CENA
1 - AV. VIEIRA SOUTO - EXT. - DIA.
ALFREDINHO
E VALÉRIA DAVAM UM PASSEIO DE MOTO NA AV. VIEIRA SOUTO, SENTINDO NOS ROSTOS A
LEVE BRISA DO MAR NO FINAL DAQUELA TARDE DE OUTONO. MARCOS ESTAVA PARADO NA
ESQUINA DA VINÍCIUS DE MORAIS, ESPERANDO O SINAL ABRIR, QUANDO ALFREDINHO O VIU
E CHAMOU A ATENÇÃO DA AMANTE.
ALFREDINHO - (parou a moto a alguns metros à
frente e mostrou o padre, discretamente) Távendo aquele cara, de cavanhaque,
parado no sinal?
VALÉRIA - Quem? Ah, de camisa azul? Quem é?
ALFREDINHO - É o tal padreco, com quem Diana
ia casar! Não vou com os cornos desse cara!Julio Biruta me disse que ele tá ajudando
a polícia a encontrar o assassino...
VALÉRIA - (sem se conter) Nossa! Que gato! Um
homem desses é padre? Que desperdício...
ALFREDINHO
NÃO AGUENTOU O COMENTÁRIO. PULOU DA MOTO, VERMELHO DE RAIVA.
ALFREDINHO - Qual é, Valéria? Tá de gozação
com a minha cara? Se gostou, vai lá falar com ele! Quer saber? Enchi de você!
Desce! Vai pra casa à pé! Tá pensando que eu sou babaca?
VALÉRIA - (surpresa) Que é isso... ficou
louco?
ALFREDINHO - (gritou, fora de si) Desce! Sai!
Sai!
DITO
ISTO, PUXOU A MULHER PARA FORA DA MOTO, MONTOU E ARRANCOU, SEM OLHAR PARA TRÁS.
VALÉRIA - (gritou, indignada) Seu... seu
grosso! Grosso|!
OBRIGADA
A PROSSEGUIR À PÉ, VALÉRIA NÃO SE DEU POR VENCIDA E CAMINHOU EM DIREÇÃO A
MARCOS, QUE COMEÇAVA A ATRAVESSAR A RUA.
VALÉRIA - Ei! Padre! Espere!
MARCOS
VOLTOU-SE, INCONTINENTI, ANTE A APROXIMAÇÃO
DA
MULHER.
MARCOS - A senhora falou comigo?
VALÉRIA - Desculpe, o senhor não me conhece.
Eu sou Valéria França. Sou... amiga do Alfredinho. Ele foi ex-namorado da Diana...
Sabe, me enrolaram também nessa história. Gostaria de conversar com o senhor,
porém em meu apartamento. Moro perto daqui. Quer?
MARCOS
FITOU-A COM CURIOSIDADE E, APÓS ALGUNS SEGUNDOS DE INDECISÃO, CONCORDOU.
MARCOS - Está bem, vamos.
CORTA
PARA:
CENA
2 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. - DIA.
VALÉRIA
SERVIU UM CAFÈZINHO E SENTOU-SE NA POLTRONA À FRENTE DE MARCOS.
VALÉRIA - Loucura tudo isso, não é? A morte
dessa moça... Tenho medo que acusem Alfredinho. Padre, ele é inocente!
MARCOS - (medindo bem as palavras) O Delegado Nogueira
me disse que a senhora deu um falso álibi para tentar inocentar este rapaz...
VALÉRIA - Eu fiz essa idiotice, é verdade. Mas
só fiz porque
sei
que não foi o Alfredinho que matou Diana! Tive medo que ele fosse preso! MARCOS - A senhora ama esse rapaz, não é?
O
BARULHO DA PORTA SE ABRINDO CHAMOU A ATENÇÃO DOS DOIS, QUE VOLTARAM-SE AO MESMO
TEMPO. ALFREDINHO ENTROU E PAROU, SURPRÊSO NO MEIO DA SALA.
ALFREDINHO - Puxa, mas é mesmo um bicho de
sacristia... Eu bem que tinha sacado... Bicão sem-vergonha!
