sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Doce Balanço - Capítulo 25


CENA 1 - AV. VIEIRA SOUTO - EXT. - DIA.

ALFREDINHO E VALÉRIA DAVAM UM PASSEIO DE MOTO NA AV. VIEIRA SOUTO, SENTINDO NOS ROSTOS A LEVE BRISA DO MAR NO FINAL DAQUELA TARDE DE OUTONO. MARCOS ESTAVA PARADO NA ESQUINA DA VINÍCIUS DE MORAIS, ESPERANDO O SINAL ABRIR, QUANDO ALFREDINHO O VIU E CHAMOU A ATENÇÃO DA AMANTE.

 ALFREDINHO - (parou a moto a alguns metros à frente e mostrou o padre, discretamente) Távendo aquele cara, de cavanhaque, parado no sinal?
 VALÉRIA - Quem? Ah, de camisa azul? Quem é?
 ALFREDINHO - É o tal padreco, com quem Diana ia casar! Não vou com os cornos desse cara!Julio Biruta me disse que ele tá ajudando a polícia a encontrar o assassino...
 VALÉRIA - (sem se conter) Nossa! Que gato! Um homem desses é padre? Que desperdício...

ALFREDINHO NÃO AGUENTOU O COMENTÁRIO. PULOU DA MOTO, VERMELHO DE RAIVA.

 ALFREDINHO - Qual é, Valéria? Tá de gozação com a minha cara? Se gostou, vai lá falar com ele! Quer saber? Enchi de você! Desce! Vai pra casa à pé! Tá pensando que eu sou babaca?
 VALÉRIA - (surpresa) Que é isso... ficou louco?
 ALFREDINHO - (gritou, fora de si) Desce! Sai! Sai!

DITO ISTO, PUXOU A MULHER PARA FORA DA MOTO, MONTOU E ARRANCOU, SEM OLHAR PARA TRÁS.

 VALÉRIA - (gritou, indignada) Seu... seu grosso! Grosso|! 

OBRIGADA A PROSSEGUIR À PÉ, VALÉRIA NÃO SE DEU POR VENCIDA E CAMINHOU EM DIREÇÃO A MARCOS, QUE COMEÇAVA A ATRAVESSAR A RUA.

 VALÉRIA - Ei! Padre! Espere!
MARCOS VOLTOU-SE, INCONTINENTI, ANTE A APROXIMAÇÃO
DA MULHER.

 MARCOS - A senhora falou comigo?
 VALÉRIA - Desculpe, o senhor não me conhece. Eu sou Valéria França. Sou... amiga do Alfredinho. Ele foi ex-namorado da Diana... Sabe, me enrolaram também nessa história. Gostaria de conversar com o senhor, porém em meu apartamento. Moro perto daqui. Quer?

MARCOS FITOU-A COM CURIOSIDADE E, APÓS ALGUNS SEGUNDOS DE INDECISÃO, CONCORDOU.

 MARCOS - Está bem, vamos.

CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. - DIA.

VALÉRIA SERVIU UM CAFÈZINHO E SENTOU-SE NA POLTRONA À FRENTE DE MARCOS.

 VALÉRIA - Loucura tudo isso, não é? A morte dessa moça... Tenho medo que acusem Alfredinho. Padre, ele é inocente!
 MARCOS - (medindo bem as palavras) O Delegado Nogueira me disse que a senhora deu um falso álibi para tentar inocentar este rapaz...
 VALÉRIA - Eu fiz essa idiotice, é verdade. Mas só fiz porque
sei que não foi o Alfredinho que matou Diana! Tive medo que ele fosse preso!  MARCOS - A senhora ama esse rapaz, não é?

O BARULHO DA PORTA SE ABRINDO CHAMOU A ATENÇÃO DOS DOIS, QUE VOLTARAM-SE AO MESMO TEMPO. ALFREDINHO ENTROU E PAROU, SURPRÊSO NO MEIO DA SALA.

