25º
Capítulo
Vinicius e
Ferradura são inimigos. Foi Carlos Henrique Teixeira que interrompeu uma
carreira de sucesso. Dia após dia, um esforço para entender que a vida
continuou e o sonho acabou.
Incomodado com
o bom desempenho do colega nos circuitos estaduais, Ferradura sabotou Vinícius que
era uma das promessas do skate vertical até cair em uma prova e sofrer graves
fraturas pelo corpo. Por muito pouco não perdeu a vida. Pode-se dizer, sem
dúvida, que é um guerreiro, embora não seja assim que ele se sinta porque
precisou recomeçar longe do que mais amava e continua amando com todas as
forças.
Todos os
troféus e o velho skate são apenas lembranças de uma fase maravilhosa de sua
vida que se encerrou repentinamente. Quem vê o Vinicius de hoje não imagina que
dois anos e meio antes ele esteve 12 dias em coma e 4 meses no hospital até
recuperar-se, ainda que a perna direita tenha sido prejudicada. O apoio da
família, dos amigos, fãs e de sua amada Karinna o ajudaram a enfrentar a pior
fase. Superar não, apenas viver cada dia sem se cobrar por demais.
Flashback.
Hospital.
Quarto de Vinícius. Dia.
Paula decidiu
dizer a Vinicius que a perna direita dele está comprometida e ele nunca mais
poderá competir. A cirurgia feita foi um sucesso, mas as sequelas, inevitáveis.
Uma delas custa muito caro ao irmão de Daiana.
Como mãe nunca
queria dar uma notícia assim a seu filho porque tem plena noção do quanto o
skate é importante para o garoto e de que essa notícia que pode ser corriqueira
para quem a ouve sem dar valor, mudará todos os planos que Vinicius tinha, por
isso Paula toma cuidado para não aparentar cansaço e tristeza, para que o
skatista não tenha uma crise.
Vinicius (depressivo) – Cara,
isso é a mesma coisa que dizer que eu to morto.
Paula (sentada ao lado do filho) –
Vini, meu amor, você precisa ser forte.
Vinicius – E me diz isso
depois que tudo acaba, mãe? O que tem pra mim agora a não ser virar outro
inválido dando incômodo aos outros por aí?
Paula – As coisas não
chegaram ao fim ainda, Vinicius. Acredita. (aperta as mãos do filho com as
suas) Acredita que essa força que te ajudou a viver vai te fazer levantar dessa
cama e seguir a vida.
Vinícius – Não posso
acreditar que meu sonho acabou.
Paula – Juro, meu
filho, juro que daria minha vida pra não lhe ver chorar. Não quero ver o meu
menino tão jovem e cheio de esperança desistindo do bem mais precioso que é a
vida. Por mais imprevisível que seja, ainda tenha fé.
Vinicius – Fé no que se
já me tiraram tudo?
Paula – Não terão
tirado tudo enquanto tivermos um ao outro.
Vinícius e
Paula se abraçam. O skatista chora nos ombros da mãe.
Dia do
acidente. Autódromo. Interior. Dia.
Vinicius e Ferradura se cruzam no local da
competição. Ferradura apenas sorri para o colega e segue caminhando. Vinicius,
porém, sente um atípico aperto no peito e por alguns minutos pensa em não
competir, mas para alegrar Karinna, que estará torcendo por ele, quer fazer a
melhor apresentação de sua vida.
Momento da
apresentação.
Vinicius não percebe nada de anormal em seu skate e
sobe a rampa para se apresentar. Marcelo será o próximo.
Marcelo – Vai com
firmeza, chapa. Fé em Deus!
Vinicius acena
para o amigo e Karinna, da arquibancada, está de pé e acena, manda beijos e
sorri. Para ele, perfeito. Mesmo que não vença, está na companhia da garota que
mais ama. Competiu, não se afugentou, não deixou o estrelismo fisga-lo. Há outros
skatistas mais habilidosos e isso não o incomoda, apenas serve para que treine
com mais afinco e disciplina.
