28º
Capítulo
Não é todo dia
que a filha caçula completa 15 anos. Para boa parte das garotas esse é um
momento muito especial, independente da valsa e do anel de solitárias.
Zélia (calma e alegre) – Acorda,
dona dorminhoca...
Laura optou em
não ganhar aquela festa tradicional para celebrar como bem quiser. Essa é a
tendência da menina moderna; decidir por conta própria o que lhe convém, como
quer comemorar o próprio aniversário, o que pode soar como frivolidade e não é.
Se você não pode nem sequer escolher o que gosta de vestir, que liberdade é
essa?
Aos 15 você
não é mais criança, já discerne a vida com os próprios passos. Aos 15 se pode
ser mulher, mas ainda há o que melhorar. O que te faz mulher é o que leva no
coração. Quantas palavras não ditas, quantos amores foram e vieram, quantos dilemas
carrega a menina-mulher em seu nobre seio. (texto completo)
Levando em
conta que atualmente a conotação para debutante é outra, a ocasião serve para
que a jovem se divirta com seus amigos e parentes porque a menina moderna não
quer ser apenas apresentada à sociedade para casar-se e procriar. Ela quer ser
independente, como Laura, nossa protagonista.
A música de
fundo dessa cena ainda é My immortal – Evanescence. Laura
se senta na cama. No seu flashback em sépia pode ver Elisa junto aos pais.
Mesmo que não tivesse o mesmo poder aquisitivo, seus presentes costumam surpreende-la.
Flashback interrompido pela realidade contrastada pelos sorrisos direcionados
ao seu olhar. Sorrisos esses que gracejam no que restou dela.
Amauri – Filha,
sorria. Hoje é seu dia. Não é todo dia que se completa 15 anos de idade, por isso,
já que a ocasião é especial, merece ser celebrada. (entrega a cesta à Laura)
Laura – Pai, é só um
dia comum.
Zélia – Não é todo
dia que se completa 15 anos...
Laura se
emociona com a cesta de café da manhã e está sentada na cama. O embrulho é tão
lindo que a jovem sente certa ‘dó’ em abrir.
Amauri – Abre, filha.
A cesta foi uma sugestão de sua mãe.
Laura – Valeu, mãe.
Zélia – E do seu pai
também...
A ideia de
presentear Laura com um cesta de café da manhã partiu de Amauri. Zélia deixa a
sacola com presentes em cima da cama.
Laura – Puxa, mãe,
não precisava se incomodar.
Amauri – São 15 anos,
filha. Não pode passar em branco.
Laura – É tudo tão
lindo que tenho dó de tocar.
Zélia – Mas não
tenha...
Casa de
Karinna. Interior. Manhã.
Pedro e
Karinna estão esperando Isabel chegar com os filhos porque eles irão todos
juntos até o boliche para preparar o ambiente.
Pedro – Me lembro,
Karinna, de quando estava completando 15 anos.
Karinna (risonha, retoca a maquiagem) –
Faz tempo, né, pai?
Pedro – Pra mim não
tanto. Sei que fiquei muito emocionado...
Pedro nunca
foi rico, mas sempre se esforçou para oferecer o melhor à Karinna, desde
alimentação até o lazer. Quando Vilma, a esposa, faleceu vítima de câncer, o
compromisso de Pedro para com a única filha tornou-se sua razão de viver. Além de
fazer o papel de pai e mãe, é também o melhor amigo da estudante de Psicologia.
Pedro poupou
dinheiro por 2 anos para que pudesse proporcionar um aniversário de 15 anos
bonito para Karinna. Ela chegou a ganhar a festa num salão e só usou o vestido
para tirar as fotos e dançar a valsa porque como sempre foi gordinha, nunca
gostou de saias e vestidos, sentindo-se muito mais confortável com o próprio
estilo.
Pedro – Às vezes
tenho a breve impressão de que você cresceu muito rápido, minha filha. Até
então era ontem quando você estava completando 15 anos.
Karinna abraça
o pai e o enche de beijos.
Karinna – Eu posso até
ter crescido muito rápido, mas o senhor continua sendo meu herói.
Casa de
Vinicius. Cozinha. Manhã.
Mayara está de
folga, então quem está cozinhando é Paula. Daiana, com uma touca de hidratação
no cabelo, conversa com a mãe até poder tirar o creme.
Daiana – É hoje que o
Marcelo e a Laura se reconciliam.
Paula (espantada) –
Nem sabia que eles tinham brigado.
Daiana – Brigaram por
besteira, mas hoje tudo volta ao normal.
Paula – Eu to é
surpresa com você, Daiana.
Daiana – Comigo? Mas por
quê?
Paula – Porque a
senhorita e o Adriano já parecem marido e mulher de tanto que brigam e
ultimamente andam tão calminhos que nem parecem vocês...
Daiana – Mas nem
comenta muito porque quando tudo ta indo bem parece que é só falar e já
acontece uma desgraça...
Paula – Já parou pra
pensar se a vida fosse sempre perfeita?
