17º
Capítulo
Ponto para Bituca.
Com as imagens arquivadas é possível fazer justiça sem precisar usar a
violência. Ainda mais Marcelo, religioso, bondoso.
Marcelo (interessado no assunto) – ‘Cê’
tem tudo gravado? Tudo?
Bituca – Tudo, truta.
Tudo mesmo. Desde as dropadas do moleque até a agressão do zé-ruela. Tudo
arquivado.
Ferradura – E o que vocês
pretendem fazer com isso?
Marcelo – Como o que?
Tem que mostrar pras autoridades, fazer a justiça.
E eles
realmente tentam isso, mas ninguém os respeita, então eles resolvem arriscar
tudo exibindo as imagens na íntegra no programa semanal que trata sobre
Esportes Radicais. Como a avó do menino de 14 anos passou muito mal e está
internada num hospital, a atração é dedicada a ela.
Menino
(angustiado) –
Minha vó não, senhor. Minha vó ta muito doente, não a incomoda não...
Aspirante – Quem manda ter neto noiado?
O menino é jogado dentro da viatura como um fruto
podre.
As entidades
de Direitos Humanos se chocam muito com as imagens mostradas pelos skatistas e
o Ministério Público decide investigar o caso.
Casa de Laura.
Sala. Noite.
Os pais de
Laura estão assistindo ao mesmo noticiário local noturno. O âncora foi obrigado
a se retratar pela conduta antiética que teve dias antes.
Âncora (noticia a novidade no caso) – Eu fui acusado pelas entidades de Direitos Humanos por estar falando apologia à violência e incitação ao ódio. Em nenhum momento eu disse que aprovei a conduta da polícia. Disse? Eu quero provas! Eu quero, por favor, que alguém resgate esse material, porque acusar sem provas é crime, dá processo por injúria, calúnia e difamação. Eu sou apresentador de televisão, esse espaço é democrático, é um espaço do povo, de todos. Em todos os meus anos de estrada, eu nunca me deparei com tamanha injustiça. Estou sendo processado... (ele tira uma folha de papel de cima da bancada e apresenta a intimação para uma das câmeras) Estou sendo processado por ser um comunicador sem papas na língua, que fala o que o povo quer ouvir. Eu falo em nome de toda a sociedade. Calar a minha voz não resolve o problema, não dá cabo da criminalidade. Vocês estão calando um inocente. Por conta disso, meu filho novo apanhou na escola, minha esposa fez o B.O. numa delegacia. Meu filhinho tem só 14 anos...
Laura solta ar pela boca.
Laura - O menino agredido também tem só 14 anos.
O âncora em nenhum momento se coloca no lugar do menino agredido, nem quando se trata do seu próprio filho naquele papel.
Âncora - Por conta de gente mal intencionada que está distorcendo as minhas palavras, dizendo por aí que o meu programa é sangrento, faz apologia à violência, que eu falo o que não devo. Quando? Quando é que eu usei o meu espaço democrático pra ofender alguém? Eu quero saber, por favor. Eu tenho o direito de saber. Porque eu, Geraldo Bráulio de Oliveira Sobrinho, nunca fiz mau uso da palavra. Muito pelo contrário... Eu sou a voz do cidadão simples, do pai de família que dá um duro danado pra ser roubado por esse governo pilantra e mercenário. Eu apenas cumpri com a função de informar sobre o tumulto na pracinha, tive acesso às imagens e estou sendo execrado por apresentar uma reportagem? Eu sou um pai de família, pago imposto e estou sendo hostilizado por comandar um programa de grande audiência em todo o estado? (a câmera focaliza o rosto dele) O dia em que eu fizer qualquer apologia à violência, quero que cortem o meu áudio, quero ser tirado do ar. (ele tira o paletó e o veste na cadeira de onde apresenta o noticiário policial quando está cansado) Eu deixo o meu cargo à disposição, direção. Eu não prestarei serviços à sociedade pra ser cruelmente amordaçado.
O âncora deveria ter sido ator de melodrama porque já extrapolou o tempo da atração e ninguém o tira do ar.
Âncora - A-mor-da-ça-do. Eu estou sendo amordaçado. E por quem? Por quem tem medo da verdade... Porque a verdade dói... A verdade é a ferida de alguém, é a ferida de alguém que não quer pagar pelos seus atos... Vocês não estão amordaçando esse simples apresentador, mas a sociedade inteira, a todos os curitibanos que esperam de mim toda a credibilidade que muitos colegas meus infelizmente não têm. Não adianta me criticar em blogs, eu leio. Eu não tenho medo de cara feia, de ameaça. Eu tenho medo de quem distorce a minha palavra em troca de auto-promoção. Disso eu tenho muito medo, meu povo. Isso, francamente, me amedronta.