 ALFREDINHO - Puxa, mas é mesmo um bicho de sacristia... Eu bem que tinha sacado... Bicão sem-vergonha!
 VALÉRIA - Alfredinho... ele veio aqui porque eu pedi. Você está interpretando mal. Ele é um padre.
 ALFREDINHO - Padre bicão... E você, sua vagabunda!

SÚBITO, ALFREDINHO AVANÇOU PARA VALÉRIA E A ESBOFETEOU. TENTAVA REPETIR A DOSE QUANDO MARCOS O SEGUROU VIOLENTAMENTE E DEU-LHE UM SÔCO NO ROSTO, DEITANDO-O POR TERRA. VALÉRIA SALTOU DO SOFÁ, ONDE CAÍRA AO SER AGREDIDA PELO PILANTRA, E COLOCOU-SE À FRENTE DE ALFREDINHO,EM ATITUDE DE DEFESA.

 VALÉRIA - (gritou para Marcos) Deixa ele! Quem é você pra se meter entre nós? Eu não lhe pedi pra me defender! Vá-se embora daqui! Vá-se embora daqui!

PADRE MARCOS FICOU TREMENDAMENTE CHOCADO COM AQUELA REAÇÃO. PERPLEXO, VIROU AS COSTAS E SAIU.

 VALÉRIA - (agarrou-se no pescoço de Alfredinho) Você se machucou? Meu amor.... meu amor....
 ALFREDINHO - Caramba! Pra um padre, esse cara tem a mão bem pesada.... (gemeu) Aiiiiiii!

ELA O ABRAÇOU E COBRIU-O DE BEIJOS.

CORTA PARA: 
CENA 3 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.

 CABO JORGE - Doutor Nogueira, o seu Marcelo Quinderé de Souza acaba de chegar.
 DELEGADO NOGUEIRA - Mande-o entrar.

MARCELÃO ENTROU E ESTENDEU A MÃO PARA O
DELEGADO.

 MARCELÃO - Como vai, delegado? Recebi sua intimação e aqui estou.
 DELEGADO NOGUEIRA - Sente-se, por favor, seu Marcelo. Eu desejava, agora, detalhes sobre as fotos que o senhor tirou de Diana Molina. Mera rotina, visto que o prazo para a conclusão do inquérito já se esgotou.
 MARCELÃO - Isso que dizer que... eu ainda sou suspeito de matar essa moça?
 DELEGADO NOGUEIRA - Seu Marcelão, vou lhe revelar um segredo: para mim, Alfredo Ribeiro ainda é o suspeito número um!
 MARCELÃO - Fico aliviado, delegado...
 DELEGADO NOGUEIRA - Pensando bem... vou mandar o Detetive Amadeu buscá-lo pra novo interrogatório. E quanto ao senhor, seu Marcelo, pode não ser o principal suspeito, mas ainda está na minha lista, até que apareça o verdadeiro culpado!

CORTA PARA:
CENA 4 - PENSÃO PRIMAVERA - SALA - INT. – DIA

 D. GIGI - Seu Cecéu! Que bom que o senhor está bem, já estávamos preocupados com seu sumiço! 

D. GIGI, ZÉ URBANO, SORAIA E ALBERTO ACERCARAM-SE DE CECÉU QUE ACABAVA DE ENTRAR NA PENSÃO COM UMA PEQUENA MALA NA MÃO.

 CECÉU - (sem jeito) Como vão vocês, D. Gigi, Soraia, Zé Urbano... Desculpem, eu não tinha como avisar.
 ZÉ URBANO - Onde se meteu, Homem de Deus! Depois que ressuscitou, parece que desapareceu no ar!
 SORAIA - Você foi muito ingrato, Cecéu! Deixou todos aqui preocupados! Nem pra coitada da Tatiana você disse onde estava!
 CECÉU - Foi só uma semana, gente... Eu estava em Búzios.
Marcelão tem uma casa lá e me convidou pra passar uns dias, pra me recuperar do susto! Afinal, passei o maior perrengue! Sabe o que é quase ser enterrado vivo? Nem gosto de lembrar... E Tatiana, como ela tá?
 SORAIA - Coitadinha, só ficou mais tranquila quando foi no
apartamento do seu Marcelão e o mordomo falou que vocês
viajaram juntos...
 ALBERTO - Bom te ver vivo, companheiro!

