CENA 1 - DELEGACIA - SALA DO DETETIVE AMADEU -INT. - DIA.
NA SALA DO DETETIVE AMADEU,
PRÓXIMA AO GABINETE DO DELEGADO NOGUEIRA, A CONVERSA ERA PRÀTICAMENTE A MESMA,
APENAS OS PERSONAGENS ERAM DIFERENTES. ALFREDINHO ESTAVA SENTADO NUM BANCO,
DEBAIXO DE UM FOCO DE LUZ. AO SEU LADO, O DETETIVE.
DETETIVE AMADEU - Besteira você continuar
negando, meu velho. Sua namorada acabou de lhe entregar. Ela disse que você
matou Diana Molina!
ALFREDINHO - (incrédulo) Vocês estão blefando!
Não acredito! Valéria não pode ter dito uma coisa dessas! Pois se ela não sabe
de nada! A não ser que a tenham obrigado! Sim, só pode ser isso, o velho
truque! Querem que ela confesse... ou, no mínimo, que diga que foi ela! Pois
podem ficar esperando. Eu não digo nada! Nem com dez depoimentos iguais a esse!
Não confesso de jeito nenhum!
DETETIVE AMADEU - Rapaz, agindo assim, com
essa marra toda, só complica mais a sua situação!
ALFREDINHO - De mim vocês não arrancam nada!
Nem que me matem, ouviram! Nem que me matem!
CORTA PARA:
CENA 2 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
VALÉRIA ERA A PERSONIFICAÇÃO
DO DESESPERO. ESTAVA MUITO CHOCADA, ARRASADA MESMO. O DELEGADO CONTINUAVA
FALANDO, HAVIA UNS CINCO MINUTOS, MAS ELA POUCO SE IMPORTAVA.
DELEGADO NOGUEIRA - A senhora admite como verdadeira
a acusação? Ele acabou de dizer que foi a senhora quem matou Diana. Depois
desse depoimento, eu posso pedir a sua prisão preventiva e a senhora será
levada ao Tribunal do Júri. Ou está disposta, agora, a dizer toda a verdade,
tudo o que sabe sobre o crime?
VALÉRIA LEVANTOU OS OLHOS
MOLHADOS, RESIGNADA.
VALÉRIA - Sim. Contarei tudo.
O DELEGADO, ENTÃO, FOI ATÉ A
PORTA E MANDOU O GUARDA IR BUSCAR O ESCRIVÃO. ESTE VEIO DEPRESSA, SENTOU-SE
DIANTE DE UMA MESINHA COM COMPUTADOR E INICIOU A TOMADA DO DEPOIMENTO.
DELEGADO NOGUEIRA - Seu nome?
VALÉRIA - Leontina Pereira de Souza. Valéria
França é pseudônimo...
O HOMEM FOI ESCREVENDO O QUE
ELA DIZIA.
DELEGADO NOGUEIRA - Bem, dona Valéria, isto é,
dona Leontina, em seu depoimento anterior, a senhora negou que soubesse quem
matou Diana Molina. Pergunto novamente: a senhora tem conhecimento ou suspeita
de quem a teria assassinado?
VALÉRIA NÃO RESPONDEU. PARECIA
AINDA MAIS ANGUSTIADA.
DELEGADO NOGUEIRA - Dona Leontina, vou repetir
a pergunta...
AMADEU ENTROU.
DETETIVE AMADEU - Nenhuma novidade. Alfredinho
apenas continua afirmando que foi ela.
DELEGADO NOGUEIRA - A senhora está ouvindo,
dona Valéria? Alfredinho, seu querido Alfredinho, continua lhe acusando. Isso
vai mandá-la para a cadeia.
VALÉRIA - (levantou a cabeça e dirigiu-se ao
detetive) Ele falou que fui eu?
DETETIVE AMADEU - Tá dizendo isso há meia
hora.
A MOÇA CAIU NUMA CRISE NERVOSA
DE CHORO.
DELEGADO NOGUEIRA - Dona Valéria, deseja um calmante?
Ou ao menos um copo d’água?
VALÉRIA - (aos poucos foi se controlando) Não,
obrigada.
DELEGADO NOGUEIRA - Muito bem. Vou repetir a pergunta:
a senhora suspeita de quem teria assassinado Diana Molina?
VALÉRIA - Sim. Fui eu. Alfredinho disse a
verdade: eu a matei!
NOGUEIRA E O DETETIVE AMADEU
OLHARAM-SE, SURPRESOS.
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - DIA.
MONTEIRO PRADO FALAVA AO
TELEFONE, COM AR DE PREOCUPAÇÃO.
MONTEIRO PRADO - Escute, preste bem atenção:
Malu decidiu que quer a presença da mãe de qualquer maneira no seu casamento.