Laura debocha do editorial.
Laura - Então ele já teria que procurar outro emprego. No início do programa ele não xingou o travesti de "traveco à mão armada"? Como é que ele é tão cínico?
Zélia repreende Laura.
Âncora - Eu tenho mais de 10 anos de casa, tenho o respeito dos meus colegas, eu janto com a família curitibana há mais de cinco anos, eu sou parte de muitas famílias, porque acima de tudo sou pai. O policial estava cumprindo o dever dele, mas se exasperou, e quem não se exaspera? Quem de vez em quando num dia estressante não grita ou quebra algum objeto?
Pelas expressões desgostosas de Laura, a tentativa de retratação sai pior que o editorial grosseiro.
Laura - Nenhum argumento justifica o que aqueles policiais fizeram com o menino. Nada, nada.
Zélia - É vagabundo.
Laura - Não é vagabundo.
Zélia - Não me diga que é namoradinha dele? Pra estar defendendo tanto...
Laura - Eu não sou namorada dele, nunca falei com ele, mas isso não quer dizer que eu concorde que dois policiais abusem do poder pra humilhá-lo.
O apresentador sensacionalista não quer admitir que sua postura como profissional foi muito rude e pode desqualificá-lo.
Âncora - Eu quero que a direção me tire do ar nesse instante. Ser censurado eu não irei. Não posso admitir que distorçam as minhas palavras porque é ferir a liberdade de um profissional, a liberdade de expressão.
Laura discorda.
Laura - Mas e o que fizeram com os skatistas também não foi?
O âncora está indignado e faz caras e bocas.
Âncora - Os policiais acusados de torturarem o menor de idade foram identificados pelas testemunhas e serão afastados da corporação. Se condenados, os aspirantes serão obrigados a prestar serviços comunitários. (cínico) Eu ainda estou decepcionado. Um policial que abusa do próprio poder tem de ser exonerado, pagar pelos crimes que comete.
Laura, revoltada, coloca-se de pé.
Laura - Ou seja, eles vão voltar às ruas sem terem aprendido nada.
Zélia (ignorante) - Aprender o quê?
Laura - A tratar seres humanos.
Laura solta ar pela boca.
Laura - O menino agredido também tem só 14 anos.
O âncora em nenhum momento se coloca no lugar do menino agredido, nem quando se trata do seu próprio filho naquele papel.
Âncora - Por conta de gente mal intencionada que está distorcendo as minhas palavras, dizendo por aí que o meu programa é sangrento, faz apologia à violência, que eu falo o que não devo. Quando? Quando é que eu usei o meu espaço democrático pra ofender alguém? Eu quero saber, por favor. Eu tenho o direito de saber. Porque eu, Geraldo Bráulio de Oliveira Sobrinho, nunca fiz mau uso da palavra. Muito pelo contrário... Eu sou a voz do cidadão simples, do pai de família que dá um duro danado pra ser roubado por esse governo pilantra e mercenário. Eu apenas cumpri com a função de informar sobre o tumulto na pracinha, tive acesso às imagens e estou sendo execrado por apresentar uma reportagem? Eu sou um pai de família, pago imposto e estou sendo hostilizado por comandar um programa de grande audiência em todo o estado? (a câmera focaliza o rosto dele) O dia em que eu fizer qualquer apologia à violência, quero que cortem o meu áudio, quero ser tirado do ar. (ele tira o paletó e o veste na cadeira de onde apresenta o noticiário policial quando está cansado) Eu deixo o meu cargo à disposição, direção. Eu não prestarei serviços à sociedade pra ser cruelmente amordaçado.
O âncora deveria ter sido ator de melodrama porque já extrapolou o tempo da atração e ninguém o tira do ar.
Âncora - A-mor-da-ça-do. Eu estou sendo amordaçado. E por quem? Por quem tem medo da verdade... Porque a verdade dói... A verdade é a ferida de alguém, é a ferida de alguém que não quer pagar pelos seus atos... Vocês não estão amordaçando esse simples apresentador, mas a sociedade inteira, a todos os curitibanos que esperam de mim toda a credibilidade que muitos colegas meus infelizmente não têm. Não adianta me criticar em blogs, eu leio. Eu não tenho medo de cara feia, de ameaça. Eu tenho medo de quem distorce a minha palavra em troca de auto-promoção. Disso eu tenho muito medo, meu povo. Isso, francamente, me amedronta.