Daiana – Ah, seria
legal...
Paula – Você não ia
dar valor... A gente não costuma apreciar o que tem quando isso vem muito
facilmente...
Daiana – Algumas coisas
bem que poderiam ser como a gente queria...
Paula – Um dia você
vai entender que às vezes precisa acontecer muita coisa que a gente não quer
pra poder crescer e saber o que quer... Diz um ditado que às vezes o inverso
pode ser o certo...
Casa de
Ferradura. Sala. Tarde.
Ferradura e
Chiquinho já estão bebendo cerveja. As latas estão em cima da mesa de centro.
Ferradura – Bem feito pro
playboyzinho... Todo cheio de marra... Vacilou e perdeu a gata...
Chiquinho (aconselha o amigo) –
Só que se liga, truta, não quer dizer que só porque a gatinha terminou com ele
que ela vai dar moral pra você.
Ferradura (ríspido) –
Eu já tenho meus esquemas, cara. Não se mete.
Chiquinho – ‘Cê’ deve
saber que hoje é aniversário da gatinha... Não vai dar uma passadinha na festa?
Ferradura – Claro que
vou, cara. Não só vou à festa, como vou agitá-la... Já tenho todas as cartas na
manga sobre como vou agir e sei que essa gatinha vai comer na minha mão...
Boliche.
Pista. Interior. Tarde.
Música Move your feet – Junior Senior.
Adriano e Daiana estão terminando de decorar o
ambiente, totalmente fechado para comemorar os 15 anos de Laura. A frase que
está embaixo do pôster de Laura é “Amigos,
que sejam poucos, que sejam loucos, mas sejam totalmente verdadeiros.”
Casa de Laura.
Quarto de Laura. Tarde.
Zélia comprou
roupas que não condizem com a personalidade de Laura. A aniversariante observa
todas as peças estiradas em cima da cama e até tenta vestir uma saia, mas
olhando-se no espelho, o reflexo a incomoda. Zélia, no entanto, entra no quarto
e não perde a oportunidade para impor seu gosto à filha.
Zélia – Agora sim ta
parecendo uma mulher de verdade.
Laura – Assim eu to
me sentindo uma Barbie falsificada. Esse vestido é muito apertado...
Zélia – Então deveria
fechar a boca, ora. Depois dos 15 o metabolismo muda... (cínica) Pra ficar
bonita tem que fazer sacrifício, filha. Agora você já é uma moça e tem que agir
como uma.
Laura abre o
guarda-roupa e apanha o conjunto que Karinna deu-lhe de presente dois meses
antes. Zélia reprova a decisão da jovem.
Zélia (enciumada, raivosa, incrédula) –
Não acredito que eu compro tudo do bom e do melhor e você vai sair com seus
amigos usando esse trapo...
Laura (está se trocando) –
Não é trapo, é meu estilo.
Zélia – Estilo?
Estilo de que?
Laura, já
vestida, joga o vestido nas mãos de Zélia.
Laura – Só pra te informar,
mãe, eu não quero parecer uma modelo cadavérica pra caber num vestido que não
tem nada a ver com a minha personalidade e em segundo lugar; não é só porque eu
não gosto de rosa que sou menos mulher que as outras. Qual é, mãe? É desse
jeito que diz me amar e me respeitar? Como você quer que eu cresça se continua
se intrometendo nas minhas escolhas.
Zélia – Eu só quero
seu bem, mas não adianta ajudar quem não quer ser ajudado.
Zélia se retira
do quarto. Laura prende o choro.
Laura – Não, hoje eu
não vou chorar. (se olha no espelho) Hoje é meu dia e nada nem ninguém vai me
fazer chorar. Hoje eu vou sair com os meus amigos, vou curtir meus 15 anos do
meu jeito...
Karinna (off) – E é isso
aí, minha gata.
Laura (vira as costas e encontra Karinna) –
Miga? (as duas se abraçam) Não acredito que veio me buscar... Não precisava se
incomodar...
Karinna – Tua mãe não
tem jeito, né?
Laura (faz graça da situação) –
É caso perdido...
Karinna – Deixa pra lá,
miga. O importante é que a vida ta te ensinando a ser você mesma. Já que eu fui
uma das primeiras a te dar os parabéns, nada mais justo que te buscar, princesa.
Laura – Não me pareço
em nada com uma princesa...
Karinna – E quem disse
que toda princesa usa coroa?
Laura (desapontada) –
Princesa sem príncipe, só se for. Princesa desastrada, destronada, do contra...
Karinna – Quanto ao
príncipe eu não posso dizer, miga, mas se eu fosse você não ficava desse jeito
não...
Laura (abraça Karinna)
– E o que seria de mim sem você, hein?
Karinna faz de
tudo para que Laura vá até a janela. Marcelo está parado no jardim esperando a
garota descer, vestido como o skatista que é. Os olhos de Laura não disfarçam
as lágrimas. Música If
you (lento mix) – Magic Box.
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