Daiana está ao lado de Pedro e Karinna torcendo pelo
irmão. Sempre alegre, assobia e manda uma mensagem de incentivo para Vinicius.
Daiana – Vai Vini,
mostra quem manda!
Karinna – É isso aí,
Vini. (assobia) Mostra quem manda.
Assim que Vinicius começa sua apresentação, o eixo
que dá sustentação as rodas traseiras cai e o skate perde o controle, fazendo
com que Vinicius despenque em queda livre na rampa.
Daiana (desesperada, começa a chorar) –
Vini, não... (com as mãos no rosto) Não...
Pensava-se que Vinicius iria se levantar, mas não.
Ele não reagirá. Tudo que Vinicius sabe a partir daí é o que lhe contaram.
Fim do
flashback.
Vinicius não
compreende qual é a razão de Ferradura estar o visitante, se nem sequer são
amigos; aturam-se para não envolver Marcelo nas picuinhas, mas se odeiam
declaradamente, tanto que o ódio atinge também Daiana e Karinna.
O pior ainda
está para acontecer: Mayara e Ferradura se encontram.
Casa de Laura.
Sala. Tarde.
Amauri está
assistindo a uma partida de futebol sentado em sua poltrona. Quando se senta
para ver a Fórmula 1 e o Futebol,
esqueçam-se da existência dele. Compenetrado na televisão, Amauri se esquece do
mundo.
Marcelo, para
impressionar o sogro, se senta no sofá e procura um momento oportuno para puxar
algum assunto relacionado ao esporte, pois com Zélia o papo não flui. Amauri não
sinaliza nem um tipo de simpatia. Constrangido, Marcelo se levanta e é quando
Laura está saindo da cozinha.
Laura – Já vai,
Marcelo?
Laura e
Marcelo se aproximam da porta principal.
Marcelo – Lembra que eu
fiquei de visitar o Ferradura?
Laura – Posso ir com
você? Bem, se você me esperar, eu subo e me arrumo.
Marcelo – Ta linda
assim, mas tem que ver se seus pais vão deixar.
Amauri nada
diz.
Casa de
Vinicius. Sala. Tarde.
Ferradura
abraça Mayara no sofá de três lugares. Quem os vê até julga que deve se tratar
de dois irmãos devotos um pelo outro.
Paula e
Fabrício, sentados no sofá de dois lugares, analisam Mayara. Está decalcado o
sofrimento no rosto da moça.
Ferradura – Eu não sei
por que estão me marginalizando se eu sou um bom irmão pra Mayarinha... (para
Mayara) Algum dia te faltou alguma coisa?
Mayara – Sempre,
Ferradura. Quem viu a mãe morrer fui eu. Fui eu quem liguei à emergência, que
cuidou de toda a burocracia pro funeral. Há muito tempo eu cuidava da mãe
sozinha porque você nunca tava perto, como nunca esteve.
Paula – Eu estou
precisando de ajuda em casa e já que a Mayara sabe limpar, cozinhar e cuidar da
casa, acho ótimo porque quero que a Daiana trabalhe comigo.
Fabrício – Se Paula não
tem nenhuma objeção, Mayara está contratada.
Mayara é muito
grata pela oportunidade, mas não esboça tranquilidade porque seu pior inimigo
está ao seu lado e não sossegará enquanto não destruí-la por completo.
Ferradura (fingindo estar emocionado) – Viu
só, irmãzinha? Agora tem emprego, não precisa mais se preocupar. (abraça
Mayara, mas ela não o corresponde) Eu não te disse que tudo ia ficar bem?
Mayara nada
responde.
Casa de Laura.
Sala. Tarde.
Amauri e Zélia
tiram conclusões a respeito de Marcelo.
Amauri (tomando café na poltrona) – Enfim,
sós.
Zélia (se senta no sofá) –
Não sei como aguentei, Amauri. Só por Deus eu não perdi a paciência, não falei
umas verdades, não pirei.
Amauri – Não me agradei
com aquele visual. Parecia que ele estava tentando impressionar.
Zélia – Pensando que
iríamos aceita-lo. Até plantinha tentou trazer, mas vigiei pra ver se não tinha
nenhuma droga.