VALÉRIA - Alfredinho... ele veio aqui porque
eu pedi. Você está interpretando mal. Ele é um padre.
ALFREDINHO - Padre bicão... E você, sua
vagabunda!
SÚBITO,
ALFREDINHO AVANÇOU PARA VALÉRIA E A ESBOFETEOU. TENTAVA REPETIR A DOSE QUANDO
MARCOS O SEGUROU VIOLENTAMENTE E DEU-LHE UM SÔCO NO ROSTO, DEITANDO-O POR
TERRA. VALÉRIA SALTOU DO SOFÁ, ONDE CAÍRA AO SER AGREDIDA PELO PILANTRA, E
COLOCOU-SE À FRENTE DE ALFREDINHO,EM ATITUDE DE DEFESA.
VALÉRIA - (gritou para Marcos) Deixa ele! Quem
é você pra se meter entre nós? Eu não lhe pedi pra me defender! Vá-se embora
daqui! Vá-se embora daqui!
PADRE
MARCOS FICOU TREMENDAMENTE CHOCADO COM AQUELA REAÇÃO. PERPLEXO, VIROU AS COSTAS
E SAIU.
VALÉRIA - (agarrou-se no pescoço de
Alfredinho) Você se machucou? Meu amor.... meu amor....
ALFREDINHO - Caramba! Pra um padre, esse cara
tem a mão bem pesada.... (gemeu) Aiiiiiii!
ELA
O ABRAÇOU E COBRIU-O DE BEIJOS.
CORTA
PARA:
CENA
3 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
CABO JORGE - Doutor Nogueira, o seu Marcelo
Quinderé de Souza acaba de chegar.
DELEGADO NOGUEIRA - Mande-o entrar.
MARCELÃO
ENTROU E ESTENDEU A MÃO PARA O
DELEGADO.
MARCELÃO - Como vai, delegado? Recebi sua
intimação e aqui estou.
DELEGADO NOGUEIRA - Sente-se, por favor, seu
Marcelo. Eu desejava, agora, detalhes sobre as fotos que o senhor tirou de Diana
Molina. Mera rotina, visto que o prazo para a conclusão do inquérito já se
esgotou.
MARCELÃO - Isso que dizer que... eu ainda sou
suspeito de matar essa moça?
DELEGADO NOGUEIRA - Seu Marcelão, vou lhe
revelar um segredo: para mim, Alfredo Ribeiro ainda é o suspeito número um!
MARCELÃO - Fico aliviado, delegado...
DELEGADO NOGUEIRA - Pensando bem... vou mandar
o Detetive Amadeu buscá-lo pra novo interrogatório. E quanto ao senhor, seu
Marcelo, pode não ser o principal suspeito, mas ainda está na minha lista, até
que apareça o verdadeiro culpado!
CORTA
PARA:
CENA
4 - PENSÃO PRIMAVERA - SALA - INT. – DIA
D. GIGI - Seu Cecéu! Que bom que o senhor está
bem, já estávamos preocupados com seu sumiço!
D.
GIGI, ZÉ URBANO, SORAIA E ALBERTO ACERCARAM-SE DE CECÉU QUE ACABAVA DE ENTRAR
NA PENSÃO COM UMA PEQUENA MALA NA MÃO.
CECÉU - (sem jeito) Como vão vocês, D. Gigi,
Soraia, Zé Urbano... Desculpem, eu não tinha como avisar.
ZÉ URBANO - Onde se meteu, Homem de Deus!
Depois que ressuscitou, parece que desapareceu no ar!
SORAIA - Você foi muito ingrato, Cecéu! Deixou
todos aqui preocupados! Nem pra coitada da Tatiana você disse onde estava!
CECÉU - Foi só uma semana, gente... Eu estava
em Búzios.
Marcelão
tem uma casa lá e me convidou pra passar uns dias, pra me recuperar do susto!
Afinal, passei o maior perrengue! Sabe o que é quase ser enterrado vivo? Nem
gosto de lembrar... E Tatiana, como ela tá?
