segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Confissões de Laly Cap.92 - A noite que não queria TERMINAR! - parte 2


A noite que não queria TERMINAR! – Parte 2

Era pegadinha de algum daqueles programas que a Fer assistia?

-Meu amor...

Lílian acordou o avô e num instante Gilberto e a neta estavam em frente a janela tentando entender o que estava acontecendo.

-Quem é aquele palhaço, hein vô?

-Deve ser algum fanfarrão que desconhece a lei do silêncio.

O avô, com os braços por entre os ombros da neta, esperava pelo pior, mais Fernanda, tentando conter o riso, respondeu.

-É o Abel.

-Teu namorado? – Lílian perguntou

-Da Lalinha.

Mesmo impossibilitada, caminhei até a sala. Estava de camisola e rabo de cavalo. Pronta para voltar a dormir.

-Que namorado o que, Fer?Nem conheço esse doido.

Abel era bom numa porção de coisas. Embromação, futebol, sexo, mas como cantor era um verdadeiro desastre.


-Quando eu estou aqui/Eu vivo esse momento lindo...

Não!Não!Não!

-Serenata a essa hora da noite?

Gilberto procurava alguma explicação que justificasse o papelão de Abel perante a vizinhança.

-Depois do maravilhoso dia, era de se esperar. – Fer deixou escapar

Foi então que caiu a filha de Gilberto. Ele, por sua vez, queria preservar Lílian dos assuntos de gente grande, mas a garotinha já sabia até demais.

-Então você veio passar uns tempos aqui porque levou um pé na bunda, aí ele se arrependeu e quer voltar com você, mas agora é você quem não quer mais?

-Lílian. – repreendia Gilberto

-Falei alguma mentira?

-Mais modos, por favor.

A licença era um jeito menos doloroso de terminar tudo. Eu consenti e procurava recriar meu mundo porque não se chega ao destino andando para trás. Abel não pensava exatamente assim.

Abel sempre foi do tipo que tem dificuldades para aceitar mudanças, por isso mesmo gostava de deixar tudo como estava. Entre acabar uma relação já desgastada e levá-la com a barriga por mais um tempo, a segunda alternativa lhe parecia mais cômoda.

Se amava, de fato, era uma incógnita. O que não implica dizer que não vivemos grande momentos, que algum dia não nos amamos com toda sinceridade de duas jovens almas que buscavam muito mais que noites de prazer.

No começo do namoro levitei como uma pré-adolescente a descobrir o primeiro amor. Às vezes acho que me apaixonei pela idealização de Abel e acabei ficando com o pacote completo que incluía defeitos, manias, conversas pela metade, decisões adiadas e micos, muitos micos, embaraços que deixariam os próprios primatas com os pelos eriçados.

O engraçado disso tudo era amá-lo independente disso. Amava cada um de seus trejeitos caricatos. Amava quando respeitava meus momentos de solidão, ainda que ficasse subentendido o quanto o desejava por perto. Amava quando me fazia passar vergonha sapateando no supermercado ao ouvir alguma música dançante ou como quando me irritava ao batucar o volante do carro ouvindo aquelas malditas músicas que até hoje não saem de minha cabeça.

-Se chorei ou se sorri/O importante é que emoções eu vivi... Quem concordar, dá um grito...

Toda vez que eu olhava pela janela parecia ter mais gente se amontoando para ver a pagação de mico.

-Lalinha, sei que você está acordada e que o dia de hoje foi muito confuso, cheio de contratempos, mas eu quero te dizer aqui pra toda essa platéia...

Quem ele estava pensando que era?

-Lalinha, não gosto de me intrometer nos relacionamentos alheios, longe disso, mas acho melhor você dar uma satisfação a ele. – Gilberto me aconselhou

Adoraria jogar um balde com água gelada. Talvez piche ou chorume. Aí sim estaríamos empatados. Tão cedo não me esquecerei do sagüi de gravata borboleta me zoando.

Quando Deus escreveu meu destino, decidiu de antemão que seria uma novela aos moldes mexicanos exibida às 18:00 com muitas lágrimas, desavenças, injustiças e desencontros. Não satisfeito, o diabo fez a história deslanchar e transformou a vida desta pacata autora em uma chanchada perfeita para fazer um estrondoso sucesso às 19:00.

-E eu te esperarei a noite toda, meu amor. Toda essa platéia é testemunha do meu amor por você...

-É melhor você sair, Lalinha. – Fer dizia querendo rir

-Eu não saio não. Todo mundo vai rir de mim.

-Ah sim, isso é verdade! – Lílian concordou

-Rindo ou não, a questão é que você deve sair nem que seja para expulsá-lo daqui. Até estou ceticamente surpreso por nenhum vizinho ter se incomodado com toda essa barulheira fora de hora...

Chuva de fogos faltando semanas para o réveillon. Realmente era melhor sair e quando abri a porta principal, a multidão me ovacionou como se eu fosse uma celebridade. Abel, se expondo mais ainda ao ridículo, se ajoelhou com um buquê de rosas vermelhas nas mãos e disse:

-Sou todo seu, leoa.

-Por que não apanha esse microfone, faz essa van dar meia-volta e some da minha vida?

-Lalinha é uma leoa tímida, povo.

-Não sabe que está infringindo a Lei do Silêncio?

-Por você subo a nado uma cachoeira.

-Está fazendo barulho.

-Tudo em nome do amor.

O pior era ver um monte de gente aglomerada no meio da rua cochichando, rindo e eu querendo desaparecer de tanta vergonha.

-Casa comigo, Lalinha.

Imaginava que meu pedido de casamento seria um tanto clichê. Talvez após uma grande briga ou alguma importante conquista na carreira. Em última instância seria em uma bela noite de Lua Cheia a qual iríamos jantar em um luxuoso restaurante e enquanto nossos pedidos não chegassem, ele tiraria de dentro do bolso do paletó uma bela caixinha de veludo vermelho e faria o pedido formal de joelhos, bem praxe do sagüi de terno branco. Abel nunca foi comum. Eu aceitaria e nosso primeiro beijo oficial como noivos seria embalado por alguma clássico bem marcante da MPB.

Essa história de acreditar em relacionamentos perfeitos atrasou – e muito – minha vida. Os imprevistos são muito mais parte de nós que os momentos em que agarramos a felicidade com a palma da mão. Meticulosa e fugaz, escapa pelos poros do egoísmo.

Não queremos deixar o sonho morrer, ainda mais se ele for nossa última esperança. Tememos as noites escuras quando nem mesmo as lágrimas querem nos fazer companhia.

Por mais de 6 anos minha vida consistia em tentar colocar a felicidade em um fraco, numa vã tentativa de tentar controlar o amor e o mundo ao redor para que nenhuma circunstância me obrigasse a viver como no passado. Uma atitude nada sensata para uma modernesca jornalista como eu.

De repente, a invisível rasteira que me devolveu a realidade. De repente, a desilusão. De repente e não mais que de repente, o recomeço. De volta a minha cidade natal, pernoitando na casa da minha melhor amiga. Após uma centena de mal entendidos, Abel me pedia em casamento diante de uma platéia afoita pela minha resposta. Seria uma final feliz bem inusitada para um conto de fadas às avessas como o nosso.

-VOCÊS ESTÃO PRESOS!

E CONTINUA AMANHÃ...

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