Novela de Antonio Figueira
CENA 1 - IPANEMA -
RUA - EXT. - DIA.
CECÉU
E TATIANA, SUA NAMORADA, OLHAVAM A FACHADA DOBRUNI IPANEMA.
CECÉU - (indeciso) Não sei, não, Tatiana...
esse filme deve ser muito ruim... Aliás, não há um só que preste em todos os
cinemas do bairro!
TATIANA - (mostrando o cartaz) Ah, eu gostei
desse “Cartas para Julieta”...
CECÉU - Sabe de uma coisa, Tatiana, vou lhe
confessar... estou duro! Não tenho dinheiro para as entradas. Vamos sentar num banco
e conversar? É melhor, pois estes cinemas estão cheios de pulgas!
TATIANA - (frustrada) Ah, amor, você vive
sempre sem dinheiro porque não quer arranjar um emprego como todo mundo. Podia
ser funcionário público, despachante, contador...
CECÉU - Calma, calma... tenho umas idéias...
ademais, sou um artista. Você vai ver, de uma hora pra outra, vou ficar rico!
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO
DE GERMANO - SALA - INT. - DIA.
NA
SALA, PADRE MARCOS E DIANA CONVERSAVAM AINDA SOBRE O INCIDENTE.
PADRE MARCOS - Você está mais tranquila agora?
DIANA
OLHAVA O PADRE NOS OLHOS, COM TERNURA. SUA GRATIDÃO ERA PURA E SINCERA, MAS SEU
OLHAR O PERTURBAVA, QUE NÃO SABIA O QUE FAZER DAS MÃOS E SEMEXIA MUITO NA
CADEIRA.
DIANA - Sim, Padre. Mais tranquila e também
muito agradecida. Não sei o que eu e minha mãe faríamos sem sua ajuda.
PADRE MARCOS - (sorriu, sem jeito) É para isso
que servem os amigos...
DIANA - O senhor... aceita um cafézinho?
A
CAMPAINHA TOCOU. DIANA ABRIU A PORTA. ERA O DELEGADO NOGUEIRA.
NOGUEIRA - Boa tarde..
DIANA - Boa tarde, seu Delegado.
NOGUEIRA - Foi aqui que ocorreu um caso de
ferimento a bala?
DIANA - Foi aqui, sim. Foi meu pai...
NOGUEIRA - Conte-me como foi (e dirigindo-se
ao padre) E o senhor, padre, quem é?
DIANA - O padre Marcos é de Ibiúna e trouxe
uma carta dos meus avós. Graças a Deus nos ajudou muito neste momento tão difícil.
PADRE MARCOS - Como vai, delegado?
DIANA - Padre, o delegado Nogueira é o pai de
Selminha e Julio Biruta...
O
DELEGADO NOGUEIRA TOSSIU, CONSTRANGIDO.
DIANA - (corrigindo) Selminha e Julio, amigos
meus e de Malu.
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO
DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - NOITE.
O BANQUEIRO MONTEIRO PRADO, MALU E MAIS MEIA
DÚZIA DE CONVIDADOS ESTAVAM REUNIDOS NO LIVING DA RESIDÊNCIA. ERA A FESTA DE
NOIVADO DO BANQUEIRO. ESTAVAM TAMBÉM PRESENTES AS TRÊS PRIMEIRAS ESPOSAS DE
MONTEIRO E O JORNALISTA HUGO MATIAS, CONHECIDO COLUNISTA SOCIAL.
MALU - Como é, e a minha futura madrasta, não
chegou ainda?
MONTEIRO PRADO - Não, mas não tarda.
MALU - Certo. Estou ansiosa para conhecê-la.
E, pelo que vejo, convidou também as outras...
MONTEIRO PRADO - É... achei melhor assim...
gosto que todas se entendam... que haja harmonia na família...
MALU - Só falta minha mãe.
MONTEIRO PRADO - (ligeiramente nervoso) Sua
mãe, você sabe, não poderia vir.
ISADORA
CHEGOU, PARA ALÍVIO DE MONTEIRO EM MUDAR DEASSUNTO. SORRINDO SATISFEITO, FOI AO
ENCONTRO DA NOIVA.
MONTEIRO PRADO - Você está maravilhosa, minha
querida.