Laura debocha do editorial.
Laura - Então ele já teria que procurar outro emprego. No início do programa ele não xingou o travesti de "traveco à mão armada"? Como é que ele é tão cínico?
Zélia repreende Laura.
Âncora - Eu tenho mais de 10 anos de casa, tenho o respeito dos meus colegas, eu janto com a família curitibana há mais de cinco anos, eu sou parte de muitas famílias, porque acima de tudo sou pai. O policial estava cumprindo o dever dele, mas se exasperou, e quem não se exaspera? Quem de vez em quando num dia estressante não grita ou quebra algum objeto?
Pelas expressões desgostosas de Laura, a tentativa de retratação sai pior que o editorial grosseiro.
Laura - Nenhum argumento justifica o que aqueles policiais fizeram com o menino. Nada, nada.
Zélia - É vagabundo.
Laura - Não é vagabundo.
Zélia - Não me diga que é namoradinha dele? Pra estar defendendo tanto...
Laura - Eu não sou namorada dele, nunca falei com ele, mas isso não quer dizer que eu concorde que dois policiais abusem do poder pra humilhá-lo.
O apresentador sensacionalista não quer admitir que sua postura como profissional foi muito rude e pode desqualificá-lo.
Âncora - Eu quero que a direção me tire do ar nesse instante. Ser censurado eu não irei. Não posso admitir que distorçam as minhas palavras porque é ferir a liberdade de um profissional, a liberdade de expressão.
Laura discorda.
Laura - Mas e o que fizeram com os skatistas também não foi?
O âncora está indignado e faz caras e bocas.
Âncora - Os policiais acusados de torturarem o menor de idade foram identificados pelas testemunhas e serão afastados da corporação. Se condenados, os aspirantes serão obrigados a prestar serviços comunitários. (cínico) Eu ainda estou decepcionado. Um policial que abusa do próprio poder tem de ser exonerado, pagar pelos crimes que comete.
Laura, revoltada, coloca-se de pé.
Laura - Ou seja, eles vão voltar às ruas sem terem aprendido nada.
Zélia (ignorante) - Aprender o quê?
Laura - A tratar seres humanos.
Zélia (ridiculariza Laura) –
Não posso acreditar numa coisa dessas. As autoridades estão rindo da justiça...
Laura (discute com a mãe) –
Justiça, mãe? Você não viu que o menino foi agredido?
Zélia – Quem manda
fazer o que não presta?
Laura – A senhora viu
pelas imagens que o menino foi injustiçado, que ele não era um mau caráter.
Amauri – Os policiais foram muito cruéis, Zélia. A avó do menino adoeceu por conta disso.
Laura – Se você fosse
a avó desse menino, mãe, pensa.
Zélia – Se eu fosse
avó dele, o quebrava de porrada pra ele aprender a não ser noiado.
Laura se
levanta do sofá.
Laura – Lamento a
tristeza de seu fim, Zélia Prioli. Tristeza, solidão, vontade de pedir perdão às
pessoas e a maioria delas não estar mais aqui pra você fingir que se
arrependeu...
Música: O dia que não terminou – Detonautas.
Laura sobe para o quarto. Zélia reclama da rebeldia da filha caçula.
Laura sobe para o quarto. Zélia reclama da rebeldia da filha caçula.
Zélia (indignada, perplexa) –
Qualquer dia eu vou acabar internando essa menina.
Amauri – Eu concordo
com Laura, meu bem. O policial exagerou demais na abordagem, o menino não ofereceu nenhum tipo de resistência.
Zélia - Se fosse meu filho, ia pra rua. Filho meu não se mete com vagabundo dessa laia. Quem anda de skate não tem nada na cabeça, só usa o boné de enfeite.
Amauri - Sei que não deveria dizer isso, mas você provoca as brigas.
Zélia - Se fosse meu filho, ia pra rua. Filho meu não se mete com vagabundo dessa laia. Quem anda de skate não tem nada na cabeça, só usa o boné de enfeite.
Amauri - Sei que não deveria dizer isso, mas você provoca as brigas.
Zélia – Não, quem
provoca é ela. (olha para o âncora gesticulando exageradamente) Censurar o Geraldo Bráulio foi longe demais. Ele só cumpre o dever dele de informar e falar a verdade ou sabe-se lá como seriam as coisas?
