERSAVAM AINDA SOBRE O INCIDENTE.
 PADRE MARCOS - Você está mais tranquila agora?
DIANA OLHAVA O PADRE NOS OLHOS, COM TERNURA. SUA GRATIDÃO ERA PURA E SINCERA, MAS SEU OLHAR O PERTURBAVA, QUE NÃO SABIA O QUE FAZER DAS MÃOS E SEMEXIA MUITO NA CADEIRA.

 DIANA - Sim, Padre. Mais tranquila e também muito agradecida. Não sei o que eu e minha mãe faríamos sem sua ajuda.

 PADRE MARCOS - (sorriu, sem jeito) É para isso que servem os amigos...
 DIANA - O senhor... aceita um cafézinho?

A CAMPAINHA TOCOU. DIANA ABRIU A PORTA. ERA O DELEGADO NOGUEIRA.

 NOGUEIRA - Boa tarde..

 DIANA - Boa tarde, seu Delegado.

 NOGUEIRA - Foi aqui que ocorreu um caso de ferimento a bala?

 DIANA - Foi aqui, sim. Foi meu pai...

 NOGUEIRA - Conte-me como foi (e dirigindo-se ao padre) E o senhor, padre, quem é?

 DIANA - O padre Marcos é de Ibiúna e trouxe uma carta dos meus avós. Graças a Deus nos ajudou muito neste momento tão difícil.

 PADRE MARCOS - Como vai, delegado?

 DIANA - Padre, o delegado Nogueira é o pai de Selminha e Julio Biruta...

O DELEGADO NOGUEIRA TOSSIU, CONSTRANGIDO.

 DIANA - (corrigindo) Selminha e Julio, amigos meus e de Malu.

CORTA PARA:

CENA 3 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - NOITE.

 O BANQUEIRO MONTEIRO PRADO, MALU E MAIS MEIA DÚZIA DE CONVIDADOS ESTAVAM REUNIDOS NO LIVING DA RESIDÊNCIA. ERA A FESTA DE NOIVADO DO BANQUEIRO. ESTAVAM TAMBÉM PRESENTES AS TRÊS PRIMEIRAS ESPOSAS DE MONTEIRO E O JORNALISTA HUGO MATIAS, CONHECIDO COLUNISTA SOCIAL.

MALU - Como é, e a minha futura madrasta, não chegou ainda?

MONTEIRO PRADO - Não, mas não tarda.

MALU - Certo. Estou ansiosa para conhecê-la. E, pelo que vejo, convidou também as outras...

MONTEIRO PRADO - É... achei melhor assim... gosto que todas se entendam... que haja harmonia na família...

MALU - Só falta minha mãe.

MONTEIRO PRADO - (ligeiramente nervoso) Sua mãe, você sabe, não poderia vir.

ISADORA CHEGOU, PARA ALÍVIO DE MONTEIRO EM MUDAR DEASSUNTO. SORRINDO SATISFEITO, FOI AO ENCONTRO DA NOIVA.

MONTEIRO PRADO - Você está maravilhosa, minha querida.

ISADORA - Desculpem o atraso.Não encontrava taxi...

MONTEIRO PRADO - Isadora, esta é Maria Luísa, minha filha.

MALU E ISADORA SE OLHARAM FRENTE A FRENTE.

ISADORA - Muito prazer, Malu.

MALU - Prazer... Como devo chamá-la? De mamãe ou de neném?

TODOS RIRAM. ALGUNS COCHICHARAM. MONTEIRO TENTOU CONTORNAR A SITUAÇÃO.

 MONTEIRO PRADO - Não repare, querida. Minha filha é muito brincalhona. Vocês vão se dar bem.

ISADORA NÃO CORRESPONDEU AO SEU SORRISO E O BANQUEIRO, DIVERTIDO COMO SEMPRE, PUXOU A NOIVA PARA JUNTO DAS EX-ESPOSAS.

 MONTEIRO PRADO - Quero que conheça Nininha, minha segunda mulher, e Laís, a terceira...

AS EX-ESPOSAS ERAM MULHERES DE CÊRCA DE 40 ANOS, BEM VIVIDAS E ELEGANTES, E OLHARAM ISADORA DE CIMA A BAIXO, COM CURIOSIDADE E CERTA IRONIA.

MONTEIRO PRADO - Desculpe, amor, aqui um velho amigo, Marcelão.

ISADORA TROCOU UM OLHAR SIGNIFICATIVO COM O PLAYBOY.

MONTEIRO PRADO - Fiquem á vontade, todos vocês. Hoje é dia do meu noivado e quero ver todos alegres. Senhorinha, traga champanha para os meus convidados.

A CAMPAINHA DA PORTA TOCOU E SENHORINHA FOI ATENDER, IMPASSÍVEL E SOLÍCITA EM SEU PAPEL DE GOVERNANTA. ERA DIANA, QUE AINDA MOSTRAVA VISÍVEL NERVOSISMO EM FACE DOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS.

DIANA - Senhorinha, (disse, olhando para o interior da outra sala, os olhos muito abertos) preciso falar com o Dr. Monteiro. Diga que é sobre meu pai... um assunto muito sério.

SENHORINHA - Claro, Diana, um momento... Você não quer entrar? Hoje é noivado do Dr. Monteiro. Malu está ali...

DIANA - (cortou, nervosa) Não, Senhorinha, obrigada. Eu prefiro esperar aqui... só queria falar com o Dr. Monteiro...

 SENHORINHA - Como queira, querida. Um momento.

A GOVERNANTA FOI ATÉ ONDE SE ACHAVA O BANQUEIRO, FALOU ALGUMA COISA EM SEU OUVIDO, E VOLTOU INCONTINENTI COM A RESPOSTA.