ISADORA - Desculpem o atraso.Não encontrava
taxi...
MONTEIRO PRADO - Isadora, esta é Maria Luísa,
minha filha.
MALU
E ISADORA SE OLHARAM FRENTE A FRENTE.
ISADORA - Muito prazer, Malu.
MALU - Prazer... Como devo chamá-la? De mamãe
ou de neném?
TODOS
RIRAM. ALGUNS COCHICHARAM. MONTEIRO TENTOU CONTORNAR A SITUAÇÃO.
MONTEIRO PRADO - Não repare, querida. Minha
filha é muito brincalhona. Vocês vão se dar bem.
ISADORA
NÃO CORRESPONDEU AO SEU SORRISO E O BANQUEIRO, DIVERTIDO COMO SEMPRE, PUXOU A
NOIVA PARA JUNTO DAS EX-ESPOSAS.
MONTEIRO PRADO - Quero que conheça Nininha,
minha segunda mulher, e Laís, a terceira...
AS
EX-ESPOSAS ERAM MULHERES DE CÊRCA DE 40 ANOS, BEM VIVIDAS E ELEGANTES, E
OLHARAM ISADORA DE CIMA A BAIXO, COM CURIOSIDADE E CERTA IRONIA.
MONTEIRO PRADO - Desculpe, amor, aqui um velho
amigo, Marcelão.
ISADORA
TROCOU UM OLHAR SIGNIFICATIVO COM O PLAYBOY.
MONTEIRO PRADO - Fiquem á vontade, todos
vocês. Hoje é dia do meu noivado e quero ver todos alegres. Senhorinha, traga champanha
para os meus convidados.
A
CAMPAINHA DA PORTA TOCOU E SENHORINHA FOI ATENDER, IMPASSÍVEL E SOLÍCITA EM SEU
PAPEL DE GOVERNANTA. ERA DIANA, QUE AINDA MOSTRAVA VISÍVEL NERVOSISMO EM FACE
DOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS.
DIANA - Senhorinha, (disse, olhando para o
interior da outra sala, os olhos muito abertos) preciso falar com o Dr.
Monteiro. Diga que é sobre meu pai... um assunto muito sério.
SENHORINHA - Claro, Diana, um momento... Você
não quer entrar? Hoje é noivado do Dr. Monteiro. Malu está ali...
DIANA
- (cortou, nervosa) Não, Senhorinha, obrigada. Eu prefiro esperar aqui... só
queria falar com o Dr. Monteiro...
SENHORINHA - Como queira, querida. Um momento.
A
GOVERNANTA FOI ATÉ ONDE SE ACHAVA O BANQUEIRO, FALOU ALGUMA COISA EM SEU
OUVIDO, E VOLTOU INCONTINENTI COM A RESPOSTA.
SENHORINHA - Desculpe, Diana, Dr. Monteiro não
pode atender. Está muito ocupado com a noiva.
DIANA
FICOU PARADA UM INSTANTE, DEPOIS RETROCEDEU E, JÁ IA SAINDO QUANDO FOI NOTADA
POR MARCELÃO.
MARCELÃO - Ei, Diana, que há? Você parece
nervosa.
DIANA - Aconteceu uma coisa horrível,
Marcelão. Estou desesperada...
MARCELÃO - Calma, menina, calma. Posso saber o
que houve? Se eu puder ajudar...
DIANA - Meu pai deu um desfalque no banco do
Dr. Monteiro. Ele descobriu tudo e deu um prazo de 48 horas para a reposição do
dinheiro. Meu pai tentou o suicídio.
MARCELÃO
- Que coisa... e como ele está?
DIANA
- Agora tá fora de perigo. Eu vim aqui conversar com o
Dr.
Monteiro, pedir mais uns dias, mas ele não me recebeu...
MARCELÃO
FICOU MATUTANDO ALGUNS SEGUNDOS, COÇOU O QUEIXO E, PUXANDO A MOÇA PELO BRAÇO,
DISSE COM GRANDE CONVICÇÃO:
MARCELÃO - Sei onde poderá arranjar um bom
dinheiro até amanhã. Tenho um negócio capaz de interessá-la. Me procure amanhã
para conversarmos melhor.