SORAIA - Coitadinha, só ficou mais tranquila
quando foi no
apartamento
do seu Marcelão e o mordomo falou que vocês
viajaram
juntos...
ALBERTO - Bom te ver vivo, companheiro!
CORTA
PARA:
CENA
4 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
ALFREDINHO
ESTAVA DIANTE DE NOGUEIRA, QUE OLHAVA PARA ELE ACUSADORAMENTE.
DELEGADO NOGUEIRA - É melhor que confesse logo
de uma vez, porque nós já sabemos de tudo!
ALFREDINHO - Mas eu não sei de nada e não
adianta esse truque pra cima de mim! DOCE BALANÇO CAPÍTULO 25 PÁGINA 07
DELEGADO NOGUEIRA - Você nega que combinou com
certa pessoa pregar um susto em Diana e no noivo dela?
ALFREDINHO - Quem lhe disse isso? Ah, já sei.
Foi o Julio Biruta.
DELEGADO NOGUEIRA - Foi. Foi ele mesmo.
ALFREDINHO - Desgraçado! O miserável me
entregou! Filho de tira só podia ser dedo-duro!
DELEGADO NOGUEIRA - Ele não me contou pra lhe acusar,
mas querendo defender você. Só que, desejando lhe inocentar, ele me deu a chave
do mistério.
ALFREDINHO - Pois eu nego tudo! Sim, eu
combinei isso com Julio, mas desfiz o acordo naúltima hora.
DELEGADO NOGUEIRA - Claro que desfez! Você
queria ficar sozinho. Deixou Julio e fingiu que pegava a Av. Niemeyer, mas voltou.
Voltou e foi atrás de Diana. Conseguiu atraí-la para a praia e lá a matou.
ALFREDINHO
SORRIU COM SARCASMO PARA DISSIMULAR O SEU NERVOSISMO.
ALFREDINHO - Beleza de imaginação! Você dava
pra escrever novela. Tá desperdiçando o seu talento aqui. (e falando sério)
Sim, já lhe contei. Eu estava com ódio dela. Foi uma sujeira o que ela fez
comigo... me passar pra trás com aquele padreco. Mas não a matei! Não fiz nada
nela! Se quer acreditar, acredite! Se não quer, que se dane!
DELEGADO NOGUEIRA - (entre dentes) Sai da
minha frente agora, antes que te prenda por desacato! Vai, some daqui!
ALFREDINHO - (ergueu as duas mãos, com
cinismo) Nem precisa falar duas vezes! Até logo, seu delega! Fui!
CORTA
PARA:
CENA
5 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE MONTEIRO- INT. - DIA.
D.
VIRGÍNIA, A SECRETÁRIA, ANUNCIOU A PRESENÇA DE CECÉU.
MONTEIRO PRADO - Mande-o entrar.
CECÉU
ENTROU, TÌMIDAMENTE.
CECÉU - Bom dia, doutor Monteiro. Eu... estou
me apresentando de volta ao trabalho. Sei que, depois de tudo o que aconteceu,
lhe devo algumas explicações...
MONTEIRO PRADO - (falou com firmeza) Seu
Cecéu, poupe sua saliva comigo e dirija-se ao departamento de pessoal para
acertar suas contas. O senhor está demitido!
CECÉU
ARREGALOU OS OLHOS, SURPRÊSO.
CECÉU - Mas... mas... O TELEFONE TOCOU E O
BANQUEIRO ATENDEU, IGNORANDO COMPLETAMENTE A PRESENÇA DO RAPAZ NA SUA SALA. CECÉU
DIRIGIU-SE PARA A PORTA, CABISBAIXO.
CORTA
PARA:
CENA
5 - PRAIA DO ARPOADOR - CALÇADÃO - EXT. -NOITE.
O
RONCO SURDO DA MOTO DE ALFREDINHO CHAMOU A ATENÇÃO DE JULIO BIRUTA E MAIS MEIA
DÚZIA DE MOTOQUEIROS QUE, DEPOIS DE UM PASSEIO ATÉ A BARRA, RETORNARAM E
CURTIAM A NOITE SENTADOS A UM BANCO NO CALÇADÃO, COMO ERA DE COSTUME. ALFREDINHO
SALTOU DA MOTO E DIRIGIU-SE PARA O GRUPO, EXPRESSÃO SÉRIA.
