18º
Capítulo – Laly chega a Curitiba!
-Não precisa ter medo,
Naira. Não vou fazer nada que você não queira.
-Será que Deus vai
gostar disso? - Naira está amedrontada
-Naira...
Mayra suspira ao ver
Nilton parando em frente à Naira.
-E se alguém ver,
Nilton?
-O que pode haver de
errado em duas pessoas se amarem?
Naira não sabe o que responder. Por mais que disfarce, sente medo. Não sabe como agir como um garoto. Mesmo que suprima todos os desejos carnais vivendo em comunhão profunda com a igreja, Naira jamais imaginou que algum dia um garoto iria se apaixonar por ela. Essa ideia ainda a assusta.
Mayra faz figa e torce
para que Nilton consiga se declarar para Naira porque sabe o quanto o primo de
Iury gosta de Naira.
-Nilton... E se...
Nilton dá um selinho
em Naira no meio do calçadão da praia.
-Nilton. - Naira está com o rosto todo enrubescido, mas Nilton também
-Tudo bem, Naira... Bem... Bem...
-Eu... Eu gostei...
-Eu vou embora amanhã e gostaria que desse uma resposta.
-Sobre o que?
-Como 'sobre o que', Naira? Sobre nós?
-Sobre nós?
-Eu sei que você também gosta de mim.
Naira tenta fugir de Nilton, mas ele a segue.
-Naira, é só um beijo na boca.
-Você é que pensa.
-Duas pessoas que se amam, se beijam.
-Não posso.
-Não pode porque não quer ou não pode porque ta com medo?
Naira, assustada, desvia o olhar de Nilton e sai correndo para fugir dele. O primo de Iury está aflito, porém aliviado. Conseguiu dar a entender que está apaixonado por Naira. A tensão, lógico, é do vestibular, do incerto futuro tanto na carreira quanto com Naira, no entanto para o vestibular há muito mais esperanças que decifrar o tímido e misterioso coração de Naira.
Som:
Ordinary world - Duran Duran.
Embarcar para Curitiba significou minha carta de alforria
durante as festas de fim de ano. Independente da permissão de meu pai, iria
passar uns dias com o Tio Abílio, Tia Conceição e meus queridos primos Dani e
Túlio.
Abílio é irmão de meu pai, mas sempre me amou como se eu
fosse sua filha. Tia Conceição sempre fez questão de frisar que sou a imagem e
semelhança de minha falecida mãe. Conceição sempre foi como a mãe que não
pude ter. Preferia mil vezes ter sido criada pelos meus tios a ter crescido num
lar onde minha presença nunca foi notada.
Meus tios e primos fizeram questão de vir me recepcionar na
rodoviária. Fui recebida como se fosse uma princesa.
-E por que o noivo não
veio junto? - perguntou Tio Abílio, orgulhoso pela façanha
-Ele ta muito ocupado.
- respondi, um tanto indiferente
-E aquele outro
namorado, o Iury, cadê ele? - perguntou Tia Conceição
-Terminamos...
Meus olhos ainda enchiam-se de lágrimas ao falar disso.
-Está triste, Lalinha?
O que você tem? - Tia Conceição me abraçou
-Decerto está
preocupada com o vestibular ou é saudade do noivinho... - Tio Abílio encerrou a
conversa por ali
Procurei manter a calma e mudar de assunto, pois já fazia
quase um ano que não via meus parentes. Mesmo sendo visita, gostava de
ajudar a Tia Conceição com as tarefas de casa.
-Deixe disso, Lalinha.
Você é visita, querida. - frisava Tia Conceição
-Gosta de torta de
limão? - perguntou Dani
-Adoro! Aliás, faz um
baita tempo que não como... - comentei
-Ah que ótimo!
Preparei às pressas porque sabia que você ia chegar...
-Mas não precisavam se
incomodar com nada.
Tia Conceição e Dani
eram melhores amigas. Amigas mesmo. Apesar
de só conviver esporadicamente com meus tios, não conseguia imaginá-los
surtando e espancando os filhos. Tio Abílio falava vagarosamente, pacientemente
e continuava inabalavelmente apaixonado pela esposa. Daniela e Túlio eram os
razões de sua vida e por eles todos os sacrifícios eram válidos.
-Posso pelo menos
ajudar a arrumar a mesa? - me ofereci para ajudar
-Não, Lalinha. Apenas
aproveite suas férias. - respondeu Tio Abílio enquanto ajudava Dani e Tia
Conceição
Se em meu lar a hora da refeição era uma tortura por conta
do silêncio ou mesmo das provocações e humilhações, na casa de meus tios sentia
vontade de chorar por ser acolhida com o carinho que sempre desconheci.
-Quem diria que aquela princesa que vi crescer
já está prestando vestibular... - Tio Abílio dizia com brilho no olhar
-E vai ser uma ótima
jornalista. Mal vejo a hora de ver minha querida afilhada exercendo a
profissão. - Tia Conceição sonhava
-Deus os ouça.
-Ele está ouvindo,
querida. Ele sabe que você merece muito isso.
-E quando for
jornalista, faz uma entrevista com a futura dentista aqui. - Dani completou
O choro estava atravessado na garganta. Pudera meu pai
e Eleonora me dizerem todas aquelas palavras de incentivo e me tratar com tanta
ternura que por vezes me fazia olhar para o outro lado da mesa e ver se não
havia mais alguém ao meu lado.
-Você vai gravar uma
reportagem lá no meu consultório e todo mundo vai conhecer a doutora Daniela
Menezes Moraes...
-Chorando, Lalinha? -
perguntou Túlio
-Eu? Não... - respondi
com a voz embargada pela vontade de desmoronar
-Lalinha...
Tio Abílio conheceu minha mãe, me viu nascer e crescer.
Mesmo não estando 100% do tempo comigo, sabia se eu estava feliz ou não. Era
óbvio para qualquer leigo que havia algo de muito errado comigo.
-Quer um copo de água
com açúcar, querida?
Tia Conceição se levantou da mesa e queria de todas as
formas me cortejar.
-Não, tia. Não preciso
de nada.
-Se são saudades do
noivo, por que não telefona?
-Eu juro que estou
bem. Por que não continuamos jantando?
-Nós somos sua
família, Lalinha. Se estiver com vontade de chorar, não precisa disfarçar. -
Daniela se levantou para me abraçar
Eles jamais entenderiam o que eu estava enfrentando. Ninguém
jamais poderia me ajudar, então para que contar?
-Quer ouvir uma piada,
Lalinha? Vou fazer você rir num instantinho com uma piada que aprendi na
escola. - Túlio era mesmo uma gracinha
-Túlio conta umas
piadas muito boas. - avisou Tio Abílio
Era gostoso ficar proseando com a tia, lhe contando todas
aquelas coisas que só nós mulheres entendemos enquanto lavávamos e enxugávamos
a louça.
Minha prima Daniela tinha a mesma idade que eu e já estava
terminando o primeiro ano de Odontologia. Agradecia a Deus pelas férias de
dezembro. Dani estava namorando firme o Everton fazia mais ou menos um ano.
Lembro-me bem de sua última carta.
Tio Abílio e Tia Conceição eram mais liberais, tanto que a
Dani sempre foi muito a vontade para falar de seus sentimentos e cresceu bem
resolvida, sabendo que era mesmo amada e querida. Eu não. Sempre me senti uma
intrusa e pensava que sem mim todos viveriam muito mais felizes.
Nessa viagem procurava me esquecer da angústia que me
rodeava. Deixei Iury e Gustavo na estrada. Pensaria um pouco mais em mim.
Som:
Flores (acústico) - Titãs & Marisa Monte.
Edílson, Eleonora e
Gustavo estão reunidos em um restaurante onde conversam. Todo planejamento é
pouco para trazer Laly de volta a Guaratuba e apressar o ‘casamento do ano’.
Gustavo Figueira
Antares é um homem que não aceita ser derrotado e sabe que Laly pode
denunciá-lo, então de todas as formas tentará oprimi-la e manipular seus
conhecidos para que as palavras da jovem soem como piada a todos.
Enquanto Edílson e
Eleonora, esfomeados, se estufam no rodízio de massas e carnes, Gustavo bebe
lentamente um cálice de vinho branco, enojado com a falta de modos dos pais de
Laly. A raiva certamente o ajuda a pensar com requintes de perversidade.
-Amanhã mesmo subirei
a serra e buscarei Laly. - avisa Gustavo
-Será que Laly perdeu
o juízo? Com um casamento praticamente consumado, ela ainda insiste nessa
história de jornalismo? Será que ela não percebe que só irá perder tempo
fazendo essa prova?
-Ela não irá fazer
essa prova. - Gustavo sorri maliciosamente
-E o que pretende
fazer? - questiona Eleonora
-Confiem na minha
astúcia e nada mais.
-Laly é mesmo um caso
perdido... - suspira Edílson
-Eu saberei como domar
a fera.
-E é bom que seja
ligeiro. Não se sabe do que ela e Iury unidos possam ser capazes. - Eleonora
destila seu veneno
Som:
Dove - Moony.
-Laly não está bem. -
Abílio conta a Conceição antes de dormir
-Está com saudades do
noivo, Abílio.
-Não gostei nada de
ver aqueles hematomas no rosto e nos braços da minha afilhada. Alguma coisa não
está certa...
-Também percebeu os
hematomas?
-Laly aparentou estar
amedrontada. Quando a abracei pude perceber isso.
-Eu também, meu
querido, mas temo fazer perguntas invasivas e deixar Laly constrangida.
Daniela percebe que
Laly evita mencionar tanto Iury quanto Gustavo. As primas estão sentadas na
cama de Dani. Laly está fazendo cafunés na cabeça da prima.
-E você, Laly? Quase
não falou nada hoje. Já falei do Evandro, contei até a história da vó dele e
você nem sequer abriu a boca.
-É interessante ouvir
você.
-Interessante é você,
gata. Ta arrasando corações em Guaratuba... Ta noiva e ainda ta com o Iury...
Ta passando o rodo por lá...
-Não pretendo me
casar.
-Ainda gosta do Iury,
né?
-Não quero saber de
ninguém. Quero apenas focar nos estudos, me formar e viver minha vida.
-Não acredita mais no
amor?
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