CORTA PARA:
CENA 4 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.

ALFREDINHO ESTAVA DIANTE DE NOGUEIRA, QUE OLHAVA PARA ELE ACUSADORAMENTE.

 DELEGADO NOGUEIRA - É melhor que confesse logo de uma vez, porque nós já sabemos de tudo!
 ALFREDINHO - Mas eu não sei de nada e não adianta esse truque pra cima de mim! DOCE BALANÇO CAPÍTULO 25 PÁGINA 07
 DELEGADO NOGUEIRA - Você nega que combinou com certa pessoa pregar um susto em Diana e no noivo dela?
 ALFREDINHO - Quem lhe disse isso? Ah, já sei. Foi o Julio Biruta.
 DELEGADO NOGUEIRA - Foi. Foi ele mesmo.
 ALFREDINHO - Desgraçado! O miserável me entregou! Filho de tira só podia ser dedo-duro!
 DELEGADO NOGUEIRA - Ele não me contou pra lhe acusar, mas querendo defender você. Só que, desejando lhe inocentar, ele me deu a chave do mistério.
 ALFREDINHO - Pois eu nego tudo! Sim, eu combinei isso com Julio, mas desfiz o acordo naúltima hora.
 DELEGADO NOGUEIRA - Claro que desfez! Você queria ficar sozinho. Deixou Julio e fingiu que pegava a Av. Niemeyer, mas voltou. Voltou e foi atrás de Diana. Conseguiu atraí-la para a praia e lá a matou.
ALFREDINHO SORRIU COM SARCASMO PARA DISSIMULAR O SEU NERVOSISMO.
 ALFREDINHO - Beleza de imaginação! Você dava pra escrever novela. Tá desperdiçando o seu talento aqui. (e falando sério) Sim, já lhe contei. Eu estava com ódio dela. Foi uma sujeira o que ela fez comigo... me passar pra trás com aquele padreco. Mas não a matei! Não fiz nada nela! Se quer acreditar, acredite! Se não quer, que se dane!
 DELEGADO NOGUEIRA - (entre dentes) Sai da minha frente agora, antes que te prenda por desacato! Vai, some daqui!
 ALFREDINHO - (ergueu as duas mãos, com cinismo) Nem precisa falar duas vezes! Até logo, seu delega! Fui!

CORTA PARA:
CENA 5 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE MONTEIRO- INT. - DIA.

D. VIRGÍNIA, A SECRETÁRIA, ANUNCIOU A PRESENÇA DE CECÉU.

 MONTEIRO PRADO - Mande-o entrar.
CECÉU ENTROU, TÌMIDAMENTE.
 CECÉU - Bom dia, doutor Monteiro. Eu... estou me apresentando de volta ao trabalho. Sei que, depois de tudo o que aconteceu, lhe devo algumas explicações...
 MONTEIRO PRADO - (falou com firmeza) Seu Cecéu, poupe sua saliva comigo e dirija-se ao departamento de pessoal para acertar suas contas. O senhor está demitido!
CECÉU ARREGALOU OS OLHOS, SURPRÊSO.

 CECÉU - Mas... mas... O TELEFONE TOCOU E O BANQUEIRO ATENDEU, IGNORANDO COMPLETAMENTE A PRESENÇA DO RAPAZ NA SUA SALA. CECÉU DIRIGIU-SE PARA A PORTA, CABISBAIXO.

CORTA PARA:
CENA 5 - PRAIA DO ARPOADOR - CALÇADÃO - EXT. -NOITE.

O RONCO SURDO DA MOTO DE ALFREDINHO CHAMOU A ATENÇÃO DE JULIO BIRUTA E MAIS MEIA DÚZIA DE MOTOQUEIROS QUE, DEPOIS DE UM PASSEIO ATÉ A BARRA, RETORNARAM E CURTIAM A NOITE SENTADOS A UM BANCO NO CALÇADÃO, COMO ERA DE COSTUME. ALFREDINHO SALTOU DA MOTO E DIRIGIU-SE PARA O GRUPO, EXPRESSÃO SÉRIA.

