31º
Capítulo
A briga chega
ao fim, felizmente sem mortos, mas o orgulho de Marcelo foi brutalmente
assassinado nessa ocasião. Quem salvou a briga foi Isabel.
Isabel – PAREM DE
BRIGAR, PELO AMOR DE DEUS. BRIGA NÃO LEVA A NADA. NÃO É ASSIM QUE OS PROBLEMAS
SE RESOLVEM...
Isabel chegou
a ter uma crise de hipertensão e foi levada para um pronto-socorro, enquanto
Karinna e Vinicius se responsabilizaram pelos adolescentes.
Casa de Laura.
Quarto de Laura. Noite.
Laura, no
entanto, foi surrada de cinta pelo pai. Chorando, deitada no escuro e sem
forças para nada, acaba adormecendo no chão mesmo.
Amauri, aquele
que se diz crente de justiça, agiu ao contrário do que prega ao ler algum caso
de injustiça descarada. Fez uso dos punhos, constrangeu Marcelo. Um verdadeiro
criminoso, sem mais pareceres.
Galpão de
Marcelo. Interior. Noite.
Os ferimentos
exteriores podem tranquilamente serem estancados, disfarçados, mas o que é
ouvido tão facilmente não se esquece, sobretudo quando se tratam de calúnias
fantasiosas, gratuitas ofensas.
Bituca (recomenda ao amigo) – ‘Cê’
devia denunciar esse filho da puta. Como é que ele te trata desse jeito e ‘cê’
não reage, cara?
Marcelo – Eu to é
preocupado com a Laurinha, como é que ela ta na mão desse homem bruto; como é
que ele destrata a filhinha dele desse jeito... Laura é uma menina do bem, tão
justa, tão meiga, doce, honesta, delicada...
Bituca – Por isso eu
te digo, meu caro, a vida é injusta...
Marcelo – Nós é que não
somos justos.
Bituca – Marcelo, sem
dogmas, cara.
Marcelo – Nós somos
responsáveis pelas nossas ações, mas Deus controla tudo ao nosso redor.
Bituca (interroga Marcelo) –
Então por que Deus não te salvou da briga?
Marcelo – Porque Deus
queria que isso acontecesse.
Bituca – Ah cara, não
diga, não fala isso...
Marcelo – Mas é...
Bituca – Depois ‘cê’
não entende por que eu fico mó grilado com esse lance de céu e inferno...
Quando eu penso que to sabendo de tudo, não sei é de nada... Se a vida fosse
justa ‘cê’ não tava aí com a cara toda quebrada, mano. O cara te humilhou, te
resumiu a um nada, cometeu uma injustiça e você vai me dizer o que?
Marcelo – Que Deus está
impondo uma provação.
Bituca – E que
provação...
Marcelo – Deus deve ter
algum propósito pra mim e Laura, pra esse amor.
Bituca – Não quero
cortar teu barato, mas amor com a gatinha vai ser difícil, cara. Não quero
tirar tuas esperanças, truta, longe disso, mas vamos ser realistas... Para pra
pensar se depois do que houve o coroa lá vai te deixar chegar perto dela?
Considere o lance com a Laura como encerrado.
Casa de
Vinicius. Sala. Noite.
Daiana,
chorando, é acalmada pelos pais.
Daiana – O seu Amauri
perdeu completamente a compostura.
Paula – Muito me
surpreende que o Amauri tenha feito isso, filha. Tem certeza de que era ele?
Daiana – Em carne,
osso e berros. Nem parecia ele de tão cruel que tava agindo, tão pior que a
Zélia quando resolve falar...
Casa de
Isabel. Quarto de Isabel. Noite.
Preocupado com
a mãe, Adriano está sentado ao lado de Isabel na cama. Jonathan, entristecido,
também faz companhia aos presentes.
Karinna entra
no quarto com um copo de água com açúcar e entrega à Isabel, que assente coma
cabeça em sinal de agradecimento.
Karinna – Se vocês
precisarem de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, é só ligar pra casa a hora
que for.
Isabel (grata) – Eu ficarei
bem, querida. Não se preocupe.
Adriano e
Jonathan dormem com a mãe.
Curitiba.
Balada. Interior. Pista. Noite.
Música California
Dreamin’ – Royal Gigolos.
Ferradura faz
a festa na balada. Essa é a maneira encontrada para celebrar mais um plano
satânico que obteve o êxito desejado.
