sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Resistência - 28º Capítulo



28º Capítulo

Não é todo dia que a filha caçula completa 15 anos. Para boa parte das garotas esse é um momento muito especial, independente da valsa e do anel de solitárias.

Zélia (calma e alegre) – Acorda, dona dorminhoca...

Laura optou em não ganhar aquela festa tradicional para celebrar como bem quiser. Essa é a tendência da menina moderna; decidir por conta própria o que lhe convém, como quer comemorar o próprio aniversário, o que pode soar como frivolidade e não é. Se você não pode nem sequer escolher o que gosta de vestir, que liberdade é essa?

Aos 15 você não é mais criança, já discerne a vida com os próprios passos. Aos 15 se pode ser mulher, mas ainda há o que melhorar. O que te faz mulher é o que leva no coração. Quantas palavras não ditas, quantos amores foram e vieram, quantos dilemas carrega a menina-mulher em seu nobre seio. (texto completo)

Levando em conta que atualmente a conotação para debutante é outra, a ocasião serve para que a jovem se divirta com seus amigos e parentes porque a menina moderna não quer ser apenas apresentada à sociedade para casar-se e procriar. Ela quer ser independente, como Laura, nossa protagonista.

A música de fundo dessa cena ainda é My immortal – Evanescence. Laura se senta na cama. No seu flashback em sépia pode ver Elisa junto aos pais. Mesmo que não tivesse o mesmo poder aquisitivo, seus presentes costumam surpreende-la. Flashback interrompido pela realidade contrastada pelos sorrisos direcionados ao seu olhar. Sorrisos esses que gracejam no que restou dela.

Amauri – Filha, sorria. Hoje é seu dia. Não é todo dia que se completa 15 anos de idade, por isso, já que a ocasião é especial, merece ser celebrada. (entrega a cesta à Laura)
Laura – Pai, é só um dia comum.
Zélia – Não é todo dia que se completa 15 anos...

Laura se emociona com a cesta de café da manhã e está sentada na cama. O embrulho é tão lindo que a jovem sente certa ‘dó’ em abrir.

Amauri – Abre, filha. A cesta foi uma sugestão de sua mãe.
Laura – Valeu, mãe.
Zélia – E do seu pai também...

A ideia de presentear Laura com um cesta de café da manhã partiu de Amauri. Zélia deixa a sacola com presentes em cima da cama.

Laura – Puxa, mãe, não precisava se incomodar.
Amauri – São 15 anos, filha. Não pode passar em branco.
Laura – É tudo tão lindo que tenho dó de tocar.
Zélia – Mas não tenha...

Casa de Karinna. Interior. Manhã.

Pedro e Karinna estão esperando Isabel chegar com os filhos porque eles irão todos juntos até o boliche para preparar o ambiente.

Pedro – Me lembro, Karinna, de quando estava completando 15 anos.
Karinna (risonha, retoca a maquiagem) – Faz tempo, né, pai?
Pedro – Pra mim não tanto. Sei que fiquei muito emocionado...

Pedro nunca foi rico, mas sempre se esforçou para oferecer o melhor à Karinna, desde alimentação até o lazer. Quando Vilma, a esposa, faleceu vítima de câncer, o compromisso de Pedro para com a única filha tornou-se sua razão de viver. Além de fazer o papel de pai e mãe, é também o melhor amigo da estudante de Psicologia.

Pedro poupou dinheiro por 2 anos para que pudesse proporcionar um aniversário de 15 anos bonito para Karinna. Ela chegou a ganhar a festa num salão e só usou o vestido para tirar as fotos e dançar a valsa porque como sempre foi gordinha, nunca gostou de saias e vestidos, sentindo-se muito mais confortável com o próprio estilo.

Pedro – Às vezes tenho a breve impressão de que você cresceu muito rápido, minha filha. Até então era ontem quando você estava completando 15 anos.

Karinna abraça o pai e o enche de beijos.

Karinna – Eu posso até ter crescido muito rápido, mas o senhor continua sendo meu herói.

Casa de Vinicius. Cozinha. Manhã.

Mayara está de folga, então quem está cozinhando é Paula. Daiana, com uma touca de hidratação no cabelo, conversa com a mãe até poder tirar o creme.

Daiana – É hoje que o Marcelo e a Laura se reconciliam.
Paula (espantada) – Nem sabia que eles tinham brigado.
Daiana – Brigaram por besteira, mas hoje tudo volta ao normal.
Paula – Eu to é surpresa com você, Daiana.
Daiana – Comigo? Mas por quê?
Paula – Porque a senhorita e o Adriano já parecem marido e mulher de tanto que brigam e ultimamente andam tão calminhos que nem parecem vocês...
Daiana – Mas nem comenta muito porque quando tudo ta indo bem parece que é só falar e já acontece uma desgraça...
Paula – Já parou pra pensar se a vida fosse sempre perfeita?
Daiana – Ah, seria legal...
Paula – Você não ia dar valor... A gente não costuma apreciar o que tem quando isso vem muito facilmente...
Daiana – Algumas coisas bem que poderiam ser como a gente queria...
Paula – Um dia você vai entender que às vezes precisa acontecer muita coisa que a gente não quer pra poder crescer e saber o que quer... Diz um ditado que às vezes o inverso pode ser o certo...