Nós precisamos combinar o que fazer pra ela desistir dessa idéia!
MALU ENTREABRIU A PORTA, SEM
SER PERCEBIDA E OUVIU PARTE DA CONVERSA. EM SEGUIDA, CORREU PARA SEU QUARTO.
CENA 4 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - QUARTODE MALU - INT. - DIA.
MALU ENTROU E, CUIDADOSAMENTE,
TIROU O FONE DO GANCHO E OUVIU A CONVERSA.
MONTEIRO PRADO - (off) Escreva uma carta,
mande um e-mail, qualquer coisa, mas tem que dizer a ela que não pode, de jeito
nenhum vir para o casamento! Isso é impossível!
ERA O BASTANTE. MALU DEPOSITOU
O FONE NO GANCHO, COM AS MÃOS TRÊMULAS.
CORTA PARA:
CENA 5 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
DELEGADO NOGUEIRA - Cara, eu tinha como certa
a culpabilidade de Alfredo Ribeiro!
DETETIVE AMADEU - Confesso que eu também
acreditava nisso.
DELEGADO NOGUEIRA - Bem, não há mais o que
pensar. O importante é que o truque funcionou e só isso me importa. Agora, é
confirmar as declarações de Valéria. Para isso, a primeira providência é chamar
D. Carmen, a mãe da vítima. Temos que fazer uma acareação entre as duas. Cuide
disso o mais rápido possível, Amadeu.
CORTA PARA:
CENA 6 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO -ESCRITÓRIO - INT. - DIA.
MALU ENTROU NO ESCRITÓRIO DO
PAI, DECIDIDA. MONTEIRO PRADO DESLIGOU O TELEFONE, NUM GESTO BRUSCO.
MALU - Não precisa disfarçar, meu pai. Eu ouvi
tudo na extensão. Você quer impedir minha mãe de vir ao meu casamento! Tou
começando a acreditar que há algo de sujo por trás disso e vou descobrir, custe
o que custar! Está decidido: vou aos Estados
Unidos trazê-la de volta!
MONTEIRO PRADO - Minha filha, você entendeu
tudo errado. Não quero impedir a vinda de sua mãe. Ela é uma mulher doente. Não
pode viajar...
MALU - (cortou) Chega, meu pai. Você não vai
continuar me enrolando com suas histórias. Quero minha mãe aqui, no meu casamento,
e não falamos mais disso!
CORTA PARA:
CENA 7 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA -INT. - DIA.
VALÉRIA FRANÇA ESTAVA OUTRA
VEZ SENTADA Á FRENTE DO DELEGADO NOGUEIRA, QUANDO O DETETIVE AMADEU ENTROU COM
D. CARMEN NO
RECINTO.
DELEGADO NOGUEIRA - Obrigado por ter vindo, D.
Carmen (e apontou para Valéria) Conhece dona Valéria França?
CARMEN - Não, não conheço. Por que me chamou
aqui, delegado?
DELEGADO NOGUEIRA - Esta senhora acabou de confessar
o assassinato de sua filha, Diana.
CARMEN - (empalideceu) A... a senhora?
VALÉRIA ERGUEU OS OLHOS
VERMELHOS, AR SOFRIDO.
VALÉRIA - Eu sinto muito, minha senhora... mas
sua filha queria tirar de mim o homem que eu amo... Por ele sou capaz de tudo!
Fiquei cega, só pensava em acabar com ela!
CARMEN TREMIA, O ÓDIO
ESTAMPADO NA FACE.
CARMEN - (gritou, descontrolada) Então foi
você! Monstro! Assassina! Assassina!
DELEGADO NOGUEIRA - (interveio) D. Carmen, por
favor, tenha calma. Só chamei a senhora aqui porque atendeu o telefonema de uma
mulher, marcando encontro com Diana, na noite do crime. Seria capaz de
identificar como sendo de dona Valéria aquela voz?
CARMEN - (com firmeza e ódio na voz) Não tenho
dúvida nenhuma, delegado! Aquela voz era dela!
DELEGADO NOGUEIRA - Muito bem, tudo coincide
com as suas declarações, dona Valéria. Poderia descrever o momento do crime,
como foi o encontro com Diana Molina?
VALÉRIA - (com todo sangue-frio) Encontrei ela
e a atraí para o paredão, logo depois da meia-noite. Ameacei com um revólver...
e a empurrei lá de cima! Pronto! Já disse tudo o que tinha pra dizer!
CARMEN SENTIU O MUNDO RODAR,
COMO SE ESTIVESSE NUM AVIÃO DESGOVERNADO. O DETETIVE AMADEU A AMPAROU, EVITANDO
QUE ELA CAÍSSE AO CHÃO.