Bebendo, se
drogando e sondando alguém para passar a noite, Ferradura demonstra
contentamento e logo avista uma moça com aproximadamente 20 a 23 anos, pelas
vestes nota-se que se trata de uma jovem de classe média alta, provavelmente
uma universitária. Autoconfiante, Ferradura pigarreia, mexe nos cabelos e se
aproxima da vítima.
Casa de Laura.
Quarto de Laura. Noite.
Zélia e Amauri
confiscam o computador e o celular da filha, cortando a mesada e também o
dinheiro do passe e do lanche na escola, chegando ao extremo de também
contratarem uma condução para levar e buscar a adolescente, proibida de sair de
casa. Para qualquer pessoa é mesmo o fim dos sonhos de amor. Um lindo casal que
tinha tudo para ser feliz é covardemente separado sem qualquer direito a
resposta. O mal venceu dessa vez.
Laura – Ir à aula de
condução? Quantos anos vocês pensam que eu tenho?
Zélia – Conversamos
muito seriamente com a coordenação da escola e eles nos farão um relato
completo do que a senhorita anda fazendo na escola.
Laura (protesta em voz alta) –
Isso é opressão!
Amauri (humilha Laura) –
Faça o favor de calar a boca porque depois do que nós vimos, você deveria ser
expulsa dessa casa, sua drogada desgraçada.
Zélia – E se não foi expulsa,
Laura, louve ao teu Deus porque eu não permiti.
Laura – Se eu tivesse
feito algo de muito errado, compreenderia, mas eu juro que não sei do que vocês
estão falando. Vocês estão me humilhando, me difamando, mas nem sequer permitem
que eu diga a verdade.
Amauri – E depois de
todas as provas em nossas mãos você ainda quer contestar?
Laura – Se soubesse
que provas são essas...
Amauri
praticamente joga a pasta com as fotos incriminadoras na cama da filha. Laura
apanha as imagens e fica horrorizada, mas não se reconhece ali.
Laura – Isso aqui não
é meu.
Zélia (debocha descaradamente) –
Como todo bandido diz que é inocente, né, Amauri? Pagar pra ver.
Laura – Um dia vocês
ainda terão de pedir perdão ao Marcelo pelo que fizeram com ele.
Zélia – Mais fácil
que ele venha pedir perdão por ter te desonrado. Sorte a nossa que nenhum
conhecido tomou conhecimento desse relacionamento ou então eu não quero nem
imaginar o que poderia vir a acontecer...
Sem outra
saída, no outro dia a van da condução aguarda Laura logo cedo. A adolescente se
sente humilhada por não poder responder às acusações infundadas que estão lhe
fazendo, pelo tratamento hostil dos pais não apenas com ela, mas com Marcelo, a
proibindo de quase tudo, a tratando como se ela fosse uma criminosa de alta
periculosidade.
Laura adentra
a condução e se espanta ao encontrar Adriano por lá, sentado sozinho em um
banco enquanto Jonathan faz bagunça com os amigos.
Laura – Adriano?
Adriano
sinaliza para que Laura se sente ao lado dele. Os moleques da 4ª série,
sentados atrás dos jovens, cochicham e dão risada achando que os amigos são
namorados.
Adriano (preocupado) –
A Daiana não sabe de nada, sabe?
Laura – Então é esse
o seu segredo?
Adriano – É... Mas a
Daiana sabe?
Laura – Nem
imagina...
Adriano – E ela nem
pode saber...
Laura – Mas o que é
que tem de tão errado nisso, Adriano?
Adriano – Pensa, Laura,
a Daia quer um rapaz corajoso, destemido, fortão, todo confiante, tipo o Vini,
não eu...
Laura – Deu pra ficar
inseguro, Adri? A Daia ta com você porque gosta de você e é desse jeito que ela
gosta.
Adriano – Ela pensa que
eu vou sozinho, sei lá, que eu sou mais forte.
Laura – Ela não pensa
nada disso, amigo.
Adriano – Promete que
não conta nada disso a ela?
Laura – Da minha boca
é que ela não fica sabendo de nada.
Jonathan não
encontrou o aparelho e provavelmente precisará fazer outro, mas isso não
acontecerá porque quando está saindo do carro, alguém o cutuca. O menino se
vira de costas e encontra uma colega.
Jessica – Oi Jonathan...
Jonathan – Jessica?
Jéssica tira
de dentro da mochila uma caixinha azul.
Jéssica – Eu vi que
você esqueceu isso na festa.
Jonathan (sem reação) –
Tava com você?
Jéssica (sorri e entrega a caixinha) –
Aham... (pausa, olha para o chão, para Jonathan) Eu... Eu ia te ligar, mas
fiquei com vergonha...
Jonathan (tímido, guarda a caixinha na mochila) –
Valeu, ae.
Jéssica (já na calçada) –
Então a gente se vê...
Jéssica acena
para Jonathan e entra na escola. O irmão de Adriano, ainda incrédulo de que
Jéssica falou com ele, sorri e logo Adriano o aporrinha.
Adriano – Ta apaixonado,
é, moleque?
Jonathan – ‘Cê’ viu?
Adriano – E depois fala
que o bocó sou eu...
Quando vê
Daiana, Adriano tenta parecer o irmão mais velho bem resolvido.
Adriano – E agora
entra, moleque, entra na escola porque se um dia quiser ser que nem o Marcelo
vai ter que ralar muito...
Casa de
Ferradura. Sala. Manhã.
Música Megalomaniac
– Incubus.
Mal Mayara
limpou toda a casa e tudo já está imundo de novo. Latas de cerveja amassadas
por todo o chão, bitucas de cigarro, embalagens por todos os cantos; ambiente
propício para a proliferação de aranhas, baratas e ratos. É, de fato, o que
Ferradura merece.
Ferradura
dorme deitado no sofá. Por não pensar em ninguém além de si mesmo, a desgraça
alheia o satisfaz profundamente.
Música My
immortal – Evanescence.
Páginas
viradas em branco. Muitas páginas. São dias se passando em vão. Dias sem
alegria, sem ensejo. Qual é o propósito disso ninguém sabe. O que não se renega
é a total desilusão; o mantra da incerteza calejando as anotações.
Há muito que
se dizer. Há saudade exteriorizando-se com muitas lágrimas e as mais fervorosas
costumam ser as de amor porque quem ama compreende o valor de uma presença e
mais ainda conhece a agonia causada por uma separação.
Há um coração partido,
esmigalhado pela tristeza. Dois tornaram-se um e agora estão arrasados pelas perguntas
sem respostas, pelos beijos interrompidos, pelos sonhos que já não lhe
pertencem mais neste plano, neste exato momento quando se precisam muito mais
do que de costume.
Estão chorando
enquanto o resto do mundo sorri e os ignora. São senão dois estranhos ouvindo
músicas que não lhes representa em absolutamente nada, nada. Enquanto todos
dançam, eles são apenas rostos invisíveis procurando a porta de saída dessa
balada melancólica, sentindo o bafo frio do inverno, ansioso em retornar.
Sem sono, o
que pensar? Conformismo é uma palavra riscada do dicionário porque não foi isso
que aprenderam e é certo que deveria lutar até o fim por esse amor, mas como
fazer isso quando nem sequer estão mais juntos, quando nem podem se comunicar e
só lhes resta às lembranças de um tempo breve, no entanto que deixou muitas
marcas, que foi eterno para quem viveu cada dia deixando todos os problemas nas
mãos de Deus, confiando sempre na solução...
Agora que o
mundo já desabou, será essa a resposta da oração? Será essa a grande provação?
Ninguém sabe...
O que eles
buscam é um fio solto que de modo plausível justifique por que estão separados
se o que os uniu foi o amor, mas não esse amor passional, lascivo, baseado no
prazer, na idolatria, na sede de posse.
O amor que
para eles se apresentou é calmo e límpido, porém perigoso como águas de um rio
qualquer. Se toda história de amor verdadeiro sofre com crises, separações e barreiras,
algum dia eles haverão de ser livres e poderem se amar sem medo. Esse dia enfim
chegará ou será apenas mais uma tola espera?
Peço desculpas pelo atraso. Imprevistos ocorrem. :)
Meu Deus, a Laura tá sofrendo muito! E injustamente.. Enquanto isso o Ferradura fica se deliciando com a desgraça alheia. Isso não é justo :/
ResponderExcluirNem a Laura e nem o Marcelo mereciam o que aconteceu. É muito sofrimento... :/
ResponderExcluirFerradura acabou com o sono do Vini anos antes e agora quer acabar com o Marcelo, mas diz gostar da Laura e é desse jeito que ele quer a atenção dela, acabando com a reputação dela, com a confiança, destruindo tudo só porque ele não pode ter. :/