Amauri – Encontrou alguma
coisa?
Zélia – O pior é que
não. (com pesar na voz) Não encontrei nada. Mas agora o temos na nossa mão e eu
não vou medir esforços pra separar esses dois...
Casa de
Isabel. Sala. Tarde.
Adriano e
Jonathan estão se estapeando porque ambos querem usar o computador. Adriano
sempre vence porque é o mais velho e Isabel realmente não aprova que Jonathan
acesse a internet porque conclui que o garoto ainda é muito novo para ter
contas de ICQ, MSN, fotolog e até do famoso Orkut que aos poucos se populariza.
Jonathan – Vou contar
pra mãe que você fica vendo besteira de madrugada...
Adriano – E eu vou
contar que você é um burro que só tira nota vermelha...
Isabel vê os
irmãos brigando e os separa com cascudos.
Isabel – Fim de jogo.
Adriano cruza
os braços e protesta.
Adriano – Já que o
Jonathan sempre monopoliza o que a gente vai ver na tv, nada mais justo que eu
usar o pc.
Jonathan – Ele vive aí
baixando música chata e nunca me deixa ver nada...
Isabel – Pois sabem
quem é que vai usar o computador?
Os irmãos se
provocam por linguagem corporal.
Isabel – Quem vai usar
o computador hoje... Sou eu!
Isabel se
senta à mesa em frente ao p.c. e abre uma página. Os irmãos não poderiam estar
mais surpresos.
Isabel - E qual é o
motivo da surpresa? Também gosto de ver as novidades...
Isabel logo
coloca suas músicas para tocar e se sente uma adolescente. Nada mais justo.
Carro de
Marcelo. Interior. Tarde.
Laura e
Marcelo estão em silêncio desde que embarcaram para ir à casa de Ferradura.
Laura, incomodada, resolve abrir o jogo com o namorado.
Laura – Ta assim
porque os meus pais são meio cara fechada?
Marcelo não
responde e continua dirigindo. Laura insiste.
Laura – Marcelo, me
responde, pô.
Marcelo sabe
que Laura é diferente dos pais dela, mas mesmo a amando muito, não irá suportar
a arrogância de Zélia e a antipatia de Amauri. A decisão irá ferir Laura, no
entanto nesse momento é o mais adequado a se fazer.
Laura – Eu sei que
meus pais são meio antiquados, mas não fazem por mal...
Marcelo para o
carro no acostamento para o casal conversar. Olha nos olhos da amada. Tudo que
deseja é viver com ela para sempre. Aos 25 anos não lhe interessa apenas ficar.
É Laura sua menina preferida, a única, porém esse amor sofre impedimentos e
quanto mais lutarem, mais e mais se machucarão e terão de enfrentar um mundo
nem sempre amigável. Aliás, de amigável o mundo não tem nada.
Marcelo – Laura, a
gente precisa conversar.
Laura – Já estamos
conversando.
Marcelo – Eu digo
conversar sério.
Laura – Eu acho que
já sei do que se trata.
Marcelo – É complicado
falar assim; as palavras estão todas fugindo da minha boca, eu to me sentindo
horrível, sem proteção, sem saber por onde começar...
Laura (preparada para o pior) –
Eu... (com a voz engrolada pelo choro) Eu já sei que você vai terminar tudo
comigo...
Marcelo – Não exatamente
assim, Laura...
Laura – Mas é, não é?
Claro que é? Desde que a gente entrou nesse carro você mal troca uma palavra
comigo, ta estranho, diferente.
Marcelo – Diferente em
que sentido? Pode ser mais clara?
Laura – Você é sempre
tão divertido, tão afetuoso, atencioso e olha só, mal nos meus olhos ta
olhando...
Marcelo (age
ao contrário do que sente) – Pois hoje foi demais pra mim.
Laura se
surpreende pelo fato de Marcelo ter erguido a voz com ela. Nunca foi de seu
feitio fazer isso. Será que conhece Marcelo o bastante ou o amor a está
cegando?
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