terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Doce Balanço - Capítulo 22




CENA 1 - APARTAMENTO DE MARCELÃO – SALA - INT. –DIA

MARCELÃO NÃO SE ALTEROU COM A TERCEIRA VISITA DO PADRE. RESOLVEU ENFRENTÁ-LO.

 MARCELÃO - Sim, fui eu quem tirou as fotos! E o senhor vem aqui para quê? Para me acusar de pecado mortal? De quem será o pecado? Meu ou dela?
 MARCOS - Eu não sabia a que tipo de fotos ela se referia no diário. Agora tudo começa a ficar claro! Ela diz no diário que estava desesperada para recuperar essas fotos... e que chegou a ameaçar o senhor, seu Marcelão! Ameaçou... contar ao Dr. Monteiro Prado sobre seu caso com a noiva dele, a Isadora!

MARCELÃO EMPALIDECEU.

 MARCELÃO - Isso não é verdade. Ela fez confusão. Eu e Isadora somos amigos, só isso...
 MARCOS - Sabe, no seu lugar eu não ficaria tão seguro assim... porquê isso torna o senhor um dos principais suspeitos do assassinato de Diana. Bem, isso é tudo. Tenha um bom dia, seu Marcelão!

COM A CERTEZA DE TER ABALADO AS ESTRUTURAS DO PLAYBOY, MARCOS DEU-LHE AS COSTAS E RETIROU-SE DO APARTAMENTO.

 MARCELÃO - (trincou os dentes) Droga!

CORTA PARA:
CENA 2 - DELEGACIA - SALA DE JUSTO NOGUEIRA - INT.– DIA. 

O CENÁRIO ERA O MESMO. ALIÁS, SEMPRE VOLTAVA AO MESMO. OS PERSONAGENS É QUE, VEZ POR OUTRA, MUDAVAM. DESTA VEZ QUEM ESTAVA NA FRENTE DE JUSTO NOGUEIRA ERA O CECÉU.

 DELEGADO NOGUEIRA - Não adianta negar nada, porque o correspondente da revista estrangeira já esclareceu tudo isso. Diana estava querendo desfazer o negócio quando foi assassinada.

 CECÉU - Mas isso não era motivo para ninguém matá-la.
 DELEGADO NOGUEIRA - Quem sabe? Ela podia ter-se tornado inconveniente, incômoda...
 CECÉU - Mas por quê?
 DELEGADO NOGUEIRA - É o que eu quero saber. E hei de saber, seu Cecéu. Pode ir embora.
 CECÉU - (levantou-se) Então eu vou indo... Até logo, seu delegado.

CECÉU RETIROU-SE. NOGUEIRA PASSOU A MÃO PELA CABEÇA, PREOCUPADO.

 DELEGADO NOGUEIRA - (para o detetive) É, Amadeu, a coisa tá ficando muito complicada.
 AMADEU - Eu lhe disse no início: manda esse “rôlo” para a Delegacia de Homicídios. Eles lá que desenrolem.
 DELEGADO NOGUEIRA - Como é que eu podia? Havia um suspeito...
 AMADEU - E agora tem três ou quatro. Agora é esse tal de
Marcelão. Ele é o dono do cavalo que ganhou o Hunter, o Andaluz!
 DELEGADO NOGUEIRA - Esse Marcelão leva uma vida muito misteriosa. Ninguém sabe do que ele vive. Diz-se produtor de cinema, mas nunca fez um filme. Tou no calcanhar dele desde domingo. A única profissão que eu sei que ele tem até agora é a de bicão. Amadeu, quero que você fique na cola desse cara. Vou mandar seguir também a atriz, Valéria França.

CORTA PARA:
CENA 3 - BANCO MONTEIRO PRADO - RECEPÇÃO - INT. -DIA.

ERA QUASE MEIO DIA QUANDO O BANQUEIRO MONTEIRO PRADO RETORNAVA Á AGENCIA DEPOIS DE UMA CANSATIVA REUNIÃO NO BANCO CENTRAL.

 MONTEIRO PRADO - (parou em frente à mesa vazia de Cecéu e chamou Rose, a nova recepcionista) Dona Rose, por favor...
 ROSE - Pois não, doutor Monteiro...

O BANQUEIRO APONTOU PARA A MESA VAZIA, ONDE VIA-SE A PLACA COM O NOME “ALCEU COQUEIRO – SUB-GERENTE””.

 MONTEIRO PRADO - Onde está o seu Alceu Coqueiro?
 ROSE - Ele... ainda não chegou, doutor.
 MONTEIRO PRADO - (entredentes) Segunda vez esta semana... Quando seu Cecéu.... quer dizer, seu Alceu chegar, diga que quero falar com ele.

CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. –DIA.

MARCELÃO ESTAVA SE PREPARANDO PARA VIAJAR E DAVA AS ÚLTIMAS INSTRUÇÕES A VOSKOPOULUS.

