Insistir? Persistir? Desistir? (IMPERDÍVEL!)
-Abel...
Interrompi o beijo do ‘casalzinho’.
-LEOA. – murmurou Abel, tentando fingir surpresa
Cínico indecente. Nem mesmo a ameaça de morte o regenerava.
-Safado, cafajeste... Você não vale nada mesmo...
-Eu posso explicar, Lalinha. – tentou se levantar, mas a piranha o impediu
-Lembre-se das recomendações médicas, Abelzinho. Nada de stress e movimentos bruscos.
Claro que a vadiazinha sabia da minha existência e mais ainda que Abel e eu tínhamos algo mal resolvido, o que sempre gerava noites de amor, as famosas recaídas. Eu estava prestes a ter mais uma e mais um movimento brusco, tratando Abel como um animal no cio, presa fácil, Elisa se entregaria ali mesmo naquela cama, pensando que me enganava com essa história de ‘amiguinha’. Ah sim, grande amiga... To sabendo, piranha desgraçada...
Sim, para mim Elisa não passava de outra piranha querendo Abel para si. Mais uma iludida digna de compaixão, se bem que minha vontade era expulsá-la dali aos chutes e só não o fiz porque além de também ser retirada a força do ambiente hospitalar, chorava de forma incontrolável. Estava cada vez mais difícil domar as emoções.
-Volta aqui, Lalinha.
Pois bem, a piranha fisgou o sagui e a leoa fez papel de otária mais uma vez. Já era rotina, não poderia deixar de ser e ainda machucava como se fosse novidade.
-Lalinha, por favor.
Abel tenta sair da cama, porém Elisa impede sua passagem e tenta transar com ele ali mesmo.
-Deixe-a, Abel. Você mesmo disse que tudo entre você e Laly acabou, então por que se importa tanto com o que ela pensa de você?
Abel se senta no leito e resolve ser franco com Elisa.
-Nós ficamos uma vez, certo?
-E podemos ficar quantas vezes mais você quiser, meu amor. – tenta beijar Abel – Ora, por que não se esquece disso?
-Elisa, você é uma moça legal, carinhosa, interessante, repleta de boas intenções, mas não posso ficar com você. Por toda a vida eu sempre tentei solucionar meus problemas indo pelo caminho mais fácil, mas hoje percebo que do amor não se foge e eu amo outra mulher. Gostaria que fosse você, mas não é.
-É ela, né? – Elisa não disfarça o descontentamento
-Sim, é a leoa. É Lalinha. – beija a testa de Elisa – Você vai encontrar alguém muito melhor que eu.
-Aonde você vai?
-Vou fazer algo que deveria fazer há muito tempo.
Enquanto isso...
Naira, para driblar a ansiedade, se serve com mais café e apoia a bolsa de mão em um banco na sala de espera. Flavio, que está sentado fazendo hora vendo tv, percebe que Naira apanhou o copinho de café e foi embora sem a bolsa.
-Se esqueceu?
E vai atrás de Naira.
-Ei moça.
-Pois não? – Naira, mesmo de luto, é educada
-A senhorita esqueceu isso.
-Minha bolsa? – a apanha – Muito obrigada.
-De nada.
Naira sorri para Flavio e vai procurar May. Flavio, também sorrindo, volta a se sentar.
-Até que ela é bonita...
Naira, por sua vez, se culpa por ter se encantado com a gentileza de Flavio.
-Não confunda gentileza com atração. Não, Naira. Ele só foi gentil. Primeiro você deve se lembrar de que está de luto e em segundo lugar, um cara do porte dele jamais olharia para uma sem gracinha como eu. Cada coisa no seu lugar e é assim que deve ser. Mas não posso negar que ele é um pedaço de mau caminho...
Som: Coming around again – Carly Simon.
Laly está chorando encostada a uma parede no corredor não muito distante dos quartos. Quem vê supõe que a protagonista perdeu um ente querido.
-Grande ironia da vida: querer chorar no ombro de quem te magoou. Continue assim, Lalinha. Continue persistindo em erros antigos e se deixando levar pelo remorso para ver onde vai parar... – pensa a jornalista fechando os olhos porque a dor já não lhe cabe mais no peito para suportar sozinha
Abel encontra a amada aos prantos e sabe que é difícil negociar, mas se aproxima e tenta abraça-la. Ao reconhecê-lo Lalinha dá dois passos para trás.
-O que está fazendo aqui?
-Chora não, minha leoa. – tenta afagar os cabelos de Laly - Eu to aqui.
-Pode ir com a Elisa. Desculpe-me até se eu interrompi alguma coisa...
-Não interrompeu nada. É com você que eu quero falar.
-Não temos mais nada a tratar. É cada um pro seu canto, Abel. Faz bem em prosseguir.
Abel abraça Laly que reluta para não fraquejar novamente e vira de costas para que Abel não a veja chorar. O jornalista insiste tentando fitar com firmeza nos olhos da amada, ainda que tenha noção do temperamento desta.
-Olha pra mim, Lalinha.
-Vai com a Elisa. – Laly não ameniza para Abel
-O que estou procurando está a minha frente. – sorri para Laly
-Elisa ouviu isso também?
-Elisa é apenas uma amiga. Quantas vezes mais vou precisar explicar?
-Não me faça rir, Abel. – Laly se solta dos braços do amado – Não seja cínico! Eu vi você aos beijos com Elisa.
-Não foi o que você viu.
-Acredito que vi até mais do que merecia.
-Deixe-me explicar.
-Me poupe do seu teatro, Abel. Chega disso!
-Pode me xingar, me estapear, nunca mais querer olhar em meus olhos, mas se você chora é porque ainda se importa. Quem não está nem aí simplesmente viraria as costas e iria embora. Eu também quero que você fique.
-Eu não vim para o que você estava pensando...
Vim, mas você agiu como um idiota mais uma vez. Mais tola fui eu em acreditar em finais felizes, em um sonho que só existe pra mim.
-Eu vim para dizer que...
-Eu também te amo, Laly. Vamos acabar com esse lero-lero. Ambos estamos saindo machucados nessa história... – Abel encosta seus lábios nos de Laly – Elisa é só uma amiga. É você quem eu amo.
Eu também te amo, tanto quanto antes. Te amo, mas já é tarde. Não me faça chorar mais, muito menos acreditar em ilusões. Simplificar. Nós dois somos um sonho predestinado a não se realizar. Não vou lutar mais contra isso.
Pode ser difícil tentar esquecer e sinceramente tenho medo de conseguir, de te ver apenas como parte de um passado sem conexão nenhuma com o resto da história, isto é, se houver alguma depois de você, de nós dois, um só coração. Partido. O que restou do beijo da vida.
-Ainda podemos tentar mais uma vez, basta você querer.
-Tarde. – Laly dá mais dois passos para o lado – O que eu vim dizer é que...
-Diz, meu amor. Eu sou todo ouvidos.
-Eu... Eu... – Abel acaricia as mãos de Laly – Eu vim te desejar uma boa recuperação.
-Só? – Abel parece desapontado
-Bem, era só isso. Sem boa recuperação você não faz mais nada.
Menos é mais. Já chega de desilusões por hoje. A leoa e o sagui não nasceram para ficar juntos.
-Lalinha? Abel morreu? – pergunta Fernanda
-Não, não.
-Ta chorando como se o mundo fosse acabar.
-Eu acho que o meu acabou, Fer.- abraça Fernanda
-Mas por que, Lalinha? O que houve?
Som: Como tudo deve ser – Charlie Brown Jr.
Lílian e seus amigos fazem a maior bagunça na sala de casa. Antes do programa ‘Marta’ começar a emissora exibe vídeo cacetadas que são sucesso no horário.
-Que tombaço! – brada o apresentador da voz intragável
As crianças comendo bolacha recheada, riem alto. Desde Juan até Rick.
-Baita tombaço! – Rick gargalha
O cão de canil (vira lata) está deitado no tapete da sala, Chiquinha (a yorkshire) está deitada no sofá e Cândida está fazendo carinhos na cabeça da cadelinha.
-‘Poderosas Cacetadas’ volta amanhã... Fiquem agora com Marta.
-UHU! – as crianças assobiam
A cumbuca de bolacha já está vazia. Lílian e Rick disputam o último biscoito e suas mãos entram em atrito, sensação que apanha os dois de surpresa, pois ambos os corações tem seus batimentos acelerados. Ainda assim, não deixam de ser crianças, ou seja, a rivalidade menino x menina prevalece.
-Ei, sardenta, o último biscoito é meu.
-Quem comprou fui eu e eu estou na minha casa, portanto EU como.
-Sem chance, o último biscoito do pacote sou eu.
-Feio, quebrado e mole. Pensando bem, perdi a fome.
As crianças voltam a prestar atenção na ‘Marta’ e gargalham com o caso ‘misterioso’ do dia. Juan, que está sentado entre Lílian e Rick, belisca a prima para dar a impressão que foi Rick.
-Aaaaiii, idiota. – Lílian enche o garoto de tapas
-Ficou doida, guria? – Rick se exalta e empurra Lílian com os braços
-Vai beliscar sua mãe.
Juan ri como um cabrito. Lílian e Rick encaram o menino e avançam nele não para bater, mas fazer cócegas, o ponto fraco do filho mais novo de Grazi. Os cães começam a latir. Cândida e os meninos se atiram no sofá e a tv fala sozinha. Até os cachorros se perseguem. Fervo total, interrompido mesmo quando Grazielle e Gabriel abrem a porta principal e encontram o lar virado de cabeça para baixo.
-ÁLVARO, JUAN E LÍLIAN, O QUE SIGNIFICA ISSO? – Biel impõe sua autoridade como chefe da família
-Tio? – Lílian para de fazer cócegas no primo
-E quem deu autorização para o Rambo (vira lata) estar aqui dentro? – berra Grazi, obcecada por limpeza – Lílian?
-Coisa dos meninos, tia.
-Sai pra lá, foi você – Álvaro joga a culpa em Lílian
-Quem abriu o canil foi você.
-Pois saibam que a batata-quente estourou. – avisa Biel – Não importa quem fez ou deixou de fazer... – os amigos de Lílian acenam para a menina e vão embora – Vocês terão de limpar a sujeira que fizeram... Estamos entendidos?
Grazi faz cara de nojo ao ver o programa de ‘Marta’ e desliga a tv.
-Juan e Álvaro, quantas vezes eu já disse que esse programa é um lixo e vocês não devem assistir, hein? – desliga o televisor – Chiquinha e Rambo. – aponta – PRA FORA. JÁ!
As crianças são obrigadas a deixar a sala limpa do jeito que estava antes da bagunça coletiva.
Som: One last breath – Creed.
O corpo de Nilton já foi liberado para ser velado. O enterro será às 11 horas da manhã do dia seguinte.
Pepo chora copiosamente abraçado a Mayra, sentada ao lado de Naira em frente ao caixão. Muitos colegas, amigos e parentes de Nilton marcam presença e tentam confortar a dor da família.
Laly e Flavio após prestarem condolências ao falecido saem da capela de mãos dadas e Flavio, supondo que a namorada chorou pela morte do amigo, quebra o silêncio.
-Não é nada fácil perder um amigo.
-Nem me fala.
-Tem alguma coisa que a faria se sentir melhor por hoje?
Voltar no tempo e não ter visto aquela ordinária com Abel. Fora isso, nada. Mais alguma coisa?
-Você parece aflita, meu amor. Tudo bem?
-Tudo sim, Flavio. Só quero mesmo dormir essa noite. Estou cansada.
Eu adoraria poder chorar todas as lágrimas do mundo, mas estaria apenas agindo como outra vítima.
-Você não está falando direito comigo. Eu disse alguma coisa que a magoou?
Você é gentil, Flavio. O problema não é você.
Som: Por onde andei – Nando Reis.
Abel recebeu alta no meio da tarde e foi procurar Fernanda para conversar, pois com o passar dos dias ambos se tornaram amigos.
Fer e Fuinha estão ficando e saindo, pois a tia de Lílian ainda não se sente a vontade para dizer que está ‘namorando’, embora tanto ela quanto Fuinha estejam se gostando muito.
O companheiro de Fernanda sugere um bar, já que na última hora Abel se convidou para ir junto, pois Pablo foi ao velório de Nilton.
Desesperado, Abel bebe como se o mundo fosse acabar. Fernanda e Fuinha não sabem como conduzir a situação.
-Pega leve, cara. Você acabou de sair do hospital. – adverte Fuinha, bebendo aos poucos
-Tive um dia difícil hoje.
-Difícil é pouco. – Fernanda deixa escapar – Você não toma vergonha na cara, né, Abel? Se decide, né?
-Lalinha já te contou, né?
Som: Angel – Jon Secada.
Pepo está sentado nas escadarias da capela ao lado de Iury. Tio e sobrinho estão em silêncio, perdidos em seus próprios mundos dilacerados, prostrados e precisando mostrar que são homens fortes, embora saibam o quanto é difícil reagir quando a vida impiedosamente muda todo o rumo de seus sonhos e ainda assim se é obrigado a sorrir e viver com o que restou de você mesmo.
-Já perdeu alguém que amava? – Pepo puxa conversa com o tio
-O tempo todo. Faz parte da vida.
-Sente saudades de alguém que gostaria de estar perto?
-Sim, mas quanto mais tento consertar, mais estrago tudo. – pensa, mas não diz – Tantas pessoas.
-Você era o melhor amigo do meu pai. Ele era seu melhor amigo?
-Sim... – Iury não parece muito interessado em conversar
-Por que você não salvou meu pai? – Por quê? - Pepo explode em lágrimas – Você podia ter feito alguma coisa por meu pai e não fez... – se levanta e grita – Você é um péssimo médico.
Pepo entra na capela novamente. Iury vai embora do velório, pois não se sente confortável vendo o melhor amigo em um caixão.
Som: Emoções – Roberto Carlos.
Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo...
Abel, aos prantos, abaixa a cabeça na mesa. Teve uma crise de choro. Fernanda e Fuinha se entreolham.
-Não posso mais, gente. Não posso mais.
Abel tenta se levantar da mesa para ir embora, mas já não consegue nem equilibrar-se. Fernanda e Fuinha fazem o amigo sentar-se novamente.
-Calma, Abel. Melhor parar. – Fuinha tira o copo das mãos de Abel – Chega.
-Pra mim não dá mais... – Abel está chorando tanto que mal consegue falar – Pra mim já deu...
-Não pode sair pra dirigir desse jeito. – adverte Fernanda, preocupada com Abel
-Conselho de amigo: melhor chorar a sair por aí e fazer besteira. – Fuinha entrega um lenço a Abel
-Homem não chora.
-Sem essa, cara. Homem chora sim! – protesta Fuinha – Que machismo mais obsoleto é esse, camarada? Homem chora sim!
Fuinha abraça Abel, ainda encabulado. Em partes porque sempre lhe disseram para não chorar e também porque chorou o bastante para desejar nunca mais fazê-lo. Quando se acalma, suspira e bebe mais um gole de conhaque.
-Tudo me faz lembrar a leoa.
-Eu ainda acho que você devia tentar conversar de novo com a Lalinha, compadre. Ela ta montando essa barreira de proteção em volta dela por puro medo de se magoar de novo, mas se vocês se amam, como é o caso, não devem desistir um do outro. Quem ama não abre mão, com seus limites, claro! – aconselha Fuinha
-Eu amo demais essa mulher. Não tem Elisa nenhuma.
-Então fala pra ela. – Fernanda insiste
-Eu tentei, mas ela não quer ouvir.
-Lalinha e sua teimosia. – Fernanda dá um muxoxo – Pra que tanta cerimônia?
-Você tem razão...
Abel, cambaleando, se dirige até o balcão.
-O que você vai fazer, hein Abel? Vê lá, hein? Já chega de barraco.
-Vou fazer algo que já deveria ter feito há muito tempo.
-Desde que não seja asneira e barraco, to contigo. – Fuinha apoia o amigo
Mal sabe Abel que Flavio e Laly resolveram curtir a noite justamente naquele barzinho.
-2 Sex on the beach, por favor. – Flavio sorri para o garçom enroscando sua perna contra a de Laly para mostrar que a moça tem namorado
Laly, analisando cada centímetro do estabelecimento, tem a leve a impressão de ter reconhecido Abel.
-Me parece o Abel. – pensa – Até parece que ele ia estar aqui. Deve estar todo bobo pela tal Elisa, Luisa, eu sei lá... Chega Laly, chega disso.
Ao ver Fuinha e Fernanda em uma mesa, vai cumprimenta-los enquanto Flavio aguarda as bebidas ficarem prontas.
-1,2,3... testando... – Abel está tão bêbado que mal consegue segurar o microfone – Essa canção é para uma leoa muito especial...
Abel?
0 comentários:
Postar um comentário