CENA 1 - IPANEMA - RUA VISCONDE DE PIRAJÁ - EXT. -DIA.
CECÉU CAMINHAVA DISTRAÍDAMENTE, QUANDO BATEU OS OLHOS NO
PAPEL DOBRADO CAÍDO NO CHÃO, JUNTO A UM POSTE. OLHOU PARA OS LADOS,
DISFARÇADAMENTE, DEIXOU CAIR UM MOLHO DE CHAVES E ABAIXOU-SE PARA APANHAR,
JUNTO AO PAPEL. APRESSOU O PASSO E, MAIS ÁFRENTE, NA PRAÇA GENERAL OSÓRIO,
SENTOU-SE NUM BANCO E ABRIU O PAPEL COM CUIDADO.
CECÉU - (arregalou os
olhos, sem acreditar) Um cheque ao portador... de 200 mil!
NERVOSO, LEVANTOU-SE, LIMPOU O SUOR DA TESTA, CERTIFICOU-SE
DE QUE NINGUÉM O OBSERVAVA E ENCAMINHOU-SE PARA O BANCO MONTEIRO PRADO, PRÓXIMO
DALI.
CORTA PARA:
CENA 2 - BANCO MONTEIRO PRADO - AGENCIA - INT. -DIA.
CECÉU ENTROU NO BANCO, TENTANDO APARENTAR UMA CALMA QUE, NA
VERDADE, NÃO POSSUÍA. HAVIA BASTANTE MOVIMENTO ÀQUELA HORA. APROXIMOU-SE DO
CAIXA E ENTREGOU O CHEQUE AO FUNCIONÁRIO, QUE EXAMINOU O PAPEL, COM CUIDADO.
CAIXA - Um momento,
por favor.
O CAIXA AFASTOU-SE POR ALGUNS INSTANTES E VOLTOU COM O CHEQUE
NAS MÃOS.
CAIXA - Senhor, este
cheque não pode ser descontado, a não ser com autorização do gerente do banco.
CECÉU - O... obrigado!
(agradeceu, nervoso) Eu... volto depois. Até...
CORTA PARA:
CENA 3 - BANCO MONTEIRO PRADO - EXT. - DIA.
CECÉU PAROU NA PORTA DO BANCO, INDECISO E OLHOU PARA OS
LADOS. RESPIROU FUNDO E, DECIDIDO, ENTROU NOVAMENTE NA AGÊNCIA.
CORTA PARA:
CENA 4 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE MONTEIRO PRADO - INT.
- DIA
PELO INTERFONE, O BANQUEIRO ATENDIA A SECRETÁRIA.
SECRETÁRIA - (off)
Desculpe, doutor Monteiro, mas está aqui um senhor, seu Alceu Coqueiro, que
insiste em lhe falar. Diz que é assunto do seu interesse.
MONTEIRO PRADO - (a
contragosto) Está bem, D. Virgínia. Hoje está um dia calmo. Mande entrar.
CECÉU ENTROU NA SALA DO BANQUEIRO, TÍMIDO E RECEOSO.
CECÉU - Com licença,
doutor Monteiro.
MONTEIRO PRADO -
(examinou-o por trás dos óculos) Aproxime-se, rapaz. O que deseja?
CECÉU - (estendeu a
mão) Sou Cecéu, amigo da sua filha Malu...
MONTEIRO PRADO -
(cortou) Estou lembrado de já ter lhe visto. Mas por favor, vá direto ao
assunto.
CECÉU TIROU O CHEQUE DO BOLSO E ENTREGOU AO BANQUEIRO.
CECÉU - Encontrei este
cheque na rua... Vi que é do seu banco... Estou lhe devolvendo porque é uma
quantia muito alta. Posso estar em dificuldades financeiras... mas sou um cara honesto,
tenho caráter e jamais tentaria sacar uma grana que não é minha!
MONTEIRO PRADO CONFERIU O CHEQUE E ARREGALOU OS OLHOS.
ENCAROU CECÉU, E SUA EXPRESSÃO ILUMINOU-SE NUM SORRISO AMIGÁVEL.
MONTEIRO PRADO - Seu
Alceu, quero lhe dar meus parabéns! Hoje em dia, é muito difícil encontrar um
jovem com a sua honestidade, com seu caráter!
MONTEIRO PRADO DEU A VOLTA NA GRANDE MESA E ABRAÇOU O
SURPRÊSO CECÉU.
MONTEIRO PRADO - O
senhor é um exemplo para os jovens! É preciso que todo mundo saiba que ainda
existem pessoas com a sua grandeza, com sua decência!
O BANQUEIRO ORDENOU PELO INTERFONE Á SECRETÁRIA:
MONTEIRO PRADO - D.
Virgínia, chame a imprensa! Diga pra virem com urgência!
CORTA PARA:
CENA 5 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE MONTEIRO PRADO - INT.
- DIA.
CECÉU ERA ALVO DA ATENÇÃO DOS REPÓRTERES E FOTÓGRAFOS. POSOU
COM O BANQUEIRO EM DIVERSOS ÂNGULOS, MOSTRANDO O CHEQUE, ORGULHOSO.
MONTEIRO PRADO - Seu Alceu Coqueiro, para coroar esta
sua atitude tão digna, tão nobre, ofereço-lhe o cargo de
sub-gerente do Banco Monteiro Prado na agência Ipanema!
TODOS APLAUDIAM, ENTUSIASMADOS, EM MEIO AOS
FLASHES QUE ESTOURAVAM NA SALA DE MONTEIRO PRADO.
CORTA PARA:
CENA 6 - CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA - TÚMULO DEDIANA - EXT. -
DIA.
AO SOM DO QUARTETO DE CORDAS E EM CLIMA DE MUITA COMOÇÃO, UMA
PEQUENA MULTIDÃO SE AGLOMERAVA EM VOLTA DO CAIXÃO, QUE JÁ BAIXARA. COM OS OLHOS
VERMELHOS, D. CARMEN, AMPARADA PELO MARIDO, GERMANO, JOGOU UMA ROSA BRANCA. O
TEMPO TODO OS FOTÓGRAFOS COM SEUS FLASHES, REPÓRTERES SUSSURRANDO. MARCELÃO, MALU,
SENHORINHA, ISADORA, SELMINHA, JULIO BIRUTA, ALFREDINHO, SORAIA, TATIANA, HUGO
MATIAS, DANTE E FRED GASPAR, UM ATRÁS DO OUTRO, JOGAVAM ROSAS BRANCAS NO CAIXÃO
E SE AFASTAVAM. MALU FOI A ÚLTIMA.
MALU - Até breve,
minha amiga!
VENCIDA PELO SOFRIMENTO, D. CARMEN SOLUÇAVA ABRAÇADA AO MARIDO.
D. CARMEN - Nossa
princesinha foi embora, Germano! Era tão linda, tão querida, tão cheia de vida!
Ah, meu Deus, que dor horrível!
GERMANO -
(esforçando-se para não desabar) Coragem, Carmen... Temos que encontrar forças
para continuar...
D. CARMEN - Mães não
poderiam sobreviver aos filhos, jamais! Jamais! É muito injusto!...
CORTA PARA: CENA 7 - CASTELINHO - INT. - NOITE.
SELMINHA E SEUS AMIGOS, OS COLUNISTAS HUGO MATIAS E FRED
GASPAR ESTAVAM SENTADOS A UMA MESA DO BAR. O CLIMA ERA DE TRISTEZA. NINGÚEM
FALAVA NADA.
SELMINHA - (quebrou o
silencio) Eu não me conformo. A gente podia ter socorrido ela. Nós ouvimos os
gritos.
FRED GASPAR – Pare com
isso, Selminha. Como é que a gente podia saber que era ela?
SELMINHA - Fosse quem
fosse! Sabe o que eu acho? Que a gente tá virando bicho!
HUGO MATIAS OLHOU SELMINHA COM UM OLHAR SARCÁSTICO.
HUGO MATIAS - Sabe
que, ás vezes, por incrível que pareça, você diz coisas inteligentes? Todos nós
já viramos bicho há muito tempo. Você é uma onça, uma oncinha domesticada. Fred
Gaspar é um perdigueiro. Marcelão é um leão de circo. Alfredinho é um jaguar.
Voskopoulus é um porco.
FRED GASPAR - E você?
HUGO MATIAS - Eu sou
um bode. Animal muito pra frente, precursor dos metaleiros.
CORTA PARA:
CENA 8 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -NOITE
MARCELÃO E CECÉU CONVERSAVAM SOBRE OS ACONTECIMENTOS DO DIA
ENQUANTO VOSKOPOULUS PREPARAVA UM UÍSQUE.
CECÉU - (entusiasmado) ... e agora, meu amigo, você está diante
do novo subgerente do Banco Monteiro Prado, agencia Ipanema!
MARCELÃO - (divertido)
Você é mesmo incrível, Cecéu! Imagina, tudo porque achou um cheque na rua!
CECÉU - Eu sabia que
um dia a sorte ia sorrir pra mim! Isso é só o começo, Marcelão! Pode escrever!
MARCELÃO - (sério) Por
isso você não foi ao enterro da Diana...
CECÉU - Pois é... mas
eu não curto essa de cemitério, cara. Sei lá, tenho medo... (T) Mas, por falar
em Diana... tou meio preocupado com aquelas fotos... Afinal, eu fui o
intermediário do seu contato com os gringos...
VOSKOPOULUS SERVIU OS DRINQUES. CECÉU PROSSEGUIU.
CECÉU - Quando ela
voltou de Ibiúna, tava desesperada, queria as fotos de qualquer maneira...
MARCELÃO - (completou)
...e me pediu que as devolvesse, que restituiria o dinheiro, quando tivesse.
Até me chantageou. Ameaçou contar meu caso com Isadora pro doutor Monteiro...
CECÉU - (pensativo)
Bem, quando li a notícia nos jornais, lembrei logo da sua preocupação com a
ameaça que ela fez...
MARCELÃO - E daí? Você
acha que fui eu que a matei?
CECÉU - Não, não estou
dizendo isso.
MARCELÃO - Pois é
melhor que você esqueça essa história das fotos e o resto, tá entendendo? Se a
polícia souber disso, pode desconfiar de nós, pois você foi o intermediário e
seria considerado cúmplice.
CECÉU - (meio espantado) Mas é claro! Eu não vou falar nada.
Por que iria falar... esqueci... esqueci...
CORTA PARA:
CENA 9 - APARTAMENTO DE GERMANO - SALA - INT. -NOITE
PADRE MARCOS ENTROU NA CASA DOS PAIS DE DIANA E IMEDIATAMENTE
PERCEBEU QUE ALGO DE ANORMAL ESTAVA SE PASSANDO.
MARCOS - Oh,
desculpem... Parece que não cheguei em boa hora. Diana está em casa? Sabe,
senhor Germano, fui a São Paulo falar com o senhor Bispo, que prometeu nos
ajudar. Acho que Diana vai ficar contente quando souber... Onde está ela?
FIM DO CAPÍTULO 15
0 comentários:
Postar um comentário