 MARCELÃO - Talvez volte ainda hoje... não sei... Se alguém perguntar, já sabe: viajei a negócios. E se Madame X aparecer, você diz que só volto daqui a um mês. DOCE BALANÇO CAPÍTULO 22 PÁGINA 05
 VOSKOPOULUS - Pode deixar, seu Marcelão, vá em paz.
 MARCELÃO - (baixando a voz, quase num suspiro) Aquele tira ainda continua rondando por aí?

VOSKOPOULUS ESGUEIROU-SE POR TRÁS DA CORTINA E OLHOU PARA O CALÇADÃO LÁ EMBAIXO.

 VOSKOPOULUS - Aproveite pra sair agora, patrão.Ele não está na frente do prédio. Deve ter ido tomar um café...

CORTA PARA:
CENA 5 - BANCO - SALA DE MONTEIRO PRADO - INT. -TARDE.

VIRGÍNIA, A SECRETÁRIA DE MONTEIRO PRADO, ANUNCIOU PELO INTERFONE A PRESENÇA DE CECÉU.

 MONTEIRO PRADO - Mande entrar, Dona Virgínia.

CECÉU ENTROU. APESAR DA ELEGÂNCIA DO TERNO BEM CORTADO, PARECIA POUCO À VONTADE DENTRO DAQUELAS VESTES.

 CECÉU - Com licença, Dr. Monteiro.

COMO DE COSTUME, MONTEIRO FALOU DURO E SEM MEIAS PALAVRAS.

 MONTEIRO PRADO - Seu Alceu Coqueiro, é a segunda vez que o senhor chega atrasado esta semana.
 CECÉU - Desculpe, doutor Monteiro. Eu tive um assunto sério pra resolver e...
 MONTEIRO PRADO - (cortou) Aprenda uma coisa, seu Alceu: nada é mais sério, mais importante que o seu trabalho, o seu ganha - pão. O que estou vendo é que o senhor está desperdiçando a excelente oportunidade que eu lhe deisenhor imagina quantas pessoas, aqui dentro, matariam pra estar no seu lugar?
 CECÉU - (sem graça, sorriso amarelo) Eu... eu imagino, doutor...
 MONTEIRO PRADO - Pois então, abra o olho, seu Cecéu. Abra o olho, antes que o seu emprego desça ladeira abaixo. (T) Isso é tudo o que eu tenho a dizer. Pode voltar á agencia.

MONTEIRO PRADO VOLTOU A EXAMINAR UMA PILHA DE PAPÉIS EM SUA MESA, IGNORANDO A PRESENÇA DE CECÉU,QUE RETIROU-SE, ENVERGONHADO.

 CECÉU - Com licença, doutor Monteiro...

CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO – QUARTO DE MALU - INT. – DIA.

MALU ESTAVA DEITADA NA CAMA, OUVINDO UM CD DE BALADAS ROMÂNTICAS, O PENSAMENTO VOLTADO PARA MARCOS. LEMBRAVA-SE DO ENCONTRO NA PRAIA, QUANDO O SALVOU DA AGRESSÃO E SORRIU, AR SONHADOR. BATIDAS LEVES NA PORTA A TROUXERAM DE VOLTA Á REALIDADE.

 MALU - Entre!

SENHORINHA ENTROU, COM UM ENVELOPE NAS MÃOS.

 SENHORINHA - Malu, chegou uma carta pra você. É de sua mãe.

MALU LEVANTOU-SE DE UM SALTO E ARRANCOU A CARTA DAS MÃOS DA GOVERNANTA.

 MALU - Minha mãe! 

RASGOU O ENVELOPE, ANSIOSA, E LEU RÁPIDAMENTE.

 SENHORINHA - Ela... está bem?
 MALU - (ar triste) Sim, está... Ela mora em Nova Iorque. Diz que sente saudades, que queria me ver, mas não pode, quem sabe ano que vem...
 SENHORINHA - O importante é que ela está bem, querida.
 MALU - É, o importante é que ela está bem...

CORTA PARA:
CENA 7 - NITERÓI - ESTAÇÃO DAS BARCAS - EXT. - DIA.

O CATAMARÃ ATRACOU NA PLATAFORMA E A MULTIDÃO ENCAMINHOU-SE, APRESSADA PARA A SAÍDA. MARCELÃO AFASTOU-SE DO BURBURINHO, DIRIGIU-SE PARA A PISTA EFEZ SINAL PARA UM TAXI. LOGO ATRÁS, O DETETIVE AMADEU, SEM SER VISTO, FEZ SINAL A OUTRO TAXI, QUE PARTIU EM SEGUIDA.

CORTA PARA:
CENA 8 - NITERÓI - CASA DE TIA LALINHA - EXT. - DIA.

O TAXI PAROU EM FRENTE A UMA CASA ANTIGA, PINTADA DE BRANCO, DE JANELAS GRANDES. MARCELÃO SALTOU, DIRIGIU-SE PARA A PORTA, GIROU A CHAVE NA FECHADURA E ENTROU.

