
CENA 1 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -NOITE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. VIZINHOS E ALGUNS AMIGOS ESTAVAM NA RESIDENCIA DOS PAIS DE DIANA, PRESTANDO SOLIDARIEDADE. NINGUÉM FALOU. TODOS OLHARAM PARA O PADRE MARCOS, ESPANTADOS E SEM SABER COMO LHE DIZER. GERMANO E D. CARMEN TROCARAM UM OLHAR SIGNIFICATIVO.
D. CARMEN - (gritou, angustiada) Parem! Parem! Por que
não lhe contam de uma vez?
MARCOS SE ESPANTOU. PRESSENTIU O DESASTRE.
MARCOS - Aconteceu alguma coisa com ela?
PROCUROU A RESPOSTA NO ROSTO DE CARMEN, DE GERMANO, DE TODOS. A MULHER ATIROU-SE EM SEUS BRAÇOS, SOLUÇANDO.
MARCOS - Senhor meu! Não pode ser! Não pode ser o que eu estou imaginando!... Deus não permitiria uma coisa dessas!... Ela está morta?
GERMANO APENAS BALANÇOU A CABEÇA. MARCOS PROCUROU A CONFIRMAÇÃO NOS OUTROS ROSTOS. ESTAVA ATORDOADO. O CHOQUE FÔRA VIOLENTO DEMAIS PARA ELE.
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -NOITE
AS VISITAS SE RETIRARAM . GERMANO, D. CARMEN E MARCOS PERMANECIAM SENTADOS EM SILÊNCIO, POR LONGO TEMPO, DESOLADOS.
MARCOS - Bem, já está um pouco tarde... vou procurar um hotel. Diana me falou da Pensão Primavera, dos pais de uma amiga dela...
D. CARMEN - (cortou, a voz pausada) Não é necessário, Marcos. Por favor, fique.
GERMANO - Carmen está certa, padre. Fique aqui como nosso hóspede. Nós precisamos do seu apoio neste momento... e sei que o senhor também precisa de nós.
D. CARMEN - Fique no quarto dela, Marcos. Tenho certeza... de que ela gostaria que fosse assim...
MARCOS - Obrigado... Eu... eu vou aceitar porque... desculpem, mas não consigo raciocinar direito...
CORTA PARA:
CENA 3 - QUARTO DE DIANA - INT. - NOITE.
MARCOS ERA UM HOMEM ARRASADO. SOZINHO, CORREU O OLHAR PELO QUARTO, ANGUSTIADO. PARECIA SENTIR A PRESENÇA DE DIANA. ESTAVA TUDO COMO ELA DEIXARA. OSOBJETOS, A ESCRIVANINHA, O ARLEQUIM.
MARCOS - (para si) É tudo tão sem sentido... Será um castigo? Mas como? Deus não castiga os que amam, os que querem dar amor, porque é pelo amor que se chega a Ele.
CLOSE EM MARCOS, ANIQUILADO.
INSERIR FLASHBACK DA CENA 4 DO CAPÍTULO 10.
DIANA - Não esperava... nunca imaginei que você chegasse a tomar essa decisão... Preciso pensar. (seu rosto exprimiu uma grande paz interior, mas os olhos brilharam de dissimulado júbilo) Gostaria de ficar sozinha. Para pensar... você entende?
A JOVEM AFASTOU-SE UM POUCO NA DIREÇÃO DO ALTAR. AS LÂMPADAS DE UMA LUZ AMARELADA E PÁLIDA BRUXULEAVAM SOBRE SUAS CABEÇAS. MANTEVE-SE CALADA POR ALGUM TEMPO.
DIANA - (dirigindo-se ao padre) Eu já resolvi...
MARCOS ENCAROU-A, APREENSIVO, TENTANDO LER EM SEUS OLHOS O QUE QUERIAM DIZER.
DIANA - Marcos... quero ser sua mulher!
VOLTA A CENA EM MARCOS. LÁGRIMAS ESCORRIAM, TEIMOSAMENTE, DOS OLHOS DE MARCOS. NUM GESTO QUASE AUTOMÁTICO, ABRIU A GAVETA DA ESCRIVANINHA E ALGO CHAMOU SUA ATENÇAO: UM LIVRO PRETO DE CAPA DURA. TOMOU-O NAS MÃOS E FOLHEOU ALGUMAS PÁGINAS, COM GRANDE INTERÊSSE.
VÍTOR - Um diário... O Diário de Diana...
CORTA PARA: CENA 4 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA.
NA MANHÃ SEGUINTE, D. CARMEN ENCONTROU MARCOS DORMINDO NO SOFÁ DA SALA.
D. CARMEN - (chamou baixinho) Marcos! Marcos!
MARCOS - (acordou e sentou-se, esfregando os olhos) Oh... D. Carmen...
D. CARMEN - Por quê dormiu aqui?
MARCOS - Eu não pude... pelo menos esta noite... Aquele quarto está cheio de recordações. A cama ainda tem o calor dela...
CORTA PARA:
CENA 5 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
O CABO JORGE ENTREGOU UM ENVELOPE PARDO AO DELEGADO NOGUEIRA.
DELEGADO FONTOURA - Finalmente, o laudo pericial! Vamos ver...
NOGUEIRA AJEITOU OS ÓCULOS E PASSOU OS OLHOS NAS FOLHAS DE PAPEL, SOB O OLHAR DE CURIOSIDADE DO DETETIVE AMADEU.
DETETIVE AMADEU - E então, doutor... o que diz o laudo?
