segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Doce Balanço - Capítulo 21




CENA 1 - APARTAMENTO DE GERMANO - QUARTO DE DIANA - INT. – NOITE.

MARCOS ROLAVA NA CAMA, SEM CONSEGUIR DORMIR. JÁ PASSAVA DE MEIA-NOITE QUANDO APAGOU, VENCIDO PELO CANSAÇO. MEIA HORA DEPOIS, FOI DESPERTADO DO SONO PROFUNDO PELO TOQUE INSISTENTE DO TELEFONE CELULAR. ACORDOU, ASSUSTADO E ATENDEU, COM A VOZ ROUCA.

 MARCOS - A... alô...
 VOZ EM OFF – É o padre Marcos?
 MARCOS - (ainda tonto de sono) Sim... sou eu... quem é?...
 VOZ EM OFF - Se quer saber tudo sobre a morte de Diana, venha agora até a praia de Arpoador.
 MARCOS - (arregalou os olhos, acordando de vez) Quem está falando? Isso é um trote?
VOZ EM OFF - Aqui é um amigo. Estou lhe esperando. Tem muitas coisas que o senhor precisa saber, padre! Venha agora! Estou lhe esperando em frente ao prédio de número 220, mas na areia da praia, perto do mar.(dito isto, a ligação foi cortada do outro lado da linha).
MARCOS - Alô! Alô!

MARCOS PROCUROU O NÚMERO NO VISOR, MAS FOI INÚTIL.

MARCOS - Droga! Chamada não identificada...

INCONTINENTI, LEVANTOU-SE DA CAMA E PROCUROU SUAS ROUPAS.

CORTA PARA: CENA 2 - PRAIA DO ARPOADOR - EXT . - NOITE.

MARCOS CAMINHAVA PELO CALÇADÃO, SENTINDO NO CORPO O AR FRIO DA MADRUGADA. ÀQUELA HORA A PRAIA ESTAVA QUASE DESERTA. CONFERIU O NÚMERO DO PRÉDIO QUE A VOZ MISTERIOSA DERA COMO REFERÊNCIA E, APÓS CERTIFICAR-SE DO LOCAL, DIRIGIU-SE PARA A AREIA DA PRAIA. OLHOU PARA OS LADOS E NÃO VIU NINGUÉM. FECHOU OS OLHOS E RESPIROU O AR PURO, COM CHEIRO DE MARESIA. FOI NESSE MOMENTO QUE SENTIU UM FORTE GOLPE NA CABEÇA, POR TRÁS, FAZENDO-O PERDER O EQUILÍBRIO E CAIR. O ATACANTE APROVEITOU-SE E PREPARAVA-SE PARA DESFERIR OUTRO GOLPE, QUANDO PAROU, SURPREENDIDO POR UM GRITO HISTÉRICO DE MULHER.

 MALU - Pare! Socorro! Polícia!

O AGRESSOR OLHOU PARA TRÁS E VIU MALU CORRENDO EM SUA DIREÇÃO, ATRAINDO A ATENÇÃO DE ALGUMAS PESSOAS QUE PASSAVAM NA RUA NAQUELE INSTANTE. DE IMEDIATO, CORREU COM TODAS AS FORÇAS PARA LONGE DALI. MARCOS ERGUEU-SE, AINDA TONTO COM A PANCADA E IA CAIR OUTRA VEZ, IMPEDIDO POR MALU, QUE AMPAROU-O, SENTANDO AO SEU LADO NA AREIA DA PRAIA.

MALU - Padre! É você mesmo?
MARCOS - (levou a mão á cabeça, sentindo um “galo” enorme) Aiiii! Minha cabeça!
MALU - Aquele covarde agrediu você e correu quando eu gritei!
MARCOS - (fitou-a, surpreso) Malu... o que faz aqui, a essa hora?
 MALU - (irônica) Faço-lhe a mesma pergunta, padre!
MARCOS – Recebi um telefonema... anônimo. Voz de homem. Me atraiu dizendo que tinha coisas importantes a me contar sobre a morte de Diana.
MALU - Era uma cilada.... Você podia estar morto agora, como fizeram com Diana, sabia?
 MARCOS - (sorriu, apesar da dor) É... e você me salvou... Quem diria...
 MALU - (examinando o ferimento) Deixa ver isso... tá doendo? Tem um belo galo aqui....
 MARCOS - Não foi nada... eu estou bem, obrigado. (olhou para os lados) É melhor sairmos daqui.
 MALU - (levantando-se) Você está bem, mesmo?
 MARCOS - (ergueu-se) Sim, sim, apesar da dor...