Amauri - Esse cara é um arrogante, intragável e fala mais do que deve.
Zélia - Ele fala pelos que não podem falar.
Amauri - Ele tem que dar a notícia, não dizer o que pensa, eu não quero saber o que ele acha. Eu só assisto a essa porcaria porque você gosta.
Zélia - Eu assisto a esse programa porque preciso estar informada.
Amauri - Informada? Esse programa é uma caneca de sangue, é horrível jantar vendo gente sendo esquartejada, estuprada, vendo esse insuportável falando como se fosse o dono supremo da verdade. Esse aí com uma câmera à frente se acha Deus.
Amauri - Esse cara é um arrogante, intragável e fala mais do que deve.
Zélia - Ele fala pelos que não podem falar.
Amauri - Ele tem que dar a notícia, não dizer o que pensa, eu não quero saber o que ele acha. Eu só assisto a essa porcaria porque você gosta.
Zélia - Eu assisto a esse programa porque preciso estar informada.
Amauri - Informada? Esse programa é uma caneca de sangue, é horrível jantar vendo gente sendo esquartejada, estuprada, vendo esse insuportável falando como se fosse o dono supremo da verdade. Esse aí com uma câmera à frente se acha Deus.
Laura ouve
tudo do andar de cima. Apenas lamenta, mas não verbaliza. Caminhando pelo
corredor é como se tivesse um deja-vu, um estranho deja-vu.
A porta do
quarto de Elisa está entreaberta. Laura para no meio do corredor, o coração
dispara. Num flashback mais detalhado, a protagonista adentraria o dormitório
da irmã e a encontraria com a cara nos livros, como sempre. O orgulho de Zélia,
a filha perfeita, que nunca chorava, nunca falhava, sempre a obedecia, não a
enfrentava, mas também se foi e apesar de sempre estar sorrindo, ninguém sabia
se ela era verdadeiramente feliz. Até então se acredita que sim.
Laura se
depara com a realidade: é apenas um quarto escuro, tão somente. Fecha a porta.
Chega ao seu próprio quarto, acende a luz, fecha a porta. As lágrimas caem.
Toda vez que discute com Zélia é como se a mesma cruelmente lhe esfregasse no
rosto que quem deveria estar viva é Elisa, não ela. Por mais triste que seja, é
a realidade. Não se trata de um inexplicável delírio e sim de uma certeza que a
adolescente carrega. E sabe que o que a espera não é tão doce assim porque
quando Zélia descobrir o namoro, a reação não será nada boa.
Laura se deita
na cama e abraça o travesseiro, chorando toda a dor que a cada dia que passa
aumenta ao invés de diminuir. 28 de novembro de 2003, para Elisa, foi o dia que
não terminou.
Casa de
Karinna. Cozinha. Noite.
Karinna janta
com o pai. Macarrão, carne moída, refrigerante. Mesa redonda adornada com uma
toalha xadrez, dois copos, um castiçal, tudo que mostre que ali há uma família.
Pai e filha conversam.
Pedro – Tudo é
questão de contexto.
Karinna – E você
acredita mesmo em tempos melhores depois de ver a sujeira dessa sociedade?
Pedro – Todos somos
parte da sociedade.
Karinna – Às vezes eu
me sinto uma aberração na sociedade. Eu estou muito longe de ser tudo aquilo
que exigem de uma mulher perfeita.
Pedro – Você tem o
caráter de uma mulher virtuosa, Karinna.
Karinna (faz carinhos na mão do pai) – Ah,
paizinho, o senhor sempre me anima tanto.
Pedro – Você é a
sociedade e se quer que a sociedade mude, comece por você.
Karinna – Mudar os
pensamentos é como desativar um programa que só serve pra ocupar espaço no HD.
Pedro (concorda com a cabeça e come mais macarrão) –
Pois é essa a ideia... Ou então aprofundar as raízes desse pensamento, saber se
o que você quer, você quer mesmo ou se cultua crenças que lhe foram passadas,
sem questionar se elas fazem, de fato, sentido pra você.
Karinna – Tanta
intolerância a troco de nada, tanto preconceito, tantas mentes fechadas. As
pessoas veem apenas o que querem.
Pedro – Todos fazemos
um pouco isso, muitas vezes por questão de sobrevivência.
Karinna – E quando a
sobrevivência está ameaçada justamente porque a civilização não se entende
mais? Ou será que é um vício nosso pensar que o passado era melhor?