CORTA PARA:
CENA 4 - CASA DO
DELEGADO NOGUEIRA - SALA DE JANTAR - INT. NOITE
O
DELEGADO JUSTO NOGUEIRA PARECIA, Á PRIMEIRA VISTA, UM HOMEM FELIZ. ACOSTUMADO A
LIDAR COM OS PROBLEMAS DOS OUTROS, ERA COMO SE NÃO OS TIVESSE. ENTRETANTO, A
REALIDADE ERA BEM OUTRA. CASADO E COMDOIS FILHOS – JULIO E SELMA – A SUA MAIOR
PREOCUPAÇÃO ESTAVA DENTRO DA PRÓPRIA CASA. A ESPOSA, ODETE, ERAMEIO DESLIGADA.
OU MELHOR, POUCO SABIA DA JUVENTUDE. MAS ELE, COMO DELEGADO, PRECISAVA ESTAR
ATENTO, POIS O INFLEXÍVEL JUSTO NOGUEIRA TINHA EM SUA CASA,EM SEUS FILHOS, A
NEGAÇÃO DE SI MESMO. NOGUEIRA, ODETE, JULIO E SELMINHA ACABAVAM DE JANTAR.
JULIO LEVANTOU-SE, SEGUIDO PELA IRMÃ.
JULIO - Vambora, Selminha, a turma tá
esperando!
NOGUEIRA - Que isso, mal acabaram de jantar e
já vão sair?
JULIO - Compromissos, seu Delega!
SELMINHA - Tchau, mãe! Tchau, pai!
SAÍRAM,
ANIMADOS. ODETE TIRAVA A MESA. NOGUEIRA SENTOU-SE NUMA POLTRONA, IMPOTENTE.
NOGUEIRA - Por que será que não consigo
conversar com meus filhos? Eu me sinto como se não tivesse uma família...
ODETE
- Deixa eles se divertirem, homem. Tão na idade...
NOGUEIRA
- Essa idade é que me preocupa. Julio Biruta... isso é nome do filho de um
delegado de polícia?
CORTA PARA:
CENA 5 - IPANEMA -
AV. VIEIRA SOUTO - EXT. - DIA.
O
BARULHO ENSURDECEDOR DE MAIS DE UMA DEZENA DE MOTOS DO TODOS OS TIPOS CHAMOU A
ATENÇÃO DA VIZINHANÇA, QUE CORREU ÁS JANELAS PARA ASSISTIR. ALFREDINHO E JULIO
BIRUTA ERAM OS LÍDERES DO GRUPO.ARRANCARAM, RUMO Á AV. NIEMAYER, SEGUIDOS PELOS
OUTROS, COMO NUMA ROMARIA BARULHENTA. CHEGANDO A SÃO CONRADO, ESTACIONARAM NO
CALÇADÃO DA PRAIA DO PEPINO E SEGUIRAM PARA A AREIA, ONDE FORMAVAM GRUPOS,
ILUMINADOS PELA BELA NOITE DE LUA CHEIA.
ALFREDINHO
SENTOU-SE NA AREIA, SEGUIDO DE JULIO BIRUTA
ALFREDINHO - Hoje não tô legal, cara. Sinto a
maior falta da Diana. Pensei nela o dia todo...
JULIO BIRUTA - Já te falei o que aconteceu,
irmão. Ouvi meu pai comentando com minha mãe...
ALFREDINHO - Sempre achei que seu Germano não
batia muito bem... como é que pode?
JULIO BIRUTA - Pô, o cara deu uma de século
dezenove! Querer se matar só porque afanou uma grana e não tinha como pagar...
Mas esse Germano existe?
CORTA
PARA:
CENA
6 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. - DIA.
JÁ
PASSAVA DO MEIO-DIA QUANDO DIANA TOCOU A CAMPAINHA. VOSKOPOULUS ABRIU A PORTA E
A MOÇA ENTROU. NA SALA, VIU O RETRATO, AS ALMOFADAS PELO CHÃO, OS DIVÃS.
MARCELÃO
APROXIMOU-SE, SORRINDO SATISFEITO.
DIANA
- (direta, sem ao menos cumprimentá-lo) Que é que eu tenho que fazer pra
conseguir o dinheiro?
FIM DO CAPÍTULO 4
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