JULIO BIRUTA - Pô, até que enfim tu chegou,
meu brother! Te liguei um montão e não atendeu... esqueceu o celular?
SEM
RESPONDER, ALFREDINHO ADIANTOU-SE E DEU TREMENDO SÔCO NA CARA DE JULIO BIRUTA,
FAZENDO-O CAIR PESADAMENTE NO CHÃO, SOB OS OLHARES SURPRÊSOS DA TURMA. O RAPAZ
TENTOU LEVANTAR-SE, MAS OUTRO SÔCO O FEZ CAIR OUTRA VEZ, ESTATELANDOSE CONTRA
SUA MOTO, QUE CAIU COM O IMPACTO DE SEU PESO.
ALFREDINHO - (arfando, irado) Isso é pra tu
aprender a deixar de ser dedo-duro, seu otário!
REFEITO
DO SUSTO, JULIO LEVANTOU-SE, AINDA TONTO, PASSOU A MÃO NA BÔCA, DE ONDE
ESCORRIA UM FILÊTE DESANGUE, E ATIROU-SE CONTRA ALFREDINHO. OS DOIS COMEÇARAM A
ROLAR NO CHÃO, ENTRE SÔCOS E PONTAPÉS, CERCADOS PELOS MOTOQUEIROS QUE ASSISTIAM
A TUDO, PARALISADOS, SEM ESBOÇAR REAÇÃO. DE REPENTE A SIRENE DA RÁDIO-PATRULHA
E SE FEZ OUVIR E SÓ ENTÃO PERCEBEREM A PRESENÇA DE DOIS POLICIAIS QUE SE
APROXIMARAM, CORRENDO.
POLICIAL 1 - O que está acontecendo aqui?
ALFREDINHO
E JULIO LEVANTARAM-SE, ASSUSTADOS.
ALFREDINHO
- Não é nada, seu delega! A gente é amigo! Estamos só brincando! Não é, Julio?
DITO
ISTO, ABRAÇOU JULIO BIRUTA, QUE AINDA TENTAVA SE REFAZER DA AGRESSÃO, E
CORRESPONDEU AO ABRAÇO, FINGINDO TRATAR-SE MESMO DE UMA BRINCADEIRA.
JULIO BIRUTA - É brincadeira sim, delegado!
(pôs a mão no coração)Somos amigos daqui, ó, do peito!
POLICIAL
1 – Circulando, vamos! Não queremos
baderneiros
aqui! Todo mundo, circulando, ou então levamos todos pro distrito!
CORTA
PARA:
CENA
6 - APARTAMENTO DE GERMANO - INT. - DIA.
MARCOS
GIROU A CHAVE NA FECHADURA, ENTROU NO APARTAMENTO E DEPAROU COM GERMANO, D.
CARMEN E UM PADRE AGUARDANDO SUA CHEGADA.
D. CARMEN - Aí está ele! Marcos, D. Ignácio
está esperando você já há algum tempo...
MARCOS
DEU UM SORRISO DE SATISFAÇÃO E ABRAÇOU O VELHO AMIGO.
MARCOS - D. Ignácio! Mas que surpresa! Por que
não avisou que viria? Eu não o deixaria esperando...
D.
IGNÁCIO - Que é isso, meu amigo! Foi um prazer. Nem senti o tempo passar,
conversando com seu Germano e D. Carmen. Além disso, o cafezinho com biscoitos
estava delicioso!
D.
CARMEN - O senhor é muito amável, D. Ignácio...
MARCOS - (ansioso) Alguma novidade para mim?
D. IGNÁCIO - Sua solicitação foi atendida.
Você foi desobrigado dos votos. Todos os seus vínculos com a Igreja Católica
Apostólica Romana foram cortados. O padre Marcos não existe mais. Você é agora
apenas Marcos Ventura, um cidadão comum.
FIM
DO CAPÍTULO 25
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