CENA 9 - NITERÓI - CASA DE TIA LALINHA - INT. - DIA.

MARCELÃO TRAZIA ALGUMAS CAIXAS AMARRADAS COM BARBANTE, QUE COLOCOU SOBRE A MESA. DEPOIS, TORNOU A ABRIR A PORTA E OLHOU PARA FORA, COMO A CERTIFICAR-SE DE NÃO DE ESTAR SENDO SEGUIDO. FECHOU A PORTA E OLHOU EM VOLTA, PROCURANDO ALGUÉM. AS PAREDES ERAM DECORADAS COM PAPEL DO PINTADO DE DESENHOS INFANTIS. HAVIA ALGUNS BRINQUEDOS.

CENA 10 - NITERÓI - CASA DE TIA LALINHA - EXT. - DIA.

O TAXI PAROU E O DETETIVE AMADEU SALTOU. OLHOU PARAA CASA COM CURIOSIDADE E PAROU ALGUNS MINUTOS, INDECISO. EM SEGUIDA, EMPURROU A PORTA, QUE SE ABRIU.

CENA 11 - CASA DE TIA LALINHA - INT. - DIA.

O DETETIVE AMADEU SURGIU NA ENTRADA E FICOU SURPRESO COM O QUE VIU. MARCELÃO ESTAVA SENTADO NO CHÃO, BRINCANDO COM UMA MENINA. AS CAIXAS ESTAVAM AO SEU LADO. ELE SE LEVANTOU.

 DETETIVE AMADEU - Desculpe...eu pensei...
 MARCELÃO - Passeando por Niterói? TIA LALINHA ENTROU.
 TIA LALINHA - Ei moço, como é que o senhor vai entrando assim, pela casa da gente?
 MARCELÃO - Não se preocupe, tia. Amadeu é um velho amigo meu. Quer conversar comigo? Não precisava atravessar o Atlântico, né?
 LAURINHA - Papai, descarrilhou...

MARCELÃO ABAIXOU-SE E RECOLOCOU O TRENZINHO SOBRE OS TRILHOS. O TREM SE MOVIMENTOU.

 MARCELÃO - Pronto, Laurinha, tá tudo bem...
 DETETIVE AMADEU - É sua filha?
 MARCELÃO - É.
 DETETIVE AMADEU - (sorriu, sem graça) Engraçado... eu não podia imaginar... (e sério) Bem, o doutor Nogueira está à sua espera lá no Distrito. Eu... eu vou indo. Com licença.

AMADEU RETIROU-SE. MARCELÃO SENTOU-SE NO CHÃO E VOLTOU A BRINCAR COM A FILHA, SOB O OLHAR BONDOSO DE TIA LALINHA.

 TIA LALINHA - Filho, que vida sacrificada você leva. Virgem Santíssima! Também, quem pode calcular a existência de um agente secreto internacional!
 MARCELÃO - É uma vida difícil mesmo, tia. Hoje estou em Niterói, mas amanhã posso estar na Jamaica, depois em Berlim. No mês passado, quase caí prisioneiro de um grupo de guerrilheiros, gente da Al-Qaeda. Uma vida de perigos.
 TIA LALINHA - (sussurrou) Esse moço que apareceu aqui, de repente, tava seguindo você?
 MARCELÃO - (sussurrou de volta) Não quero assustar a senhora, tia… mas a senhora tá certa: esse sujeito tava me seguindo!
 TIA LALINHA - Santo Deus, que perigo! Mas você não podia escolher um meio de vida menos perigoso, Marcelinho?
 MARCELÃO - Agora é tarde pra mudar. Tenho que carregar essa cruz...
 TIA LALINHA - Laurinha sempre pergunta: por que papai não mora com a gente, vovó?
 MARCELÃO - Nem preciso responder, né, tia? Tenho que proteger vocês! Como vou deixá-las sozinhas quando tiver que viajar?
 TIA LALINHA - Eu compreendo. Você é um sobrinho de ouro, meu filho! E um pai maravilhoso. Nunca deixou faltar nada pra gente!

UMA HORA DEPOIS, MARCELÃO DESPEDIA-SE DE TIA LALINHA E DA FILHA. BEIJOU AS DUAS.  TIA LALINHA FEZ O SINAL DA CRUZ NA FRENTE DO SOBRINHO.

 TIA LALINHA - Vai com Deus, meu filho. Vai com São Sebastião também. E com São Judas Tadeu!

MARCELÃO SAIU. TIA LALINHA AJOELHOU-SE DIANTE DE UM NICHO COM DIVERSAS FIGURAS DE SANTOS.

 TIA LALINHA - Meus santinhos queridos, vou acender uma vela pra cada um de vocês, mas não deixem de olhar pelo Marcelinho nem um minuto… Ele precisa muito de vocês! AlQaeda… esse nome me dá arrepios só de imaginar!...

FIM DO CAPÍTULO 22

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