Casa de Ferradura. Sala. Tarde.

Ferradura e Chiquinho já estão bebendo cerveja. As latas estão em cima da mesa de centro.

Ferradura – Bem feito pro playboyzinho... Todo cheio de marra... Vacilou e perdeu a gata...
Chiquinho (aconselha o amigo) – Só que se liga, truta, não quer dizer que só porque a gatinha terminou com ele que ela vai dar moral pra você.
Ferradura (ríspido) – Eu já tenho meus esquemas, cara. Não se mete.
Chiquinho – ‘Cê’ deve saber que hoje é aniversário da gatinha... Não vai dar uma passadinha na festa?
Ferradura – Claro que vou, cara. Não só vou à festa, como vou agitá-la... Já tenho todas as cartas na manga sobre como vou agir e sei que essa gatinha vai comer na minha mão...

Boliche. Pista. Interior. Tarde.

Música Move your feet – Junior Senior. Adriano e Daiana estão terminando de decorar o ambiente, totalmente fechado para comemorar os 15 anos de Laura. A frase que está embaixo do pôster de Laura é “Amigos, que sejam poucos, que sejam loucos, mas sejam totalmente verdadeiros.”

Casa de Laura. Quarto de Laura. Tarde.

Zélia comprou roupas que não condizem com a personalidade de Laura. A aniversariante observa todas as peças estiradas em cima da cama e até tenta vestir uma saia, mas olhando-se no espelho, o reflexo a incomoda. Zélia, no entanto, entra no quarto e não perde a oportunidade para impor seu gosto à filha.

Zélia – Agora sim ta parecendo uma mulher de verdade.
Laura – Assim eu to me sentindo uma Barbie falsificada. Esse vestido é muito apertado...
Zélia – Então deveria fechar a boca, ora. Depois dos 15 o metabolismo muda... (cínica) Pra ficar bonita tem que fazer sacrifício, filha. Agora você já é uma moça e tem que agir como uma.

Laura abre o guarda-roupa e apanha o conjunto que Karinna deu-lhe de presente dois meses antes. Zélia reprova a decisão da jovem.

Zélia (enciumada, raivosa, incrédula) – Não acredito que eu compro tudo do bom e do melhor e você vai sair com seus amigos usando esse trapo...
Laura (está se trocando) – Não é trapo, é meu estilo.
Zélia – Estilo? Estilo de que?

Laura, já vestida, joga o vestido nas mãos de Zélia.

Laura – Só pra te informar, mãe, eu não quero parecer uma modelo cadavérica pra caber num vestido que não tem nada a ver com a minha personalidade e em segundo lugar; não é só porque eu não gosto de rosa que sou menos mulher que as outras. Qual é, mãe? É desse jeito que diz me amar e me respeitar? Como você quer que eu cresça se continua se intrometendo nas minhas escolhas.
Zélia – Eu só quero seu bem, mas não adianta ajudar quem não quer ser ajudado.

Zélia se retira do quarto. Laura prende o choro.

Laura – Não, hoje eu não vou chorar. (se olha no espelho) Hoje é meu dia e nada nem ninguém vai me fazer chorar. Hoje eu vou sair com os meus amigos, vou curtir meus 15 anos do meu jeito...
Karinna (off) – E é isso aí, minha gata.
Laura (vira as costas e encontra Karinna) – Miga? (as duas se abraçam) Não acredito que veio me buscar... Não precisava se incomodar...
Karinna – Tua mãe não tem jeito, né?
Laura (faz graça da situação) – É caso perdido...
Karinna – Deixa pra lá, miga. O importante é que a vida ta te ensinando a ser você mesma. Já que eu fui uma das primeiras a te dar os parabéns, nada mais justo que te buscar, princesa.
Laura – Não me pareço em nada com uma princesa...
Karinna – E quem disse que toda princesa usa coroa?
Laura (desapontada) – Princesa sem príncipe, só se for.  Princesa desastrada, destronada, do contra...
Karinna – Quanto ao príncipe eu não posso dizer, miga, mas se eu fosse você não ficava desse jeito não...
Laura (abraça Karinna) – E o que seria de mim sem você, hein?

Karinna faz de tudo para que Laura vá até a janela. Marcelo está parado no jardim esperando a garota descer, vestido como o skatista que é. Os olhos de Laura não disfarçam as lágrimas. Música If you (lento mix) – Magic Box.

0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

© 2011 Mania TV Web, AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena