quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Confissões de Laly Cap 63: Um passo para trás!



Som: Yesterday once more – The Carpenters.

Gilberto colocou o berço de madeira onde Lílian dorme para poder cuidar integralmente do bebê e não se cansa de ver Lílian dormindo tão em paz quanto um anjo.

Fernanda e Gabriel, parados em frente à porta do dormitório do pai, rezam pela criança, pois se não fosse Lílian, Gilberto poderia até morrer de tristeza por conta do remorso.

-Sabe que eu to ficando com ciúmes... – brinca Gabriel
-Vá ter seus bebês com Grazi. – Fernanda entra no embalo
-Querem ver Lílian dormindo? – pergunta Gilberto sussurrando para não interromper o sono da netinha
-Parece até uma bonequinha. – suspira Fernanda abraçando o pai – E é minha afilhada...

Som: Ordinary world – Duran Duran.

Desci ao nível mais baixo o qual uma mulher pode se submeter. Preferi não pensar muito. A fome falava mais alto, bem mais. As borboletas no estômago não sinalizavam bons tempos, mas medo. Do amanhã, do ontem, de mim. Sobretudo, de mim. Metáforas à parte, o combustível propulsor da grande reviravolta era o ódio.

Minhas orações não passam do teto. Meu joelho está cansado demais para pedir o que não mereço.

Cadê a menininha otária e suas cartinhas de amor? Cadê o príncipe e o ‘viveram felizes para sempre’?

Happy ending o caralho!

O desgraçado transou com a torcida do Flamengo inteira, engravidou uma ruiva assanhada e se casou com ela. A criança nasceria na primavera.

Cadê a fada madrinha que prometeu céus e terra se era o inferno o destino final?

Por que levar uma vida de enganação se posso muito bem ser a própria autora da minha história?

Ratos, baratas, aranhas. Quase a Cinderela medieval.

Será mesmo que a princesinha suportaria passar a vida toda sendo chão do mundo?

É... Calcei meu allstar pré-histórico e pisarei sem dó em quem tentar me machucar mais uma vez. Ouviu essa, amor? Não acredito mais em você! Enterrei suas promessas e minha bondade também. Paciência tem limite, mas você extrapolou e eu não sei perdoar.

Desgraça quando vem, vem de uma vez só. O ditado dos antigos não poderia se aplicar melhor aos meus dias. D. Cotia não esperou que eu levantasse grana e colocou meus pertences para fora do quarto.

-Eu disse que vou pagar. Acontece que só recebo no dia 30.
-Azar, queridinha. Tempo aqui é dinheiro.
-Pelo menos essa noite... Eu... Eu não tenho onde dormir...
-Vá embora se não quiser que eu chame a polícia.
-Eu te pago com juro.
-Não tenho tempo pra conversa fiada, minha filha. Ou paga agora ou dá o fora.
-Eu sei cortar cabelo, tenho curso de manicure e...
-Eu não sou agência do trabalhador, minha filha. Ou dá o dinheiro ou RUA.
-Você é muito bonita. Posso fazer um corte de cabelo que vai deixá-la um espetáculo...

Ela era obesa, fedia pra chuchu, fumava compulsivamente e tinha um nauseante mau hálito, mas não deixava de ser uma cliente.

-Se ficar feio, te expulso com mala e tudo.
-Eu te garanto que quando você se olhar no espelho, vai fazer teu homem cair de joelhos.

D. Cotia namorava um gigolô bebum que mexia comigo todas as noites.

-O Gilson gosta que eu fique bem bonita.
-Pois então... E eu posso te ajudar...

O cara não valia uma pataca, mas no coração ninguém manda.

Concluí o corte e a manicure. D. Cotia se olhou no espelho. Olhou outra vez. Olhou com um pouco mais de atenção.

-Sabe que tu levas jeito pra cabeleireira?
-Já me disseram...
-O quarto é teu por um mês. Agora só corto o cabelo com você.

Pelo menos por um mês eu teria onde dormir, mas não podia passar o resto da vida pedindo esmola.

E aquela noite foi um verdadeiro inferno, pois não consegui dormir e vomitei várias vezes me lembrando da bizarra tarde no pombal.

Desesperada, abri a janela da pensão e do décimo quinto andar daquele prédio caindo aos pedaços, sentei na beirada e pensei seriamente em acabar com tudo de uma vez por todas.

Observei o silêncio em que a cidade se encontrava e pensei na saudade que sentia de quem eu era há uns meses atrás. Não havia como retroceder o tempo e modificar o rumo dos acontecimentos. Já estava consumado e cabia a mim aprender a cicatrizar minhas feridas. Naquela noite elas sangravam mais do que nunca.

Meu pai me odiava. O amor não queria papo comigo. Minha condição financeira me obrigava a tomar medidas drásticas das quais muito possivelmente me arrependeria posteriormente. Estava vivenciando o tal do AGORA ou NUNCA.

Se continuasse vivendo de migalhas, teria de abandonar a faculdade e me culpar por isso pelo resto da vida. Ser uma batalhadora balconista não foi, não é e nunca será motivo para vergonha, no entanto, larguei minha cidade natal, meus amigos e minha inocência para ganhar a vida em Curitiba e estudar jornalismo. Não era justo desistir do curso que lutei tanto para depois nunca mais fazer nada.

Uma moça criada sob os costumes da igreja deixaria o moralismo falar mais alto e não voltaria a encontrar Cláudio em sua produtora, entretanto, a razão sabia que eu teria de fazer um enorme sacrifício para apanhar meu diploma.

-Bom dia, Judy Pankekinha...

O novo filme de Cláudio começaria a ser gravado naquela tarde.

O gordão me entregou o script e me disse que não tinha muito segredo. Eu li e fiquei chocada, pois em meu mundo de adolescente apaixonada só conhecia o termo fazer amor. Em menos de meia hora um marombado estaria montado em mim. Um desconhecido iria transar comigo e cair fora.

As estrelas das pornochanchadas de Cláudio eram umas barangas escrotas que ficavam me olhando de cima em baixo com deboche.

-Ó o tipo da songa monga que o Cláudio contratou. Nem na boca deve beijar. - comentou uma piranha que devia ser muito mais velha do que aparentava ser
-Patricinha magrela. - provocou outra vadia que parecia traveco

Lembrei-me do quanto vivi sob os desígnios de Deus, sempre temente a palavra do Senhor. Não fazia sentido algum estar ali.

Será que havia tempo de dar o fora? O quanto eu ganharia ou perderia fazendo isso?

Logo na primeira cena do filme eu faria um strip-tease ao marombado e precisava transparecer lascívia e sensualidade, mas estava tão nervosa que acabei contagiando ao diretor. A cena foi refeita diversas vezes e nada de eu liberar a puta que existia em mim.

-Se quer fazer novela, volta pra casa. - berrou um diretor impaciente

Eu nunca iria ser uma boa atriz pornô. Eu só acreditava em sexo com amor. Ou melhor, acreditava até Gustavo tirar minha virgindade sem meu consenso.

-Por que não toma um conhaque, Judy? Assim você relaxa um pouco...
-Eu não bebo. - recusei a garrafa, ainda mais sabendo que Cláudio colocou sua boca imunda nela
-Não bebe? - debochou o marombado
-Só falta-me dizer que é virgem também? - ironizou o diretor

Apanhei a garrafa de conhaque e resolvi não atrasar mais as gravações.

-Só tenta passar um pouco mais de desejo. Você não ta sendo estuprada. - gritou Cláudio

O marombado lambia meus seios e devia puxar tanto ferro que era gigante em cima e pequeno em baixo. Depois de umas 3 garrafas de conhaque, gemi até não querer mais e encarnei Judy Pankekinha. Lalinha era parte do passado.

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