CAMINHARAM, LADO A LADO, ATÉ O CALÇADÃO E SEGUIRAM CONVERSANDO, COMO DOIS AMIGOS.

 MARCOS - Mas e você... o que faz aqui a essa hora?
 MALU - Estava sem sono... e resolvi caminhar um pouco... sempre faço isso quando não consigo dormir... Vi quando foi pra areia... mas não tinha certeza que era você. Foi quando vi o homem ir atrás, se esgueirando pra não ser visto. Por isso me chamou a atenção... e gritei feito uma louca!

OS DOIS RIRAM, DIVERTIDOS, PASSADO O SUSTO INICIAL.

 MALU - Sabe que eu acho você um ingênuo? Sim, isso mesmo, você é muito ingênuo. Entrar numa fria dessas! É preciso mesmo ser um anjinho!
 MARCOS - Não, não sou tão ingênuo assim... e muito menos anjo.

MALU FITOU-O COM TERNURA NO OLHAR.

 MARCOS - Você está diferente... mais humana... Não me tratou com desprêzo e até deixou de me fazer a clássica acusação... de ser o culpado pela morte de Diana...
 MALU - (estendeu-lhe a mão, ar sincero) Desculpe. Está sendo muito difícil superar a perda da minha amiga. Às vezes sinto uma dor tão grande, quando penso que não vou mais vê-la, conversar, rir com ela...
 MARCOS - Eu sei como se sente. Para mim também está sendo muito difícil. Tenho sofrido muito.

CAMINHARAM MAIS ALGUNS MINUTOS EM SILENCIO E MALU MOSTROU O PRÉDIO NO OUTRO LADO DA PISTA.
 MALU - Bem... eu moro ali. Agora que já fiz a boa ação do dia, vou dormir (brincou). Boa noite, padre....
MARCOS - Boa noite, Malu. Durma bem. Vá com Deus.

MALU DEU UM PASSO Á FRENTE E VOLTOU-SE.

MALU - Posso chamá-lo de Marcos? Você é tão jovem... não parece um padre.
 MARCOS - Claro que pode. Fico contente com isso.
 MALU - Boa noite, Marcos.
 MARCOS - Boa noite... (chamou-a) Malu!
 A JOVEM VOLTOU-SE OUTRA VEZ.
 MARCOS - Obrigado. Obrigado mais uma vez por ter salvo minha vida. Apesar da pancada, valeu a pena ter vindo aqui.
 MALU - Tchau, anjinho.

CORTA PARA:
CENA 3 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - DIA.

IMAGENS AÉREAS DO RIO DE JANEIRO, MOSTRANDO O CORCOVADO, LAGOA E A PRAIA DE LEBLON E IPANEMA. A MORENA DE CORPO ESCULTURAL, PELE BRONZEADA E PERNAS GROSSAS, TRAJANDO APENAS UM SUMÁRIO BIQUÍNI, PASSOU Á FRENTE DE MARCELÃO NA BEIRA DO MAR, DEIXANDO O PLAYBOY PERDIDO EM FANTASIAS INCONFESSÁVEIS. SENTADO NA AREIA, APROVEITAVA-SE DAS ESCURAS LENTES DOS ÓCULOS DE SOL PARA “DEVORAR” OS CORPOS QUE CRUZAVAM SEU CAMINHO. NEM PERCEBEU A PRESENÇA DE CECÉU, QUE CHEGOU, ESBAFORIDO.

CECÉU - Marcelão! Fui no teu apê te procurar e o Voskô disse que você tava aqui! (estendeu-lhe uma revista) Olha o que eu trouxe pra você ver!
 MARCELÃO - (babando ainda, olhos fixos na morena) Que mulher! Meu Deus!
 CECÉU - Ô meu irmão! É sério, a revista com as fotos da Diana chegou no Brasil. Olha só.

BRUSCO, MARCELÃO PUXOU A REVISTA ESTRANGEIRA E COMEÇOU A FOLHEAR.

 MARCELÃO - (franziu a testa, preocupado) Caramba! Isso é péssimo, cara! Ninguém pode saber que nós temos alguma coisa a ver com essas fotos.
 CECÉU - Foi o que pensei, pô! Por isso vim correndo te mostrar!
 MARCELÃO - E se o gringo que comprou as fotos entregar a gente?
CECÉU - Nem quero pensar...
MARCELÃO - Podemos ser envolvidos no assassinato!
CECÉU - Meu irmão, nem brinca! Essa parada pode ficar muito enrolada pro nosso lado!...

CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. DIA

SENHORINHA ABRIU A PORTA E MARCOS ENTROU. MALU O AGUARDAVA, COM A REVISTA NA MÃO.

MARCOS - Bom dia, Malu. Vim o mais depressa que pude. Você falou que era urgente...
MALU - Desculpe ter ligado tão cedo, Marcos. Um amigo jornalista, o Fred Gaspar, sabia que eu era amiga da Diana e me trouxe esta revista!
 MARCOS - (surpreso, pegou a revista) Uma revista!
 MALU - Não é o tipo de revista muito apropriada pra um padre ler, muito embora muita gente que se diz séria e respeitável a leia às escondidas...

MARCOS FOLHEU A REVISTA E DEPAROU COM AS FOTOS SENSUAIS DE DIANA. EMPALIDECEU.

 MARCOS - Você não devia ter-me mostrado...
MALU - Ué, você não queria entender tudo? Não lhe interessa saber por que uma pessoa chega a fazer isto? Então, deixe de pudor e enfrente o problema. Ela era um ser humano e não o anjo de candura que você idealizou. Enquanto você não se convencer disso, não vai entender nada! Além do mais, ela não vivia nas nuvens, mas aqui na terra, cercada de gente pior do que ela! Cercada de feras!
MARCOS - (lembrou-se) Sim, sim, é isso! O diário. Era dessas fotos que ela falava no diário! Mas... e o motivo? Dinheiro? Sim, isso mesmo. Diana tinha precisado de dinheiro para ajudar o pai... naquela dificuldade, não foi?
 MALU - Exatamente. Para cobrir o desfalque no banco do meu pai. Me pediu, inclusive, para mentir, dizendo pra seus pais que fui eu quem emprestou o dinheiro. Perguntei como ia arranjar o dinheiro, mas ela não quis me dizer...
 MARCOS - Pobre Diana... estava desesperada pra chegar a esse ponto... Tudo pra salvar o pai...
 MALU - Coitada da minha amiga...
 MARCOS - (decidido) Malu, precisamos tirar essa história a limpo. Você me ajuda?
 MALU - Conte comigo. O que quer que eu faça?
 MARCOS - Entre em contato com os editores desse revista. Descubra quem negociou as fotos com eles!
 MALU - Deixe comigo. Sei como fazer isso.

CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -DIA.

GERMANO ESTAVA SENTADO NUMA POLTRONA, LENDO O JORNAL, QUANDO MARCOS ENTROU.

 GERMANO - (olhou Marcos por sobre o jornal) Saiu cedo hoje, Marcos...
 MARCOS - (foi direto ao assunto) Seu Germano, aquele dinheiro do desfalque... a Diana arrumou uma parte, não foi?
 GERMANO - Sim. Metade do dinheiro que eu precisava ela me arrumou.
O CELULAR DE MARCOS VIBROU. ANSIOSO, ATENDEU AO VER O NOME DE MALU NO VISOR.
 MARCOS - Malu, e então, alguma novidade?

DO OUTRO LADO DA LINHA, MALU FALOU, EUFÓRICA.

 MALU - Marcos, eu descobri! Os intermediários do negócio das fotos foram Alceu Coqueiro, o Cecéu, e Marcelo Quinderé de Souza, o Marcelão, que foi o fotógrafo.
 MARCOS - (vibrou com a notícia) Eu sabia!

CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA.

A CAMPAINHA SOOU “ALELUIA” E VOSKOPOULUS ABRIU A PORTA.

 VOSKOPOULUS - (ao ver que era Marcos) Sinto muito, mas meu patrão está muito ocupado e..
.
SEM DAR OUVIDOS AO MORDOMO, MARCOS ADENTROU NO APARTAMENTO. MARCELÃO ACABAVA DE SAIR DO ATELIÊ E FOI SURPREENDIDO COM A PRESENÇA DO RAPAZ.

 MARCOS - Boa tarde, seu Marcelo Quinderé de Souza. Vou ser breve (estendeu a revista para o playboy) Só preciso de uma confirmação: foi o senhor que tirou estas fotos da Diana?

MARCELÃO OLHOU A CAPA DA REVISTA E ENCAROU MARCOS, QUE FITAVA-O, DESAFIADOR, ANALISANDO ATENTAMENTE CADA REAÇÃO DO PLAYBOY.

FIM DO CAPÍTULO 21

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