Pedro – Fico te
devendo essa resposta.
Karinna suspira
enquanto pousa o garfo no prato.
Karinna – Sempre quando
começo a filosofar acabo ficando deprê.
Pedro (brincalhão) –
Então não filosofe mais, Dra. Karinna.
Karinna (também descontraída) –
E como é que o senhor quer que eu seja uma boa psicóloga se eu não me colocar
na posição de pensadora a ponto de me colocar verdadeiramente no lugar do meu
próximo ao invés de somente julgá-lo?
Pedro – Muitas vezes
é cômodo julgar, principalmente quando nos imaginamos vivendo determinada situação.
Karinna – E normalmente
quem julga não tem, como se diz, moral pra isso...
Pedro – Se você fosse
jornalista, temeria seus editoriais.
Karinna (concorda) –
Eu também, mas temeria muito mais nunca descobrir a verdade. Caramba, se tudo é
questão contextual, o que é verdade pra mim pode não ser pro senhor, nem pra
Laura, nem pro Vini; então, se for analisar friamente, não existe uma verdade –
gesticula entre aspas – absoluta, certa, que todos devam seguir e sim várias
verdades disputando simultaneamente quem tem a razão.
Pedro – E é dessa
discussão que nasce o conhecimento.
Curitiba.
Barzinho. Noite.
Bituca e
Chiquinho conversam enquanto bebem muito. Ferradura está com eles. Música Megalomaniac – Incubus.
Bituca – Conheço Marcelo
há mais de 10 anos e nunca o vi tão feliz em toda sua vida.
Chiquinho – Então o
namoro com a gatinha é coisa séria?
Bituca – Deu pra ver
que sim.
Ferradura (cínico, moralista) – Mas
a menina é muito nova. Se tiver 17 é muito.
Bituca – Laura tem
quase 15.
Ferradura (espantado) –
14? – pensa – A gatinha tem só 14, mas é um filé. O Marcelo que se prepare
porque essa gatinha vai ser minha, logo. – condena Marcelo diante dos amigos –
Marcelo tava tão necessitado assim pra pegar a primeira menina que viu na
frente? Pois veja bem, a pobre Laura só tem 14 anos e pela nossa lei, sexo com
menor de 14 anos, ainda que consentido, é estupro.
Bituca (corta o barato de Ferradura) –
Marcelo é evangélico.
Ferradura – Até a entrada
no motel.
Bituca (irritado com a malícia de Ferradura) –
Você pensa que todo mundo é como você.
Ferradura – Falo como
homem. – debocha de Marcelo - Ninguém vai aguentar namorar só com beijinho na
boca o resto da vida. – se levanta para ir ao banheiro – É cada uma que ‘cês’
me inventam... – e se retira
Quando
Chiquinho se dá conta de que Ferradura foi mesmo ao banheiro, acena para que
Bituca se aproxime.
Chiquinho – É, cara, acho
bom o Marcelo cuidar bem da Laura.
Bituca – Por que fala
desse jeito?
Chiquinho – Não sei se
devia te contar isso, mas é bom que saiba.
Bituca – Do que?
Chiquinho – Ferradura ta
de olho na gatinha.
Bituca (intrigado) – Na Laura?
Chiquinho – Jura por
céus e terra que conheceu a gatinha por primeiro e o Marcelo tratou de furar
olho.
Bituca (bebe mais cerveja) – Ferradura não
muda mesmo, quer tudo é que dos outros.
Chiquinho – Só dá umas
dicas pro Marcelo tomar mais cuidado.
Bituca – Tem um monte
de gatinha por aí, ele que vá procurar a dele em vez ficar furando o olho dos
outros.
Chiquinho (disfarçado) – Sabe
como é que o Ferradura quando cisma com uma ideia.
Bituca – Esse aí não
sabe planejar os passos dele sem pisar nos outros.
Chiquinho – Pô, cara, não
fala alto não. Se o Ferradura sabe que te contei isso, me mata.
Bituca – Deixa o
Marcelo ser feliz, pô. Já não basta os problemas que ele vai ter quando os pais
da gatinha descobrirem o namoro.
Chiquinho (impressionado) –
Então quer dizer que os pais da gatinha não sabem do namoro?
Ferradura, que
está voltando do banheiro, ouve o que precisava saber.
Ferradura vai fazer besteira...
ResponderExcluirPior é que vai mesmo. :/
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