DELEGADO NOGUEIRA - (ar muito sério) A conclusão é que esta moça, Diana, lutou muito com o criminoso... ou criminosos, antes de cair ou ser atirada do alto do paredão. Fratura do crânio foi a causa mortis. (parou alguns segundos, pensativo) Mas a perícia encontrou lesões no corpo que não foram produzidas pela queda. Havia marcas de unhas e escoriações em semicírculo. O vestido também estava rasgado em dois lugares. Não há a menor dúvida. Ela lutou desesperadamente, gritando por socorro, sem que ninguém se importasse.
DETETIVE AMADEU - (pesaroso) Coitada... tão bonita...
DELEGADO NOGUEIRA - (quase para si) Minha única dúvida é se ela se atirou do paredão contra as pedras, para fugir do agressor, ou se foi atirada. De qualquer forma, já há pelo menos um suspeito. E depois, eu mesmo quero investigar esse caso.
AINDA ESTAVA ENVOLTO NESSES PENSAMENTOS QUANDO GERMANO E D. CARMEN ENTRARAM NA SALA.
DELEGADO NOGUEIRA - (levantou-se e cumprimentou o
casal) Por favor, sentem-se. Eu peço desculpas por tê-los.
chamado. Sei que é um momento muito difícil, mas, infelizmente,
tenho que prosseguir com o inquérito.
OS PAIS DE DIANA SENTARAM-SE Á FRENTE DA MESA DO DELEGADO.
DELEGADO NOGUEIRA - Os senhores suspeitam de alguém?
D. CARMEN E GERMANO SE ENTREOLHARAM.
GERMANO - Bem, doutor... concretamente, não.
D. CARMEN - Mas, poucos dias antes, Diana andava muito angustiada. Uma noite, recebeu um telefonema e ficou muito nervosa. Ela não falava nada, pra me poupar... mas eu sei que era o antigo namorado... e eu sei que ele não aceitou o fim do relacionamento.
A MULHER TEVE UMA CRISE DE CHORO. RECOSTOU-SE NA CADEIRA, COM AR PROFUNDAMENTE MELANCÓLICO.
DELEGADO NOGUEIRA - Quem era esse namorado?
D. CARMEN - Um rapaz chamado Alfredo Ribeiro.
O DELEGADO ACENDEU UM CIGARRO EM SILENCIO E FICOU POR ALGUM TEMPO PERDIDO EM MEDITAÇÃO.
D. CARMEN - Coração de mãe não se engana, doutor. Ele
não aceitou o rompimento do namoro, porque Diana ia se casar
com o padre.
DELEGADO NOGUEIRA - (surpreso) Com um padre?!
D. CARMEN - (sem jeito) Eles se apaixonaram... o padre
Marcos ia largar a batina pra casar com ela.
DELEGADO NOGUEIRA - (para o Detetive Amadeu)
Amadeu, mande chamar esse Alfredo Ribeiro! Precisamos ter uma
conversa!
CORTA PARA:
CENA 6 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
ALFREDINHO - (sentando-se á frente da mesa do delegado) Por que o senhor mandou me buscar? Será que é porque eu sou motoqueiro?
DELEGADO NOGUEIRA - Não, é porque o senhor matou uma moça: Diana Molina.
ALFREDINHO NÃO ACHOU GRAÇA NENHUMA NA RESPOSTA.
ALFREDINHO - (sorriu amarelo e ensaiou uma resposta) O senhor está brincando. E é uma brincadeira bêsta. Eu estava amarradão nela... não ia matar...
DELEGADO NOGUEIRA - Mas quando ela ia se afogando, o senhor assistiu ao guarda-vidas salvá-la, sem mover um dedo, não foi?
ALFREDINHO - Isso é outra parada... a gente tinha brigado.
DELEGADO NOGUEIRA - (encarou o rapaz) Brigado por quê?
NOGUEIRA AGUARDOU A RESPOSTA, COM MAL DISFARÇADA HOSTILIDADE.
ALFREDINHO - Ela sabia...
DELEGADO NOGUEIRA - Ela lhe disse que ia se casar com outro.
ALFREDINHO - Foi. Ela se amarrou num padre.
DELEGADO NOGUEIRA - E por isso você a matou!
ALFREDINHO - Não! Não! O senhor não pode ir me acusando assim!
DELEGADO NOGUEIRA - Então, responda: onde o senhor estava entre uma e meia e duas horas da madrugada de terçafeira?
ALFREDINHO MUDOU DE POSIÇÃO NA CADEIRA. TENTOU DEMONSTRAR SEGURANÇA.
ALFREDINHO - Bem, eu... deixe-me lembrar... Estive com a turma até meia-noite.
DELEGADO NOGUEIRA - (ríspido) Que turma?
ALFREDINHO - A galera lá do postinho. Júlio Biruta tava comigo.
DELEGADO NOGUEIRA - Quem é Júlio Biruta?
ALFREDINHO - Seu filho. Desculpe, a gente já se habituou a chamar ele assim.
DELEGADO NOGUEIRA - Seja mais direto, seu Alfredo Ribeiro: onde o senhor estava entre uma e meia e duas horas da noite do crime?
ALFREDINHO - Rodando... rodando. Fui lá pela Barra, voltei, passei pelo Joá mais ou menos a essa hora.
DELEGADO NOGUEIRA - Pode apresentar alguma testemunha?
ALFREDINHO - Eu... não... não posso.
DELEGADO NOGUEIRA - (dirigiu-se ao cabo Jorge) Cabo, chame o detetive Amadeu e convoque o escrivão. Quero que este jovem seja identificado criminalmente!
FIM DO CAPÍTULO 16
0 comentários:
Postar um comentário