quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Resistência - 31º Capítulo



31º Capítulo

A briga chega ao fim, felizmente sem mortos, mas o orgulho de Marcelo foi brutalmente assassinado nessa ocasião. Quem salvou a briga foi Isabel.

Isabel – PAREM DE BRIGAR, PELO AMOR DE DEUS. BRIGA NÃO LEVA A NADA. NÃO É ASSIM QUE OS PROBLEMAS SE RESOLVEM...

Isabel chegou a ter uma crise de hipertensão e foi levada para um pronto-socorro, enquanto Karinna e Vinicius se responsabilizaram pelos adolescentes.

Casa de Laura. Quarto de Laura. Noite.

Laura, no entanto, foi surrada de cinta pelo pai. Chorando, deitada no escuro e sem forças para nada, acaba adormecendo no chão mesmo.

Amauri, aquele que se diz crente de justiça, agiu ao contrário do que prega ao ler algum caso de injustiça descarada. Fez uso dos punhos, constrangeu Marcelo. Um verdadeiro criminoso, sem mais pareceres.

Galpão de Marcelo. Interior. Noite.

Os ferimentos exteriores podem tranquilamente serem estancados, disfarçados, mas o que é ouvido tão facilmente não se esquece, sobretudo quando se tratam de calúnias fantasiosas, gratuitas ofensas.

Bituca (recomenda ao amigo) – ‘Cê’ devia denunciar esse filho da puta. Como é que ele te trata desse jeito e ‘cê’ não reage, cara?
Marcelo – Eu to é preocupado com a Laurinha, como é que ela ta na mão desse homem bruto; como é que ele destrata a filhinha dele desse jeito... Laura é uma menina do bem, tão justa, tão meiga, doce, honesta, delicada...
Bituca – Por isso eu te digo, meu caro, a vida é injusta...
Marcelo – Nós é que não somos justos.
Bituca – Marcelo, sem dogmas, cara.
Marcelo – Nós somos responsáveis pelas nossas ações, mas Deus controla tudo ao nosso redor.
Bituca (interroga Marcelo) – Então por que Deus não te salvou da briga?
Marcelo – Porque Deus queria que isso acontecesse.
Bituca – Ah cara, não diga, não fala isso...
Marcelo – Mas é...
Bituca – Depois ‘cê’ não entende por que eu fico mó grilado com esse lance de céu e inferno... Quando eu penso que to sabendo de tudo, não sei é de nada... Se a vida fosse justa ‘cê’ não tava aí com a cara toda quebrada, mano. O cara te humilhou, te resumiu a um nada, cometeu uma injustiça e você vai me dizer o que?
Marcelo – Que Deus está impondo uma provação.
Bituca – E que provação...
Marcelo – Deus deve ter algum propósito pra mim e Laura, pra esse amor.
Bituca – Não quero cortar teu barato, mas amor com a gatinha vai ser difícil, cara. Não quero tirar tuas esperanças, truta, longe disso, mas vamos ser realistas... Para pra pensar se depois do que houve o coroa lá vai te deixar chegar perto dela? Considere o lance com a Laura como encerrado.

Casa de Vinicius. Sala. Noite.

Daiana, chorando, é acalmada pelos pais.

Daiana – O seu Amauri perdeu completamente a compostura.
Paula – Muito me surpreende que o Amauri tenha feito isso, filha. Tem certeza de que era ele?
Daiana – Em carne, osso e berros. Nem parecia ele de tão cruel que tava agindo, tão pior que a Zélia quando resolve falar...

Casa de Isabel. Quarto de Isabel. Noite.

Preocupado com a mãe, Adriano está sentado ao lado de Isabel na cama. Jonathan, entristecido, também faz companhia aos presentes.

Karinna entra no quarto com um copo de água com açúcar e entrega à Isabel, que assente coma cabeça em sinal de agradecimento.

Karinna – Se vocês precisarem de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, é só ligar pra casa a hora que for.
Isabel (grata) – Eu ficarei bem, querida. Não se preocupe.

Adriano e Jonathan dormem com a mãe.

Curitiba. Balada. Interior. Pista. Noite.

Música California Dreamin’ – Royal Gigolos.

Ferradura faz a festa na balada. Essa é a maneira encontrada para celebrar mais um plano satânico que obteve o êxito desejado.

