quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Doce Balanço - Capítulo 27




CENA 1 - RUA – PREDIO DO APTO. DE GERMANO - EXT. -NOITE.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

 MALU - Vai... embora?
 MARCOS - Vou. Amanhã. Pensei bem e cheguei a conclusão que esta é a decisão mais sensata. Com a morte de Diana, tudo mudou. Me sinto confuso com toda esta situação... e não quero complicar sua vida, Malu.
MALU O ENCAROU, PÁLIDA, FEIÇÕES TRANSTORNADAS.
 MALU - Você é um covarde, Marcos Ventura. Procura sempre o jeito mais fácil, fugindo dos problemas. Foi um erro ter vindo aqui. Por favor, sai do meu carro!
 MARCOS - Calma, Malu! Vamos conversar.
MALU RESPIROU FUNDO, PROCURANDO CONTROLAR-SE.
 MALU - (falou, entredentes) Me deixe sozinha!
 VÍTOR - Está bem. Se quer assim... eu vou embora. Mas só se você se acalmar. Não pode dirigir nesse estado...
 MALU - (segurou o volante com força e gritou) Não seja hipócrita! Pare de bancar o bonzinho e mostrar que se importa comigo! Ninguém se importa! Sai!!

SEM DIZER MAIS NADA, O RAPAZ SALTOU DO AUTOMÓVEL. MALU ARRANCOU, CANTANDO PNEUS.

 MARCOS - (balançou a cabeça, desolado) Deus do Céu... por favor, segura a mão dessa menina!

CORTA PARA:
CENA 2 - AV. NIEMEYER - EXT. - NOITE.

NA VIEIRA SOUTO, MALU PISOU FUNDO NO ACELERADOR, CHEGANDO À AV. NIEMEYER A 120 POR HORA, FAZENDO ULTRAPASSAGENS ARRISCADAS, OBRIGANDO ALGUNS CARROS A SAIR DA PISTA PARA NÃO SE CHOCAREM. PRÓXIMO AO VIDIGAL, ACONTECEU A DERRAPAGEM. A
JOVEM PERDEU O CONTROLE E O AUTOMÓVEL CHOCOU-SE VIOLENTAMENTE CONTRA A MURETA DE PROTEÇÃO. NO INTERIOR DO CARRO, A CABEÇA DE MALU PENDEU PARA 
TRÁS, SEM SENTIDO.

CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - NOITE.

ISADORA DEPOSITOU O FONE NO GANCHO E ENCAROU O MARIDO, SOMBRIA.

 ISADORA - Meu Deus!...
 MONTEIRO PRADO - Quem era? Isadora, que cara é essa? O que aconteceu?
 ISADORA - Era do hospital. Sua filha... sofreu um acidente!.
 MONTEIRO PRADO - Meu Deus! (segurou-se na poltrona para não cair) Como... como ela está?
 ISADORA - Calma. O desastre foi na Av. Niemeyer. Ela dirigia a 120 por hora. Mas não morreu, teve muita sorte. Nem uma fratura, sequer.
 MONTEIRO PRADO - Graças a Deus! Em que hospital ela está? Vou para lá, agora!
 ISADORA - Santa Terezinha. Esse é o nome do hospital.

CORTA PARA:
CENA 4 - HOSPITAL “SANTA TEREZINHA” - SALA DE ESPERA - INT. – NOITE

DEPOIS DA BATERIA DE EXAMES E ALGUMAS HORAS EM OBSERVAÇÃO, MALU SURGIU CAMINHANDO AO LADO DO MÉDICO NA SALA DE ESPERA. MONTEIRO PRADO FOI AO ENCONTRO DA FILHA, ALIVIADO.

 MONTEIRO PRADO - Minha filha! Graças a Deus você está bem... Quase me mata de susto!
 MÉDICO - Fique tranquilo, Dr. Monteiro. Apesar da gravidade do acidente, sua filha saiu ilesa.
 MALU - Talvez fosse melhor pra todo mundo se eu tivesse morrido.
 MONTEIRO PRADO - Malu! Não diga isso, filha!
 MALU - (com indiferença) Vamos pra casa...

CORTA PARA:
CENA 5 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - QUARTO DE MALU - INT. – NOITE

MALU ENTROU NO QUARTO, SEGUIDA DE SENHORINHA, E
SENTOU-SE NA CAMA, APÁTICA, O OLHAR FIXO NUM PONTO
NA PAREDE.

 SENHORINHA - Querida, o que aconteceu? Você nos deu um tremendo susto! Fiquei tão preocupada! Como pôde dirigir com tanta imprudência? Graças a Deus você está inteira, sem um arranhão!

A JOVEM PARECIA NÃO ESCUTAR AS PALAVRAS DA GOVERNANTA.

 MALU - Ele vai embora, Senhorinha... vai embora amanhã pra São Paulo...
 SENHORINHA - Você está falando... do padre?

MALU ASSENTIU COM UM MOVIMENTO DE CABEÇA. SENHORINHA ABRAÇOU-A. A JOVEM SE ANINHOU NOS BRAÇOS DA GOVERNANTA E FICARAM UM LONGO TEMPO ASSIM, EM SILÊNCIO, SEM PERCEBER QUE, PELA PORTA ENTREABERTA, ISADORA OUVIRA TUDO.

CENA 6 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA -INT. - NOITE.

MONTEIRO PRADO PREPARAVA UM UÍSQUE. ISADORA
APROXIMOU-SE, PERCEBENDO O AR DESOLADO DO MARIDO.

 ISADORA - Pra mim, ela fez isso só pro Marcos não ir embora. Sabia que ele vai amanhã pra São Paulo?
 MONTEIRO PRADO - Ele pode ir pra onde quiser, mas antes, vai ter que me ouvir!

CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT. -DIA

AO OUVIR OS ACORDES DE “ALELUIA”, VOSKOPOULUS ABRIU A PORTA E O HOMEM DE SEUS 40 ANOS ENTROU.

 JORGE ALBERTO - Marcelão está em casa? Diga a ele que é Jorge Alberto.

MARCELÃO SURGIU NA SALA E FOI AO ENCONTRO DO HOMEM, SOB O OLHAR DE CURIOSIDADE DO MORDOMO.

 MARCELÃO - Jorge Alberto, mas que surpresa!

O HOMEM, DE GESTOS AFEMINADOS, OLHOU-O COM AR DE PREOCUPAÇÃO.

 JORGE ALBERTO - Como vai, Marcelão? Não acredito que vá gostar, quando souber o porquê da minha visita, mas, enfim... estou aqui a pedido da minha irmã, Noêmia.
MARCELÃO ESTREMECEU.
 MARCELÃO - Ma... dame X? Quer dizer... Noêmia? Ela está no Brasil?
 JORGE ALBERTO - (confirmou) Exatamente. E trago um recado pra você: ela mandou avisá-lo de que quer ver a filha.
 MARCELÃO - Você tá brincando! Isso é uma piada de mau gosto! Não pode ser verdade!
 JORGE ALBERTO - Sinto muito, mas é sério. Ela quer ver a Laurinha de qualquer maneira!
 MARCELÃO - Mas isso é um disparate, um absurdo, um despropósito! Depois de tudo o que ela fez comigo! Ela abandonou a filha, foi embora, me trocou por aquele gringo, já faz 8 anos! E agora aparece assim, do nada, querendo ver a menina?
Ora, Jorge Alberto, faça-me o favor!
 JORGE ALBERTO - Bem, o recado está dado. Quer um conselho? Tente se entender com ela... ou esse caso vai parar na justiça. Conheço minha irmã. Ela vai levar essa história até as últimas consequências!
 MARCELÃO - (com ironia) Eu não acredito que ela chegue a esse ponto! Ela não teria coragem!...
 JORGE ALBERTO - Você fala como se não conhecesse
Noêmia! Sabe muito bem que ela tem coragem, sim, e pra muito
mais! No seu lugar, eu não pagaria pra ver! Bom, eu vou indo. Até
mais ver!

JORGE ALBERTO RETIROU-SE. MARCELÃO, CHOCADO, DEIXOU-SE CAIR NO DIVÃ.

 MARCELÃO - Você ouviu isso, Voskô? Inacreditável! Era só o que me faltava!
 VOSKOPOULUS - Peraí, patrão... deixa eu ver se entendi... esse Jorge Alberto é irmão da Madame X? Tio da Laurinha?
 MARCELÃO - É. Irmão da Madame X, que voltou ao Brasil pra infernizar minha vida outra vez! Era só o que me faltava! Mas não vou deixar ela se aproximar da Laurinha, nem que a vaca tussa! O que eu puder fazer pra impedir, eu faço! É guerra o que ela quer? Pois então, vai ter!
 VOSKOPOULUS - Xi, acho que vem chumbo grosso por aí...

CORTA PARA:
CENA 8 - JORNAL “FOLHA DO RIO” - REDAÇÃO - SALA DO DIRETOR - INT. – DIA.

A “FOLHA DO RIO” ERA UM JORNAL QUE VIVIA DE GOLPES E DE ESPECULAÇÕES SOBRE A VIDA DE ARTISTAS. HUGO MATIAS E FRED GASPAR TRABALHAVAM LÁ, ASSIM COMO DANTE GURGEL, UM DOS BONS REPÓRTERES POLICIAIS DO RIO DE JANEIRO. JOVEM, DINÂMICO,CAPAZ DE TUDO PARA CONSEGUIR UMA BOA REPORTAGEM SENSACIONALISTA, DANTE CONVERSAVA ANIMADAMENTE COM O DIRETOR DO JORNAL, GARCIA LOPES.

 GARCIA LOPES - Mas, voltando ao nosso assunto. É uma ideia genial, não é? Mas só a você,Dante, eu poderia confiar um trabalho dessa natureza. Você já ouviu falar de Diana Molina?Pois eu quero que você faça dessa moça uma santa!
 DANTE - Desculpe, mas não entendi direito... me explica isso...
 GARCIA LOPES - Veja bem. Uma garota de 20 anos apaixonada por um padre que larga abatina pra casar com ela... e ela é assassinada. Morre defendendo a honra. Morre para se conservar pura. Mártir indefesa! Que melhor material pra se trabalhar?
 DANTE - Mas... explorar esse caso, a morte dessa moça dessa maneira... Pense nos pais dela...não acha um exagero, uma falta de escrúpulos?
 GARCIA LOPES - Meu caro, esse é o nosso trabalho! Não podemos pensar em escrúpulos!Garanto que, se você trabalhar bem, vamos dobrar a tiragem do jornal!
 DANTE - Espero que você realmente saiba o que está fazendo...

CORTA PARA:
CENA 9 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE MONTEIRO- INT. - DIA.

A VOZ NO INTERFONE CHAMOU A ATENÇÃO DO BANQUEIRO.

 SECRETÁRIA - (off) Dr. Monteiro, o Sr. Marcos Ventura está aqui.

 MONTEIRO PRADO - Muito bem, mande-o entrar.

MARCOS ENTROU NA SALA E APROXIMOU-SE DA MESA DO BANQUEIRO, ANSIOSO.

 MARCOS - Dr. Monteiro, vim o mais breve que pude...
aconteceu alguma coisa com Malu?
 MONTEIRO PRADO - (ignorou a pergunta) Sente-se, por favor. Eu soube que vai viajar... e que vai morar em São Paulo. É verdade?  
 MARCOS - (embaraçado) É verdade. Estou com viagem marcada para ainda hoje.
 MONTEIRO PRADO - Pois eu lhe peço, pela vida da minha filha, que não faça isso!
 MARCOS - (confuso) Desculpe, não entendi...
 MONTEIRO PRADO - (consternado) Sr. Marcos, quero que saiba que é muito difícil para mim fazer-lhe este pedido... mas faço isso por ela... por Malu! Ela não vai suportar essa decepção... e temo pela sua vida. 
 MARCOS - Desculpe, Dr. Monteiro, mas eu e Malu já conversamos e...
 MONTEIRO PRADO - (cortou) O senhor vai entender o porquê desse pedido, quando souber que minha filha tentou o suicídio ontem, depois que o senhor deu a notícia... de que vai embora para São Paulo!
MARCOS EMPALIDECEU.
 MARCOS - Mas... como? Que loucura!...
 MONTEIRO PRADO - (angustiado) Por isso eu chamei o senhor aqui. Não sei mais o que fazer. Estou muito preocupado com ela. Quem está aqui, à sua frente, é um pai desesperado! Estou lhe pedindo humildemente... que salve minha filha! Se tem o mínimo de carinho, de compaixão por Malu... não vá. Ela precisa muito do senhor!

VER O PODEROSO MONTEIRO PRADO ALI, À SUA FRENTE, SUPLICANDO HUMILDEMENTE, TOTALMENTE FRAGILIZADO, TEMENDO PELA VIDA DA FILHA, BALANÇOU MARCOS DE TAL MANEIRA QUE FICOU UM TEMPO ALI, PARADO, SEM SABER OQUE DIZER NEM O QUE FAZER.

FIM DO CAPÍTULO 27

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