DELEGADO NOGUEIRA - È melhor levá-la para
casa, Amadeu. Dê-lhe um copo d’água e a acompanhe, por favor.
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - NOITE.
NAQUELA NOITE, MONTEIRO PRADO
REUNIU ALGUNS
AMIGOS PARA UM DRINK. O “PAPO”
ROLAVA DESCONTRAÍDO, QUANDO HUGO MATIAS CHAMOU A ATENÇÃO DOS PRESENTES:
ISADORA, MONTEIRO PRADO, MALU, MARCELÃO E SENHORINHA.
HUGO MATIAS - Pessoal, tenho uma notícia para
dar!
TODOS SE VOLTARAM PARA O
JORNALISTA.
MONTEIRO PRADO - O que aconteceu?
HUGO MATIAS - Acabei de receber uma ligação da
redação: foi descoberta a assassina de Diana Molina!
MALU - Assassina?
MARCELÃO - Fala de uma vez, homem!
ISADORA - Então... é uma mulher?
HUGO MATIAS - Isso mesmo. Ela acaba de
confessar. É uma tal de Valéria França. É atriz.
ISADORA - Como é que pode, gente? Aquela
atriz, Valéria França? Mas ela não é a namorada de Alfredinho?
MALU - Ela mesma. Eles tem um caso.
ISADORA - Então, até que pode. O ciúme...
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DE VALÉRIA - SALA - INT. - DIA.
APÓS A CONFISSÃO DE VALÉRIA,
ALFREDINHO FÔRA LIBERADO PELO DELEGADO NOGUEIRA E DIRIGIU-SE AO APARTAMENTO DA
AMANTE, DE ONDE LIGOU PARA O PAI, DORIVAL.
ERAM QUASE MEIA-NOITE QUANDO O
HOMEM DE MEIAIDADE TOCOU A CAMPAINHA. SLFREDINHO ATENDEU, AFLITO.
ALFREDINHO - Ainda bem que você veio, velho.
DORIVAL - (surpreso) Meu
filho! Vim o mais rápido que pude. Você nunca me ligou.... O que aconteceu?
ALFREDINHO - Valéria está presa!
DORIVAL - (balbuciou, incrédulo) Pre...
presa?!
ALFREDINHO - Ela caiu no truque do delegado e
confessou o assassinato de Diana! Velho, eu preciso que você vá à delegacia e
fale com ela! Ela tem de desmentir tudo!
DORIVAL - (pasmo) Deus do Céu! Mas a essa
hora... não vão me deixar falar com ela.
ALFREDINHO - Isso é verdade... Paciência, ela vai
ter de dormir na cadeia. Você vai amanhã bem cedo, então.
DORIVAL - Coitada da Valéria... Pode deixar,
filho. Eu vou, sim. Conte comigo!
CORTA PARA:
CENA 10 - IPANEMA - EXT. - DIA.
IMAGENS DO AMANHECER. NAS
PRIMEIRAS HORAS DO DIA, UM GRUPO DA TERCEIRA IDADE PRATICAVA TAI-CHI-CHUAN NA
PRAIA, OUTROS EXERCITAVAM-SE EM BICICLETAS OU CORRENDO NO CALÇADÃO.
CORTA PARA:
CENA 11 - FACHADA E INTERIOR DA DELEGACIA DE IPANEMA
O CABO JORGE ACOMPANHOU
DORIVAL RIBEIRO Á CELA DE VALÉRIA FRANÇA.
DORIVAL - (fitou a mulher
atrás das grades, penalizado) Valéria, minha querida! O que fizeram com você...
Ainda não estou acreditando...
VALÉRIA - (segurou as mãos do amigo, abatida)
Seu Dorival, que bom que você veio! Pois é, meu amigo... eu confessei tudo! Eu
matei Diana Molina!
DORIVAL SEGUROU-LHE OS BRAÇOS
ATRAVÉS DAS GRADES E SACUDIU-A, COM FORÇA.
DORIVAL - Não repita essa loucura! Nós sabemos
que não é verdade! Quem me mandou aqui foi o Alfredinho. Ele me mandou alertar
você!
VALÉRIA - (confusa) Alertar? Como assim?
DORIVAL - (sussurrou, aflito) Você foi
enganada e se deixou levar pelo truque do delegado! Meu filho jamais acusou
você do assassinato daquela moça. Tudo não passou de um plano para fazer um de
vocês confessar!
VALÉRIA - (empalideceu) Meu Deus! O que eu
fiz, meu Deus! (agarrou-se às grades, desesperada) E agora, seu Dorival! Eu
confessei tudo, inclusive pra mãe da moça...! Eu tou perdida!
FIM DO CAPÍTULO 32
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