Bebendo, se drogando e sondando alguém para passar a noite, Ferradura demonstra contentamento e logo avista uma moça com aproximadamente 20 a 23 anos, pelas vestes nota-se que se trata de uma jovem de classe média alta, provavelmente uma universitária. Autoconfiante, Ferradura pigarreia, mexe nos cabelos e se aproxima da vítima.

Casa de Laura. Quarto de Laura. Noite.

Zélia e Amauri confiscam o computador e o celular da filha, cortando a mesada e também o dinheiro do passe e do lanche na escola, chegando ao extremo de também contratarem uma condução para levar e buscar a adolescente, proibida de sair de casa. Para qualquer pessoa é mesmo o fim dos sonhos de amor. Um lindo casal que tinha tudo para ser feliz é covardemente separado sem qualquer direito a resposta. O mal venceu dessa vez.

Laura – Ir à aula de condução? Quantos anos vocês pensam que eu tenho?
Zélia – Conversamos muito seriamente com a coordenação da escola e eles nos farão um relato completo do que a senhorita anda fazendo na escola.
Laura (protesta em voz alta) – Isso é opressão!
Amauri (humilha Laura) – Faça o favor de calar a boca porque depois do que nós vimos, você deveria ser expulsa dessa casa, sua drogada desgraçada.
Zélia – E se não foi expulsa, Laura, louve ao teu Deus porque eu não permiti.
Laura – Se eu tivesse feito algo de muito errado, compreenderia, mas eu juro que não sei do que vocês estão falando. Vocês estão me humilhando, me difamando, mas nem sequer permitem que eu diga a verdade.
Amauri – E depois de todas as provas em nossas mãos você ainda quer contestar?
Laura – Se soubesse que provas são essas...

Amauri praticamente joga a pasta com as fotos incriminadoras na cama da filha. Laura apanha as imagens e fica horrorizada, mas não se reconhece ali.

Laura – Isso aqui não é meu.
Zélia (debocha descaradamente) – Como todo bandido diz que é inocente, né, Amauri? Pagar pra ver.
Laura – Um dia vocês ainda terão de pedir perdão ao Marcelo pelo que fizeram com ele.
Zélia – Mais fácil que ele venha pedir perdão por ter te desonrado. Sorte a nossa que nenhum conhecido tomou conhecimento desse relacionamento ou então eu não quero nem imaginar o que poderia vir a acontecer...

Sem outra saída, no outro dia a van da condução aguarda Laura logo cedo. A adolescente se sente humilhada por não poder responder às acusações infundadas que estão lhe fazendo, pelo tratamento hostil dos pais não apenas com ela, mas com Marcelo, a proibindo de quase tudo, a tratando como se ela fosse uma criminosa de alta periculosidade.

Laura adentra a condução e se espanta ao encontrar Adriano por lá, sentado sozinho em um banco enquanto Jonathan faz bagunça com os amigos.

Laura – Adriano?

Adriano sinaliza para que Laura se sente ao lado dele. Os moleques da 4ª série, sentados atrás dos jovens, cochicham e dão risada achando que os amigos são namorados.

Adriano (preocupado) – A Daiana não sabe de nada, sabe?
Laura – Então é esse o seu segredo?
Adriano – É... Mas a Daiana sabe?
Laura – Nem imagina...
Adriano – E ela nem pode saber...
Laura – Mas o que é que tem de tão errado nisso, Adriano?
Adriano – Pensa, Laura, a Daia quer um rapaz corajoso, destemido, fortão, todo confiante, tipo o Vini, não eu...
Laura – Deu pra ficar inseguro, Adri? A Daia ta com você porque gosta de você e é desse jeito que ela gosta.
Adriano – Ela pensa que eu vou sozinho, sei lá, que eu sou mais forte.
Laura – Ela não pensa nada disso, amigo.
Adriano – Promete que não conta nada disso a ela?
Laura – Da minha boca é que ela não fica sabendo de nada.

Jonathan não encontrou o aparelho e provavelmente precisará fazer outro, mas isso não acontecerá porque quando está saindo do carro, alguém o cutuca. O menino se vira de costas e encontra uma colega.

Jessica – Oi Jonathan...
Jonathan – Jessica?

Jéssica tira de dentro da mochila uma caixinha azul.

Jéssica – Eu vi que você esqueceu isso na festa.
Jonathan (sem reação) – Tava com você?
Jéssica (sorri e entrega a caixinha) – Aham... (pausa, olha para o chão, para Jonathan) Eu... Eu ia te ligar, mas fiquei com vergonha...
Jonathan (tímido, guarda a caixinha na mochila) – Valeu, ae.
Jéssica (já na calçada) – Então a gente se vê...

Jéssica acena para Jonathan e entra na escola. O irmão de Adriano, ainda incrédulo de que Jéssica falou com ele, sorri e logo Adriano o aporrinha.

Adriano – Ta apaixonado, é, moleque?
Jonathan – ‘Cê’ viu?
Adriano – E depois fala que o bocó sou eu...

Quando vê Daiana, Adriano tenta parecer o irmão mais velho bem resolvido.

Adriano – E agora entra, moleque, entra na escola porque se um dia quiser ser que nem o Marcelo vai ter que ralar muito...

Casa de Ferradura. Sala. Manhã.

Música Megalomaniac – Incubus.

Mal Mayara limpou toda a casa e tudo já está imundo de novo. Latas de cerveja amassadas por todo o chão, bitucas de cigarro, embalagens por todos os cantos; ambiente propício para a proliferação de aranhas, baratas e ratos. É, de fato, o que Ferradura merece.

Ferradura dorme deitado no sofá. Por não pensar em ninguém além de si mesmo, a desgraça alheia o satisfaz profundamente.

Música My immortal – Evanescence.

Páginas viradas em branco. Muitas páginas. São dias se passando em vão. Dias sem alegria, sem ensejo. Qual é o propósito disso ninguém sabe. O que não se renega é a total desilusão; o mantra da incerteza calejando as anotações.

Há muito que se dizer. Há saudade exteriorizando-se com muitas lágrimas e as mais fervorosas costumam ser as de amor porque quem ama compreende o valor de uma presença e mais ainda conhece a agonia causada por uma separação.

Há um coração partido, esmigalhado pela tristeza. Dois tornaram-se um e agora estão arrasados pelas perguntas sem respostas, pelos beijos interrompidos, pelos sonhos que já não lhe pertencem mais neste plano, neste exato momento quando se precisam muito mais do que de costume.

Estão chorando enquanto o resto do mundo sorri e os ignora. São senão dois estranhos ouvindo músicas que não lhes representa em absolutamente nada, nada. Enquanto todos dançam, eles são apenas rostos invisíveis procurando a porta de saída dessa balada melancólica, sentindo o bafo frio do inverno, ansioso em retornar.

Sem sono, o que pensar? Conformismo é uma palavra riscada do dicionário porque não foi isso que aprenderam e é certo que deveria lutar até o fim por esse amor, mas como fazer isso quando nem sequer estão mais juntos, quando nem podem se comunicar e só lhes resta às lembranças de um tempo breve, no entanto que deixou muitas marcas, que foi eterno para quem viveu cada dia deixando todos os problemas nas mãos de Deus, confiando sempre na solução...

Agora que o mundo já desabou, será essa a resposta da oração? Será essa a grande provação? Ninguém sabe...

O que eles buscam é um fio solto que de modo plausível justifique por que estão separados se o que os uniu foi o amor, mas não esse amor passional, lascivo, baseado no prazer, na idolatria, na sede de posse.

O amor que para eles se apresentou é calmo e límpido, porém perigoso como águas de um rio qualquer. Se toda história de amor verdadeiro sofre com crises, separações e barreiras, algum dia eles haverão de ser livres e poderem se amar sem medo. Esse dia enfim chegará ou será apenas mais uma tola espera?

Peço desculpas pelo atraso. Imprevistos ocorrem. :)

2 comentários:

  1. Meu Deus, a Laura tá sofrendo muito! E injustamente.. Enquanto isso o Ferradura fica se deliciando com a desgraça alheia. Isso não é justo :/

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  2. Nem a Laura e nem o Marcelo mereciam o que aconteceu. É muito sofrimento... :/
    Ferradura acabou com o sono do Vini anos antes e agora quer acabar com o Marcelo, mas diz gostar da Laura e é desse jeito que ele quer a atenção dela, acabando com a reputação dela, com a confiança, destruindo tudo só porque ele não pode ter. :/

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