 JULIO BIRUTA - Pô, até que enfim tu chegou, meu brother! Te liguei um montão e não atendeu... esqueceu o celular?
SEM RESPONDER, ALFREDINHO ADIANTOU-SE E DEU TREMENDO SÔCO NA CARA DE JULIO BIRUTA, FAZENDO-O CAIR PESADAMENTE NO CHÃO, SOB OS OLHARES SURPRÊSOS DA TURMA. O RAPAZ TENTOU LEVANTAR-SE, MAS OUTRO SÔCO O FEZ CAIR OUTRA VEZ, ESTATELANDOSE CONTRA SUA MOTO, QUE CAIU COM O IMPACTO DE SEU PESO.

 ALFREDINHO - (arfando, irado) Isso é pra tu aprender a deixar de ser dedo-duro, seu otário!

REFEITO DO SUSTO, JULIO LEVANTOU-SE, AINDA TONTO, PASSOU A MÃO NA BÔCA, DE ONDE ESCORRIA UM FILÊTE DESANGUE, E ATIROU-SE CONTRA ALFREDINHO. OS DOIS COMEÇARAM A ROLAR NO CHÃO, ENTRE SÔCOS E PONTAPÉS, CERCADOS PELOS MOTOQUEIROS QUE ASSISTIAM A TUDO, PARALISADOS, SEM ESBOÇAR REAÇÃO. DE REPENTE A SIRENE DA RÁDIO-PATRULHA E SE FEZ OUVIR E SÓ ENTÃO PERCEBEREM A PRESENÇA DE DOIS POLICIAIS QUE SE APROXIMARAM, CORRENDO.

 POLICIAL 1 - O que está acontecendo aqui?

ALFREDINHO E JULIO LEVANTARAM-SE, ASSUSTADOS.

ALFREDINHO - Não é nada, seu delega! A gente é amigo! Estamos só brincando! Não é, Julio?

DITO ISTO, ABRAÇOU JULIO BIRUTA, QUE AINDA TENTAVA SE REFAZER DA AGRESSÃO, E CORRESPONDEU AO ABRAÇO, FINGINDO TRATAR-SE MESMO DE UMA BRINCADEIRA.

 JULIO BIRUTA - É brincadeira sim, delegado! (pôs a mão no coração)Somos amigos daqui, ó, do peito!
POLICIAL 1 – Circulando, vamos! Não queremos
baderneiros aqui! Todo mundo, circulando, ou então levamos todos pro distrito!

CORTA PARA:

CENA 6 - APARTAMENTO DE GERMANO - INT. - DIA.

MARCOS GIROU A CHAVE NA FECHADURA, ENTROU NO APARTAMENTO E DEPAROU COM GERMANO, D. CARMEN E UM PADRE AGUARDANDO SUA CHEGADA.

 D. CARMEN - Aí está ele! Marcos, D. Ignácio está esperando você já há algum tempo...

MARCOS DEU UM SORRISO DE SATISFAÇÃO E ABRAÇOU O VELHO AMIGO.

 MARCOS - D. Ignácio! Mas que surpresa! Por que não avisou que viria? Eu não o deixaria esperando...
D. IGNÁCIO - Que é isso, meu amigo! Foi um prazer. Nem senti o tempo passar, conversando com seu Germano e D. Carmen. Além disso, o cafezinho com biscoitos estava delicioso!
D. CARMEN - O senhor é muito amável, D. Ignácio...
 MARCOS - (ansioso) Alguma novidade para mim?
 D. IGNÁCIO - Sua solicitação foi atendida. Você foi desobrigado dos votos. Todos os seus vínculos com a Igreja Católica Apostólica Romana foram cortados. O padre Marcos não existe mais. Você é agora apenas Marcos Ventura, um cidadão comum.

FIM DO CAPÍTULO 25

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