SENHORINHA - Desculpe, Diana, Dr. Monteiro não pode atender. Está muito ocupado com a noiva.

DIANA FICOU PARADA UM INSTANTE, DEPOIS RETROCEDEU E, JÁ IA SAINDO QUANDO FOI NOTADA POR MARCELÃO.

MARCELÃO - Ei, Diana, que há? Você parece nervosa.

DIANA - Aconteceu uma coisa horrível, Marcelão. Estou desesperada...

MARCELÃO - Calma, menina, calma. Posso saber o que houve? Se eu puder ajudar...

DIANA - Meu pai deu um desfalque no banco do Dr. Monteiro. Ele descobriu tudo e deu um prazo de 48 horas para a reposição do dinheiro. Meu pai tentou o suicídio.

MARCELÃO - Que coisa... e como ele está?

DIANA - Agora tá fora de perigo. Eu vim aqui conversar com o
Dr. Monteiro, pedir mais uns dias, mas ele não me recebeu...

MARCELÃO FICOU MATUTANDO ALGUNS SEGUNDOS, COÇOU O QUEIXO E, PUXANDO A MOÇA PELO BRAÇO, DISSE COM GRANDE CONVICÇÃO:

 MARCELÃO - Sei onde poderá arranjar um bom dinheiro até amanhã. Tenho um negócio capaz de interessá-la. Me procure amanhã para conversarmos melhor.

CORTA PARA:

CENA 4 - CASA DO DELEGADO NOGUEIRA - SALA DE JANTAR - INT. NOITE

O DELEGADO JUSTO NOGUEIRA PARECIA, Á PRIMEIRA VISTA, UM HOMEM FELIZ. ACOSTUMADO A LIDAR COM OS PROBLEMAS DOS OUTROS, ERA COMO SE NÃO OS TIVESSE. ENTRETANTO, A REALIDADE ERA BEM OUTRA. CASADO E COMDOIS FILHOS – JULIO E SELMA – A SUA MAIOR PREOCUPAÇÃO ESTAVA DENTRO DA PRÓPRIA CASA. A ESPOSA, ODETE, ERAMEIO DESLIGADA. OU MELHOR, POUCO SABIA DA JUVENTUDE. MAS ELE, COMO DELEGADO, PRECISAVA ESTAR ATENTO, POIS O INFLEXÍVEL JUSTO NOGUEIRA TINHA EM SUA CASA,EM SEUS FILHOS, A NEGAÇÃO DE SI MESMO. NOGUEIRA, ODETE, JULIO E SELMINHA ACABAVAM DE JANTAR. JULIO LEVANTOU-SE, SEGUIDO PELA IRMÃ.

 JULIO - Vambora, Selminha, a turma tá esperando!

 NOGUEIRA - Que isso, mal acabaram de jantar e já vão sair?

 JULIO - Compromissos, seu Delega!

 SELMINHA - Tchau, mãe! Tchau, pai!

SAÍRAM, ANIMADOS. ODETE TIRAVA A MESA. NOGUEIRA SENTOU-SE NUMA POLTRONA, IMPOTENTE.

 NOGUEIRA - Por que será que não consigo conversar com meus filhos? Eu me sinto como se não tivesse uma família...

ODETE - Deixa eles se divertirem, homem. Tão na idade...

NOGUEIRA - Essa idade é que me preocupa. Julio Biruta... isso é nome do filho de um delegado de polícia?

CORTA PARA:

CENA 5 - IPANEMA - AV. VIEIRA SOUTO - EXT. - DIA.


O BARULHO ENSURDECEDOR DE MAIS DE UMA DEZENA DE MOTOS DO TODOS OS TIPOS CHAMOU A ATENÇÃO DA VIZINHANÇA, QUE CORREU ÁS JANELAS PARA ASSISTIR. ALFREDINHO E JULIO BIRUTA ERAM OS LÍDERES DO GRUPO.ARRANCARAM, RUMO Á AV. NIEMAYER, SEGUIDOS PELOS OUTROS, COMO NUMA ROMARIA BARULHENTA. CHEGANDO A SÃO CONRADO, ESTACIONARAM NO CALÇADÃO DA PRAIA DO PEPINO E SEGUIRAM PARA A AREIA, ONDE FORMAVAM GRUPOS, ILUMINADOS PELA BELA NOITE DE LUA CHEIA.

ALFREDINHO SENTOU-SE NA AREIA, SEGUIDO DE JULIO BIRUTA

ALFREDINHO - Hoje não tô legal, cara. Sinto a maior falta da Diana. Pensei nela o dia todo...
JULIO BIRUTA - Já te falei o que aconteceu, irmão. Ouvi meu pai comentando com minha mãe...

 ALFREDINHO - Sempre achei que seu Germano não batia muito bem... como é que pode?

 JULIO BIRUTA - Pô, o cara deu uma de século dezenove! Querer se matar só porque afanou uma grana e não tinha como pagar... Mas esse Germano existe?

CORTA PARA:

CENA 6 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. - DIA.

JÁ PASSAVA DO MEIO-DIA QUANDO DIANA TOCOU A CAMPAINHA. VOSKOPOULUS ABRIU A PORTA E A MOÇA ENTROU. NA SALA, VIU O RETRATO, AS ALMOFADAS PELO CHÃO, OS DIVÃS.

MARCELÃO APROXIMOU-SE, SORRINDO SATISFEITO.

DIANA - (direta, sem ao menos cumprimentá-lo) Que é que eu tenho que fazer pra conseguir o dinheiro?

FIM DO CAPÍTULO 4

0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

© 2011 Mania TV Web, AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena