20º
Capítulo – Tensão pré-vestibular!
Som:
Never knew love like this before - Stephanie Mills.
Naira acende uma vela
de 7 dias. Emília, que está preparando o almoço, pergunta:
-Alguma causa
impossível?
-Bem impossível...
-Parece angustiada,
filha.
-Eu, angustiada? Estou
ótima!
-Eu te conheço, Naira. Sei que não está bem.
-Se não estivesse bem, estaria de cama. Por acaso estou doente? Não, mãe.
Naira se retira.
-E essa Naira pensa que vive de vento... Não toma café, não almoça... Como é que quer parar de pé se não coloca nada na boca? - suspira - Ai essas paixonites!
Emília percebe que
Naira não é a mesma, que algo está preocupando a garota, mas ela é tímida e
orgulhosa demais para confessar. Mesmo com vontade de ajudar, Emília se mantém
calada e deixa espaço para que Naira se sinta a vontade para procura-la.
Mayra, saltitando, chega até a cozinha. Emília nota que a filha caçula está mais contente.
-Pra estar contente assim ou escreveu cartinha pro Papai Noel ou viu um passarinho verde...
-Bom, não vi o passarinho verde, mas desde ontem to pra te contar um babado, mãe. - Mayra arrasta uma cadeira e apanha o ralador de cenoura
-Babado, Mayra? E o que é, agora?
-Ah, mãe, mãezinha... - alegre - A Naira ta amando...
-Naira?
-Ah mãe, se tivesse a visto com o Nilton ontem...
-Naira ta namorando e não me falou?
-Não, mãe, ela ainda não ta namorando, mas ta apaixonada...
-E como é que sabe se ela nem te conta nada?
-O olhar não engana.
-Olhar... Olhar... Naira vai é se internar no convento...
-Não se o Niltinho for esperto...
Som: Olhos certos -
Detonautas.
Fernanda está
brincando com o atari de Gabriel na sala quando escuta a campainha. Sabe que
não se trata de Grazielle porque Gabriel e ela já saíram. Iury também não
poderia ser porque ele e Aimée também estão fora de casa.
-O Mário jamais me
visitaria a essa hora do dia.
De qualquer forma, Fer
vai atender a porta. Trata-se de Milene.
-Oi...
A voz de Milene sai
quase rouca. Nada pode dar errado.
-Oi. - Fernanda a
cumprimenta
-Você me conhece? -
pergunta Milene quase como uma menininha indefesa
Som: Never knew love like this before - Stephanie Mills.
Sem Nilton, nem a missa tem graça para Naira. Ela caminha pelo calçadão sem companhia, vê outros adolescentes namorando, curtindo e sente a falta de Nilton. Nunca pensou que se importaria tanto com a ausência dele, mas está. E isso a machuca, a deixa sem ar, sem chão. Até Mayra que é 3 anos mais nova sabe mais sobre beijo e garotos do que ela.
Existe o fator religião pesando muito na decisão, mas há também a vontade de se deixar cativar, de ser amada como nunca foi e pode nunca vir a ser. Pode ser um beijo e que seja, mas o problema é saber o que reserva esse beijo, como será, ainda mais a reação de Nilton.
Som:
Uma carta – LS Jack.
Gilberto adora pescar
e convidou Aimée Iury para lhe fazerem companhia. O casal aceita. Gilberto está
meditando no barco enquanto Aimée e Iury se beijam atrás de uma árvore e o
jovem, muito mais safado que na noite anterior, agarra a namorada pela cintura
e beija o pescoço da ruiva, o grande ponto fraco, de todos.
-Iury, para. –
tentando recuperar o fôlego e ao mesmo tempo rindo – Meu pai pode olhar.
-Olhe ele... Não está
dando a mínima para nós.
Para Gilberto a arte
da pesca tem a capacidade de fazer com que desligue-se inteiramente do mundo.
-Mas ele pode olhar.
-Seus beijos não são
de quem só quer olhar. – Iury continua beijando o pescoço de Aimée e a
bolinando de forma que a ruiva se excite – Ora, a barraca está vazia...
-Está louco?
-Por você, sim. –
ergue de leve a regata azul de Aimée – Ele sabe?
-De nós, sim. Mas não
do resto.
-Vamos, Aimée. Eu
quero repetir a noite passada.
-Agora não, Iury.
-Tem de ser agora.
Aimée pressiona o dedo
indicador contra os lábios de Iury e a leviandade em seu olhar indica que não
só uma como mais transas ocorrerão, mas não na barraca, visto que Gilberto
costuma dormir um pouco após o almoço.
Iury tem sua camisa
desabotoada por Aimée que se despe em questão de segundos, permanecendo apenas
com a parte de baixo do biquíni. Iury não deixa de admirar as formas femininas
e sedutoras de Aimée, o que o intimida a desamarrar o tênis e provocar a
parceira.
-Quer que eu mesma tire,
não?
Iury faz beicinho. Os
namorados se abraçam e se beijam encostando-se a uma árvore e se beijando com
tanto ardor que poderiam passar o resto do dia sem serem perturbados. A transa
é consumada no mato, totalmente selvagem como os amassos que precedem o clímax,
a prolongar a diversão e a vingança contra Laly.
Som: Never knew love like this before - Stephanie Mills.
Naira voltou para casa e foi para o quarto sem almoçar. Emília percebe que a porta não está
trancada. Entra no recinto e encontra tudo escuro e Naira chorando em posição
fetal. Se senta na cama e faz carinhos nos pés da filha.
-Posso lhe fazer companhia?
Naira se vira para o outro canto. Emília
se aproxima mais da filha e coloca um travesseiro no colo para apoiar a cabeça
de Naira.
-Eu sabia que um
dia o amor ia chegar pra você também, minha filha. Ta doendo tanto, não é
mesmo?
-Eu não sei o que
ta acontecendo comigo.
-Eu sei. Se chama
saudade.
-Eu nunca tinha me
sentido assim... (se senta na cama) Parece que uma parte de mim morreu...
Emília abraça a filha.
-Dor de amor.
- Não sei como fazer
isso passar. Eu tento não pensar, mas ele ta sempre lá...
- É, minha filha,
saudade costuma doer assim mesmo. No meu tempo não era muito diferente não.
Ficar longe de quem a gente gosta...
-Não quero falar
sobre isso.
-Por que tem
vergonha de falar comigo? Eu já tive sua idade, Naira. Eu já passei por tudo
que você ta passando e por muito mais.
-Eu me sinto tão
estranha, não quero que ninguém me veja.
-Minha filha, não
tenha medo nem vergonha, você ta amando. Que isso tem de errado? Que tem de
errado em amar? Vai, me diz...
-Eu não sei se é
certo.
-Sofrer é que não é
certo. Se Nilton fosse um rapaz mau caráter que nem o primo dele, que pula de
cama em cama e só engana, eu não te deixaria chegar perto dele, mas Nilton é um
rapaz tão bom, com um coração tão puro, ingênuo, ta gostando tanto de você,
querida. É tão lindo isso. Tão lindo e tão difícil de acontecer. Duas pessoas
realmente se amarem e poderem se amar, então, minha filha, não deixe que esses
medos que te prendem sejam mais fortes que os seus sentimentos. Eu te garanto,
minha filha, maior pecado é renegar o amor, fugir dele, matá-lo. Mas tudo bem
se você quiser chorar. É bom... É bom botar pra fora o que ta guardado, o que
envenena.
Som:
Olhos certos – Detonautas.
Fernanda não se sente inteiramente convencida
acerca da visita de Milene, pois até onde sabe nunca trocou uma palavra com a
jovem.
-Ainda
não fomos apresentadas.
Milene se identifica e
está segurando em mãos um tapewere com pedaços de bolo de chocolate.
-Gostam de bolo?
-Adoramos!
-Ai, eu também. É só
uma pena que eu esteja me recuperando de uma grave doença e não possa comer. A
May disse que o bolo está uma delícia e me mandou trazer pra saudar Aimée.
-Saudar Aimée por quê?
-Aimée não veio em
melhor hora.
Milene, vestindo a
máscara da garotinha bondosa, difama Laly para Fernanda transformando a
protagonista na vilã mais maledicente e perversa do mundo.
-Laly não é essa santa
que a Mayra pinta por aí não. Isso aí é tudo falsidade, pura hipocrisia...
-Ah não?
-Não. Vê se não
acredita muito no que a Mayra diz porque ela é muito mentirosa. Ela até hoje
tem amigo imaginário e conta tanta lorota lá no colégio que todo mundo morre de
ódio dela.
Mayra é muito querida
na escola por ser extrovertida e comunicativa. May é sincera e não esconde suas
insatisfações. Pode não namorar nem ser a gostosona entre os meninos,
entretanto, apesar das brincadeirinhas infantis, os colegas a respeitam muito,
ainda mais por conhecerem a garra de Mayra em dar a volta por cima com estilo
após o falecimento de Mauro, seu pai. Milene é odiada e Laly ainda não
entende os motivos de tanta aversão das pessoas por Mili.
-Mas a May é tão
querida, tão gente boa...
-Ela e a Laly podem
até ser, mas é tudo fachada. Com o tempo você vai perceber que elas não valem
nada...
Som: Dove - Moony.
Tirar férias na casa
de meus tios era definitivamente como viajar na máquina do tempo e poder reviver
os momentos felizes da minha infância. Deus sempre nos compensa, de algum modo,
com seu jeito benevolente sempre faz nascer uma flor em um triste jardim para
que saibamos que mesmo quando nos sentimos abandonados, Ele está olhando por
nós. Meus tios eram anjos disfarçados.
Após o jantar, Dani e
eu saíamos para conversar com os vizinhos. Todos nós crescemos juntos.
Brincamos e brigamos diversas vezes, mas sempre fizemos as pazes e no final do
verão sentíamos saudades de tudo, até dos machucados no joelho.
Se dissesse que fui
uma criança 100% infeliz, estaria mentindo. Minha imaginação me libertou, foi
minha válvula de escape da realidade e me ajudou a ter objetivos, tentar sempre
encontrar possibilidades perante as adversidades.
Nossos dois vizinhos de
porta, gêmeos idênticos, estavam aderindo a moda da dance music européia. Nunca
cheguei a saber seus nomes verdadeiros, pois todos conhecíamos como Fuinha e
Dorminhoco.
-Lembra deles, né,
Lalinha?
-Claro...
Fuinha era caxias e queria estudar Engenharia. Dorminhoco
nem sabia direito o que fazer da vida, mas se inscreveu em Direito. Fuinha
queria namorar, mas tinha um azar danado com as mulheres. Dorminhoco só queria
saber de pegar e vivia rodeado das gatinhas.
Eles foram fazer cursinho pré-vestibular naquele ano. Fuinha
vivia com a cara nos livros enquanto o irmão sentava lá no fundão da classe e
gazeava aula pra tomar chopp. Não parecia nem um pouquinho amedrontado com o
vestiba enquanto o irmão estava com a saúde debilitada por conta da apreensão.
-Se estiver sem
namorado, gata, é só falar comigo... -Dorminhoco era assanhado
-Não ligue pro
Dorminhoco. Ele é um imbecil. - Dani zoava o amigo
-Prontos pra maratona?
- perguntei
-Acho que nem vou
dormir essa noite. - confessava Fuinha
-Também não é pra
tanto, mané. Toma umas biritas comigo que você já relaxa.
Para Dorminhoco o vestibular seria apenas outro desafio
qualquer. Ele não se depreciava como também não se garantia.
-Muito nervosa, Laly?
- perguntou Fuinha
-Um pouco ansiosa
sim... - confessei
Sabia que Nilton
também viria para Curitiba fazer a prova, mas não chegamos a nos ver.
-A prova é amanhã,
gente.
Fuinha estava irritando com esse negócio de só falar em
vestibular. Isso acabava me deixando mais apreensiva.
Imaginei talvez que quando entrasse na sala de aula e
sentasse em minha carteira, uma folha de papel gigante entraria pela porta e
apontaria uma metralhadora na direção de nós vestibulandos. Por isso mesmo
o chato do Fuinha não arrumava namorada. Menina nenhuma gosta dessa pressão
toda.
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